terça-feira, 29 de abril de 2014

Sucessivamente menos e mais velhos

O ‘Público’ revelou os dados demográficos do INE, ilustrados pelo gráfico seguinte:
Jamais se registou um número anual de nascimentos tão reduzido (83.114) em relação ao número de óbitos (106.855); uma diferença de – 23.741 que projecta a taxa de natalidade para um valor muito mais baixo do que o índice de mortalidade. Somos, de facto, cada vez menos, nós os portugueses, e mais idosos.
Os sociólogos começaram por considerar que, no período pós-industrial iniciado em 1973, a quebra das taxas de natalidade estava equilibrada com a taxa de mortalidade, o que proporcionava um ajustamento demográfico, na generalidade dos países desenvolvidos – EUA e Europa.
Todavia, esse equilíbrio no Velho Continente tem-se vindo a deteriorar, sendo Portugal dos países mais afectados. A situação é comprovada pela estrutura demográfica do País em 2013:
 0-14 Anos: 16% (masculino 900,758/feminino 827,219)
15-24 Anos: 11.4% (masculino 655,365/feminino 581,010)
25-54 Anos: 42.4% (masculino 2,303,445/feminino 2,270,380)
55-64 Anos: 11.8% (masculino 595,464/feminino 681,506)
65 Anos e acima: 18.4% (masculino 811,005/feminino 1,173,118)
Os estudos sociológicos afloram diversas causas do tipo de transição demográfica com que nos debatemos: acesso mais fácil e recorrente a meios contraceptivos, urbanização, redução ou mesmo eliminação do trabalho infantil e custos de investimento dos pais na educação dos filhos. O saldo migratório também entra nos cálculos, e é muito desfavorável nos últimos anos a Portugal.
Também são abordadas, de forma abstracta, alterações económicas. Todavia, e porque os estudos se fundamentam em sociedades com taxas de substituição mais equilibradas e são de carácter genérico, omitem – e é aceitável que o façam – países de menor dimensão, caso de Portugal.
Por outro lado, o que não me parece tão tolerável, é não acentuar que, na luta pela produtividade + competitividade, a totalidade do tempo de trabalho libertado pela racionalização e a introdução de novas tecnologias não é, de facto, recompensado, por manifesta incapacidade de extensão indefinida da esfera económica.
É, pois, no enquadramento do citado binómio, que privilegia os défices e esquece os cidadãos, que o número de portugueses, a viver em solo pátrio, vai definhando, no número e no estilo de vida. Trata-se de um princípio ideológico de fundo que a Europa, o nosso actual governo, o próximo, o próximo a seguir ao próximo e por aí adiante, inseridos na lógica do capitalismo pós-moderno, jamais reverterão.
A única saída possível, e porque os portugueses não estão sós nesta trincheira, reside na acção colectiva de várias sociedades europeias e outras que se empenhem no combate contra a desigualdade e pela transformação radical dos sistemas internacionais económico e financeiro. Provavelmente serão necessárias décadas; porém, a humanidade ainda não chegou, de facto, ao “fim da história”.  

sábado, 26 de abril de 2014

Da ‘união nacional cavaquista’ à contestação nas ruas

O PR, em respeito pelas tradições instituídas, fez o discurso da praxe das comemorações do 25 de Abril na AR; este ano a histórica data completou o 40.º aniversário.




De forma igual aos antecessores, comprometeu-se a ser o presidente “de todos os portugueses”. Revelou, uma vez mais e na forma inábil do costume, a hipocrisia de que se serve em actos públicos. Em cerimónias de circunstância, e com mais gravidade nos actos políticos, tem demonstrado constantes vacuidades discursivas, propósitos dissimulados e aleivosos em relação aos interesses do povo português.
O estatuto de primeiro magistrado do País não o inibe, pois, de se imiscuir de forma condenável na vida partidária, privilegiando, às vezes sub-repticiamente, outras com claríssima impudência, o partido em que se reconhece e esse estranho aliado, em particular para ele, chamado CDS de Paulo Portas, homem que há anos o rebaptizou de Salazar.
Na escolha dos membros do Conselho de Estado – a obstinação abjecta de ter alongado a participação nesse órgão do amigo Dias Loureiro, suspeito de envolvimento no grave ‘caso BPN’, por exemplo – como nas relações com governantes e os cidadãos, Cavaco, de rectilínea figura e sorriso ridiculamente geométrico e artificial, é, de facto, uma personagem que deliberadamente se molda em função de quem fala – raramente nomeia adversários políticos, por falta de frontalidade – e dos actos de que, em tão pretensiosa como falsa sabedoria, se posiciona como juiz supremo.

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Vasculho Pulido Valente falou ao 'i'... hi, hi, hi, hi!


O Jornal 'i' também não sai bem desta fotografia, onde se vê a figura triste de Vasco Correia Guedes - ou Vasco Pulido Valente, escolha-se - com uma nuvem de fumo, um olho aberto e outro meio-fechado, a decorar a ébria declaração:

"Não devemos nada aos capitães de Abril"
Quem deve mesmo muito à falta de decência é o dito Correia Guedes, o director, o entrevistador que recolheu as declarações e o paginador do 'i'.  

Tratando-se de uma anedota pegada, o melhor, em homenagem aos referidos figurantes, é dedicar-lhes uma 'cançãozinha': 


Nos 40 anos do 25 de Abril, de novo em busca do tempo perdido.

Sinto a sofreguidão do tempo a correr, louco na celeridade e pulverizado de transformações de que os homens – os políticos, principalmente - impregnaram a sociedade. Como defendia Marcel Proust, o tempo, em si mesmo, é desprovido de conteúdo. Porém, é o abrigo de tudo que desfila na sua incessante contagem. Uma regra a que não escapam os eventos da vida colectiva desde sempre e as figuras inextinguíveis da História da Humanidade.
Nasci e vivi neste País nos tempos da doutrina, das tradições e das vozes medievas, a exaltar uma estranha felicidade de “estarmos orgulhosamente sós”. Orgulho fétido, lançado pelos militares de Abril para um desterro distante. Tão longínquo que jamais se sentiu o exalar da fedorenta e opressiva tirania.
Dos tempos democráticos, neste 40.º aniversário do 25 de Abril, o País vive a pior crise social, económica e financeira de sempre, sob o comando de um grupo de gente, na maioria, de escassa cultura que abraçou a vida política através das ‘juventudes partidárias’, por descarado e ignóbil carreirismo e ambições de carácter material e mediático.
Tiveram excelentes mestres, ou seja, alguns dos retirados; muitos acumularam fortunas sem escrúpulos quanto aos meios utilizados, em diversos casos dolosamente. Tudo à custa de um povo, nesta hora fustigado por nova tirania, traçada em ‘ateliers’ financeiros e executada por títeres subservientes a centros de poder estrangeiros – do FMI de Washington à Comissão Europeia e BCE; estes últimos comandados desde Berlim.
É graças a esta sórdida gentalha, às ordens de poderes externos não sufragados, que os portugueses, em vez do “orgulhosamente sós”, estão agora submetidos a uma soberania decapitada e vivem “humilhantemente subjugados”. Uns, muitos, emigram; outros, também muitos, vivem sem emprego, em situações de extrema pobreza, ou mesmo de miséria; outros especiais: idosos, sem recursos e assistência médica capaz, sofrem na morbidez do caminho abreviado para a morte, ou crianças, mais de 120.000, que morreriam de fome se não existissem ajudas de instituições de solidariedade criadas pela sociedade civil.
É desta sórdida gentalha, ocupante das salas do poder, a derramar mentiras a propósito da baixa de juros e a falsear dados macroeconómicos, como o peso real das exportações na Economia Portuguesa, que temos de nos livrar.
É desta sórdida gente hipócrita, desumana e que, dando-se conta ou não, exerce uma governação assassina que nos devemos livrar.
É desta sórdida gente que temos de nos libertar, em busca do tempo perdido nestes últimos três anos, de perdas de direitos laborais, de salários, de prestações sociais, de assistência na saúde ou na prestação dos serviços do Estado na educação.
Temos de expurgar toda esta ganga das nossas vidas, para que o espírito e as conquistas do 25 de Abril se revigorem fulgurante e definitivamente, em benefício do povo português.
Vivam os militares de Abril! Viva a memória de Salgueiro Maia! Lá estarei, daqui a umas horas, no Largo do Carmo com milhares na homenagem póstuma a um capitão que contribuiu decisivamente para que uma data, 25 de Abril, se tornasse intemporal e simbólica da felicidade do povo português.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Portas “o comprador” testemunha da compra dos submarinos

