terça-feira, 8 de dezembro de 2015

A arrogância retribuída com delicada hipocrisia

Li e classifico de genericamente positiva a entrevista de António Costa ao 'Público'. Demonstra coerência em relação a várias mensagens da campanha eleitoral; campanha esta que, disse e repito, deveria ser sido mais enérgica. 
Também sei que Costa esteve muito entregue a si próprio nas digressões que fez pelo País - os apoios de Ana Catarina Mendes, Carlos César e Pedro Nuno dos Santos concentraram-se, acima de tudo, na fase de negociações com BE, PCP e PEV. A formação da maioria parlamentar tem igualmente especial mérito destes três socialistas.
Voltando ao conteúdo da entrevista, e sem me deter em pormenores com que concordo ou discordo, destaco duas breves passagens:

1)
Pergunta dos jornalistas:  Como vê a actuação do Presidente desde as eleições?
Resposta de A.C.:  O primeiro-ministro não avalia a actuação do Presidente.
Resposta curta, sagaz e inteligente. Em sintética afirmação, o PM voltou a colocar à distância o inquilino do Palácio de Belém no que respeita à relação institucional com governo, o qual, tem sublinhado Costa, depende da AR. Não de um PR em fim do 'prazo de validade' e de poderes felizmente limitados.

2)
Frase de A.C. em resposta à 6.ª pergunta: E percebo que a direita esteja irritada e respeito até algum azedume.
Na 'realpolitik', não há espaço para questões de ordem ideológica, muito menos para pensamentos ou divagações de ordem ética ou moral. Shakespeare, no legado cultural deixado ao mundo, integrou algumas frases que se celebrizaram. Eis uma delas: "O diabo pode citar as Escrituras quando lhe convém." 
Os cavalheiros da PàF, a decorar a governação do louco empobrecimento dos portugueses, usaram uma arrogância infame ilimitada. Quisessem ou não, Passos Coelho e Paulo Portas, devido à maioria relativa saída das eleições, perderam toda a capacidade de prosseguir na arrogante e leviana atitude de repescar o PS para se tornar um partido submisso e maleável aos desígnios do PSD+CDS. De resto, o presunçoso Coelho, a 14 de Outubro, afirmou categoricamente que não teria mais conversações com o PS.
Que reacção mais pertinente poderia ter tanta arrogância que, lembre-se, durou 4 anos? A resposta tão delicada quanto hipócrita que António Costa lhes deu no 'Público': "E percebo que a direita esteja irritada e respeito até algum azedume." É uma pequena humilhação das muitas e enormes de que a direita se fez merecedora.

domingo, 6 de dezembro de 2015

Programa do Jô - Cabaré "Pau não Cessa"

Vídeo recomendado para > 18 anos

Ontem caiu-me este vídeo no 'Facebook'. Aceito haver no conteúdo expressões ousadas. Talvez mesmo demasiado ousadas. Naturalmente alguma parte da audiência contestará a publicação em blogue.
Divulgá-lo ou não foi um complicado dilema. Todavia, ao fim de algum tempo, decidi avançar e eis a entrevista que me divertiu imenso, extraída do 'Youtube'. 
Aqui para os meus lados, mais a mais, está um dia bastante nublado, acentuando o tom plúmbeo deste País entristecido, que me desagrada.
O último dos nossos comediantes a sério, Herman José, deixou-se estigmatizar por modelos tautológicos e evaporou-se. Optou mesmo por certo mimetismo em relação ao formato e estilo do Jô. Mas, diz o povo, cada um é para o que nasce, e Jô Soares é ele próprio, dotado de talento e de enorme capacidade de comunicação e humor, sob uma suavidade sublime. Consegue provocar, com meia dúzia de palavras, a explosão de riso  do público - a última vez que vi o Jô actuar ao vivo em Lisboa foi na representação de um monólogo, no CCB (em Fevereiro de 2005).  Excelente desempenho!
Portugal, já de si, é um país onde os sisudos dominam. De facto, não tem, na actualidade, um comediante digno dessa qualificação. Lembro-me, ao vivo ou em filme, do Vasco Santana, do António Silva, do Humberto Madeira, do José Viana, do Raul Solnado, da Ivone Silva; de Herman, Maria Rueff e Ana Bola que vão subsistindo; os 'Gatos Fedorentos' ludibriaram-nos, jamais foram comediantes.
(Adenda: aos que reprovarem as imagens e o diálogo do vídeo, as minhas desculpas antecipadas.)
   

sábado, 5 de dezembro de 2015

Elis Regina, que saudade!


Hoje estive a ouvir música de todos tempos. Elis, para mim e para muitos, é intemporal. Pelo talento do saber dizer e pela sonoridade melódica com que a sua voz aconchega a minha alma de emoções que me levam para um paraíso que jamais vi, mas que, no momento, sinto dentro de mim.
Que saudades me machucam daquela noite de Domingo, quando assisti, há muitos anos, a um espectáculo no antigo Cinema Roma, agora, creio, chamado Fórum de Lisboa.
'Romaria' foi uma das canções que ouvi nesse espectáculo. A letra é um poema de uma vida dramática, iguais às muitas que, infelizmente, nos tempos actuais perduram e se multiplicam:

  Romaria
Elis Regina
 
É de sonho e de pó
O destino de um só
Feito eu perdido
Em pensamentos
Sobre o meu cavalo
É de laço e de nó
De jibeira o jiló
Dessa vida
Cumprida a sol

Sou caipira, Pirapora
Nossa Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura e funda
O trem da minha vida
Sou caipira, Pirapora
Nossa Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura e funda
O trem da minha vida

O meu pai foi peão
Minha mãe solidão
Meus irmãos
Perderam-se na vida
À custa de aventuras
Descasei, joguei
Investi, desisti
Se há sorte
Eu não sei, nunca vi

Sou caipira, Pirapora
Nossa Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura e funda
O trem da minha vida
Sou caipira, Pirapora
Nossa Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura e funda
O trem da minha vida

Me disseram, porém
Que eu viesse aqui
Pra pedir de
Romaria e prece
Paz nos desaventos
Como eu não sei rezar
Só queria mostrar
Meu olhar, meu olhar
Meu olhar

Sou caipira, Pirapora
Nossa Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura e funda
O trem da minha vida
Sou caipira, Pirapora
Nossa Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura e funda
O trem da minha vida

(Nota: jibeira é a designação de bolso no Nordeste do Brasil: Jiló é uma planta cujo fruto é o jiloeiro; desavento significa triste, desanimado.)

