quarta-feira, 15 de julho de 2015

Costa, o grande líder da banca portuguesa

Carlos Costa em prece
As cumplicidades com o governo catapultaram Carlos Costa para novo mandato de governador do Banco de Portugal (BdP). A obediência ultrajante ao BCE, que capturou a soberania de Portugal em termos de sistema financeiro, também ajudou.
O BdP é um sólido abrigo de luxo e perpétuo de numeroso grupo de economistas, advogados e políticos. Independentemente do tempo de serviço, beneficiam de reformas douradas. Os quadros do banco central, os “Rosalinos”, e outros trabalhadores da instituição também contam com regalias ofensivas, nos momentos da crise sofrida pela população portuguesa.
Uns atrevem-se a acusar as famílias de terem escolhido o endividamento bancário como suporte de vida. Poucos reconhecem que aforradores como os do ‘papel comercial do BES’, apesar da escolha de economizar, vêm e sentem-se impotentes perante a apropriação das poupanças.
Carlos Tavares, da CMVM, defende que o dito papel comercial deveria ser convertido em obrigações subordinadas do Novo Banco, o que, em si, já constitui um risco elevado de perda do capital.
Todavia, o Sr. Costa opõe-se à medida preconizada pela CMVM. Argumenta não se afigurar viável. No fundo, por instruções do Sr. Costa, o BdP emitiu em 14 de Julho um comunicado em que declara, no ponto 8, o seguinte:
“8. Acresce que, sendo o Novo Banco uma instituição de crédito significativa para efeitos do Mecanismo Único de Supervisão, os efeitos prudenciais de uma eventual transacção teriam em qualquer caso de ser apreciados pelo Banco Central Europeu, na qualidade de autoridade de supervisão prudencial do Novo Banco.”
Não existe forma mais explícita de proclamar que, afinal, a banca nacional e os portugueses estão submetidos à poderosa tutela do BCE, sem que essa subordinação tenha sido sufragada – Rajoy está a anunciar, hoje, que vai submeter à votação do Parlamento de Espanha a participação do seu País no programa de resgate (?) da Grécia. Faz-se o que convém ao poder.
Ou há uma transformação profunda do regime e regras do exercício democrático na UE, e na Zona Euro em especial, ou esta Europa degradar-se-á até à evaporação, valendo-nos – oxalá! - o fim do autoritarismo da Alemanha e seus aliados. A protecção dos poderosos, em particular de quem domina os sistemas financeiros, há-de ter um fim.
Há ainda diversas questões adicionais impossíveis de esquecer:
  • ·         Terá o Sr. Costa e a sua equipa de tecnocratas feito tudo a quanto estavam obrigados para evitar o descalabro do BES e o prolongamento de Ricardo Salgado e outros como administradores até à destruição do referido banco? [é público e notório que não!]
  • ·         Terão as equipas e a supervisão do BdP do Sr. Costa averiguado os argumentos com que aos balcões do BES foi promovido e vendido o ‘papel comercial’ a clientes sem conhecimentos suficientes de ordem financeira ou mesmo a iletrados financeiros? [É opinião generalizada de que esse tipo de diligência não foi feito].
Por último, e por ser humilhante e contrastante com os sacrifícios exigidos aos portugueses, é no mínimo lamentável que o BdP, desde 2011, tenha gasto mais de 2 milhões em viaturas para uso próprio dos privilegiados quadros do Banco Central. Não se surpreenda, pois, o Sr. Costa que, à porta de casa, haja de volta e meia umas dezenas de lesados do BES a chamar-lhe gatuno. A resistência à revolta tem limites.

