Mostrar mensagens com a etiqueta Grécia. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Grécia. Mostrar todas as mensagens

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Ressaibo causado pelo ‘Oxi’ inunda o “Observador”

Basta aceder e ler, no momento em que escrevo, a página do “Observador”. Um bom observador, esse sim, na acepção autêntica da palavra, diagnosticará sem esforço o azedume destilado no jornal electrónico, porta-voz da direita nacional.
A vitória do ‘Não’ (‘Oxi) no referendo grego causou a director, editores, redactores do ‘Observador’ ataques de acidez, agonia, dores de parto, mesmo a masculinos escrevinhadores, impelindo-os para uma selecção de notícias e arranjos gráficos, próprios de uma espécie de endémico meteorismo, difusor de odores intensos e nauseabundos.
Dos tais com quem se deve dialogar através de filtro protector dos efeitos de falar e cuspir, vaidoso da erudição, José Manuel Fernandes entende que a Grécia ficou mais perto de sair do euro. Tudo será bem mais difícil, acrescenta. É convicção generalizada da direita de que, com o Syriza no poder, a UE, a Zona Euro e o alto comando de Berlim, jamais deixarão de afrontar o povo Grego, sem pejo de usarem o recurso à chantagem. Mas esta posição, dominada por conservadores e socialistas renegados, constitui, para o Fernandes, um modelo de democracia exemplar. Sim, porque trazendo à memória Tucídides e a Guerra de Peloponeso no Séc. V a.C., ele conclui:
Curioso, neste jogo de opiniões e palavras, é saber que o mesmo Fernandes que tem umas dezenas de anos, muito abaixo da mínima nanopartícula se comparados à existência da História da Grécia, também já teve um percurso desde o radicalismo de esquerda (UDP) ao radicalismo neoliberal de Passos Coelho.
Fernandes, como outros porta-vozes da superestrutura da UE e da Zona Euro, é um simples soldado a juntar-se ao coro do afastamento do Syriza do poder, embora a legitimação popular dada pelo povo grego tenha reforçado a liderança de Alexis Tsipras.
Outra artista do luminoso cartaz do ‘Observador’ dá pelo nome de Helena Matos. Nem mais, nem menos. Coitada da mulherzinha também sofre de perturbações intestinais graves, dorida e bem dorida de cólicas, com a derrota do ‘Sim’ (‘Nai’!).  
Do passado desta criatura, anos 1970, nem é bom falar. Observemos, pois, aquilo que ela hoje publica, sob o título ‘Agora aturem-nos’:
Se atentarmos bem no texto, a mulher está é revoltada com os gregos no todo; os que votaram ‘Não’, ‘Sim’ nulo/branco ou se abstiveram. Não pode ver um grego à frente, mas se for do Syriza, o mal é maior e é cometida por um ataque de psoríase intenso.

terça-feira, 30 de junho de 2015

Grécia: Joseph Stiglitz votaria “não” no referendo – tradução de The Guardian de 29-06-2015

Joseph Stiglitz: como eu voto no referendo Grego

O crescendo aumento de brigas e acrimónia dentro Europa pode parecer para fora vir a ser o resultado inevitável da etapa de final amargo, de jogar para fora entre a Grécia e os seus credores. Na verdade, os líderes europeus estão finalmente a começar a revelar a verdadeira natureza do litígio da dívida em curso, e a resposta não é agradável: trata-se de poder e democracia, muito mais do que dinheiro e economia.
Claro, a economia, por trás do programa que a ‘troika’ (Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional) impingiram na Grécia há cinco anos tem sido abismal, resultando em um declínio de 25% do PIB do país. Posso pensar em nenhuma depressão, alguma vez, que tem sido tão deliberada e tinha essas consequências catastróficas: taxa da Grécia de desemprego juvenil, por exemplo, agora ultrapassa 60%.
É surpreendente que a ‘troika’ tenha recusado aceitar a responsabilidade por isso ou admitir o quanto as suas previsões e modelos têm sido. Mas o que é ainda mais surpreendente é que os líderes europeus não aprenderam ainda. A ‘troika’ ainda exige que Grécia alcance um superavit primário no orçamento (excluindo juros) de 3,5% do PIB até 2018.
Economistas em todo o mundo condenaram esse destino como punitivo, porque apontando para isso resultará inevitavelmente numa profunda recessão. Com efeito, mesmo que a dívida da Grécia seja reestruturada para além do que se possa imaginar, o país irá continuar em depressão se os eleitores se comprometem com o alvo da ‘trpoka’ na pressão do referendo a ser realizado neste fim-de-semana.
Em termos de transformar um grande défice primário em um excedente, poucos países têm realizado algo como o que os gregos têm alcançado nos últimos cinco anos. E, embora o custo em termos de sofrimento humano tenha sido extremamente alto, as recentes propostas do governo Grego foram um longo caminho para satisfazer as necessidades dos seus credores.

Grécia: Paul Krugman votaria “não” no referendo – tradução do NYT de 28-06-2015

Grisis [Grise, termo adoptado pelo tradutor]


OK, isso é real: os bancos gregos fechados, imposição de controlo de capitais. Grexit não é um traçado difícil daqui — a tão temida mãe de todas as actividades dos bancos já aconteceram, o que significa que a análise de custo-benefício a partir daqui é muito mais favorável à saída do euro do que alguma vez antes.
Claramente, no entanto, algumas decisões agora têm de esperar o referendo.
Eu voto não, por duas razões. Em primeiro lugar, assim como a perspectiva de saída do euro assusta todos — eu incluído — a troika está efectivamente a exigir agora que o regime de política dos últimos cinco anos deve ser continuado indefinidamente. Onde está a esperança nisso? Talvez, apenas talvez, a vontade de deixar inspirará um repensar, embora provavelmente não. Mas mesmo assim, a desvalorização não poderia criar caos muito mais do aquele que já existe e prepararia o caminho para eventual recuperação, tal como sucedido em muitos outros tempos e lugares. A Grécia não é diferente.
Em segundo lugar, as implicações políticas de um voto sim seriam profundamente preocupantes. A troika fez claramente um reverso Corleone — eles fizeram a Tsipras uma oferta que ele não pode aceitar e presumivelmente fez isso conscientemente. Então o ultimato foi, com efeito, um movimento para substituir o governo grego. E mesmo se você não gosta de Syriza, isso tem de ser perturbador para quem acredita em ideais europeus.
Uma estranha nota logística: Estou de semi-férias esta semana, fazendo uma viagem de bicicleta em local não revelado. São só umas semi-férias porque eu não negociei quaisquer folgas da coluna. Vou estar no jornal de amanhã (hum, pergunto-me qual é o assunto) e ter trabalhado a logística de modo a tornar a coluna de sexta-feira factível também. Eu estava planeando fazer pouco no blogue, e terei de qualquer forma de fazer menos do que poderia de outro modo, dados os eventos.