UTAO – emerge a verdade, desmistifica-se o embuste

Seria normal e expectável que o relatório da Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO) constituísse credencial suficiente para atestar como, do ponto de vista orçamental, foram geridas as contas públicas até Outubro de 2015, bem como se distribuem as responsabilidades pelo Executivo que se cessou funções em 25 de Novembro último e pelo XXI Governo que, no dia imediatamente subsequente, tomou posse perante o colérico inquilino do Palácio de Belém.
Com efeito, tal expectativa de objectividade saiu frustrada. Deflagrou uma luta política absurda à volta da responsabilidade do défice de 2015, entre o PS e os partidos de esquerda, por um lado, e a coligação PàF, PSD e CDS, por outro.
O combate ainda é mais incoerente, quando o PS reafirma que o Governo se vai esforçar por cumprir a meta défice. E isto não obstante a CE com 3% e o FMI com 3,1% jamais terem avalizado a previsão dos 2,7% de Coelho e M. L. Albuquerque.
A agravar o injustificado confronto interpartidário, há diversos comentadores a lançar uns litros de combustível para as chamas. Nicolau Santos, autor de artigo que me surpreendeu, e o endemoniado Gomes Ferreira, pró-PÀF, que no “Expresso Diário”, entre outros disparates causados pelo ressaibo, escreve o seguinte:
“As máquinas partidárias do Governo e que suportam o Governo apostam na revelação de buracos escondidos nas contas do Estado, para acusarem o anterior Governo de ter deixado as contas armadilhadas e um défice real bem superior ao prometido.”
O texto denuncia com nitidez perfeita o estúpido maniqueísmo do analista Ferreira, em detrimento de análise séria e objectiva que, obrigatoriamente, tem de incidir sobre os números da ‘execução orçamental de Outubro de 2015’ da DGO, publicados pelo Executivo de Coelho e Portas, e com mais propriedade sobre a informação divulgada pela UTAO.
Sintetizamos, para que fique claro e se desmascarem fugas as responsabilidades, o que, segundo o ‘Público’, são partes da informação relevante da UTAO:

·    Os dados revelam ainda que em Novembro, o anterior Governo usou mais de metade da dotação provisional prevista para todo o ano.

·    Dois indicadores que contribuem negativamente para a despesa pública de 2015 (a despesa com bens e serviços e a despesa com pessoal), e dois indicadores que compensam com um resultado mais positivo despesa com juros e investimento).

·    Na aquisição de bens e serviços […] Até ao final de Outubro foi gasto 82,5% da dotação prevista para o total do ano. No mesmo período de 2014, tinha sido usado 78,1% da dotação.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Reestruturação e Emprego na Banca

O sistema financeiro internacional, com o impulso inicial do Lehman Brothers, registou em 2008 uma crise que se deflagrou e propagou pela Europa. Esta crise ainda perdura e, regra geral, tem a característica da situação da banca ser complexa. Com efeito, vários bancos europeus enfrentam dificuldades e recorrem a processos de reestruturação. Visam o objectivo de, no fim dos ajustamentos, recuperar os resultados de exploração, a liquidez e os rácios normais no sector.
O despedimento de contingentes de milhares de trabalhadores é a medida estigmatizada e geograficamente transversal nas reestruturações efectuadas, em curso ou projectadas para a banca. Citemos apenas dois casos:
·         o Deutsche Bank, maior banco alemão, em Outubro de 2015, projectava uma reestruturação profunda com 35.000 despedimentos;
·         o inglês Lloyd’s Bank, dirigido pelo nosso compatriota Horta Osório, há um ano lançou um programa de despedimentos de 9 mil trabalhadores, os quais se somam aos 30.000 despedidos desde 2008 – há dias, corria uma notícia de que Horta Osório se prepara para afastar mais umas centenas de trabalhadores do Lloyd’s.
Então e por cá? Também as reestruturações têm a fatal medida dos despedimentos colectivos, associados a encerramentos de balcões ou da própria actividade, caso do BPP. Sem contar ainda com os desempregados produzidos pela aquisição luso-angolana do BPN, banco que até deveria ser um símbolo de orgulho nacional, uma vez que o primeiro magistrado do País, Sr. Cavaco, e filha, ao que parece episódica mas formalmente, foram accionistas daquela instituição financeira.
Despejar gente no desemprego, neste caso, equivale à forma descontraída própria do motorista da camioneta do lixo, de cigarro na boca e com o automatismo de esvaziamento activado, a encher a lixeira. Esta é a melhor imagem que me ocorre para caracterizar mais duas remessas de bancários para o desemprego ou a reforma, em muitos casos antecipada e penalizadora. Uma está em curso no Banif, presidido pelo devoto socialista Luís Amado cuja filiação no CDS não seria exótica, e outra realizar-se-á nessa grande obra de Carlos Costa, designada Novo Banco, dirigido por Stock da Cunha, um amigo e discípulo de Horta Osório – o mundo da banca, a nível de topo, é segmento social pouco populoso e muito privilegiado.
Este país, empobrecido intencional e programadamente nos últimos quatro (4) anos, continua a ter de suportar um contínuo fluxo de desemprego desde a banca, embora sejam atribuídos ao sector benefícios fiscais, moral e socialmente intoleráveis tendo em conta o baixo empenho social e as facturas de custos de ajustamento passadas aos contribuintes.
O governo de António Costa, até justificado pela necessidade de compensar agravamentos da despesa pública de algumas medidas a aplicar a partir de 2016, deverá ser muito menos generoso nas políticas dos benefícios fiscais com os grandes grupos económicos, nomeadamente a banca. Os mais frágeis devem ter prioridade de protecção nas políticas macroeconómicas governativas. Como é óbvio!

