João Vieira Pereira (JVP), Director-adjunto do jornal “Expresso”, publicou na
edição ‘online’ do “Expresso
Diário”, um artigo sob o título “Sorte?
Sorte têm os lituanos”.
JVP é um jornalista conhecedor das regras deontológicas da profissão,
nomeadamente a objectividade, a imparcialidade e a ética na missão de avaliar, informar e comentar – ainda hoje no “Expresso Curto”
crítica, duramente e bem, a abjecta divulgação de um vídeo pelo “Correio da
Manhã” de uma alegada violação de uma jovem num autocarro do Porto.
O conhecimento das citadas regras e dos deveres do jornalismo, no caso de
JVP, constitui uma razão acrescida para, no comentário do desempenho económico governativo
ou de qualquer outro tema, afastar do que escreve o ressabiar, a mesquinhez
e a falta de rigor com que trata António Costa. Criticar com fundamento é uma
coisa, atacar com superficialidade e má-fé é outra, bem distinta e condenável.
De entrada, JVP reconhece que António Costa é um “político exímio”.
Todavia, logo acrescenta que, conquistada a esquerda para as políticas de
direita, Costa “está a colher frutos de uma estratégia que não é a sua”. Impõe-se
perguntar: então de quem é? Como a oposição de direita ao actual governo tem
uma devoção por figuras transcendentais, em que JVP se revê, admitamos que é Lúcifer o autor
da estratégia.
Com aviltante simplismo, e baseando-se no facto de Portugal ter tido um
acréscimo do PIB de “apenas” 2,8% no 1.º trimestre de 2017, considerando o
período homólogo de 2016, e a Lituânia 4,1%, JVP escreve:
“[…] estamos mais próximos do
bem-estar da Roménia ou da Bulgária do que dos países com os quais nos costumávamos comparar. Este
ano é a vez de a Lituânia nos dizer adeus.”
Concluir isto através do PIB de um trimestre é demasiado redutor e, digo-o sem receio, intelectualmente desonesto. Comparemos somente alguns dados demográficos e
macroeconómicos de um e de outro país:
População
Salário Mínimo Nacional (2015)
Portugal: 589,17 Euros
Lituânia: 300,00 Euros
PIB (2016)
Portugal: 205.860 mM de USD
Lituânia: 42.780 mM de USD
Fonte: FMI
Taxa de Desemprego (2016):
Portugal: 11,2%
Lituânia: 7,8%
O desemprego na Lituânia está, de facto, abaixo do nível percentual de Portugal. Todavia, é preciso sublinhar que, depois da adesão à UE em 2004, o país báltico, desde 2007, registou uma diminuição da população de cerca de 17,3% (-582.813 cidadãos residentes), por efeito da forte emigração para destinos da UE em 9 anos. Portugal, no mesmo período, teve um decréscimo de 2,60% (-274.340 cidadãos residentes).
Quanto ao crescimento do PIB da Lituânia, e tendo em conta a adesão à UE em 2004, nas causas desse aumento encontrar-se-á certamente o investimento público auxiliado por fundos europeus, fenómeno que em Portugal se registou nos tempos de Cavaco Silva e António Guterres e que, para o caso, não é despiciendo. Igualmente não é desprezível a posição da Lituânia como destino de indústrias deslocalizadas a partir de países de custos de mão-de-obra mais elevados, nem as multi fronteiras com a Bielorrússia, a Letónia, a Polónia e a Rússia - Portugal tem Espanha e o Mar.
Comparar países apenas através do PIB trimestral, sem atender a outros factores, é um erro, demasiado grave se propositado.