Krugman e Stiglitz votariam "não" no referendo lançado pelo Syriza para 05-07-2015

A notícia, na imprensa portuguesa, foi divulgada pelo 'Público', aqui.
Ambos são laureados com o ‘Nobel’ de Economia. Americanos, e intelectuais dos mais reconhecidos nos EUA e no mundo, não se eximem a criticar com frequência a política económica e financeira de Obama.
Preparados, conhecedores como poucos economistas mundiais da evolução económica à volta do globo, não têm reservas em assumir que, se fossem gregos, votariam "não" no referendo que o Syriza lançou ao povo grego, para o próximo Domingo.
A fim de dar a conhecer em detalhe os artigos em que expressam e justificam as razões por que optariam pelo "não", traduzimos e publicamos, nos dois ‘posts’ imediatamente posteriores a este, os artigos de Krugman no ‘The NewYork Times’ e de Stiglitz no diário britânico ‘The Guardian’.
As críticas à ‘troika’ são objectivas, contundentes e desacreditam as instituições que as integram: CE, BCE e FMI.
O Passos, o Portas e o restante batalhão de ineptos e demagogos dos partidos da coligação que leiam e, se forem capazes, reflictam nos resultados da perda de soberania monetária e outras do nosso País. Sei que a escolha não foi deles – ao tempo ainda eram mais garotos na política – mas hoje são uns doentios e fervorosos defensores do neoconservadorismo europeu.
Herr Schäuble! Grita o Conselho de Ministros português, em uníssono, antes de iniciar os trabalhos. Compreendê-se por que razão.

segunda-feira, 29 de junho de 2015

Dedicado à Sarah Adamopoulos

Eça de Queiroz
Tarde, mas tornei-me amigo e apreciador de Sarah Adamopoulos; escritora, dramaturga, jornalista e bloguer do ‘Aventar’. A Sarah é uma mulher de cultura, detentora e ecléctica nos saberes e conhecimentos que a distinguem como culta. A estas virtudes junta-se um talento de comunicadora consistente e profunda, razão do grande apreço que jamais consigo deixar de lhe dedicar.
Aproximar-me das qualidades da Sarah Adamopoulos – ou da Carla Romualdo, outra pérola do ‘Aventar’ – seria mera quimera, se a minha intenção fosse essa.
A Sarah publicou no Aventar o ‘post’ sob o título ‘Os gregos limpam as armas’ que remete para um texto de Albert Camus, de 1959, também inserido no mesmo blogue em 8 de Março de 2015.
Camus é Camus. Sou sempre um leitor recorrente do escritor francês, nascido na Argélia. É sempre um companheiro nos tempos de necessidade de depurar o espírito. Jamais o consigo ler de uma penada e definitivamente. É um exercício permanente de leitura, de reflexão a desvendar os mistérios do comportamento do homem e consequentemente da sociedade humana.
Grato à Sarah, e sem o objectivo de os comparar, lembro estas palavras de Eça de Queiroz  a propósito de Portugal e da Grécia:

“Nós Estamos num Estado Comparável à Grécia
Nós estamos num estado comparável, correlativo à Grécia: mesma pobreza, mesma indignidade política, mesmo abaixamento dos caracteres, mesma ladroagem pública, mesma agiotagem, mesma decadência de espírito, mesma administração grotesca de desleixo e confusão. Nos livros estrangeiros, nas revistas, quando se quer falar de um país católico e que pela sua decadência progressiva poderá vir a ser riscado do mapa – citam-se ao par a Grécia e Portugal. Somente nós não temos como a Grécia uma história gloriosa, e a honra de ter criado uma religião, uma literatura de modelo universal e o museu humano beleza da arte.
Eça de Queiroz, em ‘Farpas’ (1872)’.”

O texto é revelador da enorme capacidade de premonição de Eça – o texto tem 133 anos – transformadora da sua obra em intemporal.

Talvez fosse recomendável enviá-lo a Cavaco, a fim de tentar fazer perceber o PR que as causas das sociedades humanas não se analisam nem resolvem com operações aritméticas simples, subtracção no caso: 18 = 19 -1. 
Mas, pensando melhor, o que se espera de política feita com contas à moda do Sr. Silva?