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Os efeitos do refluxo de Angola

Álvaro Sobrinho
O neo-liberalismo de Passos Coelho é Paulo Portas foi o caminho directo e sem escolhos para o sucesso do capitalismo promotor de fortunas obscenas que condenam à pobreza qualquer povo. Angolanos e Portugueses não se livraram dessa pungente rota. 
Os 3,600 mil milhões sugados ao BES por angolanos, e por consequência aos contribuintes portugueses, foram extorquidos por gente desonesta material e moralmente. Ricardo Salgado, embora punido com prisão domiciliária, é presumido um dos principais co-autores de tamanho desvio. Será, todavia, redutor imaginar que as responsabilidade se concentram apenas no 'dono de isto tudo'. Outros contributos existem, em especial da parte de governantes que pretenderam fazer crer que o caso BES/GES se reduzia a meros 'problemas da iniciativa privada'. Ludibriaram-nos descaradamente, Sem esquecer essa figura, tão falsa no ar de seriedade com que se exibe, como conivente de irregularidades governamentais e da banca. Referimo-nos a Carlos Costa, governador do Banco de Portugal.
À chusma juntou-se agora a personagem, de vocação sinistra, conhecida por Sérgio Monteiro, um beirão que enoja a Beira Alta, através da imoral captação de proveitos lesivos do interesse do Estado e dos contribuintes. Por 30 mil euros mensais (praticamente 59 vezes o SMN) foi contratado para vender o Novo Banco, nascido velho e enjeitado da absurda e incompetente decisão de Carlos Costa.
Portugal tem sido a terra de acolhimento e de financiamento (CGD, em especial) de Isabel do Santos - leia-se filha representante dos interesses de José Eduardo dos Santos - e de uma série de corruptos angolanos que furtam ao seu povo os dinheiros do petróleo e de outros negócios menos debatidos - os diamantes, por exemplo.
Infelizmente, é neste 'paraíso de corruptos' que Portugal se transformou e se tem desenvolvido com o operações e investimentos financeiros, alguns baptizados de 'vistos gold', que integram bancos e outras sociedades empresariais estatais e privadas portuguesas, incluindo o futebol. O governo de Coelho e Portas classificam esses actos de corrupção de investimento estrangeiro de qualidade, em termos macroeconómicos, quando, de facto, se cingem a operações tendencialmente de branqueamento de capitais.
Este tipo de empreendedorismo, falso e abjecto, incluíram os jornais 'Sol' e "i" que, segundo se anuncia, vão ser encerrados pela holding de capitais angolanos, 'Newshold', liderada por Álvaro Sobrinho, o ex-presidente do BES Angola.
O projecto de "reconversão", segundo o 'Público', prevê o despedimento de 120 pessoas, passando à publicação dos dois títulos, recorrendo apenas a 66 profissionais.
Sinceramente, se entre os dispensados vierem a estar o Saraiva, a Cabrita e o Lima, a minha solidariedade com estes três crápulas será nula. Igual, portanto, àquela que durante os últimos 4 anos, eles próprios e outros disciplinados camaradas das equipas redactoriais a que estiveram vinculados, legitimaram e ajudaram a intensificar a miséria no processo de empobrecimento do povo português.
Tudo isto, e muito mais, são reflexos dos efeitos da desonestidade na defesa da penalização e do amalgamento na pobreza e miséria de milhões de cidadãos portugueses. 
Lastimo, em derradeiro sentimento, que não exista nem tribunal nem lei que obrigue Álvaro Sobrinho a suportar os danos causados, no caso BES, aos cidadãos nacionais no geral e aos ingénuos e desinformados que, até aqui, perderam as poupanças de vidas de trabalho nas aplicações feitas no BES. 
Se houvessem detidos, as celas próximas de Sobrinho deveriam ser ocupadas por Coelho, a amanuense Albuquerque e Carlos Costa. Teríamos, ai sim, em Portugal um exemplo de justiça. O interesse nacional e dos cidadãos foi lesado dolosamente.
    

domingo, 29 de novembro de 2015

As contas públicas de 2016 no contexto europeu e internacional

Pedro Adão e Silva (PAS), comentador a quem reconheço excelente capacidade de análise, publicou na edição do ‘Expresso’ de Sábado último, o artigo “Um dilema colossal” que se inicia com o seguinte parágrafo:
“O novo Governo está perante um dilema colossal ou assume que o Executivo cessante deixa um buraco nas contas públicas ou ajuda a preservar a imagem do Estado português”
PAS baseia-se no logro do anterior Governo da devolução da sobretaxa, assim como no resultado da execução orçamental de Outubro e no consumo de 95% do défice cujo objectivo anual está fixado em 2,7% do PIB; número em que até a própria Comissão Europeia não acredita.
Desta vez, estou em profundo desacordo com Pedro Adão e Silva. Queira ele ou não, o novo Governo é forçado a assumir o eventual buraco do Executivo cessante nas contas públicas. Competir-lhe-á, e não ao anterior, estar em funções à data do fecho de contas e no período subsequente do novo ano. O Orçamento de 2016, da responsabilidade da equipa de António Costa, é condicionado pelos valores das contas públicas de 2015.
No que respeita a preservação da imagem do Estado, no mundo globalizado e de comunicação intensiva como o de hoje, pode-se cuidar da imagem, mas é impossível furtar ao conhecimento da Comissão Europeia e do BCE o desfecho financeiro e o desempenho macroeconómico de um Estado-membro da Zona Euro, no final de cada ano.
O Eurostat, nos modelos de aglutinação e divulgação de dados estatísticos, encarregar-se-á de os difundir. E se é inevitável estarmos subordinados à vigilância de Bruxelas (UE e Zona Euro), igualmente estamos sob a observação atenta de entidades influentes no contexto internacional em geral (FMI e OCDE, por exemplo), assim como dos famigerados mercados e investidores.
Creio, pois, que o Governo de António Costa não extrairá benefícios de ser silencioso quanto à herança de Passos e Portas nas contas públicas. De resto, sou dos que admito ter sido essa das principais lacunas do modelo de comunicação de António Costa nas eleições legislativas.
Certamente sem o espírito e o tom de alta crispação que o Executivo de Passos e Portas aplicou no argumento da bancarrota, parece-me indispensável divulgar pública e rigorosamente os valores de fecho contas públicas de 2016 aos portugueses, assim como, usando o recurso a estratégia de comunicação correcta, enfatizar a informação com diplomacia e eficácia junto da Comissão Europeia, do BCE, do FMI, da OCDE, das agências de ‘rating’, bem como a comunicação a investidores e mercados.
Silenciar, a meu ver, significaria abdicar da denúncia do falhanço da política de austeridade e, lembre-se, o novo Governo assumiu com os portugueses o compromisso de executar políticas de combate ao estado de penúria e injustiça social em que milhões de portugueses têm vivido, por força do programa de ajustamento a que o País esteve submetido.

