sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Zona Euro: inflação cai, deflação ameaça

O ‘Eurostat’ também fornece informação inquietante. Hoje, p.e., anunciou a estimativa do valor de 0,7% para inflação neste mês de Janeiro. Em Dezembro de 2013, a mesma inflação havia sido de 0,8%.
Várias vezes Mario Draghi tem manifestado preocupação com este comportamento de quebra da inflação e ainda mais com um desfecho que seria trágico, a deflação. Christine Lagarde há cerca de duas semanas denominou-a de monstro e fez um forte apelo à criação de empregos.
Draghi e Lagarde estão, de certo modo, em pânico com a deflação e os riscos desse fenómeno são, de facto, muito, muito preocupantes. A deflação, ao invés do que muitos cidadãos imaginam, não é uma situação episódica. Dura para aí 2 meses e pronto já passou! Isto é inflação negativa.
Como aconteceu ao Japão, a deflação é um processo, durável por longo tempo, de queda de preços e os efeitos são desastrosos. Citamos alguns desses efeitos:
  • para os grandes devedores é trágico, porquanto as dívidas permanecem idênticas, mas os preços e os rendimentos caem acentuadamente (imagine-se uma PME que tenha contraído empréstimos bancários, na expectativa de certa rendibilidade do negócio e, por longo tempo, sente a queda de lucros por efeitos da redução de preços e, consequentemente, da rendibilidade esperada);
  • uma família que tenha adquirido um apartamento para pagar em prestações fixas, se conseguir, acabará por pagar a casa a um preço muito superior ao que a mesma vale por efeito do processo deflacionário;
  • consumidores e empresas adiam compras na expectativa de vir a beneficiar de preços mais baixos e, assim, a actividade económica diminui e tendencialmente cai também o emprego;
  • salários e rendimentos também vão perdendo valor;
  • como as receitas públicas dependem, em grande medida, da actividade económica, portanto, o encaixe de fundos pelas finanças é menor.

Menos desemprego? E a emigração?

O ‘Público’, tendo por fonte o Eurostat, anuncia a queda da taxa de desemprego em Portugal para 15,4% em Dezembro de 2013, i.e., menos 0,1% do que no mês anterior (15,5%). Há um ano, as estatísticas daquele organismo europeu indicavam uma taxa de 17,3%.
A mesma notícia refere que, no que respeita ao desemprego jovem, ou seja, indivíduos com menos de 25 anos, a percentagem também caiu 0,3% em Dezembro de 2013 para 36,3%.
Claro que a euforia governamental é imensa, mas em simultâneo um logro. Se, de facto, temos ligeiros aumentos de actividade económica, o investimento está abaixo de insípido e embora em menor número continua a registar-se considerável número de insolvências, quais as causas da redução do desemprego?
Reconhecido por diversas entidades credíveis, desde 2011 emigram do país 120.000 cidadãos por ano – à média de 10.000 mensal – é natural e lógica a diminuição daqueles que estão nas condições do Eurostat para serem contados como desempregados; condições essas a seguir enunciadas:
  1.  sem trabalho durante a semana de referência (da estatística, acrescento);
  2. disponíveis correntemente para o trabalho, i.e. estiveram disponíveis para um emprego remunerado ou para auto-emprego antes do final das duas semanas seguintes à semana de referência;
  3. procuram activamente emprego , i.e. cumpriram diligências específicas no período de quatro semanas terminado na semana de referência a procurar emprego remunerado ou a criar auto-emprego semanalmente ou obtiveram trabalho para iniciar mais tarde, i.e. dentro de um período máximo de três meses.
Com efeito, no caso português, e tendo em conta o fluxo contínuo e massivo de emigrantes, sobretudo jovens, é impossível garantir que as quebras, aliás limitadas, reflictam a criação de postos de trabalho no país. Por sensibilidade fundamentada, o desemprego tem sido reduzido à custa da emigração, em especial de jovens e a maior parte deles com níveis de habilitações elevados – são aqueles que “deixam a zona de conforto”, como disse o imbecil ex-ajudante Mestre e foi ratificado pelos intrujões Relvas e Passos.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

