Basta aceder e ler, no momento em
que escrevo, a página do “Observador”. Um
bom observador, esse sim, na acepção autêntica da palavra, diagnosticará sem
esforço o azedume destilado no jornal electrónico, porta-voz da direita
nacional.
A vitória do ‘Não’ (‘Oxi) no
referendo grego causou a director, editores, redactores do ‘Observador’ ataques
de acidez, agonia, dores de parto, mesmo a masculinos escrevinhadores, impelindo-os
para uma selecção de notícias e arranjos gráficos, próprios de uma espécie de
endémico meteorismo, difusor de odores intensos e nauseabundos.
Dos tais com quem se deve dialogar
através de filtro protector dos efeitos de falar e cuspir, vaidoso da erudição,
José Manuel Fernandes entende que a Grécia ficou mais perto de sair do euro.
Tudo será bem mais difícil, acrescenta. É convicção generalizada da direita de
que, com o Syriza no poder, a UE, a Zona Euro e o alto comando de Berlim,
jamais deixarão de afrontar o povo Grego, sem pejo de usarem o recurso à
chantagem. Mas esta posição, dominada por conservadores e socialistas
renegados, constitui, para o Fernandes, um modelo de democracia exemplar. Sim,
porque trazendo à memória Tucídides e a Guerra de Peloponeso no Séc. V a.C., ele
conclui:
Curioso, neste jogo de opiniões e
palavras, é saber que o mesmo Fernandes que tem umas dezenas de anos, muito
abaixo da mínima nanopartícula se comparados à existência da História da
Grécia, também já teve um percurso desde o radicalismo de esquerda (UDP) ao radicalismo
neoliberal de Passos Coelho.
Fernandes, como outros
porta-vozes da superestrutura da UE e da Zona Euro, é um simples soldado a juntar-se
ao coro do afastamento do Syriza do poder, embora a legitimação popular dada
pelo povo grego tenha reforçado a liderança de Alexis Tsipras.
Outra artista do luminoso cartaz
do ‘Observador’ dá pelo nome de Helena
Matos. Nem mais, nem menos. Coitada da mulherzinha também sofre de
perturbações intestinais graves, dorida e bem dorida de cólicas, com a derrota
do ‘Sim’ (‘Nai’!).
Do
passado desta criatura, anos 1970, nem é bom falar. Observemos, pois,
aquilo que ela hoje publica, sob o título ‘Agora aturem-nos’:
Se atentarmos bem no texto, a
mulher está é revoltada com os gregos no todo; os que votaram ‘Não’, ‘Sim’
nulo/branco ou se abstiveram. Não pode ver um grego à frente, mas se for do
Syriza, o mal é maior e é cometida por um ataque de psoríase intenso.
Infelizmente, os povos de Espanha
e Portugal, vítimas de níveis de desemprego desiguais, um elevadíssimo (22%) e o
outro alto (13,2%) segundo as taxas oficiais, submetidos a um Estado e um
sector privado que disfrutam de leis laborais permissivas da precariedade das
relações de trabalho; países estes que, conjuntamente com Itália, detêm dívidas
externas, pública e privada, elevadíssimas – a dívida externa privada
portuguesa é superior à grega – de défices altos (6% do PIB em 2014, no caso de
Portugal); enfim, tudo isto e os números globais da UE e Zona Euro reflectem a
realidade que as políticas de austeridade na Grécia, como em outros países,
adensam a crise e não a resolvem.
Helena Matos, por submissão aos
interesses dos poderosos ou dislexia mental, ignora esta semelhança de problemas
que, por serem, de facto, semelhantes, devem exigir a solidariedade entre os
povos afectados, na luta contra o autoritarismo do Centro e Norte da Europa. Todo
este cenário, e não é pouco, é omisso no demagógico artigo ‘Agora aturem-nos’.
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