terça-feira, 14 de julho de 2015

Passos Coelho, o caricato narcisista




Segundo refere com frequência a comunicação social, uma larga maioria de deputados adopta como bíblia 'O Príncipe de Maquiavel'. 
Com deplorável culto de narcisismo, Passos Coelho vangloriou-se após a última cimeira do Conselho Europeu de ter sido de sua autoria a solução para a utilização do fundo de privatizações grego, de 50 mil milhões de euros, incluído em pacote de condições severas, senão mesmo de cumprimento impossível.
Passos Coelho revelou-se, uma vez mais, um artista maquiavélico, ou seja, do tipo de quem entende que 'os fins justificam os meios'. Mesmo que se ofenda a soberania de um povo, através da louca austeridade agora agravada para causar a implosão do Syriza e a saída da Grécia da Zona Euro.
É oportuno sublinhar que, a propósito de estadistas e políticos, não existem apenas as teorias de Maquiavel. Outros pensadores, Ortega y Gasset, por exemplo, no ensaio 'Mirabeau o el político' manifesta um género de pensamento muito distinto da doutrina maquiavélica, culminando nesta sublime distinção:
"O estadista preocupa-se com a próxima geração e o político com a próxima eleição"
O comportamento de Pedro Passos Coelho, no passado, presente e expectável no futuro, é eloquente na demonstração de que, como  muitos outras figuras de vários quadrantes, temos de o considerar um político, nesta última acepção; no caso dele, de qualidade reles que, mentira atrás de mentira e vaidade balofa, está provada com transparência e até à exaustão. 
É a subserviência de Coelho que leva o patrão da UE, Schäuble, a ter imensa consideração pelo PM e bom aluno português. Tanta, tanta estima que, ao estar ausente do Conselho Europeu, quando soube da proposta do Coelho, o despótico Ministro das Finanças alemão, de euforia, deu um salto na cadeira e espalhou-se ao comprido. Coitada da cadeira!
Sobre o 'fundo de privatizações' grego, permito-me sublinhar a interrogação deixada no ar por Mariana Mortágua do BE, no 'Frente-a-Frente' da SICN de ontem:
"Se Portugal, a despeito da política de privatizações avassaladora, realizou apenas 9 mil milhões de euros, como poderá a Grécia reunir 50 mil milhões de patrimónios privatizáveis rapidamente?"
A Grécia, e em especial Alexis Tsipras, confrontam-se com um desafio muito duro, lançado pela UE sob a batuta do poder autocrata alemão.
A meu ver, e não se trata de previsão difícil, a Grécia acabará por sair da Zona Euro por incapacidade de cumprir exigências tão severas. Todavia, Schäuble, Merkel e os novos 'sudetas' alinhados com os germanófilos virão alegar que coube aos gregos a decisão de sair, porque, mesmo em circunstâncias difíceis, fizeram tudo para evitar tal fractura.
Em 2017, os germanófilos poderão enfrentar um problema mais difícil. Basta que Marine Le Pen ganhe as eleições presidenciais... e as sondagens até agora apontam-na como vencedora.
Cá estaremos para assistir à provável derrota final, depois do confronto entre gente de extrema-direita.
  

sexta-feira, 10 de julho de 2015

Porto e Sara Carbonero - SIC 09 07 2015


Gosto muito do Porto. Tanto como da cidade onde nasci, Lisboa. Todavia, sinto que é absurdo comparar o incomparável. A meu ver, as gentes e as tradições das duas cidades são distintas. O alho- porro, hoje substituído por martelinhos de plástico, as sardinhadas das Fontainhas e os concertos dos Aliados são realidades diferentes das marchas lisboetas da Avenida, dos bailaricos de bairro e das sardinhadas em Alfama,
Gosto muito do Porto, reafirmo, do casario da cidade, da Foz e de subir o Douro de barco, cercado por inebriantes paisagens.Tenho lá amigos, alguns do quais me merecem uma estima especial.
Esclarecido isto, declaro que não é minha intenção, com este 'post', afrontar a Invicta e essa bela gente de fala sincera e popular que a habita.
O meu objectivo é sobretudo criticar os excessos de privilégios e as vergonhosas verbas com que são acariciados os homens do pontapé na bola no Porto, em Lisboa, sejam dirigentes, treinadores, jogadores ou de outras funções na modalidade - ora aí está uma enorme semelhança entre as duas cidades! A obscenidade de milhões pagos a essa gente é, de facto, clara e grave ofensa a milhões que, na Ibéria, estão mergulhados na miséria.
Iker Casillas, diz a 'Marca', já chegou a acordo com o Real Madrid sobre a parte do salário líquido que o guardião espanhol virá auferir com a transferência para o F. C. do Porto. Não sei, nem estou disposto a investigar pormenores. Li que Casillas auferirá 5 milhões de euros. Tanto, ou mais ou menos o que semianalfabeto Jorge de Jesus receberá do Sporting.
Todavia, Casillas tem ainda o problema de convencer a mulher, Sara Carbonero, a deixar Madrid e instalar-se no Porto.
O peso do futebol é perversamente potenciado nos meios de comunicação social, em especial nas TV's - estamos de regresso aos três "Fs". A SIC, deu-se ao trabalho de fazer e exibir o vídeo acima publicado para convencer a Madame Carbonero dos encantos do Porto. O Porto não precisa de propaganda desse tipo, como o demonstra o incessante crescimento de visitantes estrangeiros.
A cidade da Invicta, e muitos dos pobres que nela ou nos arredores vivem, como por todo o Portugal, mereceriam, estes sim, que a SIC revelasse nas câmaras a pobreza e as famílias despedaçadas por uma crise económica e social profunda, agravada por medidas de austeridade de que o futebol ficou incólume no que respeita à redução de salários e benefícios imorais.
Juntando Portugal e Espanha, consideremos, de facto, termos a Ibéria como grande pátria da miséria.       

