Dissecados os aspectos da
insurreição, vamos então à crueldade de rendimentos de jogadores, empresários e
negócios associados ao futebol. Segundo a Forbes, em 2021, Ronaldo, Messi e
Neymar encaixaram o total de 300,3 milhões de euros. Na
actualidade, estão a encaixar mais de 400 milhões. Classificar isto de exagero
é pouco. Sinteticamente, digamos que é abjecto.
Aos antes citados rendimentos de três
jogadores – apenas 3, sublinhe-se – juntam-se os milhões arrecadados por
empresários, com o multimilionário Jorge Mendes na liderança do negócio de transferências. A tudo
isto, ainda podemos a acrescentar as movimentações de grande parte do dinheiro
para ‘offshores’, em operações que, em certos casos, envolvem fraude fiscal.
Citem-se, a título de exemplo, os processos em que Ronaldo, Messi e outros estiveram
envolvidos perante as autoridades tributárias de Espanha.
Como os ‘cachets’, transferências
e fugas ao fisco já não fossem bastante suficientes em número e repugnantes na
qualidade, surge agora o negócio de tráfego humano da BSports, em Riba d’Ave,
próximo de Vil Nova de Famalicão.
Do monstruoso negócio são vítimas
menores e adultos com menos de 20 anos, de diversas nacionalidades. Incluem-se colombianos,
venezuelanos, salvadorenhos e rapazes de outros países africanos e asiáticos. O
presidente Marcelo, no seu estilo habitual de palavra fácil e pé ligeiro, já
deu a ordem: “investigue-se!”.
O SEF está, aliás já estava a
investigar. O negócio em causa, sob promessa aos jovens de virem a tornar-se
vedetas de um grande clube, funcionava nas instalações de uma denominada
academia BSports. As regras de funcionamento eram equivalentes à de um
presídio. Dos menores, até os passaportes eram confiscados. Todos tinham
permissões muito limitadas para sair e reentrar na academia, a comida era péssima
e, em cada quarto, dormiam 14 jovens dispersos por beliches. Os pais ou tutores
pagavam, pelo menos, 600 euros mensais, durante 11 meses. Os resultados foram nulos para os jovens.
Na sequência das investigações, e
na qualidade de responsável pela academia, foi constituído arguido um tal Mário
Costa que, entretanto, se demitiu do cargo de presidente da AG da Liga. Este
Costa e os restantes são gente que, de todo, não presta. Confesso que me
surpreendeu que um dos principais embaixadores da BSports fosse o ex-deputado
do PSD, Miguel Frasquilho. Fiquei estupefacto com o argumento adiantado por
Frasquilho: "desconhecia por completo o que era e quais as actividades da academia
BSports". Mais um para a minha lista negra.
Todo este mundo do futebol de
valores monetários exuberantes, burlas fiscais e negócios espúrios me causa
revolta. Ainda maior, quando sei pela FAO que só na Somália existem 6,7 milhões habitantes a viver em insegurança alimentar, e destes aproximadamente 300 mil morrerão
mesmo de fome.
Que mundo perverso em que
vivemos!