domingo, 28 de junho de 2015

Os riscos da Zona Euro, do Syriza a Marine Le Pen

A inconsistência das “instituições”, em relação à Grécia, é digna de reflexão. Há a incógnita que se levanta à CE, Eurogrupo, BCE e ao FMI sobre os efeitos, e contágios, que podem impender sobre a Zona Euro do colapso financeiro, bancarrota, da Grécia. De resto, é na acepção de inquietantes dúvidas e tortuosas estratégias, que, a meu ver, hoje, Domingo, o BCE, em reunião por teleconferência participada pelos governadores dos bancos centrais – lá aparece o “nosso” Costa do BdP nas telas dos monitores – deliberou manter o apoio à liquidez da banca grega, ao abrigo do programa de emergência, ELA - Emergency Liquidity Assistance, na designação anglo-saxónica.
Podem existir dúvidas nos dignatários das “instituições” envolvidas. Todavia, para os autoritários conservadores e socialistas dos areópagos de Bruxelas, referidos por Pacheco Pereira no brilhante artigo, ´A Europa que nos envergonha’, o objectivo estratégico é demasiado evidente: afastar o Syriza do poder – confesso que comecei por não ser entusiasta deste partido, mas do mesmo me transformei em admirador pela coragem face aos altos poderes da Europa do Norte e seus serventuários – Schäuble e os idiotas úteis do tipo de Dijsselbloem e Maria Luís Albuquerque, por exemplo.
O desafio do referendo de Alexis Tsipras, a acreditar nos resultados de sondagens que a imprensa divulga, pode transformar-se em golpe de “hara-kiri” para o Syriza. E é este o trunfo com que as lideranças europeias, neoliberais e despóticas, complementadas pela indecorosa Lagarde, contam para fazer regressar ao poder a Nova Democracia e o Pasok, dois partidos autores do crime da dívida, em conluio com Merkel e Sarkozy – os gastos em equipamento militar germânico e francês, os dinheiros extorquidos pela Siemens e outras sociedades internacionais, se devidamente somados, inundaram a Grécia de uma dívida externa, pública e privada, astronómica. Os pensionistas e assalariados que paguem a crise, defendem agora o FMI e o Eurogrupo de Schäuble, sob a cumplicidade de Juncker e um batalhão de governantes europeus, no qual participa Passos.
A semana que agora se inicia vai ser recheada de acontecimentos. Prognosticar é difícil, excepto prever golpes baixos que atingirão o povo grego.
Contudo, ao contrário da teoria oca do ‘Fim da História’, de Fukuyama, as sociedades actuais vivem transformações permanentes, às vezes súbitas e outras radicais. Talvez, em tempos de próximo futuro (2017), se a ascensão de Marine Le Pen se concretizar em conformidade com as sondagens, a Zona Euro e eventualmente a União Europeia corram o risco de extinção.
Tenha-se em atenção o que a candidata da extrema-direita francesa disse à Bloomberg, em notícia que foi titulada ‘Marine Le Pen: Chamem-me apenas Madame Frexit’. Do teor dessa entrevista, traduzo as seguintes passagens:
Confesso não ficar paralisado de euforia se Marine Le Pen vier a ser eleita PR Francesa. Todavia, em política, têm de aceitar-se as escolhas dos povos. Se a direita neoliberal, destruidora do Estado Social Europeu, é invencível pela esquerda europeia, desconexa e insípida, talvez venha a ser profundamente derrotada pela direita. 
Comparo à imagem do fruto, em tempos lustroso, que acabará por cair da árvore, bichado e apodrecido no interior. 

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Nana Mouskouri em hino à Liberdade


 Tivemos uma semana em que os déspotas da    União Europeia e da Zona Euro atingiram o cume  da falta de vergonha, ao recorrer a um lamentável  vexame sobre o povo grego. Os líderes europeus e  do FMI, traidores do regime democrático, renegam os princípios de que se afirmam defensores. Humilharam o governo da Grécia, a despeito da legitimidade do sufrágio com que foi eleito - o poder do governo helénico, exercido com perfeita licitude pelo Syriza, tem de ser respeitado, reivindico!
Contra o Estado Grego, os credores, misturando falsos avanços e recuos autênticos, entre as alegações e atitude deploráveis, rasuram a vermelho e exibem as propostas do governo como inaceitáveis. Que falta de dignidade! Nojentos!
Um dos argumentos de acusação é considerar que, ao aumentar impostos, o governo de Alexis Tsipras está a inviabilizar a recuperação económica do seu País. Um enorme topete!, bradaram naturalmente os deuses e o povo grego em uníssono. 
Tsipras reagiu. Acusou as instituições europeias e em especial o FMI de tratarem a sua nação de forma menos favorável do que fizeram com a Irlanda e Portugal. Recorde-se o 'brutal aumento de impostos' de Vítor Gaspar para sancionar a versão de Tsipras. Claro que Passos Coelho quis despudoradamente desmenti-lo, mas, nas projecções orçamentais e outras das nossas contas públicas, está bem claro que, por efeito dos chumbos do Tribunal Constitucional dos cortes de pensões e outros, a coligação foi compelida a resolver o problema pelo lado dos impostos (da receita, dizem os tecnocratas).
Tudo isto faz exalar um cheiro nauseabundo. Todavia, como estamos em fim-de-semana, excepto para o Eurogrupo e o Governo Grego, com a sessão de amanhã, Sábado, compensemos as tristezas e revoltas com a voz de Nana Mouskouri, Teve a infância marcada pela invasão nazi da Grécia e o seu pai tornou-se um activo militante antinazi - nem de propósito, penso eu com os meus botões.
A música escolhida e apresentada no vídeo tem por título em castelhano 'Libertad' e é interpretada com a melodia 'Va pensiero' do 'Coro dos Escravos Hebreus', da ópera 'Nabucco' de Verdi. Que o bando de Bruxelas abandone, nem que seja por uma ocasião excepcional, a condenação selvagem e injusta que está a levar à prolongada expiação do povo grego.

A Grécia e o bando tétrico de Bruxelas, com o FMI em destaque

A Madame Lagarde, com a silhueta da brutalidade e em simultâneo hipócrita no sorriso, tem sido ao longo da semana a estrela do cartaz das negociações, em representação dos credores, junto dos legítimos e sufragados governantes gregos, em especial o Primeiro-Ministro,Tsipras. 

De mala Louis Vuitton, na mão, vestida pelos mais famosos costureiros do mundo e ainda ornamentada de jóias adquiridas em lojas de luxo da Place Vandôme, Paris, lá está ela em Bruxelas a desfilar, de ar soberbo, pela sala da gentalha que comanda a UE e a Zona Euro - ao pé dela a nossa Maria Luís parece - e é - a serviçal humilde e submissa, a quem compete repetir aquilo que os chefes do bando, Schäuble em especial, ordenam.

