A convite de um dos fundadores do
‘Aventar’, Ricardo dos Santos Pinto, tornei-me bloguer; actividade que, com
interrupções ditadas por compromissos familiares e outros, ainda desempenho irregularmente
no meu ‘Solos sem Ensaio’.
No ‘Aventar’, escrevi e aprendi. Compúnhamos
um grupo coeso, plural e tolerante em relação às ideias políticas de cada autor.
O Fernando Moreira de Sá, o José Magalhães, o Nuno Castelo Branco e a jovem
Daniela Major alinhavam pelo ideário do centro-direita. Os restantes, incluindo
eu próprio, pautavam-se pelo centro-esquerda e pela esquerda, nos textos
publicados.
O ‘Aventar’, devido a um ‘post’ e
um vídeo a desmascarar as mentiras e falsas promessas de Passos Coelho, de
autoria de Ricardo Santos Pinto, atingiu um elevadíssimo pico de audiência;
vários milhares por dia. O ‘post’ em causa, de resto, foi citado na comunicação
social, em especial nas TV’s, por diversos políticos e comentadores.
Em função do pluralismo,
independência, da melhoria da plataforma e formato - obra do saudoso João José
Cardoso e do J. Manuel Cordeiro - e sobretudo pelo nível e objectividade dos
textos, confesso saudades desses tempos do ‘Aventar’. O nível dos saberes e
talentos de António Nabais (com quem conflituei, diga-se), da Carla Romualdo e,
mais tarde, da Sarah Adamopoulos, além do orgulho, criaram em mim a obrigação de
escrever com qualidade; coisa que, de resto, não foi nem é nada fácil para
quem, de estudante a profissional, gastou anos de vida em volta da álgebra e da
matemática, das funções, derivadas e integrais, de projectos de investimento e economia
de empresas (tudo o que há de mais entediante, face ao maravilhoso mundo das
letras e da linguagem, na definição de Camilo e do Padre António Vieira).
Foram-se esses tempos e o ‘Aventar’,
gradualmente, tem-se transformado em realidade bem diferente e, a meu ver, para
pior.
Bruno Santos, em título escreveu:
“Bernie
Sanders votou a favor da mudança da embaixada para Jerusalém”. No texto, os
argumentos e citações pretendem levar à conclusão de que a deliberação do
conservador Trump é legítima, porque até – vejam lá! – o democrata Bernie
Sanders, de tendência socialista,
enquanto senador, também votou a favor da referida mudança.
Bruno Santos até pode ser
apoiante de Trump e de que Jerusalém, cidade do judaísmo, do islamismo e do
cristianismo, seja a capital política de Israel. Nada o impede de ter tais
opções, mas tem de ser objectivo na comunicação. Seria, pois, conveniente que
referisse os seguintes aspectos fundamentais:
- Bernie Sanders é judeu, como referiu o “The Times of Israel”, em 19 de Abril de 2016.
- A comunidade judaica nos EUA é numerosa e economicamente poderosa, no auxílio financeiro aos Partidos Republicano e Democrata.
- A família de Jared Kushner, judeu, genro e conselheiro de Trump para o Médio-Oriente, mantém há longa data relações de forte amizade com Benjamin Netanyahu, actual PM de Israel e membro da extrema-direita sionista – ler esta peça do “The New York Times”.
Por último, deverá tomar-se em
consideração a relação estreita e histórica entre o sionismo e os socialistas judaicos.
Em “História de Israel”, de Martin Gilbert, página 147, pode ler-se:
Havia muito que o sionismo trabalhista se tornara a principal força criativa em toda a Terra de Israel. Em 1945, um grupo desses jovens fixou-se em Misgav Am (Fortaleza do Povo), bem como no Norte da Alta Galileia, na fronteira com o Líbano.
Trump representa a ‘alt-right’, a
supremacia branca e Bernie Sanders partilha com ele o uniteralismo dos EUA em
relação ao Médio-Oriente. A questão central, desta junção política, é: se a paz
do Médio Oriente estava moribunda, com este golpe ficou morta. Os milhões de
palestinianos, sobretudo a viver em condições infra-humanas, nada contam para
republicanos e democratas norte-americanos.
Ai “Aventar”, quem te viu e quem te vê!
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