‘Leya’ atentamente, Vossa Graça Senhor Conde de Alferrarede

José Saramago desperta o ódio de condes. Sim, condes autênticos ou virtuais. Primeiro, foi Sousa Lara, 2.º conde de Guedes, então amanuense subsecretário de estado da Cultura do XII Governo Constitucional, chefiado pelo conde virtual da alfarroba, a impedir a candidatura do notável escritor ao Prémio Literário Europeu de 1992. A autoritária figura das terras das alfarrobeiras foi lesto e convicto na aprovação da proposta do subajudante.
Depois da morte do respeitável escritor, Nobel da Literatura de 1998, outro titular da nobreza, Miguel Pais do Amaral, 4.º conde de Alferrarede, desentendeu-se com as herdeiras do escritor. Quebrou-se uma relação de 29 anos entre Saramago e a Editorial Caminho; esta foi adquirida em 2008 pelo grupo Leya, de que o conde das terras dos azeites é proprietário.
Dominador e com ambição material ilimitada, Pais do Amaral, além da ruptura com as herdeiras de Saramago, quebrou igualmente acordos com o jovem escritor João Tordo e, mais recentemente, com Miguel Sousa Tavares, um dos autores de vendas mais elevadas na actualidade, Ao que consta, a lista de autores afastados do famigerado grupo livreiro já é bastante extensa.  

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Afinal somos a Itália e a Bélgica, diz a S&P

Alegoria à S&P
Zona Euro melhora, mas Portugal não
Ui, a coisa está feia! Anda o governo a ufanar-se de resultados alcançados na meta do défice de 2013; a polvilhar-nos de entusiasmo do início de retoma económica; a propagandear sucessos de idas ao mercado de capitais com taxas mais reduzidas… e, de um momento para o outro, vem a agência de ‘rating’ Standard & Poors divulgar que, no fim de contas, Portugal não está assim tão bem. Bolas! Coitado do Camilo Lourenço. Ficou completamente despenteado – as figuras a que um individuo está sujeito, por ser activo apoiante de P&P, sociedade de governantes.
Ser como a Irlanda ou a Grécia, outro equívoco – de ‘PIIGS’ passámos a ‘PIB’
Não há mal que sempre dure, mas em certos casos perdura. Ainda ontem, e convictamente, escrevi neste ‘post’ que não somos a Irlanda nem a Grécia (ver frase sobre fundo amarelo), a propósito dos diferenciais das nossas taxas de juro em relação aos dois países. Da Irlanda, que beneficia de taxas bastante mais baixas, estamos a léguas.
De súbito, e de moral desfeita porque da infelicidade da maioria dos portugueses se trata, vem a Standard & Poors que diz coisa parecida e outras ainda piores. Emitem o parecer de que a Zona Euro tem perspectivas de recuperação limitada em 2014, precisando:
·        Irlanda e Letónia poderão beneficiar de revisão em alta da notação de ‘rating’.
·        Um grupo de 13 países deve manter a notação.
·        Portugal, Itália e Bélgica sofrerão de revisão em baixa.

Os grandes contribuintes e os contribuintes à grande e à francesa

Está na massa do sangue do governo. Os grandes beneficiam sempre de prioridade e atenções especiais. Agora, a Secretaria dos Assuntos Fiscais, em exercício de mimetismo em relação às autoridades do Reino Unido e Espanha, vai criar o fórum dos contribuintes.
Todavia, para optimizar a actividade da Unidade dos Grandes Contribuintes (UGC) e o funcionamento de tal fórum, o secretário de estado Paulo Núncio está, porventura, a ponderar a criação de uma filial da UGC em Amesterdão. Será dedicada exclusivamente aos grandes contribuintes do PSI-20 – penso que são mesmo as 20 sociedades cotadas – para estabelecer um diálogo permanente e amistoso entre os ‘grandes contribuintes’, que se auto-expatriaram fiscalmente, e a Autoridade Tributária e Aduaneira (AT).
Nas medidas políticas governamentais, é tradicional, e esta decisão política não atraiçoa a regra, que os contribuintes em Portugal sejam sempre distribuídos por dois segmentos: ‘o dos grandes’, ou seja, os privilegiados, e ‘os contribuintes à grande e à francesa’; neste último grupo, aglutinam-se milhões, muitos de parcos recursos, que pagam montantes enormes de impostos, independentemente de viverem com rendimentos limitados e posteriormente amputados.
Estes últimos, grandes responsáveis pela melhoria do défice de 2013 com participação substancial através do agravamento e do aumento de receitas fiscais de 3.000 milhões de euros em sede de IRS, não têm direito a fórum – pagam e não ‘fóram’...   