Toda a coreografia é exibida em imagens de uma trilogia típica:  exibição de vaidade obscena no cargo que desempenha e do qual seria expectável um exercício responsável perante os graves problemas das nações que integram o FMI; a altivez com que se permite usar linguagem reles e ofensiva para alguns com quem se reúne - própria de mulherzinha do Quartier Pigalle - e, por último, a ostentação aberrante e desumana de um poder narcisista, de êxtase sobre si própria, por causar a desgraça de um povo, o Grego, herdeiro de uma nação que foi o berço da cultura universal e cujos paradigmas ainda subsistem, sobretudo no pensamento filosófico e político das sociedades europeias de hoje.

A mulherzinha, acolitada pelo ridículo beijoqueiro Juncker e pelo presidente do Eurogrupo, um tal Dijsselbloem, fiel serventuário do germanófilo Schäuble; a mulherzinha, dizia, figura sinistra do bando, vai-se valendo dos solícitos e obedientes tecnocratas do FMI, a fim de fazer do povo e do governo gregos "gato-sapato", porque este último opta por impostos para equilibrar as contas públicas e, no projecto de expansão da miséria no mundo, a instituição de Lagarde entende que a solução imperativa reside nos cortes de salários e pensões - os pensionistas gregos que recebiam 1.000,00 euros foram atingidos por cortes que limitaram as pensões a 600,00 euros.

Paul Krugman, com o prestígio de que desfruta a nível mundial, editou no 'New Yor Times' o artigo que traduzimos e publicamos em 'post' separado.
Eu, fatigado de ouvir e ver idiotas, a torto e a direito, do Gomes Ferreira ao Vieira Pereira, prefiro naturalmente ler quem é intelectualmente superior na detenção de conhecimentos e inquestionável fonte de aprendizagem. Esta foi uma das razões por que traduzi o professor norte-americano.
Krugman distingue-se, e de que maneira!, da grande maioria dos nossos comentadores económicos - como dizia um amigo meu, não comparemos o "olho do c." com o Arco da Rua Augusta.

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Grécia: tradução de artigo de Paul Krugman no NYT


Tenho ficado bastante tranquilo sobre a Grécia, não querendo gritar 'Grexit' em teatro lotado. Mas considerados os relatórios das negociações em Bruxelas, algo deve ser dito — nomeadamente, o que fazem os credores e em particular o FMI, que pensam eles que estão a fazer?
Isto vai ser uma negociação sobre metas para o saldo positivo primário e em seguida sobre o alívio da dívida que encabeça intermináveis crises futuras. E o governo grego concordou com alvos de excedentes na verdade bastante elevados, especialmente tendo em conta o facto de que o orçamento teria em enorme ‘superavit’ primário, se a economia não estivesse tão deprimida. Mas os credores continuam a rejeitar propostas gregas alegando que se baseiam muito em impostos e não o suficiente sobre cortes de despesas. Então ainda estamos no capítulo de ditar a política interna.
A suposta razão para a rejeição de uma resposta baseada nos impostos é que esta prejudicará o crescimento. A reacção óbvia é: vocês estão brincar connosco? As pessoas que, de forma clara e absoluta, não conseguiram ver o dano que a austeridade causaria — ver o gráfico, que compara as projecções em 2010 face à realidade — estão agora a dar um sermão a outros a respeito de crescimento? Além disso, as preocupações de crescimento estão todas do lado da oferta, numa economia a operar, seguramente, pelo menos 20% abaixo da capacidade de funcionamento.
Fala-se com as pessoas do FMI e eles argumentarão sobre a impossibilidade de lidar com o Syriza, manifestando o seu aborrecimento com arrogância e assim por diante. Mas não estamos aqui na escola secundária. E agora são os credores, muito mais do que os gregos, que continuam a mudar a linha de chegada. Então o que está a acontecer? O objectivo é quebrar o Syriza? É forçar a Grécia a um padrão presumivelmente desastroso, para encorajar os outros?
Neste ponto, é hora de parar de falar acerca de "Graccident"; se o 'Grexit' acontecer será porque os credores, ou pelo menos o FMI, queria que acontecesse.


segunda-feira, 15 de junho de 2015

O risco de contaminação da Zona Euro pela Grécia, promovido pela UE e FMI

O jargão “nós não somos a Grécia” tornou-se cansativo e exasperante. Em conversas com amigos, tenho o hábito de retorquir que “não somos a Grécia, nem as Honduras, nem o Chade, nem o Azerbaijão, nem a Moldávia, e nem mesmo esses outros países como a Lituânia, Letónia e Estónia, bálticos e membros, como nós, da Zona Euro”; nem qualquer outro país que queiram repescar da longa lista ONU”.
Interrogo-me também se o martelado jargão tem outro objectivo senão o da defesa dos políticos que o proclamam com frequência. Não ser a Grécia não nos liberta de pertencer à mesma comunidade monetária, Zona Euro, e aos efeitos de contágio pela Grécia, ou outro país em crise, dos restantes  da citada comunidade.
Alguns podem inferir que este meu posicionamento é mero acto de esquerdismo, consonante com as políticas do Syriza. Não, não é! Consiste apenas em reconhecer que os compromissos conducentes ao linchamento, exigidos pela CE, BCE e FMI:
  •          Cortes adicionais de salários e pensões.
  •          Aumento do IVA para 25%
  •          Excedente orçamental de 1% (o governo grego aceita o limite de 0,75%),
constituem um conjunto de condições demasiado penosas para um povo que, devido à adesão ao euro e extorsão de rendimentos desde o 1.º resgate, tem estado sujeito aos dramas do desemprego, da pobreza e da miséria, criados desde os programas de severa austeridade que, desde a primeira hora, a ‘troika’ impôs à Grécia – não é despiciendo o facto de Mário Draghi, anterior vice-presidente da Goldman Sachs e hoje a presidir ao BCE, ter ajudado a maquilhar as contas para que a Grécia cumprisse os requisitos de entrada na Zona Euro.
Por um conjunto objectivo de motivos, Portugal não é a Grécia. Todavia, o verbo não é ‘ser’ e sim ter e continuar a ter (considere-se pareceres do FMI) políticas de austeridade que a coligação PSD+CDS aplica sem a mínima sensibilidade pelo empobrecimento de centenas de milhares de portugueses, uns desempregados cá dentro e outros ajudados lá fora pelos caminhos de emigração para que foram impulsionados pelas políticas e incentivos efectivos de quem nos governa há 4 penosos anos. O Syriza, eleito democraticamente, recusa igual receita.
Na Grécia e aqui, a austeridade não é a via recomendável para o desenvolvimento económico e social. A solução para o crescimento económico, isso sim, deverá fundar-se nos   “estímulos orçamentais como a forma mais fácil de agir nas actuais circunstâncias”, como defendeu Laurence Ball, professor na Universidade Johns Hopkins nos Estados Unidos, em recente intervenção no Fórum do BCE realizado em Lisboa.
Laurence Ball afirmou também:
“É muito difícil acreditar que a Grécia sai do euro e todos os outros ficam.”
 E ainda:
“Há alguma coisa errada no mundo se começamos a chamar um sucesso a uma economia com 13% de desemprego”.
Coelho e Portas, bem como a sua guarda de honra, se não assistiram ao Fórum citado, tomaram conhecimento, certamente, desta última mensagem. Nem imagino o grau do incómodo sentido. Indirectamente foram classificados de mentirosos. O que, em boa verdade, são!