Notícia do ‘Público’, em título:
O homem nasceu para servir a Marinha. Atente-se nas alegorias (“as exportações são o porta-aviões da recuperação”) e em actos da governação (compra de submarinos como Ministro da Defesa no governo de Durão Barroso).
Marinheiro virtual mas devoto, amante da farda e dos galões, é em tempestuosas e turvas águas que tem o dom de flutuar em mar chão, vencendo intempéries políticas e de outras espécies complexas, por mais adversas que sejam. 
Todavia, na viagem do ‘negócio dos submarinos’, que já teve condenados na Alemanha e na Grécia, um dos dois decisores da compra do equipamento à Ferrostal, justamente Portas, vê-se afrontado pelo Ministério Público como testemunha no nebuloso processo.
Ouça-se a frontal Ana Gomes e ajuíze-se se o estatuto de testemunha reflecte com rigor o papel de Portas em mais um processo judicial aparentemente enviesado que, como outros, a “justiça portuguesa”, presumo, fará aportar na "inocência" dos mais poderosos:     



Banco de Portugal denuncia farsa nas exportações

'Post' do leitor Adelino Ferreira


Carlos Costa, governador do Banco de Portugal
O conteúdo deste texto foi extraído do comentário ao 'post' que publiquei sob o título "Os juros e a economia Portuguesa - visão do Wall Street Journal". Desde os meus tempo de autor do blogue 'Aventar' que, embora sob a forma de convívio virtual, criei com o Adelino Ferreira uma relação amistosa, marcada, essencialmente, pelas opiniões, que na maioria dos casos partilhamos, sobre a situação do País e o tipo de governação a que os portugueses estão subordinados. Existe, pois, entre os dois um laço de mútua consideração que, a um e a outro, não obriga a estar sempre de acordo. 
Com base nessa consideração pessoal, publico na íntegra o seu comentário que, há que dizê-lo, se inspira em notícia do 'Dinheiro Vivo', edição de hoje, abaixo devidamente identificada.
Eis o comentário e suporte do mesmo de autoria de Adelino Ferreira: 

Carlos Costa, governador do Banco de Portugal (Foto: D.R.)
Banco mostra que o contributo para a retoma de mais de 30% das exportações portuguesas em 2013 está sobrevalorizado.
Os maiores exportadores portugueses contribuem bem menos do que se pensa para o aumento da riqueza interna da economia, vulgo PIB, diz o Banco de Portugal.

O caso mais evidente é o do sector dos produtos petrolíferos refinados, onde a Petrogal (grupo Galp) é o maior ator: é o grande exportador por excelência, em peso e em dinamismo anual, mas importa tanto que acaba por quase anular o seu contributo aparente para a expansão anual.

No boletim económico da primavera, o banco central governado por Carlos Costa denuncia a situação, analisando o que aconteceu em 2013. “Por exemplo, os produtos petrolíferos refinados reduzem o seu peso (de 7,8% nas exportações nominais totais de bens para 1,9%) enquanto os artigos de vestuário registam um aumento (de 5,5% para 7,1%)”. É a diferença entre considerar-se a evolução normal – utilizada pelo Governo para se congratular pelo sucesso do ajustamento externo – e usar uma medida corrigida da dependência desses sectores às importações.

Também o contributo líquido dos refinados é muito menor. As exportações de bens totais avançaram 27,4% em 2013, sendo que o contributo oficial do sector em causa se saldou em 2,1 pontos percentuais. A medida corrigida baixa essa ajuda para apenas 0,5 pontos.

Vestuário vale mais que combustíveis
Naquele exemplo em concreto, torna-se evidente que o sector do vestuário está muito mais emancipado em relação às importações, é mais nacional que os outros. Portanto, ajuda muito mais do que se julga à retoma da economia. O seu peso (corrigido) no total das exportações de mercadorias até é superior ao do sector dos combustíveis.

Segundo o Banco de Portugal, “é possível constatar que nos últimos anos as exportações nominais de bens têm registado na maioria dos meses uma taxa inferior quando se leva em consideração os conteúdos importados”. E que “um determinado aumento das exportações terá um impacto maior no PIB se assentar em bens com menor conteúdo importado”.

Em termos mais agregados, o Banco mostra que o contributo para o PIB de mais de 30% das exportações portuguesas em 2013 está sobrevalorizado. A seguir aos refinados, os sectores mais inflacionados são: petróleo bruto e gás natural; produtos associados a serviços de saneamento básico e tratamento de resíduos; produtos da pesca e da aquicultura; e produtos químicos, diz o estudo.

Este enviesamento não é um exclusivo de Portugal, é uma consequência de o país estar inserido nas “cadeias de valor globais”, como também observa o Banco, mas levanta o problema de saber se a retoma em curso pelas exportações não será em parte engolida pela dependência que muitos exportadores nacionais têm face à produção importada, sejam produtos intermédios, seja a tecnologia que o país não fabrica.

Esse risco da retoma pelas exportações poder não ser sustentável até foi visitado pelo FMI já este ano, provocando reações muito negativas no seio do Governo. Paulo Portas, o vice-primeiro-ministro, chamou às exportações “o porta-aviões da recuperação”.

