domingo, 28 de maio de 2017

Peregrinação de Donald Trump (3) – Vaticano


O Papa Francisco, Sumo Pontífice católico (ICAR), recebeu no Vaticano o presidente Donald Trump, assumido presbiteriano. No âmbito da ‘Reforma’ e da contestação a Roma, a Igreja Presbiteriana funda-se na teoria doutrinal de Calvino (1509-1564), vertida no livro, em latim, ‘Institutas Christianae Religiones’. Com Genebra considerada a Roma do protestantismo, e em obediência à teologia calvinista, a instauração da Igreja Presbiteriana em países europeus adoptou um regime bastante austero. Ora, Trump, como cidadão, empresário e político, é justamente o inverso do austero. Demonstra, clara e insistentemente, não ser homem sóbrio, rígido  e coerente em opiniões e comportamentos.
Entre o Papa Francisco e Donald, a despeito dos caminhos do cristianismo que os diferencia, as divergências de maior vulto são de ordem política e ideológica. A religião está menorizada na discordância. 
Há um exemplo significativo da ideia que acabamos de expressar; o estratega Stephen K. Bannon, nacionalista radical e católico, segundo o ‘The New York’ (17.º parágrafo), recusou ir ao Vaticano, argumentando que o Papa Francisco é socialista, elitista global e promotor da migração de muçulmanos em direcção à Europa.
A oposição pública e agressiva de Donald Trump ao Papa Francisco iniciou-se em 2013, ano da nomeação do Sumo Pontífice e muito antes das eleições e tomada de posse do actual presidente dos EUA.



Nesse ano, 2013, o cardeal Jorge Mario Bergoglio fez questão de realizar, ele próprio, o pagamento do hotel, após ter sido nomeado Papa. Trump, recorrendo ao inseparável companheiro “twitter”, escreveu: “Não gosto de ver o Papa apresentar-se no balcão do hotel para pagar a conta. Não é próprio do Papa!”. Seguiram-se outras manifestações de Trump, entre as quais a afirmação de que um Papa de nacionalidade argentina não é representativo de dois mil milhões de católicos existentes no mundo.
Quando Trump divulgou promessas em campanha eleitoral e, mais tarde, tomou posse, o Papa Francisco não se inibiu de ripostar, com vigor, às provocações de Trump. Nomeadamente quanto à proposta de construção do muro fronteiriço com o México. O chefe da ICAR foi peremptório na reacção adversa que passamos a sintetizar: “A solidariedade entre povos constrói-se com pontes, jamais com muros…”.
Ocorridos estes confrontos à distância, registou-se a visita ao Vaticano de Trump, Melania, Ivanka, Jared Kushner e, excepto Bannon, da restante comitiva presidencial.
O Papa e o presidente norte-americano, reuniram a sós, durante cerca de vinte e cinco minutos. Segundo a comunicação social, o chefe religioso chamou à atenção de Trump para necessidade de haver solidariedade entre os povos, diminuir a violência no mundo, de combater a pobreza e o terrorismo e, ainda, dos EUA cumprirem o Acordo de Paris para obstruir mudanças climáticas graves – na altura em que escrevo, notícias relatam a divergência sobre este último tema entre Donald Trump e os seus parceiros do G7, Alemanha, Canadá, França, Itália, Japão e Reino Unido.
No final de contas, no Vaticano, houve uma reunião de solenidade protocolar, breve e fria. Ou seja, estiveram frente-a-frente dois homens com ideias diametralmente opostas sobre os problemas e as soluções políticas para a humanidade. Trump sorriu. Não se desviará um milímetro dos objectivos nacionalistas, xenófobos e proteccionistas que o animam. O ar sorridente é conhecida técnica de cinismo de exibir satisfação e concordância falsas e que, do lado do Papa, teve a resposta por meio de face de homem apreensivo.
Para Trump, família e amigos, este final de peregrinação, no Vaticano, foi nulo em termos de rendimentos de negócios – há mais de 10 anos que faleceu o cardeal Paul Marcinkus, norte-americano, muito próximo do Papa João Paulo II e acusado de envolvimento no escândalo do Banco Ambrosiano e do IOR – Instituto das Obras Religiosas, do qual foi presidente. E agora o Vaticano parece menos conspurcado por corruptos (… e pedófilos). 

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