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

O despertar do eixo franco-alemão

eixo franco-alemoAdormecido desde o termo do período ‘merkozy’, o eixo franco-alemão volta a despertar pela vontade, arte e impudência do casal “merkhollande”; tornou-se agora visível nas condições especiais – aliás, justas - concedidas à Grécia, em termos de valor, prazo e juros da dívida. No facto de não serem aplicáveis aos outros países beneficiários da “ajuda externa” – Portugal e Irlanda – é que está o busílis.
Conclui-se, à partida, não ser apenas Passos Coelho a negar o que afirma antes perante audiências de largas centenas de milhar de espectadores. Jean-Claude Junker fez exactamente o mesmo. Há imagens e material da imprensa a comprová-lo.
Vamos, então, a factos: Schäuble com o discurso de quem imagina estar a falar para dementes ou gente vítima de obstrução mental, advertiu:
“[seria] um sinal terrível…Não aconselho Portugal a obter a mesma coisa…eu não gostaria de ser comparado à Grécia”
Para restabelecer o funcionamento perfeito do famigerado eixo, o ministro das Finanças francês, Moscovici, acrescentou:
 “[As situações de Portugal e da Irlanda] não são evidentemente as mesmas [que a Grécia].”
Quanto ao alemão, devo dizer-lhe que não se trata de uma questão emocional: gostar ou não gostar de ser comparado. Ao francês, responderia: as situações de Portugal e da Irlanda não são exactamente iguais, excepto no importantíssimo pormenor de, com diferenças de escala e de causas, os três países estarem submetidos a (impropriamente) chamados “programas de ajuda externa”, pelo FMI, CE e BCE.
A ambos indagaria ainda: qual a lógica de países integrados no mesmo projecto europeu e de moeda comum (Euro grupo) serem objecto de tratamentos distintos, quando o objectivo principal, está escrito, é virem a cumprir condições idênticas do Programa de Estabilidade e Crescimento da UE e harmonizarem as condições económicas e sociais, segundo o diapasão da coesão social.
Coesão social para Merkel é, em ano de eleições, prometer o aumento de 9% das pensões de reformados alemães e exigir, no seio da UE, que os pensionistas e reformados do Sul Europa sofram avultados cortes nos ganhos que o Estado lhes prometeu pagar, após o final de décadas de trabalho?
De Passos Coelho, é histórica a cega obediência aos poderes da Angela. De Seguro, estou na expectativa e atento para saber se, em vez de “Joyeux Noël” a Hollande, lhe ouvirei um sonoro “Vous êtes un faux ami”… - era o ouvias!  

terça-feira, 30 de outubro de 2012

A teoria da austeridade Ulrich (BPI): Portugal, Grécia - já agora falemos da Argentina

