Podemos classificar a amnésia em duas grandes categorias: a amnésia patológica, fenómeno natural e incontrolável pelo doente e a amnésia artificial, auto-induzida por quem a exibe, no sentido de convencer terceiros de um estado patológico, falso naturalmente. No fundo, é a ousadia de omitir e esquivar-se de situações comprometedoras do passado, pessoais ou colectivas.
É nesta segunda categoria que se enquadram a preceito posturas e discursos da Sra. Merkel e dos seus ministros, a propósito da hipocritamente chamada "ajuda" à Grécia mas também em relação a uma série de exercícios de arrogância na crítica aos países do Sul da Europa - Espanha e Portugal em especial.
Hoje, no Expresso e no Público, é possível ler-se que o ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, declarou que a Alemanha tomou medidas preventivas para uma eventual bancarrota grega. Isto, diga-se, como precaução contra o risco de insucesso das medidas de austeridade que esta semana foram aprovadas pelo parlamento helénico. O Jornal "i" anuncia, por sua vez, que a UE já libertou a ´quinta tranche da "ajuda" à Grécia, aproveitando para informar que Roubini considera que Portugal está "quase pior" do que aquele país. O presidente do Eurogrupo, Juncker, admite que "A soberania da Grécia vai ser seriamente limitada". A portuguesa também, digo eu. Aliás, já está.
Regressemos à questão da amnésia artificial e ao papel da Alemanha na História da Europa do século passado. Não vamos falar dos 30 milhões de mortos causados pelos germânicos na 2.ª Guerra Mundial, dos quais - saiba-se lá porquê! - só se destaca com frequência a morte de 6 milhões de judeus. Estes foram, apenas, a 5.ª parte do total de vítimas.
Vamos focar as ajudas financeiras, económicas e sociais, estas sim ajudas efectivas, concedidas aos alemães ocidentais no âmbito do Plano Marshall e do PRE. De facto, embora derrotada e graças à generosidade dos EUA, Grã-Bretanha e França, a Alemanha Ocidental recebeu milhares de milhões de dólares para se reerguer social e economicamente - dispensada de incorrer em despesas militares, sublinhe-se.
A título de exemplo dos efeitos sobre outros países, cite-se que a recuperação da economia da Grã-Bretanha foi retardada pelos gastos sem precedentes em ajudas a população em dificuldades na zona de ocupação no Noroeste da Alemanha - 317 milhões de dólares no ano de 1947, uma verba elevadíssima para a época.
A despeito da amnésia de Merkel, seus ministros e de muitos outros cidadãos germânicos, o povo alemão já passou fome e necessitou de auxílio substancial e significativo de outras nações para se reabilitar no pós-1945. Não convém lembrar?
Todavia, e é pena não ser citado na comunicação social portuguesa, O 'Der Spiegel', em louvável atitude, publica um artigo sob o título "Estilo grego de austeridade seria um inferno para os alemães". Vale a pena ler, podendo recorrer-se à tradução automática do 'Google'.
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