quarta-feira, 29 de junho de 2011

Se o povo sai à rua...

Angel Merkel congratulou-se com a aprovação das medidas de austeridade pelo Parlamento da Grécia. "É uma excelente notícia", disse ela. O mesmo já não pensam nem dizem os cidadãos gregos que continuam a exprimir sentimentos e acções de revolta, não hesitando em recorrer a violentos confrontos com a polícia. As imagens captadas hoje constituem o paradigma da contestação popular em Atenas:


Nós por cá, à escala do povo sereno que somos, também começamos a ter gente na rua. Hoje, em Viana do Castelo, a ameaça de despedimento de cerca de 300 trabalhadores trouxe para o espaço público cerca de 3.000 manifestantes, como a imagem documenta:

Foto da LUSA

O novo Ministro da Defesa, Aguiar Branco, disse que o despedimento colectivo dos Estaleiros de Viana do Castelo é um problema do anterior governo. Garantiu que o vai estudar. Suponho que encontrará uma boa solução para os trabalhadores, erodindo, assim, o mal que herdou. Que peça ajuda ao seu deputado pelo círculo de Viana, Carlos Abreu Amorim. Se for tão lesto na acção como na teoria discursiva, o assunto ficará bem resolvido, de certeza.
Com as devidas diferenças entre os acontecimentos em Atenas e Viana do Castelo, há um fenómeno que os políticos terão de ter em conta: se o povo se habitua a sair à rua e as moles de descontentes estão em dilatação, não é apenas com as tradicionais políticas palacianas que as satisfazem. O desemprego é elevado, a pobreza estende-se, a miséria aprofunda-se e os rastilhos multiplicam-se.

A intoxicação na informação

Estes tempos iniciais do governo PSD-CDS - já o esperava! - estão a ficar marcados por confrangedora submissão e falta de capacidade crítica às notícias da vida governativa. Ontem, ouvi o debate televisivo da SIC, mediado pela dócil Ana Lourenço, acerca do programa do XIX Governo. Salvo isoladissimos rasgos de Helena Garrido, a discussão foi entediante, por falta de profundidade de análise e imparcialidade.
O que se passa em televisão, em registos do género, é idêntico ao que sucede em jornais. O jornal "i", em título, exulta de contentamento: "Vem aí o choque liberal". O "Público" na edição 'on line', a toda a largura, faz alarde com a novidade: "Governo quer alterar feriados e diminuir pontes". Julgo perceber que o júbilo, na redacção do 'Público', se deve aos benefícios do Eng.º Belmiro nos negócios do 'Continente' - menos feriados menos gastos salariais e menos pontes mais compras. Para o ano, a festa com o Tony Carreira ainda será mais participada.
Tudo isto cheira a intoxicação, mas há ainda a contar com a desinformação. Vejam estes títulos:

Défice do OE no primeiro trimestre foi de 8,7% do PIB


Défice orçamental atinge 7,7% no primeiro trimestre

Afinal onde ficamos? 8,7% ou 7,7%? O 'Jornal de Negócios', obviamente, é que está certo.
Como se poderá ver no 'site' do INE, nas contas nacionais, o valor de 7,7%´, no final do 1.º trimestre de 2011, corresponde ao défice de uma anuidade, isto é comparado com o período hómologo de 2010. O objectivo, não esqueçamos, é atingir 5,9% de défice do PIB no final do ano de 2011. Os 8,7% do 'Diário de Notícias' referem-se à diminuição das necessidades de financiamento das Administrações Públicas, no 1.º trimestre deste ano, o que é coisa distinta.
Enfim, é o jornalismo que temos. E que provavelmente, não todos, merecemos.   

terça-feira, 28 de junho de 2011

O stresse dos "testes de stress"

