‘Águas de Março’ é uma bela
canção de Elis Regina. Vi-a e ouvi-a ao vivo, em jovem. O espectáculo
realizou-se no, então, Cinema Roma, hoje ‘Fórum de Lisboa’. Considero Elis a
melhor cantora brasileira, embora também tenha elevada admiração por outras e
outros intérpretes, em especial os baianos da região de São Salvador, a cidade
mais genuinamente portuguesa do Brasil.
No culminar deste intróito suave a
propósito de um tema musical, aqui deixo um vídeo de ‘Águas de Março’
interpretado por Elis Regina:
O propósito deste ‘post’ é
reflectir sobre os níveis de precipitação de chuva em Março de 2018 – teve e
prevê-se ter continuidade em Abril. O mês anterior registou, como foi divulgado
por entidades competentes, o maior nível de precipitação desde o período
homólogo de 1931. Há 87 anos que não chovia tanto em Março.
A seca extrema e prolongada desde
a Primavera de 2017, um dos factores facilitadores de incêndios e incendiários,
gerou naturais preocupações para as gentes que, no interior idoso e
escassamente povoado, vive da agricultura ou da agro-pecuária. É legítimo e
exige soluções sérias e robustas do poder central. Há 40 anos que o interior do
País se esvazia e envelhece. As novas infra-estruturas de maior monta foram as
auto-estradas, co-financiadas por dinheiros europeus. Tornam-se em vias rápidas
de evasão para os locais ou rotas de passagem para os urbanos do litoral.
No início da semana, percorri a
estrada que ladeia a Barragem de Montargil. Verifiquei a água a níveis
elevados. O mesmo sucedera dias antes no Maranhão, perto de Avis. Consultei o ‘site’
do Sistema Nacional de Informação dos Recursos Hídricos (SNIRH),
confirmando que, à excepção da região Oeste e Sado, a situação das albufeiras
no fim de Março de 2018 é bastante satisfatória.
A realidade e as especulações
sobre a impossibilidade das albufeiras portuguesas recuperarem, este ano, para
níveis de água elevados não poderiam ser mais contrastantes. Sobretudo,
lembro-me de afirmações de jornalistas e de algumas figuras académicas a
expressar extremadas opiniões caóticas, formuladas essencialmente com motivações
de ordem político-partidária – como, de resto, sucedeu nos incêndios em que,
segundo a TVI, alegadamente, houve um grupo de madeireiros a planear e a
executar uma estratégia para atear incêndios, entre os quais a trágica
destruição de 80% do Pinhal de Leiria. A Comissão Técnica Independente e os
estudiosos e infalíveis especialistas que a compunham disseram tal coisa? Não!
Sabe-se que, devido a actividades poluentes em crescimento,
a transformação climática a nível planetário é profunda. Há conhecimentos
científicos, estudos e programas de acção (estes infelizmente frágeis) com o
objectivo de proteger o planeta e a humanidade de transformações climáticas
dramáticas e dos seus efeitos devastadores. Os temas da seca e da chuva, como
outros fenómenos naturais, requerem seriedade e repudiam politizações
grosseiras de ‘hidro-sábios’ que, felizmente, entraram em seca.