segunda-feira, 26 de junho de 2017

António Domingues ao serviço da “princesa” Isabel dos Santos

Sábado, encontrei um amigo. Já não o via há tempos. Esteve em Angola. “Então por cá de férias?”, perguntei. Respondeu-me: “Não! Regressei de vez, aquilo é um barril de pólvora. O presidente decidiu nomear João Lourenço, actual Ministro da Defesa, e há outros generais revoltados, não se sabe o que pode vir a suceder. Está tudo muito quente.” Despedimo-nos.
Conheço Angola. Por obrigações profissionais, durante anos a fio, visitava Luanda e outras cidades, mais de uma dúzia de vezes por ano.
Já aqui contei, mas repito: em 1992, no Huambo (antiga Nova Lisboa), vi crianças nuas, duramente desnutridas. Vagueavam pelas ruas e bebiam água das poças, como cães abandonados. Não contive as lágrimas. Sentei-me em cima de um pedregulho e chorei. Atrasei por 15 a 20 minutos a reunião com o Comissário local.
Angola, como é sabido, é, desde a independência, um vespeiro de corrupção. Nos últimos 36 anos, sob o comando de José Eduardo dos Santos e em benefício do próprio, claro, da filha mais velha, Isabel dos Santos, a “princesa” bilionária, de outros familiares e membros da casa presidencial; à cabeça destes, o poderoso e ultra corrupto, Kopelika (Vieira Dias) e o outro general famoso, Higino Carneiro. São estes dois últimos, e outros militares, quem reagiu com ódio à nomeação de João Lourenço para candidato presidencial.
Com muito povo a viver em miséria extrema, em musseques de Luanda e em outras cidades, vilas e aldeias do País, esta foi e é a Angola de “Zédu”. Desumana e cruel.
Tive vários convites para trabalhar naquele país. Rejeitei todos. A vida forjou-me defeitos e qualidades. Não serei o melhor juiz de uns e de outras. Tenho, todavia, firme convicção de que sofreria bastante, se estivesse ao serviço de corruptos angolanos (ou portugueses), com muitos dólares no bolso, gins na mesa do Clube Naval de Luanda e a circular, em carro de alta cilindrada, em Luanda. Sou incapaz de olhar com indiferença para incontáveis miseráveis, sobretudo crianças, ao meu redor. As novas torres de luxo, edificadas em Luanda, disfarçam mas não eliminam tamanha desgraça social.
É com o sentimento de exigência de ética e respeito pelos mais frágeis que me habituei a estar na vida. É impossível imaginar-me a trabalhar para a filha do autoproclamado Presidente da República Emérito de Angola.  Também designado pelo ‘Ditador Emérito’ e ‘Corrupto Emérito’ pelos críticos.
António Domingues, essa figura que me faz lembrar um ex-seminarista, beato, cínico e ambicioso, mostrou, de novo, a face de membro dessa elite ignóbil, que proliferou e arrasou a banca nacional, em prejuízo dos cidadãos. No caso dele, manter-se-á banqueiro, como vice-presidente do BFA,  ao serviço da corrupta Isabel dos Santos – aliás, Domingues já esteve ou está na NOS, de Isabel dos Santos e Paulo de Azevedo (Sonae).
Talvez não seja de estranhar que, desta vez, no ‘Observador’, que derramou notícias sobre notícias de Domingues com Centeno e CGD (aqui, aqui, aqui e aqui), se comemore com champanhe a nomeação do herói para o BFA de IS. Se houver festa, António Lobo Xavier estará lá e contará tudo, em pormenor, a Marcelo – Lobo Xavier faz-me lembrar o ministro salazarista Correia de Oliveira, a quem, nas redacções dos jornais, chamavam ‘O correio do Oliveira’.

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