A comunicação social portuguesa, e em particular a imprensa escrita, tem utilizado o vocábulo inglês "stress", ao pretender mencionar os testes à resistência da estrutura financeira dos bancos. Ainda hoje, os jornais "i" e "Público" titulam notícias sobre a citada avaliação à banca, com a designação 'testes de stress'.
Confesso sentir-me  incomodado com este tipo de erros de linguagem, tão vulgarizados; ora em jornais, ora em notíciários televisivos. 
Primeiro, há que atender que, através do aportuguesamento do inglês 'stress', o Dicionário da Academia das Ciências de Lisboa passou a integrar o referido termo no nosso léxico com a palavra stresse e os seguintes significados:
  1. Conjunto de perturbações psíquicas e fisiológicas provocadas por factores agressivos externos e por emoções, que exigem uma adaptação do organismo. 
  2. Pressão exercida nas pessoas por esses factores.
Para fortalecer o nosso conhecimento, ainda há esse prestimoso Ciberdúvidas a dedicar-se ao aportuguesamento de 'stress'. Coloca, porém, reservas sobre a solução encontrada pela Academia das Ciências de Lisboa. Considera que os brasileiros ao optar por 'estresse' estão em consonância com a tradição no aportuguesamento de palavras iniciadas por 'st' noutras línguas - estádio derivado do latim 'stadiu', citam.
Como o conteúdo das notícias, esse sim, já é susceptível de me vir a causar stresse, gostaria que os senhores jornalistas passassem a respeitar regras da semântica para citar e descrever os tais testes.
Sou economista, e normalmente nas áreas técnicas, o 'bom português' cede com facilidade a anglicismos e coisas do género. Interessa, porém, que neste caso fique claro que os bancos, organizações burocráticas e estruturadas, não sofrem de 'stress'. Quem poderá ser alvo de grandes pressões psicológicas e emocionais, o tal stresse, somos nós, cidadãos. Basta espreitar por aqui e por aqui para ver como está a Grécia. 

Adenda: Ontem, dia 28,  escreviam 'testes de stress'; hoje, já escrevem 'testes de stresse'. Houve algum progresso, mas o problema principal é a semântica; a semântica, meus caros.


  

Bairrão ao fundo!

Contra ventos e marés; e mais, contra a prodigiosa previsão do Prof. Marcelo, o ex ou ainda (?) administrador da TVI, Bernardo Bairrão, foi excluído da lista de secretários de Estado. "Bairrão ao fundo!", gritou Pedro Passos Coelho com os pulmões enfunados de fôlego. Com força igual à empregada, quando lhe dá para cantarolar uma ária.
Pelo curriculum, à partida, pareceu-me óbvio que não era o homem indicado para Secretário de Estado da Administração Interna, onde aparece agora alguém de pomposo nome aristocrático: Filipe Tiago de Melo Sobral Lobo D'Ávila. Querem ver que a 'Causa Monárquica' aproveitou o deslize chamado Nobre para ultrapassar a Maçonaria? Sei lá!
E então o Bairrão? Já tinha conseguido que a TVI aceitasse a demissão do cargo. A CMVM também fora informada. Com a nega do Coelho, terá o homem caído no desemprego? O Dr. Mota Soares dará uma ajudinha. 
O Prof. Marcelo diz não saber de nada. Quer dizer, oh Professor, o senhor ufanou-se em grande estilo, ao dar notícia em primeira mão e agora catrapús vem com essa de ignorar o que se passa. Custa-me a crer. Olhe, o 'Expresso'  garante que o Pedro o recusou, por o Bairrão ser contra a privatização da RTP. Se não sabia, Prof. Marcelo, fica a saber.
Fora pormenores, diga-se que o novo governo, quanto a nomeações, já demonstrou ser especialista em embrulhadas. Mas, as nossas, de cidadãos, são mais sérias. É toda a embrulhada do estado a que chegámos e ainda a outra de começar a perceber que a Pedro Passos Coelho, afinal, só em Bruxelas é que tudo corre bem. O melhor é irmos todos para Bruxelas. Com ele, é claro... e com o queijo limiano; já agora.

