Passos Coelho, dizendo-se
social-democrata, e Paulo Portas, assumindo-se democrata-cristão, estão contraditoriamente
empenhados na destruição do Estado Social, o que, de resto, não é caso único na
Europa de hoje. Razão: ambos se igualam na pantomina.
Coelho, mentiroso compulsivo e
publicamente reconhecido, está noutro planeta que Olof Palme jamais habitou. E
Portas, dos mais demagogos políticos da nossa democracia, em termos de
políticas sociais, distancia-se de Bismarck.
A despeito do conservadorismo truculento deste, no século XIX e em concorrência
com os social-democratas, instaurou a lei de acidentes de trabalho, o
reconhecimento dos sindicatos, o seguro de doença, acidente ou invalidez entre
outras, na convicção de que ao Estado competiria proteger direitos inerentes a
estas matérias.
Sabe-se que o mundo, entretanto, se
transformou. Uma crise do ‘sistema financeiro internacional’, desencadeada a
partir dos EUA, associada à perversão do governo “comunista” chinês, e outras
perversões por desumanidades trituradoras dos direitos mínimos da dignidade
humana em outros territórios asiáticos – fique-se por aqui – impeliram certos
políticos europeus à submissão a abjectos poderes financeiros dominantes.
Impera a calamidade ideológica
classificada de ‘neoliberalismo’, de que Coelho e Portas são fiéis devotos e praticantes
– o despenteado por dentro, Vítor Bento, repudia a existência desta corrente. Sintomático
e próprio de homem mediático, bem instalado e próximo do PSD.
À semelhança de outros povos
europeus, é a este jogo ideológico que os portugueses vivem subjugados. Os
cortes, o DEO e os demais instrumentos e medidas da ministra Albuquerque
integram-se neste pensamento político; pensamento que, diga-se, o FMI assume
claramente no “Monitor
de Fiscal de Abril de 2014”, quando, a preto bem vincado sobre o branco, no
prefácio, sob o título ‘Reforma da
Despesa — Fazer Escolhas Difíceis’, escreve:
“Garantir a sustentabilidade a longo prazo dos sistemas públicos de
pensões e de cuidados de saúde — ou aumentar sua cobertura, se necessário —
envolve cuidadosa priorização. Para as pensões, o aumento da idade da reforma e
ajustamento das contribuições e dos benefícios são as opções chave.”
Ou então:
“Ganhos potenciais também são grandes, a partir da melhoria da
eficiência da despesa na prestação de serviços de educação e no investimento
público…”
O governo de Coelho e Portas
aplicam a preceito a prescrição. Também, por honradez de opinião, cito a
intransigente defesa do ‘Tratado Orçamental’ por António José Seguro. É por
estes partidos do ‘arco do poder’ que os portugueses estão condenados a ser
(des)governados.
Afinal, a
notícia de haver cerca de 400.000 jovens que não trabalham, não estudam, nem
estão em formação não é surpreendente no cenário ideológico e macroeconómico
prevalecente. Igualmente
não é surpresa existirem 120.000 crianças com falta de comida.
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