quinta-feira, 9 de julho de 2015

O ‘Crash’ das Bolsas na China – Tradução do Financial Times 08-07-15 (Parte II)


Patrick McGee e Josh Noble em Hong Kong e Gabriel Wildau em Xangai

Kevin Norrish, analista de 'commodities' do Barclays, disse: "A China é o maior consumidor de cobre. As perspectivas de crescimento para a economia da China são incertas. Somado a isso, uma quantidade enorme de dinheiro tem ido para o mercado de acções de Xangai; assim que este mercado cai há preocupações deste sentimento negativo poder repercutir-se de volta na economia."
Acções cotadas em 'offshore' também foram atingidas. Os títulos chineses cotados em Hong Kong caíram 3,3 por cento na terça-feira, eliminando os ganhos do ano, enquanto as empresas continentais com as cotações nos EUA tiveram a maior queda desde 2011, na segunda-feira.
"O sistema financeiro é sobre confiança e transparência, mas não se considera também da parte do governo," disse Dee Sum, um banqueiro de 35 anos em Hong Kong, cuja família tem sofrido grandes perdas no mercado de acções nas últimas semanas.
A aceleração da suspensão de acções, que congelou 4 biliões de USD do valor patrimonial, de acordo com cálculos de Bloomberg, é o mais recente passo pelo sector empresarial para ajudar a travar o declínio.
A Haitong Securities declarou na tarde de segunda-feira que ele iria alocar 15 mil milhões de Renminbi [moeda da China] (2 mil milhões de USD) aos fundos do rastreador para ajudar a "manter um desenvolvimento estável" do mercado de capitais próprios. Isto seguido de um voto por 21 corretoras de valores mobiliários no fim-de-semana para usar seu próprio capital para comprar acções.
A Associação da China para Empresas Públicas, uma organização sediada em Pequim, apelou para empresas, principais accionistas e executivos seniores usarem recompras para "estabilizar o preço das acções das empresas".
O próprio banco central comprometeu-se no seu balanço a apoiar as acções, naquilo que o senhor Dong do Crédit Suisse descreveu como uma iteração chinesa de alívio quantitativo (Quantitative Easing).
Mesmo os censores da China ainda não ficaram excluídos do esforço. Um repórter local, que não quis ser citado, disse que o governo tinha proibido os media locais de usar os termos "desastre de títulos" e "resgate do mercado" nos seus relatórios sobre o mercado de acções.
Apesar dos movimentos coordenados, muitos acreditam que a inversão de posições alavancadas continuará a arrastar-se nas acções. Os analistas do Citigroup avisam que apenas um quarto dos negócios com margem foram forçados a sair até agora, apesar de 11 dias seguidos de desenvolvimento de posições.
Os analistas também disseram que os riscos de Pequim criam uma percepção de desespero, especialmente se os seus esforços não têm nenhum efeito discernível.
"Toda essa actividade tem suportado uma visão de que formuladores de políticas estão em um estado de pânico," escreveu Mark Williams em ‘Capital Economics’. "Mas é tarde demais — e provavelmente contraproducente — intervir [agora]. O estrago foi feito quando a bolha era permitida para inflacionar."