O BdP manteve as projeções económicas publicadas em março. A economia deverá crescer 1,2% este ano. As exportações ajudam com 2,1 pontos, mas as importações engolirão na íntegra esse ganho. O crescimento só acontecerá graças à procura interna (consumo e investimento).Luís Reis Ribeiro DINHEIRO VIVO.
 (Adenda: foram respeitadas as regras do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 do 'Dinheiro Vivo' que não é a minha opção na escrita da língua portuguesa, Carlos Fonseca), 

Os juros e a economia Portuguesa - visão do Wall Street Journal

O governo teve esta quarta-feira um dia de felicidade e euforia. Os juros do leilão de dívida a 10 registaram uma descida histórica para 3,575%, tendo sido colocados 750 milhões de dívida e a procura superou 3,5 a oferta.
Segundo motivo de euforia foi causado pelo défice das Administrações Públicas do 1.º Trimestre. A receita do IRS (e mesmo tendo em conta que a comparação é enviesada porque a nova tabela de 5 escalões só entrou em vigor em Março de 2012) o aumento de receitas desse imposto, diz o governo, é de 4,5%, o que significa que são, sobretudo, os trabalhadores a cumprir em grande parte as impiedosas medidas do programa da Troika e de outras adicionais ao 'memorando de entendimento' com que o governo resolveu agravar o castigo dos portugueses.
Infelizmente, o governo poderá estar cheio de entusiasmo e de convicções de menores danos eleitorais nas 'europeias', mas a situação do País é muito mais grave do que aquela que nos pretendem vender; com a conivência dos analistas do Banco Carregosa e de outros bancos e agências que dizem o que Passos, Portas & Cia. gostam de ouvir. A verdade fica de lado.

Para a situação de Portugal ser também debatida à luz da informação de outras fontes, mais isentas e conhecedores dos detalhes da vida económica do País, eis a tradução de um artigo publicado ontem, em cima da hora, no Wall Street Journal:

Tradução

Wall Street Journal 23-04-2014



Portugal, Milagre ou Miragem? 


Comentário por Alen Mattich


Os investidores não conseguiram suficientes obrigações do governo Português vendidas quarta-feira.
A dívida de 10 anos registou um total de €2,6 mil milhões em licitações, para um montante de €750 milhões, conduzindo a rendimentos até um nível abaixo de 3,60%. Isso é tão baixo como os rendimentos de obrigações nos dias calmos, antes do incumprimento da Grécia causarem nos investidores dúvidas acerca do futuro da moeda única.

Graças à confiança renovada dos investidores, o país deverá anunciar no próximo mês a sua saída de um programa de resgate de 2011, implementado pelo Fundo Monetário Internacional e instituições europeias.
Mas o que parece claro é que o colapso do rendimento – embora não no todo tão aparentemente dramático em relação a títulos do governo alemão equivalentes – tem mais a ver com fé na determinação do Banco Central Europeu em manter a moeda única intacta do que com a confiança nos fundamentos económicos de Portugal.
Tudo isso é porque a economia de Portugal só está a revelar sinais de recuperação. O desemprego continua a ser preocupantemente alto, acima dos 15%, tendo atingido uma média de mais de 16% no ano passado. Os esforços do governo para reduzir o seu défice orçamental tornará difícil fazer cair com celeridade a taxa de desemprego nos próximos anos.

terça-feira, 22 de abril de 2014

O 25 de Abril perturba os pobres Tavares

Sim, pobres de espírito e sem respeito pelo 25 de Abril, ambos são Tavares e ambos exalam descontentamento com a comemoração da histórica data. Um, veterana figura mediatizada, confessa na SIC ser adverso a comemorações:

Do estilo categórico da afirmação, depreende-se que jamais comemorou aniversários, seus e de outros, as vitórias do FCP no futebol, quanto mais, acrescento eu, rememorar a alegria do nobre acto de militares de 1974, extermínio do Estado Novo; sim, porque as comemorações é problema deles, como diria a Assunção Esteves. Que atitude mais infeliz a deste pobre Tavares rico.
Para azar nosso, um 'pobre Tavares' nunca está só. Então, outro do 'Público', de nome João Miguel, comediante também contratado pela TVI, nascido um ano antes do 25 de Abril, escreve como tivesse testemunhado com os próprios olhos episódios decisivos da 'Revolução dos Cravos'.
Homem sem experiência directa, serve-se da obra de Adelino Gomes para fazer um comentário não apenas hostil ao 25 de Abril, como ofensivo para o povo português que é, diz o inteligente, "chico-esperto, manhoso e campeão de improvisadores".
Este 'pobre Tavares', nitidamente mais pobre de ideias do que o primeiro, chega ao ponto de estabelecer comparações entre a mentalidade e o perfil dos portugueses e a personalidade-tipo dos norte-americanos, escrevendo:
"Se há coisa em que os norte-americanos são realmente bons é a criar heróis e memoriais. Toda a sua mitologia está assente na figura do homem normal que em momentos extraordinários se consegue superar a si próprio, seja ele Abraham Lincoln, Rocky Balboa ou Chesley Sullenberger, o comandante do avião que em Janeiro de 2009 conseguiu amarar nas águas geladas do rio Hudson, salvando todas as pessoas a bordo."
Tenho alguma relutância em chamar-lhe alarve; mas  não tenho dúvidas de que todo o seu artigo é uma enorme alarvidade. Conclui-se que, em seu entender, o cabo José Alves Costa deveria ter obedecido ao coronel Junqueiro dos Reis e disparado sobre a coluna de Salgueiro Maia.
O reaccionário Tavares do 'Público', empolgado pela "mitologia ianque', sentencia que Alves Costa é um anti-herói, assim como os portugueses no todo e desde sempre. Temos, portanto, de reinventar o Hino Nacional (Herois do Mar...), de negar a epopeia dos portugueses que Camões cantou nos 'Lusíadas' e os militares de Abril passam a ser classificados de manhosos. Sentença de alarve - não resisti!  

