quarta-feira, 6 de julho de 2011

Agências de rating e especuladores

Com este governo, já se vê uma luz ao fundo do túnel - dizia há dias uma cinquentona bem 'botoxicada' para o senhor da farmácia. O homem, sincera ou cinicamente, não percebi, ratificava: "Sim minha senhora, já se vê uma luz ao fundo do túnel".
Ontem, ao saber que a Moody's atirou Portugal para o 'lixo', veio-me à lembrança a troca de palavras entre a senhora do 'botox' e o farmacêutico. Ocorreu-me uma velha nuance da frase idiomática: "Lá ver a luz ao fundo do túnel vê-se, o pior é que são os faróis do TGV que nos vai trucidar". Mas isto são pensamentos meus, um pessimista. Este 'Chicago boy'  do ISEG, por sua vez, é optimista e afiança confiar "numa reviravolta dos mercados".
A minha vida e de muitos portugueses já deu voltas, contra-voltas e reviravoltas. Contudo, nunca assisti a uma reviravolta dos mercados, científica ou empírica. Ainda ontem estive no Mercado do Benfica, que é dos mais concorridos da capital, mesmo fora do tempo de campanhas eleitorais. E, como ainda não existe algoritmo ou coisa do género para a tal reviravolta, disse de mim para mim: "Imagina tu que a reviravolta se dava naqueles instantes em que estavas dentro do mercado, farias  parte da longa lista de mortos e feridos pela reviravolta". De resto, estou a ver os repórteres das TV de voz ansiosa, sufocada e sofrida a anunciar a calamidade ao País. Mais uma. 
Bom, o melhor é esquecer a reviravolta dos mercados. Porque estes permanecem decididos a fragilizar a zona Euro. Grécia e Portugal estão à cabeça. Os juros aumentaram, O 'El País' refere com preocupação os efeitos imediatos da decisão da Moody's; salienta o diário espanhol que a banca espanhola detém 42% da dívida portuguesa. Por este andar, Espanha será a próxima vítima das agências de rating.
A despeito de futurologia não ser o meu forte, não acredito na tese do mercado. Para ultrapassar a crise, a Europa precisaria de se unir em torno de políticas eficazes de defesa do 'euro', como moeda de um espaço global, e agir persuasivamente junto dos EUA e instituições internacionais, FMI por exemplo, para de uma vez por todas se destruir a ligação espúria entre agências de rating e especuladores.
Como cita o 'The Wall Street Journal', o especulador Warren Buffett detem capital da Moody's. Isto é normal? Não, é tão anormal como a Moody's, S&P e Fitch, na véspera de deflagrar a crise em 2008, classificarem o Lehman Brothers e os produtos tóxicos com 'AAA', o chamado 'triple A'. Basta ver ou rever esse excelente filme-documentário, 'Inside Job' ou 'Crime da Crise', para saber ou relembrar.
A reviravolta do mercado tem de conseguir-se através de políticas e acções concretas dos principais decisores políticos mundiais. Nunca se produzirá por auto-gestação.

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