“A experiência argentina ilustra algumas lições fundamentais. O FMI e o Banco Mundial têm realçado a importância da estabilidade no sector bancário. É fácil criar bancos saudáveis, bancos que não percam dinheiro, devido a crédito mal parado – basta em que eles invistam em títulos do Tesouro dos Estados Unidos. O desafio não consiste em criar apenas bancos saudáveis, mas bancos saudáveis que financiem o crescimento. A Argentina demonstrou que, quando isto não acontece, a situação macroeconómica pode tornar-se instável. Devido à falta de crescimento, os défices orçamentais foram-se acumulando, e, quando o FMI impôs cortes nas despesas e o aumento de impostos, desencadeou uma espiral de recessão e de caos social.”
Joseph Stiglitz em ‘GLOBALIZAÇÃO – A GRANDE DESILUSÃO’ (Pg. 112)
Fernando Ulrich sofre de incontinência verbal. Descendente de uma família ligada à banca e às finanças, ao que diz a sua biografia na Wilkipédia, nem sequer necessitou de terminar a licenciatura no hoje ISEG para ter uma carreira de sucesso. Uma genialidade bem cunhada, certamente.
Tal como a Sra. Merkel tem raízes em Hamburgo. Será que sofre da síndroma da germanofilia? Pelo menos, a dúvida fica a pairar neste complicado momento em que no ‘sistema financeiro’, reconhecido como detonador da crise mundial, ainda haja quem se arrogue  do ilegítimo direito do encobrimento da verdade e, mais do que isso, se atreve a dar lições de moral aos cidadãos portugueses.
A Grécia e os sofrimentos infligidos pela ‘troika’ ao povo grego são por demais conhecidos.
Utilizemos o exemplo da Argentina, versado no texto de Stiglitz acima transcrito. O que hoje se passa em Portugal, embora com diferenças de formato, produz semelhantes efeitos recessivos e caos social que nenhum Ulrich poderá negar.
O governo, pela inflexibilidade da Sra. Merkel e parceiros afins, entre os quais Passos Coelho, tem colocado dívida no mercado secundário, comprada maioritariamente por bancos e outras instituições portugueses. Os juros têm flutuado em função dos prazos até aos 4,5%, bastante acima da taxa de 0.75% suportada por esses bancos para empréstimos contratados junto do BCE.
Conjuntamente, com os 12 mil M € para a recapitalização bancária e os 35 mil M € de reforço das garantias para depósitos bancários, incluídos nos 78 mil M € do ‘memorando de entendimento’, exigem-se, assim, ao povo português pesados contributos para desanvalancar a banca; a qual, por sua vez, restringe ao mínimo os empréstimos às empresas e famílias, ignorando a economia.
O desprezo por políticas de crescimento é um desiderato governativo. Consequência: as insolvências e desemprego dispararam para números nunca antes registados. É em sintonia com este cenário de crescente empobrecimento que Ulrich assegura:
Na vida há sempre contingências. A certeza de auto-convencido do “aguenta, aguenta…” pode sair frustrada a Ulrich e ao governo. Já vi cair outras certezas bem mais sólidas e aparentemente consistentes  – de Reza Pahlévi à União Soviética, por exemplo. 
Ulrich que se cale. Lembro-lhe apenas que o seu banco, BPI, também entrou em várias jogadas que endividaram o País antes de Sócrates – o investimento no MARL que, em 2001, se cifrava em 38 milhões de contos e foi suportado pelo financiamento de 21 milhões, à época concedido pelo dito BPI, pelo Millennium BCP e BEI. Do lado do governo, o projecto foi lançado por Palha da Silva, então secretário de estado de Cavaco.




terça-feira, 22 de maio de 2012

A ilustração do dilema grego

o dilema grego
Fonte: Presseurop
O ‘cartoon’ é do talentoso e prestigiado Tom Janssen. De nacionalidade holandesa, trabalha regularmente para o diário local ‘Trouw’. Colabora também com outros jornais de renome, entre os quais o ‘New York Times’.
A minha reserva, em relação à ilustração, consiste em duvidar que a situação da Grécia se confine ao dilema: saída da zona euro a tiro ou cortes orçamentais à força de cutelo.
Em 17 de Junho próximo, face a anunciadas perspectivas de vitória do Syriza, ou mesmo de outro resultado eleitoral complexo, veremos se o dilema não se converterá em trilema ou em qualquer outro conjunto de opções mais numerosas e complexas; complexas para gregos, portugueses, espanhóis, irlandeses, italianos, Sr.ª Merkel e François Hollande. Em resumo, para a Zona Euro, a UE e a economia global.
Tenha-se, pois, a prudência de aguardar a ocasião exacta de saber qual será a opção e a arma aplicar.
Segundo o ‘Público’, citando o ‘Financial Times’, o BCE decidiu injectar no imediato 100 mil milhões de euros na banca grega. Conquanto se argumente que foi para salvar a Grécia, duvido ser esse o motivo impulsionador. Admito, ao invés,  que a operação não visou ser fundamentalmente uma ajuda à Grécia e aos gregos. Outros interesses de poderes e da banca europeia, bem lá do norte e do centro, se levantam.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Um vê a floresta, outro o arbusto

Os políticos, em democracia, são avaliados e escrutinados através da exposição pública, da  honestidade e confiança que inspiram, e ainda da capacidade de análise e visão estratégicas – saber distinguir o essencial do acessório, por exemplo.
No desempenho real, é notória a condição de superioridade de quem, como o líder do Syriza, Alexis Tsipras, firme e objectivo avisa a Sra. Merkel de que é tempo de terminar de brincar com a vida das pessoas; sobretudo, se comparado a políticos do estilo de Mota Soares, resignado e de fala saltitante, que se limita a considerar que o aumento do desemprego é o pior problema de Portugal
Tsipras valoriza a austeridade como a causa madre e determinante do que tem sucedido na Grécia e em outros países europeus. Mota Soares confunde um dos piores efeitos da política de austeridade, o desemprego, ao tomá-lo  por uma espécie de origem rebelde e insanável dos nossos males.
Um, Tsipras, vê a floresta; a vista do nosso frouxo ministro não alcança mais do que o arbusto. Ainda por cima, o insípido Soares tem a responsabilidade de repartir o amargo sabor de revisões das leis laborais, no sentido da proliferação do desemprego e da precariedade das relações de trabalho.
Mota Soares será limitado nas faculdades cognitivas ou intelectualmente desonesto? Provavelmente sofre de ambos os defeitos.   

terça-feira, 15 de maio de 2012

Merkel e Hollande em Berlim, à volta da Grécia

Arrancou em Berlim a era Merkel-Hollande. Do ponto de vista das emoções e afectos, fotógrafos e operadores de câmara tiveram de se contentar com imagens mais frugais. Aos sorrisos, beijos e até uma certa sensualidade do casal ‘Merkozy’, sucede agora a sobriedade institucional do ‘Merkande’  - fusão onomástica, acrónimo identificador ou aquilo que se queira chamar, em respeito pela substituição do elemento masculino do par.
Ao que se percebe das notícias de diversas fontes, 'Público', 'El País' e 'Le Monde' e ainda esta última, em encontro frio e de mútuo respeito, Merkel e Hollande escolheram a Grécia como tema principal das conversações. Ambos garantiram defender o objectivo de manter aquele país na ‘Zona Euro’. Curiosamente, a longilínea e sorridente Lagarde, directora-geral do FMI,   admite a "saída ordenada" da Grécia do euro. Krugman, por seu turno, vai ainda mais longe. Vaticina a saída do euro da Grécia e dos restantes países; ou seja, a extinção da moeda europeia. Krugman, no entanto, é um comentador muito volátil, como testemunhámos em Lisboa.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Bonificação eleitoral, uma exportação portuguesa para Grécia