domingo, 20 de abril de 2014

O Papa Francisco e o cardeal Clemente



Há imagens suficientemente elucidativas. Sobretudo, se habilitam à comparação do comportamento de homens. Sem manipulações tecnológicas ou outras, retratam com fidelidade semelhanças e diferenças; neste último caso, se se tratarem de figuras de idêntica instituição ou organização social, política ou religiosa, os contrastes tornam-se mais claros, por contradição. Às vezes chocantes. Veja-se a decente - e acredito que sentida - meditação e clemência do Papa Francisco (há dias na Via Sacra) e o ar de abjecta euforia do cardeal Manuel Clemente.
As imagens, porém, podem induzir a interpretações inexactas; mas, depois, há as palavras de um e de outro, a seguir destacadas:
Papa Francisco:
"Na cruz vemos a monstruosidade do homem, quando permitimos ser guiados pelo mal, mas também vemos a imensidão da misericórdia de Deus, que não nos trata segundo os nossos pecados, mas segundo a sua misericórdia". E solidarizou-se com desempregados, sem-abrigo, doentes, imigrantes, idosos ou presos, atrás de uma cruz de madeira, que simboliza o "sacrifício" de Jesus.
Palavras do cardeal Clemente:
"A esperança com que saímos do 'programa de assistência' sobrevém da nossa capacidade de resistir e inovar"
É uma afirmação política tendenciosa, que tentou reforçar de forma ténue, imprecisa, com a banalidade de quem, tendo que dizer algo como chefe religioso, jamais integra o ideário que o Papa Francisco tem revelado com frequência. Disse, depois, o cardeal:
“Interrogar-me-ei decerto e no plural sobre se, depois de termos acompanhado na paixão de Cristo o destino de todos os injustiçados, ficámos mais comprometidos num rumo de solidariedade e entrega, que triunfa sobre a própria morte - todos os tipos de ‘morte’” 
É um discurso demasiado opaco e teórico. Construído sem o pragmatismo e a crítica ao poder exercido por gente impreparada, sem valores e referências humanitárias e com o desprezo peculiar da ICAR de João Paulo II e Bento XVI, reaccionária e incapaz de combater escândalos de vários géneros (financeiros, sexuais e sociais) que constituem máculas nojentas da igreja do Vaticano há décadas.
Curioso a notícia integrar a descrição de um casal de desempregados inebriados pela fé religiosa de ultrapassarem o adverso trajecto em que estão envolvidos. Num país governado por um PM que jurou em Bruxelas, Berlim e Lisboa empobrecer o povo português, sem que o cardeal Clemente o denuncie, é complexo que as centenas de milhares que lutam contra dificuldades, como este mais de um milhão de estudantes, logrem resolver os problemas da vida com o credo e a doutrina da profissão de fé.
Sou agnóstico.

sábado, 19 de abril de 2014

O sal e o açúcar do (des)governo do nosso padecimento

Pormenores, aparentemente fúteis, contribuem para demonstrar a falta de sintonia dos membros do governo de Coelho e Portas.
Um dia vem a ministra das finanças anunciar, de forma imprecisa, que, para efeitos de poupança dos 1.400 milhões em 2015, se contariam com novas receitas, entre as quais:
A clarificar as ideias da ministra, surgiu de imediato o secretário adjunto do ministro da saúde, que é médico hematologista, a declarar:
Para finalizar a história, vem o ex-quadro cervejeiro Pires com o ar de ofendido, a inculpar não se sabe quem, talvez os jornalistas, com uma frase categórica:
No desaparecido ‘Parque Mayer’, e com os talentosos autores, actrizes e actores da ‘revista à portuguesa’ entretanto desparecidos, estes governantes de ocasião proporcionariam argumento para um ‘sketch’ de causar risos a um teatro inteiro.
Burlesca, esta história contém, de facto, as personagens ajustadas à comédia de ‘vaudeville’: uma ministra das finanças que é uma espécie de Dr. Salazar, em versão loura e actual, que tanto decide sobre matérias da pasta da Saúde como de Segurança Social – o Mota Soares nem pia, o que, diga-se, também convém ao CDS-PP. Depois temos um hematologista e um ex-cervejeiro e, quando há álcool no sangue, a alcoolémia vence. Figuras caricatas… só se lastima que nos façam sofrer.   

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Cavaco Silva, o presidente irónico de mau gosto

A falsidade é susceptível de uma infinidade de combinações;
 mas a verdade só tem uma maneira de ser.
Jean-Jacques Rousseau



Fonte: SAPO Vídeos
Produzidas na presença dessa figura encardida de nome Branquinho - o tal que declarou na AR ignorar o que era 'Ongoing' e em seguida ingressou nos quadros dessa infestada empresa - as palavras de Cavaco Silva, carregadas de triste ironia e cinismo, não iludem. 
Com efeito, de um homem que "nunca se engana e raramente tem dúvidas" as declarações públicas jamais me equivocam ou me causam incerteza. O actual PR é do género de quem hoje diz e faz uma coisa e amanhã é crítico dos resultados nefastos do que defendeu e decidiu anteriormente. Sem assumir responsabilidades.
A profunda cumplicidade de Cavaco com o governo de Passos e Portas retira-lhe qualquer legitimidade para, por exemplo, defender criticamente que "devem ser corrigidas as situações de injustiça nos últimos anos nesta fase de vida do país."
No zelo de um forte aliado do governo, o PR focou a "melhoria dos indicadores económicos" que, todavia, milhões não sentem, antes pelo contrário sofrem com dificuldades crescentes; e introduziu um novo conceito macroeconómico curioso: "O dividendo orçamental do crescimento económico, proporcionado pelos aumentos das receitas dos impostos e pela redução dos subsídios de desemprego."
Qualquer cidadão com meio-dedo de testa, perante esta falta de verticalidade, questionará com mais do que justificada razão: "Este não foi o PR que promulgou todas as leis que permitiram justamente ao governo cortar subsídios de desemprego, reformas, pensões e salários que tornaram complexa e, em certos casos, causar grave sofrimento a milhares e milhares de famílias portuguesas?"
A hipocrisia em política sempre foi uma figura de estilo e uma componente do acto de governar. No entanto, na 'Democracia de Abril', com este Presidente e esta maioria, nos últimos anos, foram largamente ultrapassados os limites do tolerável. Seria preferível que o PR permanecesse no caminho das vacuidades que lhe são peculiares, em vez de pretender aliar-se aos prepotentes e às vítimas destes. É demasiado contraditório.


terça-feira, 15 de abril de 2014

Previsão do desemprego (e da emigração?) para 2015

A ministra Albuquerque, com o ar natural de amanuense promovida a figura pública, ao lado do ‘controleiro’ Marques Guedes anunciou que, em vez dos 15% anteriormente previstos, a taxa de desemprego para 2015 se fixará em 14.8% - há 3 meses, pelo menos, que encalhou nos 15,3%, o que prova o elevado sucesso socioeconómico do governo… sem se falar de insolvências.
Se traduzirmos a previsão para dramas de vida, sentidos pelas centenas de milhares dos mais jovens que jamais encontram emprego e também daqueles que, a partir dos 35/40 anos, se encontram na situação de desempregados de longa duração, e se considerarmos a realidade da partida diária de cerca de 200 cidadãos a emigrar, facilmente se infere que a Albuquerque está, sobretudo, é a prever um nível de emigração, daqui até ao final de 2015, que venha a produzir um impacto de - 0,2%  no desemprego.
Todavia, uma vez que por norma o governo falha nas previsões, tanto um valor, 14,8% de desemprego, como outro, 0,2% de emigração, têm enorme probabilidade de falhar.
Que demagogia! Até a Albuquerque, que é minhota, entra no vira do ‘eleitoralismo’. Se nas ‘europeias’ é isto, facilmente se imagina como serão as legislativas de 2015. Vamos ter petróleo no Beato, ouro, muito ouro, no Alentejo, e sessões de inauguração não faltarão no País. Parece-me antever Portas a inaugurar um urinol nos Aliados, no Porto, e Coelho a descerrar uma lápide noutro nos Restauradores, em Lisboa… necessidades do chamado estado de erecção de mijo.

