O Papa Francisco, Sumo Pontífice católico (ICAR), recebeu no Vaticano o
presidente Donald Trump, assumido presbiteriano. No âmbito da ‘Reforma’ e da
contestação a Roma, a Igreja Presbiteriana funda-se na teoria doutrinal de
Calvino (1509-1564), vertida no livro, em latim, ‘Institutas Christianae
Religiones’. Com Genebra considerada a Roma do protestantismo, e em obediência
à teologia calvinista, a instauração da Igreja Presbiteriana em países europeus
adoptou um regime bastante austero. Ora, Trump, como cidadão, empresário e
político, é justamente o inverso do austero. Demonstra, clara e insistentemente,
não ser homem sóbrio, rígido e coerente em opiniões e comportamentos.
Entre o Papa Francisco e Donald, a despeito dos caminhos do cristianismo
que os diferencia, as divergências de maior vulto são de ordem política e
ideológica. A religião está menorizada na discordância.
Há um exemplo significativo
da ideia que acabamos de expressar; o estratega Stephen K. Bannon, nacionalista
radical e católico, segundo
o ‘The New York’ (17.º parágrafo), recusou ir ao Vaticano, argumentando que
o Papa Francisco é socialista, elitista global e promotor da migração de
muçulmanos em direcção à Europa.
A oposição pública e agressiva de Donald Trump ao Papa Francisco iniciou-se
em 2013, ano da nomeação do Sumo Pontífice e muito antes das eleições e tomada
de posse do actual presidente dos EUA.
Nesse ano, 2013, o cardeal Jorge Mario Bergoglio fez questão de realizar,
ele próprio, o pagamento do hotel, após ter sido nomeado Papa. Trump,
recorrendo ao inseparável companheiro “twitter”, escreveu: “Não gosto de ver o Papa apresentar-se no
balcão do hotel para pagar a conta. Não é próprio do Papa!”. Seguiram-se outras
manifestações de Trump, entre as quais a afirmação de que um Papa de
nacionalidade argentina não é representativo de dois mil milhões de católicos
existentes no mundo.
Quando Trump divulgou promessas em campanha eleitoral e, mais tarde, tomou
posse, o Papa Francisco não se inibiu de ripostar, com vigor, às provocações de
Trump. Nomeadamente quanto à proposta de construção do muro fronteiriço com o
México. O chefe da ICAR foi peremptório na reacção adversa que passamos a
sintetizar: “A solidariedade entre povos constrói-se
com pontes, jamais com muros…”.
Ocorridos estes confrontos à distância, registou-se a visita ao Vaticano de
Trump, Melania, Ivanka, Jared Kushner e, excepto Bannon, da restante comitiva
presidencial.
O Papa e o presidente norte-americano, reuniram a sós, durante cerca de vinte
e cinco minutos. Segundo a comunicação social, o chefe religioso chamou à
atenção de Trump para necessidade de haver solidariedade entre os povos,
diminuir a violência no mundo, de combater a pobreza e o terrorismo e, ainda,
dos EUA cumprirem o Acordo de Paris para obstruir mudanças climáticas graves –
na altura em que escrevo, notícias relatam a divergência sobre este último tema
entre Donald Trump e os seus parceiros do G7, Alemanha, Canadá, França, Itália,
Japão e Reino Unido.
No final de contas, no Vaticano, houve uma reunião de solenidade protocolar,
breve e fria. Ou seja, estiveram frente-a-frente dois homens com ideias
diametralmente opostas sobre os problemas e as soluções políticas para a humanidade. Trump sorriu. Não se desviará um milímetro dos objectivos nacionalistas,
xenófobos e proteccionistas que o animam. O ar sorridente é conhecida técnica de
cinismo de exibir satisfação e concordância falsas e que, do lado do Papa,
teve a resposta por meio de face de homem apreensivo.
Para Trump, família e amigos, este final de peregrinação, no Vaticano, foi
nulo em termos de rendimentos de negócios – há mais de 10 anos que faleceu o cardeal
Paul Marcinkus, norte-americano, muito próximo do Papa João Paulo II e acusado de
envolvimento no escândalo do Banco Ambrosiano e do IOR – Instituto das Obras
Religiosas, do qual foi presidente. E agora o Vaticano parece menos conspurcado
por corruptos (… e pedófilos).
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