Nós, ‘portugas’, consumidores ultra-especializados através das promoções do ‘Pingo Doce’, dos descontos em cartão do ‘Continente’, dos saldos em lojas de roupas, sapatos e quinquilharias em centros comerciais ou fora deles; nós, dizia, não estranhamos campanhas de bónus.Nem sabemos viver sem elas.
Sem dinheiro, e com o crédito reduzido pelos bancos, somos compensados no linear do hipermercado ou em qualquer loja - sem cartaz de desconto, a existência de loja já nem tem sentido em Portugal. Atente-se que até o ‘cartão da farmácia’ nos oferece champôs, cremes dermatológicos, pós para bichos na púbis ou preservativos, tudo à nossa escolha, como bonificação dos gastos em medicamentos para todas as patologias e maleitas. Da farmácia ao bazar, sabemos lá o que é comprar produtos sem bonificação.
O nosso estilo de vida, marcado por bónus e promoções, sei agora, foi replicado no sistema eleitoral grego: o partido maioritário tem um bónus de 50 deputados-extra não eleitos. Foi assim que a ‘Nova Democracia’ alcançou 109 lugares.
Da pátria da filosofia, chegaram-me as ideias fundadoras da organização política, da lógica, da ética e da estética. Em contrapartida, a Grécia converteu-se no mercado de sucesso de exportação do nosso conceito de vida bonificada,  agora aplicado à política.
Trata-se de um produto genuinamente nacional, à imagem da cortiça e do Vinho do Porto; contudo, neste caso, concebido no âmbito do marketing político, por “marketers” portugueses especialistas de elevado padrão. O argumento dessa exportação nacional sustentou-se no seguinte slogan:
“No processo de eleição, seja o partido vencedor e por cada deputado eleito, ganhe outro sem voto nem dor!”
Ó Gaspar, conta lá com mais esta entrada de fundos do exterior e divulga ao teu amigo Schäuble.  

 

domingo, 31 de julho de 2011

Há endividados e...endividados




Como os indivíduos e as famílias, os países endividados não são tratados com critérios de equidade. Ser um grande ou um pequeno país devedor, fortemente devedor, não é exactamente a mesma coisa. Obama já o havia advertido "Nós (EUA) não somos a Grécia nem Portugal".
A despeito de remanescentes divergências, segundo se lê aqui, aqui e aqui ou mesmo no prestigiado New York Times, Democratas e Republicanos estão muito próximos do acordo com vista a permitir aos EUA o aumento do limite da dívida em 3 biliões (milhões de milhões). Quem anunciou a alta probabilidade de fechar o acordo foi o líder o senador e líder republicano, Mitch McConnell. Pelo que se percebe, Obama teve de deixar cair a sua proposta de aumento de impostos (receita) e de encargos da segurança social (despesa).
O consulado de Clinton, do ponto de vista das finanças públicas, deixou um avultado superavit que George W. Bush consumiu avidamente: descida de impostos para os mais ricos e as duas guerras, Iraque e Afeganistão, geradoras de lucrativos negócios empresariais. Dick Cheney, Donald Rumsfeld (grande amigo de Paulo Portas) e outros empresários de meios de beligerância que o digam. De financeiramente excedentário, em pouco tempo o saldo norte-americano passou a registar défices em crescendo. Obama teve também quota-parte de responsabilidade ao reforçar o investimento no conflito afegão.
A crise de 2008, em resultado da falta de regulação e da subsequente especulação do sistema financeiro dos EUA, afectaram a economia norte-americana e contagiaram outras regiões do mundo, em particular a Europa e a África de que se fala apenas episodicamente.
No rescaldo de tudo isto, e também fruto de políticas decalcadas no modelo financeiro dos EUA, as bolhas imobiliárias e outras eclodiram em massa e as dívidas soberanas dispararam. As agências de rating, com o prémio de diamante do 'triple A' a Lehman Brothers, AIG, Goldman Sachs e a produtos tóxicos, subitamente assestaram baterias na direcção de pequenos espaços económicos: Grécia e Portugal passaram a lixo, devido às dimensões das dívidas e ao fraco crescimento. Os juros disparam e a espiral da dívida acelerou.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Os cavalos também se abatem

O filme 'Os cavalos também se abatem' salta-me à memória de forma instantânea, a propósito de sucessivas notícias da crise. Sydney Pollack, inspirado no romance de Horace MacCoy, "They Shoot Horses, Don't They?, mostrou o desespero de milhões de norte-americanos, submetidos aos efeitos da Grande Depressão dos anos 30. 
Os 'concursos de dança', figura metafórica e central do filme, são paradigma do duro caminho que homens e mulheres percorriam para, até à exaustão da capacidade física, obterem o humilhante prémio de alguma comida, roupas e meia dúzia de dólares. 
Cada um ou cada par entregue a si próprio, até ao limite das poucas forças que lhe restavam. A aventura era  individual e voluntarista, não resolvendo, naturalmente, os problemas nucleares e sociais da população.
Hoje, o mundo volta a viver momentos críticos, de pobreza e miséria. Que se alastram por milhões, em contradição com o que seria expectável em época de grandes avanços tecnológicos e científicos.
Também na actualidade há comportamentos individualizados que, todavia, massacram milhões, situados no outro lado da barricada.  Warren Buffett, multi, multi, multimilionário, detentor de capital  na Moddy's, é um sinistro especulador que, pelo crivo neoliberal, beneficia da irracional teoria de que 'mercados e investidores' são um extensíssimo toldo de protecção a incontroláveis e inimputáveis - relembro o 'Inside Job'.
Segundo é relatado aqui e aqui, pela voz de Jean-Claude Trichet, o BCE, para atenuar os efeitos negativos na avaliação da economia portuguesa pela Moody's, suspendeu a exigência de um 'rating' mínimo para as obrigações do nosso Estado. É pouco, diria mesmo é um passo tímido e irrelevante. Mero paliativo.
Corajoso e decisivo seria que o BCE, a CE, o grupo da Zona Euro e - porque não? - a UE, no  conjunto, criassem mecanismos para afastar de vez o fantasma das 'agências de notação financeira' norte-americanas das economias europeias, na linha do que é proposto por Carlos Tavares, ao advogar a criação de uma agência exclusiva da Europa.
Até ver, com os baixos rendimentos e as dificuldades de vida a expandirem-se exponencialmente, nós, Portugueses, os Gregos e outros europeus vão continuar na macabra dança...porque "Os cavalos também se abatem'.  