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Andrea Bocelli em homenagem a Ana Sofia Antunes


Ana Sofia Antunes é presidente da Associação de Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO). António Costa nomeou-a secretário de Estado da Inclusão das Pessoas com Deficiência. Jurista de profissão, exercia funções profissionais na EMEL. 
As actividades que desenvolveu anteriormente e o conhecimento aprofundado da falta de políticas de inclusão de deficientes no País levam a acreditar que a deficiência visual não constituirá obstáculo à competência e eficácia com que desempenhará o cargo governamental que lhe foi cometido.
Em singela homenagem, dedico-lhe um dueto de Andrea Bocelli, também cego, e Sarah Brightman na interpretação da melodia 'Time to Say Goodbye' que, em boa verdade, se deveria intitular 'Time to Say Welcome' em jeito de boas-vindas à Ana Sofia. 

A meta do défice de 2,7% em alto risco

O ataque de melancolia
O governo do PS, apoiado por BE, PCP e PEV, foi empossado. No final, em discurso abjecto, Cavaco não se dispensou de referir, com forte sentido elogioso, a trajectória de sucesso económico, social e financeiro (exactamente por esta ordem) conseguida pelo governo do seu coração. Comoveu Passos, Portas e, pensa ele, o País inteiro.
Em retaliação, disse que apenas estava "cerceado no poder constitucional de dissolver a AR", mas que tinha poderes para demitir o PM, caso venha a entender que o País esteja a sofrer um acentuado desvio da "trajectória de sucesso" e não respeite os tratados e compromissos internacionais que citou.
É fácil de desmistificar a ideia do enorme sucesso. A dívida pública em 130% do PIB (231,952  mil milhões  de euros em Setembro, segundo o Banco de Portugal); a dissimulada taxa de desemprego em 11,9% mas que, na situação real, atinge à volta de l milhão de portugueses; a situação de muito frágil liquidez dos nossos bancos, recentemente considerada pela Autoridade Bancária Europeia, e por aí fora, são problemas complexos. 
Ao que acabamos de citar terão de adicionar-se outros factores e aquelas notícias dispersas com que nos deparamos: a Somague, no dia seguinte às eleições, despediu cerca de 300 trabalhadores; a Unicer vai encerrar ou já encerrou a fábrica de Santarém, com a eliminação de perto de 100 postos de trabalho; a velhinha Triunfo das bolachas vai encerrar a unidade fabril em Mem Martins e atingirá perto de uma centena de trabalhadores; a outra 'Triumph dos soutiens" em Sacavém corre o risco de encerramento e de despedir 530 trabalhadores. 
Vivemos, de facto, uma época de sucesso em Portugal, que nem ao microscópio vemos, mas Cavaco e os cavaquistas observam-no com impressionante nitidez a olho nu ou com óculos de poucas dioptrias.
O pior, diz e augura essa gente, é que a trajectória de tanto brilhantismo será abruptamente cortada por António Costa e o seu governo. 
De facto, Outubro de 2015 foi um mês muito aziago para a PàF. Iniciou-se o processo de perda da governação, atingiu o valor de 0% de devolução da sobretaxa de IRS de 2015, soube através da execução orçamental, DGO, que já consumiu 95% do défice previsto para o ano, quando em Outubro de 2014 tinha atingido apenas 84%. Enfim, Outubro 2015 foi uma verdadeira desgraça para a direita neoliberal nacional (PSD+CDS).
Quanto ao défice, apenas mais algumas considerações. Só em Outubro (sempre ele) esse défice agravou-se em 1.700 milhões de euros, fixando o saldo das Administrações Públicas em -4818 milhões de euros. Deste valor, conclui-se que, em Novembro e Dezembro, apenas podemos aumentar o saldo citado, que é o défice, em -275,2 milhões de euros. Tal como a UTAO disse há tempos, e a própria CE, os 2,7% são impossíveis de alcançar. A Dona Maria Luís Albuquerque, uma vez mais, enganou-se nas projecções. A probabilidade de continuarmos sob o PDE (Procedimento de Défice Excessivo) é alta. Não venham dizer, depois, que a responsabilidade é do governo do PS. apoiado pela maioria parlamentar, que hoje tomou posse. 
(Adenda: as contas da DGO e cujos valores acima são referidos são feitas segundo as regras da 'contabilidade pública' na óptica de caixa (recebimentos e pagamentos); ao passo que o critério de Maastricht exige o cumprimentos de regras de 'contabilidade nacional' cujo cálculo é de base macroeconómica, i.e., não se consideram apenas os recebimentos e pagamentos mas outros ajustamentos das contas nacionais que levam, por norma, a défices superiores aos registados em 'contabilidade pública').

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

José Miguel Tavares, o maledicente provinciano

José Miguel Tavares é um comunicador difícil de qualificar. O rapazinho, à partida, parece-me bipolar. Umas vezes tenta fazer humor na TVI, naquilo a que chamo 'os 'Parodiantes de Lisboa' da era moderna - os 'Parodiantes de Lisboa' foram um ícone dos antigos programas populares de rádio; em outras ocasiões, está mal-humorado e desata a desancar em estilo esquizofrénico nos políticos de esquerda. 
Com efeito, o 'fulaninho' é de direita, o que em princípio é democraticamente aceitável; mas, não está isento de ser criticado, sobretudo quando procura o sistema do ataque pessoal no lugar de formular análises objectivas que, como sabemos, privilegiam temas precisos. De política; neste caso, poderia criticar o programa do PS, se é que o leu, apontando-lhe falhas e fragilidades. Trabalha para um jornal dito de referência. 
À partida devo declarar não ser militante nem do PS nem de qualquer outro partido. E quanto a Sócrates, que tanto perturba a massa encefálica do Tavares, jamais fui um admirador do estilo e tenho provas públicas do meu distanciamento. 
Por sua vez, à semelhança dos cada vez menos cidadãos que se interessam por política, anseio que o processo avance rapidamente. Somente o Ministério Público sabe o que será o teor da acusação, nada me surpreendendo que José Sócrates e os outros envolvidos no processo venham a ser julgados e condenados. Até lá, devem ser considerados inocentes.
O que penso do caso Sócrates, porém, não me concede o direito, a mim ou ao maledicente Tavares, de vir a público ofender e denegrir terceiras pessoas, ou seja,  ministros e secretários de Estado do governo de António Costa, hoje empossado. 
José Miguel Tavares, primeiro recorre ao título 'José Sócrates nunca existiu' e daí parte para hostilizar ex-ministros socialistas que se juntaram a António Costa - Augusto de Santos Silva e Vieira da Silva - e nem poupa outros próximos do ex-secretário geral do PS, José Sócrates, casos de João Soares e em especial Capoulas Santos.  
Mas de tudo, mesmo de tudo o que o Tavares escreve, o que considero mais ignóbil e ofensivo é a referência à Ministra Francisca Van Dunem. É impossível não existir por detrás das palavras um certo sentimento racista. Ao escrever:
"E porque me lembro disto tudo, estou até receoso que a nomeação de Francisca Van Dunem para ministra da Justiça, interpretada por alguns comentadores como um reforço da autoridade do Ministério Público junto do governo, tenha sido antes uma escolha de António Costa com o objectivo de vigiar de perto a actividade da Procuradoria numa era dominada por vários processos com profundas implicações políticas. Tendo em conta o currículo do PS no domínio da justiça desde os tempos da Casa Pia, ninguém pode dormir descansado. Mas se a qualidade da nomeação de Van Dunem é ainda incerta, isto, pelo menos, já temos como certo: António Costa não retirou qualquer ilação política nem do desastre de 2011, nem da detenção de 2014."
Tavares nem se dá conta de, em primeiro lugar, estar a lançar suspeitas sobre a nova Ministra da Justiça, e igualmente sobre todo o Ministério Público, porque o entende maleável, na totalidade, a interesses e influências partidárias. De Certeza, não leu no seu jornal, o 'Público', esta peça significativa e justamente elogiosa  para Francisca Van Dunem que, em futuro não muito longínquo, poderá vir a ser Juíza Conselheira do Supremo Tribunal de Justiça.
Tavares, temos de nos resignar, é um provinciano. E mesmo nessa acepção existem diferenças. Os que têm o culto do provincianismo mesclado de cosmopolitismo são os mais incomodativos e, nesta particular situação, a uma besta portalegrense não se pode exigir a performance de um cavalo de Alter do Chão. Conclusão minha.

