quinta-feira, 19 de abril de 2018

Águas de Março: os ‘hidro-sábios’ entraram em seca


‘Águas de Março’ é uma bela canção de Elis Regina. Vi-a e ouvi-a ao vivo, em jovem. O espectáculo realizou-se no, então, Cinema Roma, hoje ‘Fórum de Lisboa’. Considero Elis a melhor cantora brasileira, embora também tenha elevada admiração por outras e outros intérpretes, em especial os baianos da região de São Salvador, a cidade mais genuinamente portuguesa do Brasil.
No culminar deste intróito suave a propósito de um tema musical, aqui deixo um vídeo de ‘Águas de Março’ interpretado por Elis Regina:

O propósito deste ‘post’ é reflectir sobre os níveis de precipitação de chuva em Março de 2018 – teve e prevê-se ter continuidade em Abril. O mês anterior registou, como foi divulgado por entidades competentes, o maior nível de precipitação desde o período homólogo de 1931. Há 87 anos que não chovia tanto em Março.
A seca extrema e prolongada desde a Primavera de 2017, um dos factores facilitadores de incêndios e incendiários, gerou naturais preocupações para as gentes que, no interior idoso e escassamente povoado, vive da agricultura ou da agro-pecuária. É legítimo e exige soluções sérias e robustas do poder central. Há 40 anos que o interior do País se esvazia e envelhece. As novas infra-estruturas de maior monta foram as auto-estradas, co-financiadas por dinheiros europeus. Tornam-se em vias rápidas de evasão para os locais ou rotas de passagem para os urbanos do litoral.
No início da semana, percorri a estrada que ladeia a Barragem de Montargil. Verifiquei a água a níveis elevados. O mesmo sucedera dias antes no Maranhão, perto de Avis. Consultei o ‘site’ do Sistema Nacional de Informação dos Recursos Hídricos (SNIRH), confirmando que, à excepção da região Oeste e Sado, a situação das albufeiras no fim de Março de 2018 é bastante satisfatória.
A realidade e as especulações sobre a impossibilidade das albufeiras portuguesas recuperarem, este ano, para níveis de água elevados não poderiam ser mais contrastantes. Sobretudo, lembro-me de afirmações de jornalistas e de algumas figuras académicas a expressar extremadas opiniões caóticas, formuladas essencialmente com motivações de ordem político-partidária – como, de resto, sucedeu nos incêndios em que, segundo a TVI, alegadamente, houve um grupo de madeireiros a planear e a executar uma estratégia para atear incêndios, entre os quais a trágica destruição de 80% do Pinhal de Leiria. A Comissão Técnica Independente e os estudiosos e infalíveis especialistas que a compunham disseram tal coisa? Não!
Sabe-se que, devido a actividades poluentes em crescimento, a transformação climática a nível planetário é profunda. Há conhecimentos científicos, estudos e programas de acção (estes infelizmente frágeis) com o objectivo de proteger o planeta e a humanidade de transformações climáticas dramáticas e dos seus efeitos devastadores. Os temas da seca e da chuva, como outros fenómenos naturais, requerem seriedade e repudiam politizações grosseiras de ‘hidro-sábios’ que, felizmente, entraram em seca.