domingo, 3 de julho de 2011

A amnésia da Alemanha e a Grécia

Podemos classificar a amnésia em duas grandes categorias: a amnésia patológica, fenómeno natural e incontrolável pelo doente e a amnésia artificial, auto-induzida por quem a exibe, no sentido de convencer terceiros de um estado patológico, falso naturalmente. No fundo, é a ousadia de omitir e esquivar-se de situações comprometedoras do passado, pessoais ou colectivas.
É nesta segunda categoria que se enquadram a preceito posturas e discursos  da Sra. Merkel e dos seus ministros, a propósito da hipocritamente chamada "ajuda" à Grécia mas também em relação a uma série de exercícios de arrogância na crítica aos países do Sul da Europa - Espanha e Portugal em especial. 
Hoje, no Expresso e no Público, é possível ler-se que o ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, declarou que a Alemanha tomou medidas preventivas para uma eventual bancarrota grega. Isto, diga-se, como precaução contra o risco de insucesso das medidas de austeridade que esta semana foram aprovadas pelo parlamento helénico. O Jornal "i" anuncia, por sua vez, que a UE já libertou a ´quinta tranche da "ajuda" à Grécia, aproveitando para informar que Roubini considera que Portugal está "quase pior" do que aquele país. O presidente do Eurogrupo, Juncker, admite que "A soberania da Grécia vai ser seriamente limitada". A portuguesa também, digo eu. Aliás, já está.
Regressemos à questão da amnésia artificial e ao papel da Alemanha na História da Europa do século passado. Não vamos falar dos 30 milhões de mortos causados pelos germânicos na 2.ª Guerra Mundial, dos quais - saiba-se lá porquê! - só se destaca com frequência a morte de 6 milhões de judeus. Estes foram, apenas, a 5.ª parte do total de vítimas. 
Vamos focar as ajudas financeiras, económicas e sociais, estas sim ajudas efectivas, concedidas aos alemães ocidentais no âmbito do Plano Marshall e do PRE. De facto, embora derrotada e graças à generosidade dos EUA, Grã-Bretanha e França, a Alemanha Ocidental recebeu milhares de milhões de dólares para se reerguer social e economicamente - dispensada de incorrer em despesas militares, sublinhe-se.
A título de exemplo dos efeitos sobre outros países, cite-se que a recuperação da economia da Grã-Bretanha foi retardada pelos gastos sem precedentes em ajudas a população em dificuldades na zona de ocupação no Noroeste da Alemanha - 317 milhões de dólares no ano de 1947, uma verba elevadíssima para a época.
A despeito da amnésia de Merkel, seus ministros e de muitos  outros cidadãos germânicos, o povo alemão já passou fome e necessitou de auxílio substancial e significativo de outras nações para se reabilitar no pós-1945. Não convém lembrar?
Todavia, e é pena não ser citado na comunicação social portuguesa, O 'Der Spiegel', em louvável atitude, publica um artigo sob o título "Estilo grego de austeridade seria um inferno para os alemães". Vale a pena ler, podendo recorrer-se à tradução automática do 'Google'. 


  

terça-feira, 28 de junho de 2011

O stresse dos "testes de stress"

A comunicação social portuguesa, e em particular a imprensa escrita, tem utilizado o vocábulo inglês "stress", ao pretender mencionar os testes à resistência da estrutura financeira dos bancos. Ainda hoje, os jornais "i" e "Público" titulam notícias sobre a citada avaliação à banca, com a designação 'testes de stress'.
Confesso sentir-me  incomodado com este tipo de erros de linguagem, tão vulgarizados; ora em jornais, ora em notíciários televisivos. 
Primeiro, há que atender que, através do aportuguesamento do inglês 'stress', o Dicionário da Academia das Ciências de Lisboa passou a integrar o referido termo no nosso léxico com a palavra stresse e os seguintes significados:
  1. Conjunto de perturbações psíquicas e fisiológicas provocadas por factores agressivos externos e por emoções, que exigem uma adaptação do organismo. 
  2. Pressão exercida nas pessoas por esses factores.
Para fortalecer o nosso conhecimento, ainda há esse prestimoso Ciberdúvidas a dedicar-se ao aportuguesamento de 'stress'. Coloca, porém, reservas sobre a solução encontrada pela Academia das Ciências de Lisboa. Considera que os brasileiros ao optar por 'estresse' estão em consonância com a tradição no aportuguesamento de palavras iniciadas por 'st' noutras línguas - estádio derivado do latim 'stadiu', citam.
Como o conteúdo das notícias, esse sim, já é susceptível de me vir a causar stresse, gostaria que os senhores jornalistas passassem a respeitar regras da semântica para citar e descrever os tais testes.
Sou economista, e normalmente nas áreas técnicas, o 'bom português' cede com facilidade a anglicismos e coisas do género. Interessa, porém, que neste caso fique claro que os bancos, organizações burocráticas e estruturadas, não sofrem de 'stress'. Quem poderá ser alvo de grandes pressões psicológicas e emocionais, o tal stresse, somos nós, cidadãos. Basta espreitar por aqui e por aqui para ver como está a Grécia. 

Adenda: Ontem, dia 28,  escreviam 'testes de stress'; hoje, já escrevem 'testes de stresse'. Houve algum progresso, mas o problema principal é a semântica; a semântica, meus caros.