Os políticos de hoje e o currículo de Rangel

Paulo Rangel, ex-presidente do grupo do parlamentar dos tempos de Manuela Ferreira Leite, bate forte e feio em António José Seguro, porque Martin Schulz, do SPD alemão, mudou para o campo dos opositores da ‘mutualização’ de dívidas na Europa. Quem mudou de posição, na essência, foi o SPD ao coligar-se com o par CDU/CSU de Angela Merkel. 
Schulz submeteu-se ao partido, à luz dos cânones da teoria e da práxis política da pós-modernidade, onde prevalece a falta de ética, os políticos amantes do sacrifício pela pobreza de milhões de cidadãos no universo e a protecção de multimilionários. Sem carácter, nem palavra.
Schulz é um dessa horda infame de políticos europeus e António José Seguro, sem formação cultural e política, além daquela que adquiriu na ‘jota’, está a recolher os resultados da desinformação que o fragiliza.
Paulo Rangel, um errante sem escrúpulos da política, já foi de tudo e de todos no braço direito do ‘arco do poder’. Quando trabalhou como advogado na Osório de Castro, Verde Pinho, Vieira Peres, Lobo Xavier & Associados, convidado por Xavier filiou-se no CDS-PP (2001). Quando Aguiar-Branco foi ministro da Justiça, desempenhou o cargo de secretário de Estado Adjunto desse ministério, transferindo-se para o PSD (2005). As deambulações de um homem sem coerência nem vergonha levaram-no a transferir-se para apoiante de Manuela Ferreira Leite, sendo nomeado presidente da bancada ‘laranja’. Para terminar a gincana, candidatou-se a dirigir o PSD e foi derrotado pelo actual líder, Passos Coelho.
Todo este sinuoso percurso é capítulo fulcral do currículo de Rangel. Que autoridade moral tem este homenzinho, que se curva e inclina com demasiada facilidade, para questionar quem muda de comportamento político? – Embora se trate de um trafulha como ele, chamado Schulz e alemão genuíno. Que pode fazer Seguro ou quem quer que seja para impedir o homem de dizer uma coisa hoje e amanhã o contrário?
Seguro se é vulnerável é pela sua própria insegurança em relação a domínios e políticas estratégicas para o País, e em especial as hesitações em termos de como gerir a dívida. O PS, acha Rangel, tem alguns militantes de topo que pensam diferente de outros acerca de reestruturação que, para os honestos e conhecedores de semântica, não significa ‘perdão de dívida’ – talvez seja uma interpretação do léxico tecnocrático anglo-saxónico que o ‘manifesto dos 74’ descarta.
Se no PS uns defendem uma solução e outros outra, ao citar o ‘manifesto dos 74’, pergunto a Rangel o que pensa ele da subscritora Dr.ª Manuela Ferreira Leite? Não responde. Como nada nos diz do servilismo demonstrado e exercido por Passos Coelho na submissão a Merkel, esta sim, muito mais lesiva para os portugueses do que um incoerente, político de terceira, chamado Schulz. No fundo, alma-gêmea de Rangel.  

segunda-feira, 14 de abril de 2014

As notícias que silenciam o governo

O ‘Jornal de Negócios’ é dos órgãos de comunicação a publicar a notícia:


Um ‘record’ ao fim de sete anos, no caso de insolvências, é ultrapassar uma marca bastante duradoura. Aplicado à economia, o Pires e sua equipa imitam quem arrebatou o 'record' a Bob Beaman  no salto em comprimento. Este fixou-se na marca de 8,90 m desde 1968, durando 23 anos.
Percebe-se haver ‘recordes’ de que os homens do governo evitem de todo falar; pelo menos, em público. Este é um dos casos. É das tais notícias que os silenciam.
Contudo, há quem comente o desaire deste modo:

“…Os motivos que justificam este comportamento têm a ver com os indícios de melhoria macroeconómica em Portugal que ‘ainda não tiveram um impacto claro na contenção das insolvências judiciais das empresas’…

Quer dizer, as insolvências juntaram-se ao povo: também as insolvências são ainda insensíveis aos indícios de melhoria macroeconómica gerada pela coligação PSD+CDS. Que galo! O governo vai ordenar à PJ acções para localizar os indícios e, uma vez detectados estes, investigará qual o paradeiro da melhoria. Sim, porque há 7 anos não havia ainda a bancarrota do Sócrates e a culpa de atingirmos agora tal desfecho das insolvências é dos malfadados indícios e da melhoria ocultos.

FMI e Governo: o neoliberalismo anti-social dominante

Passos Coelho, dizendo-se social-democrata, e Paulo Portas, assumindo-se democrata-cristão, estão contraditoriamente empenhados na destruição do Estado Social, o que, de resto, não é caso único na Europa de hoje. Razão: ambos se igualam na pantomina.
Coelho, mentiroso compulsivo e publicamente reconhecido, está noutro planeta que Olof Palme jamais habitou. E Portas, dos mais demagogos políticos da nossa democracia, em termos de políticas sociais, distancia-se de Bismarck. A despeito do conservadorismo truculento deste, no século XIX e em concorrência com os social-democratas, instaurou a lei de acidentes de trabalho, o reconhecimento dos sindicatos, o seguro de doença, acidente ou invalidez entre outras, na convicção de que ao Estado competiria proteger direitos inerentes a estas matérias.
Sabe-se que o mundo, entretanto, se transformou. Uma crise do ‘sistema financeiro internacional’, desencadeada a partir dos EUA, associada à perversão do governo “comunista” chinês, e outras perversões por desumanidades trituradoras dos direitos mínimos da dignidade humana em outros territórios asiáticos – fique-se por aqui – impeliram certos políticos europeus à submissão a abjectos poderes financeiros dominantes.
Impera a calamidade ideológica classificada de ‘neoliberalismo’, de que Coelho e Portas são fiéis devotos e praticantes – o despenteado por dentro, Vítor Bento, repudia a existência desta corrente. Sintomático e próprio de homem mediático, bem instalado e próximo do PSD.
À semelhança de outros povos europeus, é a este jogo ideológico que os portugueses vivem subjugados. Os cortes, o DEO e os demais instrumentos e medidas da ministra Albuquerque integram-se neste pensamento político; pensamento que, diga-se, o FMI assume claramente no “Monitor de Fiscal de Abril de 2014”, quando, a preto bem vincado sobre o branco, no prefácio, sob o título ‘Reforma da Despesa — Fazer Escolhas Difíceis’, escreve:
“Garantir a sustentabilidade a longo prazo dos sistemas públicos de pensões e de cuidados de saúde — ou aumentar sua cobertura, se necessário — envolve cuidadosa priorização. Para as pensões, o aumento da idade da reforma e ajustamento das contribuições e dos benefícios são as opções chave.”
Ou então:
“Ganhos potenciais também são grandes, a partir da melhoria da eficiência da despesa na prestação de serviços de educação e no investimento público…”
O governo de Coelho e Portas aplicam a preceito a prescrição. Também, por honradez de opinião, cito a intransigente defesa do ‘Tratado Orçamental’ por António José Seguro. É por estes partidos do ‘arco do poder’ que os portugueses estão condenados a ser (des)governados.