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Sobretaxa: a farsa eleitoralista interpretada por Passos Coelho


Estas declarações de Passos Coelho foram proferidas a 25 de Setembro de 2015. Contas feitas, a dez (10) dias das eleições legislativas.
A fim de ludibriar o eleitorado, com fins e mais do que prováveis ganhos eleitorais, o PM, mentiroso desde sempre, afirmava taxativamente:
"O Estado devolverá em 2016 tudo o que cobrou em excesso, a mais, de IVA e de IRS. Ora aquilo que cobrou até Agosto em relação àquilo que estava previsto representa 35% da sobretaxa. Em Julho teria representado cerca de 25%. Quer dizer que tem vindo a melhorar a perspectiva do que pode vir a ser devolvido aos portugueses em 2016..." 
Se interpretadas com rigor e independência, estas palavras de Passos nem sequer constituem uma promessa vaga. São declarações de compromisso categórico de uma devolução de parte significativa da sobretaxa de IRS; parte essa, dava a entender o especialista descarado na mentira, que estava em crescendo. 
Ao saber o número final, com simulador para facilitar o reembolso do excedente no 'Portal das Finanças', algures no início de 2016 ficávamos a dar saltos de recomemoração da meia-noite de 31 de Dezembro de 2015.
Sabe-se através do Ministério das Finanças e da sua DGO que, fechadas as contas das receitas fiscais de Outubro, ou seja, 1 mês e 5 dias depois das enganosas afirmações de Passos Coelho, a devolução da famigerada sobretaxa se tornou nula (0%).
O estigma e a divisa do governo de Passos e Portas sempre foram a mentira e a manipulação da opinião pública. Contando com inúmeras conivências; uma parcela da comunicação social (com o grupo Impresa em destaque)  e do repugnante inquilino de Belém. Este jamais se demarcou de actos continuados de promiscuidade política. 
No entanto, e porque não sou político de profissão nem alimento ambições nesse domínio, posso afirmar que, de facto, há igualmente um segmento de portugueses que, de tão reles, os defendem. Que porcaria de gente é essa? Um amigo diz-me que é o segmento que se designa por classe 'mérdia' e 'mérdia alta', i.e., o podre da classe média tão visada pela austeridade.   

Cavaco, o repugnante

Sim, Cavaco o repugnante é assim que o PR em final de mandato, felizmente!, ficará para a História. Chamo-lhe repugnante da mesma forma que Miguel Sousa Tavares (MST) lhe chamou palhaço, Todavia, entre mim e o MST há uma diferença no que toca à colagem de epítetos ao Sr. Silva: jamais me penitenciarei da atitude.
Os motivos constam de longo e histórico processo. Acima de todos, prevalece o comportamento ultra-faccioso do primeiro magistrado do País. Jamais foi o meu presidente e o de milhões de portugueses. Sempre se isolou do povo, e os sorrisos artificiais e hipócritas confirmam-no, 
Abriga-se por norma no seio de uma elite restrita. A imagem do selectivo isolamento é a Quinta da Coelha e vizinhança amiga com quem partilha o espaço e o tempo no Algarve - o rubicundo Catroga e o ex-companheiro de trabalho do Banco de Portugal, Oliveira e Costa, são dois desses vizinhos.
Teve o primeiro acesso a um PR, Ramalho Eanes, pela mão do falecido Prof. Silva Lopes, então governador do Bando de Portugal. Filiou-se no PSD. Com o estafado argumento de que, na companhia da Dona Maria Aldegundes, apenas ía rodar um carro novo até à Figueira da Foz, voltou de lá eleito dirigente máximo do partido 'laranja'. Tudo calculado ao milímetro.
Invoco aspectos da vida pessoal, por serem indissociáveis da carreira política que influenciou a nossa. Um casal de classe média a viver ali às portas da Lapa, numa travessa dita do Possolo, não é rigorosamente a mesma coisa que ter casa na Lapa, de gente abastada e alguma até de origem aristocrata. 
A ambição desse casal melhorar o estilo de vida é natural. O que já é repugnante é chegar ao topo e, como PM e PR, ter erigido um feudo ao redor, extraindo benefícios excessivos e promovendo uma série de ministros e secretários de Estado dos seus governos a altos estatutos sociais e económicos. Ao ponto de muitos deles se tornarem emissores de fortes sinais exteriores de riqueza  -  Dias Loureiro, Mira Amaral, Ângelo Correia, Joaquim Ferreira do Amaral, Arlindo Carvalho e Faria de Oliveira, entre outros.
No uso dos fundos europeus, em que se registaram casos sob a alçada do poder judicial, desbaratou milhões e milhões na construção de auto-estradas e outros luxos não integráveis no sector dos 'bens transaccionáveis' que agora tanto defende - adversamente desmantelou e vendeu aos pedaços a CUF/Quimigal e associadas, algumas com as estruturas produtivas a deslocalizarem-se para Espanha. 
Como fanático seguidor da ideologia da Madame Thatcher, foi pioneiro na introdução em Portugal das Parcerias Público-Privadas: 'a Ponte de Vasco da Gama' e a primeira PPP no sector da saúde, o Hospital Amadora-Sintra concebido e construído com o Grupo José de Mello, têm a marca cavaquista.
É este PR, grosseiro e de frágil carácter, que, no recurso à baixeza que lhe é própria, interpelou por escrito António Costa com as seis questões reveladas ao público. Não o fez antes de indigitar o companheiro Pedro Passos Coelho para a formação do governo que, mais do que certo, tinha os dias contados. O maior estrondo nem foi a queda do governo. Soou das vozes histéricas de Luís Montenegro (PSD) e Nuno Magalhães (CDS). Que falta de classe e de maturidade política!
A terminar o ciclo da nomeação de António Costa para formar o XXI Governo Constitucional, a PR emite este comunicado, usando duas vezes, uma no título e outra no texto, o verbo indicar em vez do institucional indigitar
O Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa dá até um exemplo de aplicação do verbo indigitar: O Presidente da República já indigitou o Primeiro Ministro. De resto, indigitação significa propor ou designar alguém para um cargo; indicação é mais aquilo que informa alguma coisa.
Não me convencem que a troca de verbo foi casual, convicto como estou tratar-se de mais um acto próprio de Cavaco, o repugnante.