As maluqueiras do idiota Cunha

O blasfemo Cunha, idiota por fatal vocação e falta de decoro, serve-se de um tema actual, muito mediatizado e polémico, para publicar um título, ‘A maluqueira das praxes’, sem qualquer correspondência com o conteúdo do que escreve a seguir.
O truque tem barbas e consiste em estratagema ridículo. O objectivo é atrair leitores através da reles intrujice da dissonância entre título apelativo e o texto divergente.
Com a irracionalidade própria de quem imagina que todos que o lêem são dominados pela tolice, a construção do texto, do garoto Cunha, resultou numa espécie de peça acusatória contra o Mário Soares, por milhares de crimes que o homem cometeu.
Não sou soarista, nem filiado em qualquer partido. Todavia, sou intransigente defensor da verdade e é inaceitável que um rapazola que, em 1974, ou não tinha vindo ao mundo ou era pouco mais do que recém-nascido, sem possibilidade de conhecimento tangível da realidade deste País à época, nem testemunhar a chegada Salgueiro Maia e seus soldados ao Largo do Carmo, se permita concentrar num único político as causas de todos os males do País, esquecendo as governações de Cavaco, Guterres, Barroso e Sócrates. Em grande parte destes consulados, Mário Soares já não participava nas esferas decisivas do poder.
Uma coisa é certa, Soares lutou por esse direito e é livre de escrever o que pensa. Pode-se concordar, discordar, polemizar e contrariar com ética o que ele escreve e denuncia. Porém, quando o garoto Cunha desanca, sem conhecimento de causa, em Soares, forte e feio, renuncia ao cumprimento de regras de seriedade no debate dos problemas de Portugal e da Europa.
Sem entender, torna o debate subjectivo. Com efeito, enreda-se em torno de uma pessoa e não dos temas que Soares aborda, com irrefutável legitimidade. E esses temas – pobreza, desigualdade, crianças subalimentadas do Norte a Sul do País, extorsão de parte de pensões, reformas e salários, cortes no subsídio de desemprego, elevação das taxas moderadoras na saúde, desemprego, “enorme agravamento de impostos” e outros capítulos governamentais socialmente obscenos – constituem o desiderato de actos deliberados da política monetarista e anti-social do governo em funções, de que Vítor Cunha é comissário – de facto ou de direito? É a minha dúvida.
Se já não o fizeram, um dia destes Passos Coelho e Paulo Portas empenhar-se-ão em compensá-lo.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

O jogo: ‘cautelar’ ou ‘saída limpa’?

Cara ou coroa? Nesta fase do jogo da programa de “ajuda” da ‘troika’ é pergunta equivalente aqueloutra (‘programa cautelar’ ou ‘saída limpa?’) que muitos formulam, os governantes portugueses não debatem externamente e, em jeito de maior apropriação da nossa soberania já de si condicionada, as opiniões da Alemanha, dos ‘lobbies’ de Bruxelas e dos membros do Eurogrupo dividem-se pelas duas alternativas.
Sublinhe-se que, entre os “amigos da onça” da Zona Euro, os critérios de escolha não se fundamentam em condições mais vantajosas para Portugal. Baseiam-se, isso sim, nos interesses dos próprios países e em opiniões também interesseiras de individualidades de que o ‘Público’ nos dá conta. Destacamos os seguintes exemplos:
  • ·        A ‘saída limpa’  é a preferência da Alemanha e países nórdicos – que incomodativo a Sr.ª Merkel e PM’s com ela alinhados terem de justificar perante o Tribunal Constitucional alemão e/ou parlamento a operação de apoiar Portugal com um ‘programa cautelar’!
  • ·        A França e Oli Rhen alinham pelo ‘programa cautelar’.
  • ·       Verifica-se ainda o ilegítimo objectivo de influenciar o comportamento do PS, pretendendo-se impor aos socialistas, como membros do ‘arco da governação’, um consenso com PSD e CDS sobre a estratégia orçamental para os próximos dez anos.

domingo, 26 de janeiro de 2014

Dois rábulas comentadores políticos televisivos

                                 Marques Mendes na SIC em 26-01-2014
No título, utilizo com propósito deliberado e no plural o termo rábula (= advogado que embaraça as questões com artifícios, segundo o ‘Dicionário da Porto Editora’).
Sem partidarite ou fuga a informação objectiva, vou referir-me a dois veteranos ‘laranjas’, ambos formados em Direito, um fala na SIC ao Sábado, outro na TVI ao Domingo,  e apresentam-se como magnificentes autólatras.
Melindrado com o documento de estratégia Pedro Passos Coelho – o laranjal foi invadido por ácaros e pulgões – o Professor Marcelo declarou, no passado domingo, desistir da candidatura à PR, mas… é o irrevogável revogável do outro.
Polivalente e prolixo, Marcelo, como disse Clara Ferreira Alves, é um comentador que até se comenta a si próprio; ou então, na observação bem-humorada de Luís Pedro Nunes, o mesmo Marcelo pensou, concluiu e exclamou: “Espera lá, ele escreveu cata-vento na moção de estratégia, então cata-vento é comigo… ah!”.
O portátil Marques Mendes, ontem na SIC, um político no activo – está no Conselho de Estado – consumiu 7m13s a desfazer-se em argumentos esfarrapados, tentando iludir a opinião pública da sua ausência de responsabilidade no caso de, na qualidade de gerente da Isohidra, e em conjunto com o companheiro de partido e empresário (SLN / BPN), terem alienado acções das participadas Enersistems e Eneratlântica por cerca de 51 milhões de euros.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Leia Saramago por outro caminho

