Próximo dia 26 de Setembro. Não sei, nem me interessa saber a que horas. Os
media, penso, comparecerão em peso. Tudo o que seja escândalo, sexo, vidas de
políticos, eventos de múltiplos mortos e desgraças é matéria-prima que
impulsiona a venda de papel e capta audiências para TV’s.
Mas o que verdadeiramente me interessa é imaginar o ‘El Corte Inglés’ repleto.
Estará presente toda a corte da curiosidade depravada e patológica. Parece que
estou a vê-los. A elas e eles.
Na primeira fila, bem cedo, sentar-se-ão a D.
Guilhermina e Milinha, sua neta. A senhora ficou viúva há anos do Sr. Pepe,
abastado negociante de vinhos com adegas no Gradil, lá para os lados de Mafra.
No bairro onde vivia, um homem de má-língua, reformado, alcunhou a D. Guilhermina
de ‘Condessa de Gouvarinho’. O epíteto, dizia, devia-se a um romance
clandestino que a senhora mantinha com o dono de uma pastelaria das
proximidades.
A plateia, pressuponho, será composta por gente de várias idades, sugadora
da devassa da vida alheia, característica da obra literária José António
Saraiva; obra, acentue-se, promiscua e abjecta de que Passos Coelho será
apresentador. O obscuro político utilizará, como é habitual, o discurso
impreparado, recheado de frases próprias de quem ignora a moral, a ética e até básicas
regras de sintaxe.
Custa aceitar esta cerimónia em que Coelho exaltará um livro de mexericos,
uma verdadeira mixórdia de descrição de vidas alheias, baseada, segundo o
autor, em conversas privadas. Tudo isto sem que haja o escrutínio
e o direito ao contraditório, por morte de alguns que, consequentemente, estão
silenciados para eternidade. E, mesmo sem formação em direito – sou economista –
duvido que Saraiva e Gradiva não estejam a infringir a Lei do Código Penal,
Art.º 192.º - Devassa da vida privada.
Sinto ainda mais a existência do considerável número
de doentios curiosos por livros reles e ofensivos, gente inculta e incapaz
de ler obras de Gonçalo M.
Tavares, José Luís Peixoto, Afonso Cruz, Patrícia Reis, João Tordo, Valter Hugo
Mãe e outros que, menos ou mais jovens, começaram a percorrer o complexo
caminho da literatura de qualidade, sem se centrarem no aberrante
sensacionalismo e no lucro a qualquer custo.
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