O ‘Crash’ das Bolsas na China – Tradução do Financial Times 08-07-15 (Parte I)


Patrick McGee e Josh Noble em Hong Kong e Gabriel Wildau em Xangai

Centenas de empresas chinesas pararam a negociação das suas acções enquanto Pequim se esforça para isolar a economia do mais íngreme declínio de capital do país em mais de duas décadas.
Outras 173 empresas cotadas em Xangai e Shenzhen anunciaram suspensões de negociação após o fecho do mercado na terça-feira — elevando o total para cerca de 940, ou mais de um terço de todas as empresas cotadas nas duas bolsas — com mais relatórios de suspensões, antes do gongo de abertura na manhã de quarta-feira.
Em um novo sinal de desconforto sobre o mercado da China, as 'commodities' foram atingidas na terça-feira, em movimento liderado pelo cobre. O preço de futuros do cobre na bolsa de metais de Londres caiu ao nível mais baixo desde 2009, reduzindo 8,4 por cento nos últimos dois dias.
Desde que atingiu uma alta de sete anos há menos de um mês, as cotações chinesas sofreram uma queda acentuada, provocada por uma repressão sobre a margem financeira — o uso de dinheiro emprestado para comprar acções — em resposta a preocupações sobre uma bolha de acções.
Cerca de 3 biliões de USD foram eliminados do valor de todas as sociedades cotadas, quando investidores do retalho se apressaram para atenuar as alavancadas as apostas no mercado.
O maior número de empresas a suspender a negociação das suas acções foram as provenientes da plataforma de ChiNext de tecnologia pesada em Shenzhen, que obtiveram os maiores ganhos no início deste ano e desde então sofreram a maior correcção.
Pequim tem tomado medidas para manter cotações nos dois índices principais da China, incluindo compras directas de grandes empresas, uma parada para ofertas públicas iniciais e um corte de taxas de negociação. Mas até agora os seus esforços falharam o estancar das preocupações.
"Há pânico, mas não importa como eles [autoridades] intervêm, essa coisa justamente não pára de cair,", disse Dong Tao, economista do Crédit Suisse.
As bolsas chinesas caíram durante a quarta sessão das últimas cinco na terça-feira. O Compósito de Xangai desceu 1,3 por cento, enquanto a tecnologia-pesada do Composto de Shenzhen perdeu 5.3 por cento.
O índice de Shenzhen está agora acima dos 36 por cento este ano, tendo subido até 122 por cento há menos de um mês atrás. Os dois índices caíram um terço durante a liquidação que começou em 12 de Junho, no declínio mais íngreme do país desde 1992, segundo dados da Bloomberg.

Então e a China? Acidente ou Crise Aguda?

A Grécia, até por motivos distribuídos entre o afecto de uns e o rancor de outros portugueses, tem concentrado as atenções das gentes e dos meios de comunicação nacionais.
Assistimos a manifestações de solidariedade por parte daqueles que a reconhecem como berço da cultura, da filosofia à política, mas, paralelamente, surgem em cena idiotas odiosos, casos de alguns comentadores da TV (a SIC está na vanguarda deste segundo núcleo com certos jornalistas do Grupo Impresa – José Gomes Ferreira à cabeça).
O problema grego, que se pode sintetizar como dilema da permanência ou saída do País Helénico da Zona Euro e mesmo da UE, por breves momentos fica congelado. Há a necessidade abordar o que se está a passar com a hecatombe das bolsas chinesas e uma série de graves problemas económicos, financeiros e até sociais com que a China e o Mundo se debatem.
Venerada por Cavaco e cavaquistas, pelo governo de Coelho e Portas, que lhe entregou a EDP e a Fidelidade, e também pelo enclave designado BdP governado pelo soberano Carlos Costa, que facilitou a compra da Espírito Saúde à Fosun, a China é hoje a grande parceira no investimento estrangeiro. Quais as características deste investimento? É meramente financeiro, adquirindo empresas, algumas estratégicas, transformando-as em grandes exportadoras de remunerações de capital [saída de dividendos]. Desde que o rubicundo Catroga e a enguia Mexia se safem, que se lixem os superiores interesses de Portugal!
A endividadíssima Fosun já subtraiu da Fidelidade 1.000 milhões de euros – praticamente o que pagou pelo grupo segurador à CGD. A verba destinou-se à aquisição de títulos de dívida emitidos pela Xingatao Assets Limited, veículo financeiro de que a dita Fosun é o primeiro accionista.
Se admitiram a Fosun como candidata à compra do Novo Banco, então estamos ainda mais esclarecidos de que natureza é o Costa do BdP, a amanuense Albuquerque e os comandantes Coelho e Portas.
As bolsas chinesas estão a viver há dias sob um tremendo ‘crash’. Se a bolha se prolongar no tempo e aprofundar – tudo indica que sim, ainda hoje Xangai perdeu 4,28% e 940 sociedades, 1/3 das cotadas têm as acções suspensas de negociação em bolsa – a própria Europa será atingida na sua já frágil economia.
A dimensão do descalabro bolsista chinês é de tal modo que o FT, em notícia que por ser extensa traduzimos em duas partes, esta e esta, aborda o assunto. O credenciado jornal dedicou ao tema atenção cuidadosa e pormenorizada.
Por partes, ou até mesmo na diagonal, apenas a leitura da notícia garantirá a ideia do risco do grave problema que a China e a Economia Mundial estão a enfrentar. Portugal, claro, não ficará imune. Para demonstrar a característica da pandemia, cite-se que, em consequência da “bolha chinesa”, o preço do cobre na Bolsa de Metais de Londres caiu 8,4% em dois dias. É só ler o texto longo e árido, mas elucidativo. 