Pilar del Rio e Violante Saramago Matos, herdeiras de Saramago cortaram relações contratuais com a Caminho, uma das editoras integradas no grupo livreiro Leya.
O citado grupo é dominado pelo 4.º conde de Alferrarede, Miguel Maria de Sá País do Amaral, filho, por sua vez, do 7.º conde da Anadia, Manuel José Maria de Sá Pais do Amaral.
Bem, é uma baralhada de Marias, Pais e Amarais, somente susceptível de ser decifrada à custa de persistentes esforços mentais. No final de tanto reflectir, concluímos são ambos Maria mas masculinos; ambos Pais mas um é filho; e Amaral é o apelido que aos nomes serve de ponto final.
Dos títulos nobiliários, também se extrai interessante conclusão.  Sendo Miguel o actual 4.º conde de Alferrarede e filho do Manuel, 7.º conde da Anadia, fica a saber-se que, na competição de condados, a terra do espumante e dos leitões destaca-se à frente da localidade dos azeites: Anadia 7 – Alferrarede 4, entre condes Amarais.
As herdeiras do Nobel da Literatura, homem republicano, reafirmamos, disseram não à continuidade do percurso da ‘Caminho’ pelo itinerário da nobre Leya.
Certamente tiveram razões para renunciar o contrato de 29 anos entre o saudoso escritor e a Editorial Caminho. Nas quase três décadas, apenas há seis anos a Leya se atravessou na Caminho. E Miguel Pais do Amaral, também competidor automobilístico, é conhecido por, no mundo de negócios, usar poderoso carburador-sugador que, como o eucalipto, seca tudo à sua volta.
O grande escritor, em Portugal e no mundo, continuará a ser lido por milhares. A potenciais leitores apenas  me permito aconselhar: “Leia Saramago por outro caminho".

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

O negócio prisional holandês

célula prisional
O governo holandês anunciou a intenção de cobrar a cada recluso uma diária completa de 16 € . Da notícia, não se entende se o valor é preço único, quais os meios de pagamento aceitáveis ou se haverá a possibilidade de recurso a crédito bancário.
Colocam-se, portanto, incertezas, das quais destaco:
  • Se o recluso não tiver dinheiro vivo disponível e quem o ajude, nem conta bancária, como procederá ao pagamento?
  • Poderá recorrer a financiamento bancário com o aval de quem?
  • O preço é, de facto, fixo, único, igual para todos, independentemente da diferença de instalações e do preso se chamar Isaltino ou Jesuíno, Azevedo ou Quevedo, ou seja, presos comuns e reclusos com direito a quartos e rancho de qualidade?
De resto, e a despeito de um recluso custar em média 200 € / dia ao Estado, o governo holandês, devido à redução da população prisional, dispõe de 20 prisões para alienar e realizar receitas.
Certamente com o neoliberalismo a imperar, também por cá, as nossas ministras das Finanças, Maria Albuquerque, e da Justiça, Paula Teixeira da Cruz, se inspirarão no paradigma holandês, para reforçar receitas orçamentais futuras.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Os alertas da OXFAM à liturgia de Davos

A liturgia anual de Davos repete-se nos próximos dias 22-25 de Janeiro. Trata-se de uma autêntica liturgia, no sentido etimológico da palavra e na natureza característica do evento: “História de serviço público, religioso ou cívico, prestado pelos cidadãos mais ricos na antiga Grécia.”
O ‘Fórum de Davos’, este ano, é dedicado ao tema:
“A reformulação do Mundo: Consequências para a Sociedade, Política e Negócios.”
Cientes de que o citado ‘Fórum’ é das acções mais hipócritas que grupos de poderosos reeditam na localidade usada como cenário na obra ‘A Montanha Mágica’ de Thomas Mann, reforçam a perfídia através do tema escolhido, com asserções de enorme falsidade, como a seguinte:
Trata-se de uma declaração que, a nível superficial mas real, é equivalente à resposta obtida do bancário ou do trabalhador das finanças, se formos reclamar contra um erro: - Desculpe, foi do sistema mas vamos rectificar rapidamente. – É o que nos dizem.