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

'Fixit', a probabilidade da Finlândia sair da Zona Euro


À excepção dos trabalhos publicados por alguns, poucos, jornalistas das secções ou suplementos económicos de jornais de referência (distingo Cristina Ferreira do 'Público'), o jornalismo económico nacional é de uma pobreza chocante. Os redactores desta área seguem as doutrinas da pequenez e do provincianismo estulto. Centram-se, na maioria dos casos, na intriga nacional, para agradar a patrões e a poderosos que, em muitos casos, são clientes geradores de receitas consideráveis de publicidade. 
Vivemos num Mundo Globalizado, somos um Estado-membro da UE, estamos integrados na Zona Euro, mas, com frequência, a imprensa económica ignora o que se passa para além da fronteira de Valência a Vila Real de Santo António, do território das agora famosas bananas da Madeira ou do arquipélago dos Açores dos saudosos Natália Correia e Vitorino Nemésio.
Mentalidade do pátio dos sarilhos, agora dominado pelo mistério do inquilino do Palácio de Belém, parece constituir o fundamento de que não se publique algo de legível sobre a 'Fixit'. Sabem do que se trata? A Reuters há três dias esclarecia através de um simples título do que está a passar-se na Finlândia:
'O parlamento Finlandês debaterá no próximo ano a saída da zona euro'
Até a CNBC que está lá do outro lado do Atlântico, em NY, em local próximo do Rockefeller Center, dedicou espaço, no seu 'site', a uma notícia que, entre diversos detalhes, comunica o seguinte:
"Ouvimos falar da 'Grexit' e da 'Brexit' para referir respectivamente à ameaça da Grécia e da Grã-Bretanha deixarem a zona euro e a União Europeia. Mas agora há a 'Fixit' - a saída Finlandesa da moeda única.Uma forte petição de 50.000 pessoas forçou o parlamento Finlandês a debater se devem sair do grupo de 19 países da zona euro..."
 A notícia é ilustrada pelo vídeo acima reproduzido, contendo as seguintes expressões:
" Finland May Leave the Euro Zone = A Finlândia pode deixar a Zona Euro Economy in Deep Trouble = Economia em apuros Hurting Exports = Sofrendo com as Exportações Increasing Government Spending = Aumento das Despesas Públicas
The Bottom Line = O Resultado Final A Fixit could be next = Uma Fixit pode estar próxima"
Espero que este meu 'post' não chegue ao conhecimento do Prof. Daniel Bessa. O homem nada percebe de política e este cruzamento da economia com a política até lhe causaria insónias. Curiosamente, arriscando-se a uma forte taquicardia, o ex-ministro ígnaro em política esteve em Belém a fim de transmitir a Cavaco um parecer que servirá para a formulação de uma decisão política de enorme relevância para o País. 
A Finlândia, lembre-se, não há muito tempo, comportava-se como um dos centros de certa espécie de novos sudetas da Alemanha, às ordens de. Merkel e Schäuble. Afrontou com enorme dureza os países do Sul da Europa, entre os quais Portugal. 
Todavia, nem jornalistas económicos (o Gomes Ferreira fica excluído porque nem é economista de formação e tornou-se propagandista da economia neoliberal) nem os Bessas desta terra têm a curiosidade de saber e falar ou escrever sobre o que se passa na terra do Pai Natal. Está longe e muito fria.

  