quarta-feira, 8 de julho de 2015

A Grécia na Euro-Roleta

Parlamento Europeu
Alexis Tsipras, recebido entre aplausos e vaias, discursou no Parlamento Europeu. Segundo o ‘El País’, argumentou:
"A Grécia tornou-se praticamente falida porque há muitos anos os governos criaram um Estado permissivo do clientelismo e da corrupção".
E ainda:
"Temos de ser honestos: o dinheiro que tem sido dado à Grécia nunca chegou ao povo grego. São fundos que foram salvar bancos gregos e europeus." [Estão em causa 320.000 milhões de euros - muito dinheiro! acrescento eu]
Em suma, Tsipras diagnosticou com precisão quem (governos do Pasok e Nova Democracia) e como (financiamento de bancos estrangeiros e nacionais programado pela ‘troika’) a Grécia foi conduzida ao desastre herdado pelo Syriza.
A completar as vaias próprias de uma direita autoritária e arrogante que se sentiu ferida pelo referendo e sobretudo pela claríssima vitória do ‘Não’ às propostas dos dirigentes europeus, o germanófilo presidente do Partido Popular Europeu, Manfred Weber, invocando também os novos sudetas,  eslovacos e finlandeses, usou um estilo de pesporrência reles e ofensiva para afrontar Tsipras:
"A Europa já não confia em você para negociar"
Com que legitimidade o asqueroso fala em nome da Europa como um todo, para aviltar o chefe do Governo Grego de forma humilhante? O Sr. Weber, de quem Coelho e Portas são aliados, não está mandatado para falar em nome de milhões de europeus com opções políticas adversas àquela que perfilha. E como infringiu as regras elementares da democracia, sujeitou-se ao protesto da ala esquerda do PE, ao qual reagiu do seguinte modo dirigindo-se Tsipras:

“Os extremistas da Europa aplaudem-no!”.

Em sentido oposto, valeu também a moderação do presidente do Grupo dos Social-Democratas, Gianni Piatella, que excluiu a hipótese de um futuro da UE sem Tsipras.

