terça-feira, 16 de setembro de 2014

Seguro, a campanha do golpe baixo

A luta nas primárias do PS é natural disputa pelo comando do partido. Ao mesmo tempo, os candidatos visam chegar à condição necessária e suficiente da competição nas legislativas de 2015 e liderar a governação do País.
Seguro, actual secretário-geral, e Costa são os concorrentes. Há uns quantos comentadores políticos a qualificar de traiçoeira a candidatura de Costa, opinião que respeito mas da qual discordo.
No passado dos partidos portugueses, pós-25 de Abril, já houve cisões e dissensões, algumas criando facções de secessão da unidade de grupos parlamentares (ASDI no PSD em 1979, por iniciativa de Sousa Franco, Magalhães Mota e Sérvulo Correia); a demissão de Sá Carneiro e substituição por Emídio Guerreiro da presidência do então PPD/PSD em 1975; as páginas mais negras da actividade política de Mário Soares que culminaram com a expulsão do PS de Salgado Zenha e o afastamento de Vasco Gama Fernandes … enfim, uma lista de acontecimentos que tipificam os conflitos no seio das forças partidárias portugueses – e não esquecemos os confrontos Manuel Monteiro e Portas no CDS.
Os críticos da atitude de Costa, e naturalmente favoráveis à tese de traição argumentada por Seguro, em sintonia com a verdade ou melhor informados de factos históricos, automaticamente concluiriam que os partidos como organizações de conquista do poder, dificilmente se podem considerar santuários de almas purificadas.
Se quisermos ler a história do acesso de Seguro a secretário-geral, talvez  fosse útil revermos as imagens do Tozé, seguido de Jamila, sair do elevador do Hotel Altis e declarar-se candidato com um sorriso de orelha a orelha, pela oportunidade, ou seja, pela derrota do grande inimigo José Sócrates.
A partir de então, Seguro começou por visitar uma a uma, todas as secções do PS do País. De manhã, estava em Valença do Minho, à tarde em Monção; no dia seguinte em Vila Real de Santo António para terminar a jornada em Portimão. Saiu da ‘jota cor-de-rosa’. Não tem atributos especiais no currículo, senão o opaco cargo de ministro-adjunto de Guterres. As habilitações académicas, por sua vez, também não ajudam muito: desistiu rapidamente do ISCTE e licenciou-se, mais tarde, em Relações Internacionais na UAL.
Impreparado, e longe do curriculum académico, profissional e político de Costa, nesta refrega por ele tão inesperada como indesejada, tem optado por uma campanha pura e simplesmente reles, recheada de golpes (as inscrições em Braga), de vitimização pacóvia (o cravo plantado e arrancado pelo adversário), além de outros episódios e discursos brejeiros.

Seguro transpira a ausência completa de ideias para o futuro do País. A tarefa do próximo governo prevê-se ainda mais complexa, mas ele vale-se de expedientes que a comunicação social portuguesa, sob o culto do sensacionalismo, vai espalhando por todos os cantos. O interesse nacional sai naturalmente esfacelado.
Ontem, acompanhado de Maria de Belém, apareceu com António Arnaut, nos jardins da sede do PS, no Rato / Lisboa, a comemorar os 35 anos do SNS - um escasso trio para uma celebração que deveria obedecer a critérios de grandeza e de dignidade. E Seguro discursou, como fosse legítimo parceiro do Dr. Arnaut, do saudoso Dr. Albino Aroso e de outras ilustres figuras que estiveram nesta obra desde o lançamento da 1.ª pedra – António José Seguro tinha, então, 17 anos e penso que ainda não havida descido à capital que, segundo os últimos discursos, passou a detestar, atacando doentiamente os lisboetas.
Seguro não tem capacidade para mais do que replicar o papel dos Dupondt. O projecto ‘Novo Rumo’, inspirado em contributos de diversos socialistas, é um documento redundante e que, nas 80 medidas contidas, apenas pequena parte é da lavra da sua equipa, onde se destaca um opaco Brilhante Dias. Hoje, na Sede do PS, comunicou aos portugueses que, até ao final de 2014, que ver aprovada a ‘nova lei eleitoral’ – com a particularidade de ontem, em acto realizado por alguns elementos afectos à SEDES, Luís Campos e Cunha, ex-ministro de Sócrates, ter divulgado um manifesto cujo teor, pelos vistos, Seguro copiou.
Registe-se, na hipócrita declaração de Seguro à concessão da liberdade de votos aos parlamentares socialistas sobre a ‘nova lei eleitoral’, o cinismo cruel de lançar a divisão entre socialistas. Este homem é, de facto, deplorável.
Seguro está a demonstrar, dia-a-dia, ter perfil para ser o candidato a primeiro-ministro que a direita, PSD e CDS, não desdenharia e, pelo contrário, ambiciona de forma muito obstinada.

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