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

A patologia da visão de Cavaco

Cavaco observa as bananas da Madeira
Desde a célebre frase "Eu nunca me engano e raramente tenho dúvidas" passei a encarar Cavaco Silva como figura verdadeiramente enigmática. 
Interroguei-me em umas boas dezenas de ocasiões: "será verdade que, de facto, o gajo [tratamento informal com que o distingo] jamais erra e  as dúvidas são-lhe raras?". 
Sinceramente, até fiz algumas investigações e abordei o tema com alguns amigos psicólogos e psicanalistas, nunca obtendo uma justificação convincente. Científica, diga-se assim.
Disse em muitas ocasiões de mim para mim: "o homem é impermeável aos enganos e  praticamente até às dúvidas, mas deverá ter qualquer fragilidade que hei-de descobrir."
Esta minha agrura de algumas décadas, e a esperança que jamais perdi, acabaram por conduzir-me a defeitos de Cavaco, os quais durante tanto tempo lutei para descobrir. Como sempre sucede neste tipo de questões, de decifrar um enigma, as explicações caíram-me nas mãos subitamente e sem grande esforço da minha parte.
A descodificação do enigma iniciou-se com a mensagem da Madeira, onde o ex-PR afirmou:
"Vocês têm uma banana maior..."   
Banana maior a da Madeira? O homem tem deficiências de visão? Não é engano nem dúvida. É uma certeza dele. O Prof. João Lobo Antunes tem de solicitar a um oftalmologista amigo que valha a Cavaco. De resto, quando estavam a sós, até a Dona Maria Aldegundes, estranhando a afirmação, teve com ele o seguinte diálogo:
"Ó Aníbal quanto mede uma banana da Madeira? 
"Não medi, mas é a maior e deve ter para aí uns 50 cm 
" A olhómetro não é?
"Não, medida de olhos cerrados
Por associação de ideias, também cheguei à conclusão de que, no caso de nomeação do novo governo, Cavaco é afectado por obnubilação. 
Pode parecer paradoxal, mas um homem que sofre de visão pode tornar-se visionário. Sempre ambicionou e idealizou nomear Passos Coelho como PM, recusando-se antecipar que, em alternativa, poderia deparar.se com um acordo maioritário parlamentar do PS, com o BE, PCP e o PEV, para formação de um governo socialista. Só de imaginar que, se cumprir, terá de escolher e avistar-se com António Costa, Cavaco é acometido por ataques de perturbação da visão tais, que já nem consegue observar a tonalidade da pele, o perfil físico e se o secretário-geral do PS usa óculos e tem cabelo branco, grisalho ou preto. 
Para terminar, vamos à verdade: Cavaco Silva vê o que quer ou lhe interessa ver. Não sofre de deficiência de visão. Trata-se de patologia psico-oftalmológico rara como as dúvidas. Isto é, vê e muito bem como pode infernizar mais de 2,5 milhões de portugueses que votaram nos partidos seus adversários. 
Para cúmulo, à saída da reunião no Palácio de Belém, Ulrich, líder actual dos banqueiros portugueses, revelou-se favorável à nomeação de António Costa. Quando soube, o Sr. Aníbal ficou mesmo de 'olhos em bico'.    

  

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Quatro países da zona euro em risco de quebrar as regras da UE nos orçamentos de 2016

A notícia é proveniente da Reuters. O conteúdo deve ser objecto da maior divulgação, por se tratar de tema de interesse para os estudiosos de Economia e, inevitavelmente, para os cidadãos em geral. Portugal não se encontra entre os quatro Estados-membros citados pela agência noticiosa. Todavia, como País subscritor do 'Tratado Orçamental', é natural interrogarmos qual o sentido e a eficácia de se integrar na Constituição a famigerada 'regra de ouro' dos 3% de défice, pela qual os fundamentalistas do defunto governo PàF tanto se empenharam - em vão, felizmente.
Conquanto o 'Tratado Orçamental' seja a questão dominante, ainda que não referida explicitamente pela Comissão, outra vertente importante da notícia é concluir que as economias problemáticas são, em certos casos, aquelas que a imprensa portuguesa ignora, deliberadamente ou não. Casos da Áustria, França e Espanha, por exemplo. A crise da UE, e em especial da Zona Euro, é de facto dura, complexa e, a cada passo, mais extensa.

Tradução
Quatro países da zona euro em risco de quebrar as regras da UE nos orçamentos de 2016

Por Jan Strupczewski

Bruxelas, 17 de Nov. Itália, Lituânia, Áustria e Espanha arriscam quebrar as regras da União Europeia com os seus orçamentos de 2016, declarou a Comissão Europeia na terça-feira, enquanto a França também pode não cumprir algumas das metas orçamentais estabelecidas pelos ministros de finanças da UE.
É afirmado, no entanto, que os custos da crise de refugiados e migrantes na Europa seriam tratados como um caso especial.
A Comissão, o braço executivo do UE, examina os projectos de planos de orçamento dos países da zona euro cada ano, para verificar se os mesmos estão em consonância com o Pacto de Estabilidade e Crescimento, o qual estabelece regras para os orçamentos de UE.
As regras estabelecem que um governo tem que manter o limite do défice de orçamento abaixo dos 3% do PIB e se esforce para equilibrar as contas em termos estruturais - excluindo receitas extraordinárias e os gastos e os efeitos do ciclo de negócios.
Para estar em conformidade com as regras, os governos, em cada ano, devem reduzir o défice estrutural pelo menos em 0,5% do PIB até que fique próximo do equilíbrio ou alcançar um superavit.
A Comissão apontou o dedo este ano à Itália, Lituânia, Áustria e Espanha.

"Os projectos de planos orçamentais destes países podem resultar num desvio significativo dos caminhos de ajustamento no sentido do objectivo de médio prazo," foi dito.
O orçamento de França para 2016 foi amplamente compatível, disse a Comissão, porque o limite do défice estava conforme o exigido.
Mas a França está sob um processo disciplinar da UE, designado procedimento relativo aos défices excessivos, por ter tido um desvio orçamental superior a 3% do PIB. Os ministros das finanças da UE definem metas de consolidação orçamental anuais para países ao abrigo deste processo.
A Comissão disse que Paris estava em risco de falhar estes alvos.

"No caso da França, o objectivo do limite do défice recomendado é projectado para ser atingido em 2016, (plano orçamental) contém os riscos em matéria de cumprimento... porque o esforço orçamental está significativamente projectado para ficar aquém do nível recomendado, de acordo com todas as métricas," disse a Comissão.
É afirmado que foi pedido às autoridades francesas que tomem as "medidas necessárias no âmbito do processo orçamental nacional" para que o orçamento de 2016 esteja em consonância com as regras da UE.

terça-feira, 17 de novembro de 2015

O panfletário 'Jornal de Negócios' pró-direita

Na função de panfleto da direita, o 'Jornal de Negócios', online, publica a seguinte notícia:
"Dívida portuguesa é a pior do mundo desde as eleições
 Apesar da vitória da coligação entre o PSD e o CDS, as eleições culminaram em incerteza, o que afectou a dívida portuguesa. Ainda assim, dizem os analistas, há margem para ganhos. Até porque o BCE deverá apostar numa política ainda mais expansionista.
Após as eleições a 4 de Outubro, a crise política instalou-se, culminando no derrube do Governo de Passos Coelho a 10 de Novembro. Um factor que aterrou com estrondo nos juros da dívida, levando as obrigações ..."
A notícia, incoerente e sem ponta por onde se lhe pegue, é assinada por um tal André Tanque Jesus - um tanque a cilindrar a verdade e a manipular a opinião pública, na prossecução da pérfida campanha pró-PáF. 
No 'Jornal de Economia' da SIC-N, às 18:15 h, da redacção da Reuters informaram que os juros das obrigações portuguesas se destacaram, por serem aqueles cujas taxas registaram hoje a maior baixa.
A facciosa campanha do 'JN' também é contrariada no 'site' da Bloomberg, que no quadro em que lista de juros para 10 anos, um prazo padrão das obrigações de dívida pública, a taxa da dívida portuguesa era a que, apenas precedida pela Grécia, registava a 2.ª maior queda relativamente ao dia de ontem (- 11 pontos), fixando-se em 2,55%, abaixo, portanto, dos 2,88% indicados pelo "Negócios". 
Também não é a pior da Zona Euro (Grécia = 6,79%); muito menos do mundo: México 3,84%, Brasil 5,96%, Austrália 2,91%, Nova Zelândia 3,54%, Singapura 2,59% e Índia 7,67%  superam a taxa da dívida portuguesa para o prazo em questão. Registe-se que a taxa de idênticas obrigações dos EUA se fixam em 2,27%, mais baixa apenas -28 pontos base do que a cotação das obrigações nacionais a 10 anos.
  