terça-feira, 7 de julho de 2015

Adeus a Maria de Jesus Barroso

Deveria ter cumprido esta obrigação atempadamente, mas motivos de ordem pessoal e familiar impediram-me de o fazer. É com dor que vejo partir uma grande mulher de enorme carácter. Na vida pessoal, familiar e política, demonstrou ininterrupta coragem de seguir as suas opções próprias, sem obedecer a manipulações de terceiros, incluindo o marido Mário Soares.
A Dona Maria Jesus Barroso foi até à última madrugada um modelo vivo, embora estivesse de partida, da mulher culta, ecléctica nos saberes e ousada politicamente. Ter sido primeira-dama não constituiu o facto mais relevante dos 90 anos com que partiu. O que verdadeiramente a distinguiu desde jovem foi a grande devoção e a disponibilidade implacável para combater o diabólico e tétrico Estado Novo.
Na sequência da luta pela democracia em respeito pela vida e princípios de seu pai, o capitão Alfredo José Barroso, sofreu, ela própria, como mulher, mãe, cidadã, actriz e professora do ensino secundário, perseguições, interdições, limitações de liberdades e acções da maior infâmia, próprias do regime a que o fascista António de Oliveira Salazar e seus comparsas submeteram o País, durante praticamente meio século.
Trabalhei com a sua irmã, Fernanda Barroso, falecida há anos, mãe do cineasta Mário Barroso, a viver no estrangeiro, do médico Eduardo Barroso e da falecida Graça Barroso, ex-primeira bailarina do criminosamente extinto (em 2005) Ballet Gulbenkian.
Nos anos 60 e até à Revolução de Abril, a convivência com Fernanda Barroso proporcionou-me muita informação de acções da oposição realizadas pelos fundadores do PS, entre quem havia apenas uma mulher: Maria de Jesus Barroso!
Jamais militei no PS ou em qualquer outro partido. Todavia, por formação e seguindo também as tradições da minha família, desde os meus dois avôs, sempre fui de esquerda.
Felizmente, na família e nos amigos, combater contra a ditadura, pela instalação do regime democrático e tantos ideais que, lenta mas seguramente, se foram diluindo até chegarmos ao que chegámos com a gentalha de intrujões e demagogos que nos governam ou estão instalados em Belém.
No PS, de resto, também existe gente do mesmo género, i.e., reles e que procuram na política usufruir de benefícios por práticas imorais e de total falta de ética.
Toda esta cambada, diga-se, incomodava a Dona Maria de Jesus Barroso. A última vez que estive com ela foi no Fórum de Lisboa (antigo cinema Roma). Disse-lhe adeus. Ignorava que seria o penúltimo.
Com grande mágoa, amanhã lá estarei no Campo Grande para lhe dirigir o "Último Adeus, Dona Maria Barroso."

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Ressaibo causado pelo ‘Oxi’ inunda o “Observador”

Basta aceder e ler, no momento em que escrevo, a página do “Observador”. Um bom observador, esse sim, na acepção autêntica da palavra, diagnosticará sem esforço o azedume destilado no jornal electrónico, porta-voz da direita nacional.
A vitória do ‘Não’ (‘Oxi) no referendo grego causou a director, editores, redactores do ‘Observador’ ataques de acidez, agonia, dores de parto, mesmo a masculinos escrevinhadores, impelindo-os para uma selecção de notícias e arranjos gráficos, próprios de uma espécie de endémico meteorismo, difusor de odores intensos e nauseabundos.
Dos tais com quem se deve dialogar através de filtro protector dos efeitos de falar e cuspir, vaidoso da erudição, José Manuel Fernandes entende que a Grécia ficou mais perto de sair do euro. Tudo será bem mais difícil, acrescenta. É convicção generalizada da direita de que, com o Syriza no poder, a UE, a Zona Euro e o alto comando de Berlim, jamais deixarão de afrontar o povo Grego, sem pejo de usarem o recurso à chantagem. Mas esta posição, dominada por conservadores e socialistas renegados, constitui, para o Fernandes, um modelo de democracia exemplar. Sim, porque trazendo à memória Tucídides e a Guerra de Peloponeso no Séc. V a.C., ele conclui:
Curioso, neste jogo de opiniões e palavras, é saber que o mesmo Fernandes que tem umas dezenas de anos, muito abaixo da mínima nanopartícula se comparados à existência da História da Grécia, também já teve um percurso desde o radicalismo de esquerda (UDP) ao radicalismo neoliberal de Passos Coelho.
Fernandes, como outros porta-vozes da superestrutura da UE e da Zona Euro, é um simples soldado a juntar-se ao coro do afastamento do Syriza do poder, embora a legitimação popular dada pelo povo grego tenha reforçado a liderança de Alexis Tsipras.
Outra artista do luminoso cartaz do ‘Observador’ dá pelo nome de Helena Matos. Nem mais, nem menos. Coitada da mulherzinha também sofre de perturbações intestinais graves, dorida e bem dorida de cólicas, com a derrota do ‘Sim’ (‘Nai’!).  
Do passado desta criatura, anos 1970, nem é bom falar. Observemos, pois, aquilo que ela hoje publica, sob o título ‘Agora aturem-nos’:
Se atentarmos bem no texto, a mulher está é revoltada com os gregos no todo; os que votaram ‘Não’, ‘Sim’ nulo/branco ou se abstiveram. Não pode ver um grego à frente, mas se for do Syriza, o mal é maior e é cometida por um ataque de psoríase intenso.