domingo, 13 de abril de 2014

25 de Abril: o Coelho ignorante, autoritário e pedante


O homem era na época menino. Um “retornadozinho”. Jamais conheceu verdadeiramente o Portugal Continental de então, a Metrópole. Nunca sentiu a falta de liberdade. Nem o destino macabro daqueles da minha geração, mortos em África - em Angola, na Guiné ou em Moçambique. O Luís, o António, o Pedro, o Bino… bom, estes foram os meus amigos desaparecidos. E os outros? Aos milhares embarcavam em Alcântara ou na Rocha, banhados por lágrimas de quem no cais, em especial os pais, os viam sumir Tejo fora. À velocidade de penitência de 2 a 4 nós; nós diferentes daqueles que, no sofrimento, se enrolavam nas gargantas de quem parte e de quem fica. Lá iam eles. Talvez para a morte ou para rumos de vida impensáveis. Iam combater. Defender o império, diziam os poderosos e amantes da ditadura.
Parte dos jovens militares tinham como destino Luanda. Onde viviam certos colonos sem limites de salário máximo. Para os filhos destes, na infância dos 2 aos 10 anos, a escassa idade era obstáculo natural à interpretação do que se passava à sua volta. De dia, os ‘Pedrinhos’ eram tratados e transportados às costas, esse colo negro aconchegador, da Conceição, da Maria ou da Rafaela, ao mesmo tempo lavadeiras. Nas noites quentes, o café ‘Polo Norte’ ou gelataria ‘Baleizão’, entre outros, eram os pontos de encontro dos colonos luandenses de sucesso e filhos.
Na noite do 25 de Abril de 1974, e à semelhança do epíteto de cubanos com que o Alberto João nos brinda, aqui, neste Portugal governado agora por Pedro que provavelmente se babou de gelado do ‘Baleizão’, fomos classificados de traidores. Todos eramos comunistas e vendilhões da pátria; uma vez que era a deles e não a nossa, escreva-se inteiramente com minúsculas.
Pedro, o miúdo babado de gelado, hoje baba-se da chefia do governo. Sem saberes suficientes para o cargo. Jogos partidários de ‘jotas’. Relvas, outro miúdo vindo de Angola, foi a alavanca. Da política, Pedro andou afastado. Ignora, em rigor, o que o 25 de Abril significou por cá para milhões de portugueses.
Todavia, a vida tem passagens adversas. Alberga gente má. Ou melhor, tem ‘Pedros’ sem préstimo nem valor, mas autoritários e pedantes. Os tais que se atrevem a considerar lateral o conflito entre a Assunção, presidente da AR, e os militares de Abril, barrando a estes últimos a liberdade de falarem na Casa da Democracia que restituíram ao Povo, na comemoração da data que patrioticamente inscreveram na História de Portugal.
Quando acaba o tempo deste Pedro pedante, infame, inflamado de tiques autoritários com trabalhadores activos, reformados e pensionistas? Sim, quando acaba ele de lamber a gelada vida que não é do Baleizão, mas poderia ser a de Catarina Eufémia? Vida dura, difícil, coarctada subtilmente nas liberdades laborais e de cidadania; vida podre que obriga o País a esvair-se em emigração, atraso e desertificação.
‘Pedro’ é escrito com as mesmas palavras de ‘podre’. País infeliz…até nos anagramas.

sábado, 12 de abril de 2014

Tradução do ‘Monitor Fiscal do FMI’ de 9 de Abril de 2014

(Nota Introdutória: o documento publicado há 3 dias (09-04-2014) no 'site' do FMI sob a designação de 'Monitor Fiscal' - em minha opinião, em português a imprensa deveria designá-lo por 'Relatório de Monitorização Orçamental' - é o modelo divulgado, sem economia de recurso a detalhes, da política que o FMI - Fundo Monetário Internacional pretende ver instaurada a nível global.
O FMI, independentemente de agrupar de forma artificial porque genérica países sob as classes de 'Economias Avançadas', 'Mercados Emergentes' e 'Países de Baixos Rendimentos', em termos de contas públicas, o núcleo dos interesses das análises, têm como argumentos comuns as 'reformas da despesa pública' para se atingir o objectivo de obsessiva 'consolidação orçamental'. 
Cortar nas despesas de saúde, de educação e nas condições de contribuições e benefícios de pensionistas, entre outros, são exaustivamente citados como alvos a atingir. Seria de esperar, considero eu, alguma referência a diagnosticar  e definir medidas drásticas sobre 'offshores' e paraísos fiscais. Ambas, a par de outras iniquidades, do ponto de vista fiscal para uma entidade supranacional e global empenhada (?) na solidez das contas públicas dos Estados-membros da organização, deveriam estar na primeira linha das preocupações. Esta e outras graves omissões e divergências que ferem o espírito humanitário que deveria constituir princípio irrefutável e universal, inocenta a obscena China, os responsáveis máximos pelos miseráveis territórios asiáticos e africanos, políticas na América Latina que, caso após caso, o FMI atraiçoou com opções financistas, com total desprezo por milhões de seres humanos que nessas áreas geográficas sofrem desigualdades inaceitáveis, traduzidas por viver na pobreza, por sobreviver na miséria ou mesmo por condenação à morte, à falta dos mais elementares meios de sustentação da vida humana, da alimentação à saúde.
EUA e Europa, como o conjunto países de Economias Avançadas, estas na linguagem imprecisa do FMI, também são abordados segundo a mesma lógica: contas orçamentais certas, custe o que o custar para os desprotegidos, renda o que render para os multimilionários detentores de fortunas obscenas que não envergonham e jubilam os donos do mundo actual - chamem-se Obama, Merkel, Putin, Li  Keqiang, Lagarde, o pestilento Kim Jong-Il ou outra 'merda qualquer', como Schäuble, Barroso, Oli Rhen, Van Rampoy, sem contar com os de cá de dentro que nem são poucos nem menos fétidos.
Hesitei em publicar já o trabalho de tradução, naturalmente parcial porque extenso e complexo, mas não quis condenar o meu modesto blogue, este sim verdadeiramente modesto, ao silêncio, que me cala e distancía dos leitores que em número crescente o visitam. Portanto, publico a parte da tradução concluída, sempre com a ideia de estar aberto a sugestões que contribuam para a melhoria do documento).