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Informação privilegiada e irresponsabilidade



O insosso e inócuo ex-presidente do Conselho Europeu, Herman van Rompuy, veio a Lisboa participar em conferência organizada pela Mckinsey & Company, conjuntamente com Durão Barroso (PSD, Portugal) e Joaquin Almunia (PSOE, Espanha),
O citado evento constitui um acto colectivo de prestidigitação, sob a designação de 'Portugal - Escolhas para o futuro'; sim, porque as escolhas para o tempo que passa estão condicionadas por Cavaco e só ele (e amigos e companheiros de partido) as conhece.
Passos Coelho, dando a ideia de ter acesso a informação privilegiada, revelou-a ao Sr.Rompuy, ao declarar, em inglês fluentemente pastoso, que Portugal terá um novo governo daqui a duas semanas, para negociar com Bruxelas.
Trata-se de mais uma infantilidade do irresponsável Coelho, porque este tipo de revelação de informação privilegiada a um estrangeiro constitui uma despropositada e ofensiva primazia em desrespeito pela soberania e pelo interesse supremo dos cidadãos portugueses. Naturalmente, deveriam ser os primeiros a saber notícias do novo governo. Quando nomeado e entrará em funções. 
É certo que os cidadãos nacionais igualmente ignoram quem chefiará esse governo - uns podem crer que será António Costa, outros farão outras congeminações. Todavia, ao desvendar o prazo, Passos Coelho ficou sob a suspeita de conhecer mais pormenores da deliberação de Cavaco que, hipocritamente, na Madeira afirmava ter estado num governo de gestão durante 5 meses.
A inconfidência de Coelho é mesmo inaceitável, por ter sido feita publicamente a um estrangeiro que hoje já nem tem funções na UE e, na companhia de Barroso e Almunia, anda por aí a fazer prelecções ocas sobre a Europa que nos legaram nas circunstâncias que os portugueses e outros povos do Continente conhecem e sofrem, no quotidiano.
(Outra infantilidade de Coelho: abordar a situação política portuguesa em citação comparativa com os atentados terroristas de Paris. Haja paciência para aturar esta criançada!)        

Tolerance - artigo de Laurent Joffrin no 'Libération' (tradução)

O artigo traduzido revela-se uma reflexão objectiva sobre os movimentos geracionais, caracterizando a comunhão de experiências e interesses das vidas das gerações de hoje - em França e na Europa em geral. Os obstáculos de iniciar e desenvolver uma carreira profissional pelos jovens de hoje; a infalível mistura social de zonas urbanas e suburbanas; o ódio instilado na juventude mais precária, fanatizada por repugnantes e aterradoras instituições religiosas fundamentalistas, das quais o EI é a expressão máxima. 
O autor toma em consideração o perfil comum das vítimas para sublinhar que os terroristas dizimaram a violência justamente sobre o segmento jovem mais tolerante da sociedade  francesa actual. 
Do ponto de vista sociológico, psicossociológico e de políticas sociais e de segurança é uma reflexão a merecer atenção, como estudo das comunidades de crescentes complexidades, integrantes do mundo actual. Globalizado mas de expandida desumanização.
   
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Laurent Joffrin - 15-11-2015


ÉDITO O que é uma geração? Um evento. Havia a geração da guerra da Argélia, aquela de Maio 68, ou mesmo a do caso Dreyfus. Agora há a geração Bataclan. Os assassinos afirmaram, eles mesmos, na reivindicação: é em plena consciência que têm como alvo este grupo, depois de uma escolha de lugares deliberada, "minuciosa", segundo o seu próprio termo. Contra a França e a Alemanha, eles pretendiam fazer um massacre no Stade de France, mas também contra o desporto, que têm por uma ocupação profana - o GIA argelino, no seu tempo, designava o futebol à condenação dos activistas fundamentalistas.
Contra um estilo de vida aos seus olhos pervertido, enfim, eles mataram mais de cem pessoas no perímetro do estreito que é adjacente ao canal Saint-Martin, bairro jovem, um pouco misturado entre boémios e filhos de imigrantes, intelectualmente precários e executivos votantes da esquerda na maioria. Claro, o grupo etário que estamos falando é muito mais amplo, mais diversificado em toda a sociedade francesa. Observe também que os assassinos são, neste caso, da mesma idade das suas vítimas. Mas há referências em comum desta geração, gostos partilhados e valores convergentes para que se reunissem sob este vocábulo, legitimo senão mesmo científico. Uma certa abertura cultural, um liberalismo de costumes, um cosmopolitismo que não exclui uma forma de patriotismo amigável, como evidenciado pela proliferação das três cores francesas nas páginas de Facebook... Sem que esta tolerância forme um mundo de ursinhos: os mesmos jovens, muitas vezes entram dificilmente na vida profissional, conhecem a precariedade e celebram a sua primeira remuneração como os outros da legião de honra. A sua vizinhança, mesmo que continue a ser mista, é mais uma justaposição das minorias como uma mistura feliz. Mas é uma cultura, um modo de vida, decadente, de acordo com os islamitas, que é gratuito, que os assassinos queriam aterrorizar. Paradoxo destes assassinatos: como Charlie Hebdo, queriam alcançar os Franceses tolerantes. É a tolerância que se visa tanto como a França. Nestas condições, o  erro supremo seria tornar-se intolerante a si próprio. Então ninguém entenderia que uma agressão, idealizada pelo Daech, permanecesse impune, mesmo na tradicional retórica bélica, enquanto esta guerra para além das definições convencionais, é deslocada da realidade do conflito. O discurso de fechamento, cada vez mais barulhento, não fará justiça às vítimas que viviam diariamente os valores da abertura.