quarta-feira, 9 de abril de 2014

A euforia de Albuquerque com os investidores na dívida

A ministra Albuquerque reuniu-se em Londres com “investidores bem informados” e “optimistas”. A senhora ficou eufórica. Os tais investidores topam-na à légua e estão convictos de que, com mais ou menos polémica, Portugal sairá do PAEF com, pelo menos, uma carta de conforto das autoridades europeias – CE e/ou BCE – desde que a Alemanha e os neo-sudetas austríacos, finlandeses e holandeses estejam dispostos a avalizar o compromisso… e com uma cunha do Gaspar ao Schäuble e outra do Coelho à Merkel não será impossível.
Todavia, é oportuno interrogar: de que género de investidores fala a ministra? Justamente dos especuladores dos mercados financeiros, dispostos a comprar dívida em condições de riscos minimizados. Enfim, trata-se de mais uns clientes para as obrigações do IGCP de Moreira Rato.
O que seria vantajoso e interessante para o País é que fossem investidores na Economia Portuguesa e que reforçassem o aparelho produtivo na indústria, na agricultura e nas pescas – tanto mar!, expressão do Chico Buarque de que Cavaco se apropriou.
O tecido produtivo alargado a outras actividades, que adicionassem valor às exportações do calçado, do vinho, da cortiça e do que é mais comum exportarmos, não constitui um ‘dossier’ da ministra das finanças. 
Competiria ao Pires, ajudado agora pelo Frasquilho, desenvolver outro tipo de prospecção no sentido de encontrar novos investidores na Economia. Contudo, não sabem ou não conseguem. E, assim, temos de nos contentar com os especuladores.
A dívida pública portuguesa, sob protecção dos alemães, é um investimento de risco controlado. Sim, eu sei que os bancos alemães já venderam grande parte da dívida que detinham, mas isto quer dizer que, se forem outros a financiar, eles pedem ao Draghi uma simulação de protecção eficaz na aparência. E imaginação do ex-Goldman Sachs, que ajudou a Grécia a baralhar as contas, será útil e, inevitavelmente, prodigiosa.

A subserviência do velho ao rapaz

O burro afastou-se para longe, na direcção da reunião do conselho dos asnos. Abandonou o velho e o rapaz; este era torcido, teimoso e opinioso, embora pouco ou nada soubesse do que quer que fosse.
Trio reduzido a duo, o rapaz assumiu a liderança. Inspirado na tradição de chefe supremo do Império Romano sentenciou, irritado, ao modesto ajudante que abrira a boca aos jornalistas: “Ó senhor secretário de Estado sobre cortes em salários e pensões, estou cá eu para falar… compreendeu?”. Ao País o rapaz anunciou:
“Governo não tem intenção de "proceder a cortes adicionais nas pensões ou salários"
Todos os patrícios, plebeus, clientes, escravos e libertos perceberam no Império e muitos outros no exterior.
O velho subserviente, ao mesmo tempo, concluiu:
“Roma falou, a questão está decidida”
O burro regressou, a farsa acabou e vem-me à memória uma frase de Schopenhauer, filósofo alemão:
“A modéstia é a humildade de um hipócrita que pede perdão por seus méritos aos que não têm nenhum.”
De facto na política, e sobretudo no Portugal actual, há burros, velhos, rapazes. Uns são modestos e hipócritas, outros oportunistas descarados e intrujões; do outro lado, existem cidadãos e prescrições.

Tradução das Previsões de Primavera do FMI

(Nota introdutória: com o objectivo de permitir a divulgação em língua portuguesa do texto integral do Relatório das Previsões de Primavera do FMI, excepto a tabela no final da tradução que não tive possibilidade de traduzir do inglês, realizei a presente tradução, em complemento das notícias sobre o tema publicadas no jornal ‘Público’. No caso de serem detectados erros ou expressões tecnicamente incorrectas, agradeço que sejam citadas em comentário para eventuais correcções. Entretanto, vou proceder a uma revisão mais atenta da tradução e introduzir as alterações que me pareçam exigíveis.)
TRADUÇÃO
PERSPECTIVA ECONÓMICA MUNDIAL
Reforço da recuperação, mas exige esforço mais forte de políticas
Análise do FMI
8 de Abril de 2014
·        A economia global crescerá 3,6 por cento em 2014 e 3,9 por cento em 2015
·        Retoma nas economias avançadas, mas a recuperação global ainda se manterá irregular e abaixo da média
·      Os riscos incluem incertezas geopolíticas, potenciais reversões de fluxo de capital e inflação baixa
A recuperação global está a tornar-se mais ampla, mas as mudanças ambientais externas colocam novos desafios aos mercados emergentes e economias em desenvolvimento, diz a mais recente Perspectiva Económica Mundial (World Economic Outlook [WEO] do FMI).
O FMI prevê para o crescimento mundial uma média de 3,6 por cento em 2014―acima dos 3 por cento em 2013―e um aumento para 3,9% em 2015.
A robustez da recuperação da Grande Recessão nas economias avançadas é um desenvolvimento positivo, de acordo com os profissionais do FMI. Mas o mais recente WEO também enfatiza que o crescimento permanece abaixo da média e desigual em todo o globo.
"A recuperação que começou a firmar-se em Outubro está a tornar-se não só mais forte, mas também mais ampla," disse o Economista Chefe do FMI, Olivier Blanchard. "Apesar de estarmos longe de uma recuperação completa, a normalização da política monetária — convencional e não convencional — está agora na ordem do dia."
Blanchard advertiu, no entanto, que, a despeito de riscos agudos terem diminuído, nem todos os riscos desapareceram.

terça-feira, 8 de abril de 2014

Afinal o Costa é igual ao Constâncio

O governo quer, a todo o custo, usar a alternativa da ‘saída limpa’. A coligação PSD+CDS prioriza as ambições eleitorais – ‘que se lixem as eleições!’ era treta do Coelho – deixando para segundo plano a gestão dos interesses supremos do País, no caso as finanças públicas.
Ao contrário das acusações inflamantes ao estilo de Barroso a Constâncio, a ministra Albuquerque e respectiva equipa recorrem à vil malícia de insinuar pela calada que CarlosCosta, governador do BdP, não actuou junto do BCE sobre uma cláusula imposta por Draghi.
Apenas uma agência de ‘rating’, a menos conhecida DBRS, canadiana,  tem uma notação acima de lixo atribuída a Portugal. Caso essa classificação se deteriore, o BCE cortará o financiamento aos bancos portugueses para financiar dívida portuguesa. Esta é a ameaçadora regra contra a qual Costa é acusado de não se ter batido pela revogação no BCE. Como um governador, em órgão que integra todos os que desempenham cargos congéneres na Zona Euro, só ele, no entender do governo, tivesse êxito assegurado na iniciativa.
O Banco de Portugal, sob a governação de Costa, ainda agora em Março passado publicou previsões macroeconómicas muito favoráveis ao governo, em período de pré-campanha eleitoral. Todavia, a ingratidão é tão grande como a baixa de probabilidade das previsões acertarem.
Se a Moddy’s, Standard & Poors e Fitch, embora não concorde com a força que lhes foi concedida mas é a regra, sim, se essas agências mantêm Portugal no lixo é pura e simplesmente porque o governo não conseguiu retirá-lo da lixeira.
Estar dependente da classificação de uma única agência é resultado da política governamental. Os mercados são, de facto, muito voláteis. Esta manhã, abriram com a taxa a 10 anos a agravar-se em + 0,90%, o que corresponde a 3,915%/ano. E esta volatilidade é um enorme risco, acentuado pela motivação eleitoralista de uma saída limpa e contando com a fragilidade marcada pela nossa dívida, pelo desemprego e uma economia ainda em meia depressão. 

segunda-feira, 7 de abril de 2014

A liberdade de expressão no ‘Distrito de Cavaquistão’

Como noutras regiões, o sistema de justiça no Centro funciona em plano inclinado. Há dias critiquei neste ‘post’ a condenação de um bloguer que alegadamente ofendera Fernando Ruas, essa emblemática figura que, anos a fio, presidiu à Câmara Municipal de Viseu. O ‘tacho’ autárquico foi para a sucata. Porém, a título de compensação, o homem do cabelo e do bigode negros da cor carvão, receberá não um ‘tacho’, mas um ‘trem de cozinha’ de luxo: candidato bem posicionado do PSD ao Parlamento Europeu.
Agora, em São Pedro do Sul, município contíguo à capital de distrito, Viseu, virou-se o feitiço contra o feiticeiro. O Tribunal da Relação de Coimbra confirmou a condenação em 2002 de Fernando Giestas, por, na qualidade de jornalista do ‘Jornal do Centro’, ter denunciado o desvio de móveis antigos do Tribunal de São Pedro do Sul a favor da misericórdia local. Os móveis, lembre-se, constituíam património do Estado e outras associações locais também se achavam no direito de ser contempladas.
O pior é que, em Portugal, lesar gravemente o País e os cidadãos, casos BPN, BCP e BPP, no espírito e letra do sistema de justiça e para certos homens de beca ou toga jamais existe falcatrua. De recurso em recurso, desde que haja gente graúda desta podre sociedade, a prescrição é o destino fatal.
O Tribunal Europeu dos Direitos Humanos – quem nos dera que a UE e em especial a Zona Euro seguissem o exemplo – condenou Portugal por ter violado a liberdade de expressão, ao punir judicialmente o citado Fernando Giestas.
Os juízes que, na 1.ª instância em São Pedro do Sul ou na Relação de Coimbra, aplicaram a punição em Portugal sentirão algum pudor por aparentemente terem violado a Lei Europeia dos Direitos Humanos? E não é caso inédito, sublinhe-se.

Turismo financeiro

A Ministra das Finanças, em acesa disputa com o ‘Paulinho dos Emiratos’, empenha-se a fundo no campeonato dos governantes que mais viajam – em compensação, diga-se, o MNE, o viajante supostamente mais assíduo pela natureza do cargo, fica-se pelas ‘Necessidades’… necessidades impostas por funcionamento intestinal ou das vias urinárias; incontinências que o convertem em turista contido, pronto!
Miss Albuquerque vai a Londres avistar-se com investidores, na sequência de diligências de Moreira Rato do IGCP. O objectivo é lançar novos empréstimos. Quer dizer, ordenou ao funcionário Rato que desbravasse caminho para o País continuar a avançar na dívida e sairmos demagogicamente limpos do ‘programa da troika’.
Agora na ‘city londrina’ surgirá ela, amanuense transformada em ministra de ocasião, de ar resplandecente para apor assinatura e chancela nos contratos com os leiloeiros – o presidente do IGCP já havia anunciado que a nova dívida seria objecto de leilão ou leilões.
Conclusão: afinal a estratégia deste governo não era solucionar a situação de bancarrota do anterior. Esticam e não estancam a dívida.
Segundo imagino, atendendo a que os juros estão em baixa, pensam que o melhor é continuarmos a endividar-nos – em Setembro próximo com a SEC10 que Bruxelas impõe vai haver um salto tão elevado, que é de temer a queda.
No entanto, voltando às viagens, diga-se que ir a Londres é curto. O turismo financeiro é muito exigente. E Miss Albuquerque de seguida vai até Washington para a reunião da Primavera do FMI e do Banco Mundial. São as jornadas floridas do capitalismo mundial. Será um cheirete a fertilizante orgânico difícil de suportar – é muita matéria orgânica junta.
Provavelmente Albuquerque encontrará Gaspar e – quem sabe?! – daqui a uns tempos o 1.º elemento da ‘troika’, jamais o 4.º, meterá uma cunha à Lagarde e lá vai a sua sucessora integrar os quadros do FMI. No pior pano, cai a nódoa.  

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Passos Coelho: a doentia visão da saúde





Dados divulgados, também hoje, pelo jornal 'Público':

O PM, com a falta de ética e rigor que o distinguem, afiançava na Casa da Democracia, o Parlamento, que não há menos saúde no País com o seu governo, em resposta ao deputado e médico, João Semedo, do BE.
Em primeiro lugar, quando Passos Coelho diz que, em Portugal, não há menos saúde, pretendia dizer que no SNS não se registam quebras na prestação de cuidados de saúde. Como dizia ontem na SICN Maria do Carmo Vieira, professora e autora do livro 'O Ensino do Português", basta ouvir os nossos governantes e imediatamente se percebe que são "broncos". Temos, portanto, de descodificar as mensagens grosseiras, mas infelizmente já estamos habituados.
Saltando da forma para o conteúdo, torna-se  claro  que as palavras do PM não passam de uma intrujice, se tomarmos em consideração o evidenciado no gráfico acima reproduzido e o seguinte texto da notícia:
"Os hospitais públicos fizeram menos 44 milhões de actos complementares de diagnóstico (análises e exames como radiografias ou endoscopias) e menos 2,6 milhões de actos complementares de terapêutica (fisioterapia, radioterapia, etc.), entre 2010 e 2012. Em contrapartida, neste período as unidades privadas aumentaram substancialmente a sua actividade nestas duas áreas, ainda que isso não tenha sido suficiente para compensar a redução verificada no sector público. Nestes dois anos, o número total de exames e análises caiu 26,5%."
Entre esta mensagem concreta e o discurso de Passos Coelho há uma enorme diferença, que jamais uma intrujice pode esconder: a falsidade das declarações do PM, por um lado, e a realidade dos serviços de saúde em hospitais do Estado que a evidencia, por outro.  
Há diversas opiniões a premiar Paulo Macedo pelo desempenho como Ministro da Saúde. Uma delas, cito-a por ser figura muito mediática, chama-se Clara Ferreira Alves. Saberá esta senhora que, em hospitais públicos, uma consulta de cardiologia tem um tempo de espera de cerca de 10 a 12 meses? Ou ainda que um doente com uma dor ciática, além de quatro injecções de 'Voltaren + Relmus' receitadas pelos serviços de urgência, é enviado para uma consulta hospitalar de reumatologia com um tempo de espera igualmente de meses? 
Neste cenário, e  segundo outra interpretação possível, da mensagem de Coelho também se pode inferir que "não há menos saúde", porque uns, com posses, recorrem aos serviços de prestadores privados e outros sem meios financeiros morrem, contando estes últimos para as estatísticas de óbitos.
(Adenda: seguindo idêntica tendência é também demonstrado pelo Público que a nível geral, actividade hospitalar em particular, os serviços de cuidados de saúde público diminuíram a actividade em favor do sector privado - O PM ainda está mais afastado da verdade)