domingo, 26 de junho de 2011

Soros pensa como Amaral

O Prof. João Ferreira do Amaral defende a saída ordenada do euro de Portugal e de outros países europeus. Em debate restrito promovido pelo 'Expresso', Vítor Bento decretou com altivez: "Não há saídas ordenadas do euro. Se houver saída é a mais desordenada possível..." - não invocou uma razão sequer para sustentar o que disse, sublinhe-se.
Agora é o famoso George Soros a declarar em Viena:
  1. "A União Europeia está à beira de um colapso económico que começa na Grécia, mas que pode facilmente espalhar-se";
  2. "É provavelmente inevitável a criação de um mecanismo que permita a saída do euro das economias mais frágeis da União Europeia".
Soros vem assim ao encontro do Prof. João Ferreira do Amaral que, neste desempate com Vítor Bento, ganha um apoio de monta.
Pelo conhecimento profundo e domínio  das condições económico-financeiras de uma UE muito fragilizada, é legítimo considerar que a tese de Soros,e logicamente a do Prof. Amaral, é bem capaz de ganhar vencimento. 
Vítor Bento comece a rever a posição assumida. Nestas coisas da Economia e das Finanças, nem a fé nem o fetiche servem de fundamento ao pensamento rigoroso.   
  

"Tempos difíceis", palavra de Ministro!


O Senhor Ministro da Economia e do Emprego, que disse às TV's preferir que o tratem por Álvaro, segundo o jornal "i" afirmou: "Todos sabemos que vêm aí tempos difíceis". Saber, saber, já sabíamos, oh Sr.Ministro ou Sr. Álvaro, como preferir. Não é novidade.
Há, porém, uma diferença de consideração temporal. Os tempos difíceis não vêm aí. Já cá estão e perto de dois milhões de portugueses já o sentem e de que maneira. Vão é complicar-se ainda mais.
A sua dissonância com o País real é compreensível. Tem andado lá pela Grã-Bretanha e Canadá e, nessas academias, não acredito que se estude aprofundadamente  a crise de Portugal. Um país de 10,5 milhões de residentes, que desde 1985, destruíu grande parcela do tecido económico -  indústria,  agricultura e as pescas.
O Sr. Ministro ou Sr. Álvaro, sempre a seu gosto, afirmou também que "Se não acreditasse no sucesso português não teria voltado do Canadá...". Há nesta afirmação alguma sobranceria: "Vejam lá que vou abandonar a minha cátedra no Canadá para, naquele mini-rectângulo, valer aos desvalidos portuguesinhos." Olhe que não é bem assim Sr. Ministro ou Sr. Álvaro, à sua opção, mesmo a nível académico existe por aqui gente muito competente e mundialmente reconhecida. E de lá de fora têm-nos chegado notícias continuadas de plágios em doutoramentos. Leia, por exemplo, 'Coisas que eu não percebo no Parlamento Europeu', escrito por Palmira F. Silva no 'Jugular'.
Adenda: Há um enorme exército de académicos, políticos, críticos. comentaristas e teóricos que, ainda, não perceberam que mesmo um pequeno País,  financeiramente desequilibrado, integrado em moeda única e no sistema financeiro internacional, é uma ameaça para a estabilidade mundial deste. É o caso da Grécia e Bernanke do FED norte-americano já o entendeu há muito e bem.

    

sábado, 25 de junho de 2011

O Alentejo está quenti!

Olha o disparati do Medina a defenderi o Salazari. Eu aqui no Alentejo, com um calori de torrar os miolos i o homem vem com uma destas! Oh Medina, olhe p'ra frenti! No tempo do Salazari já nós aqui comíamos só pão i azetonas.
Tá tanto calori que até os aviões só vêm a Beja ao domingo. Sossegue lá a cabeça i ouça esta museca da 'Ronda dos 4 Caminhos + Coros Alentejanos e a Orquestra Sinfónica de Córdoba'. Tamos com sedi e uma gota de água cai sempri bem:


A viagem mais económica de Coelho

A viagem mais económica de Coelho foi aquela que a imagem documenta. O proprietário do tractor não lhe cobrou um cêntimo e o actual PM ainda teve, no mínimo, o ganho de dois votos: um do agricultor e outro do empregado tractorista.
A comunicação social, com a SIC no comando, tonitruante e repitiva na notícia, bem se esmerou na exibição do 'soundbyte' de anunciar que Passos Coelho, para economia da despesa pública, tinha viajado em classe económica para Bruxelas. Inclusivamente, foi quantificada uma poupança de 2665 euros. Que rigor, meus senhores!
 O 'Jornal de Negócios' mas também o 'Público' informaram a opinião pública de que, afinal, os membros do governo (ministros e secretários de estado) estão há anos isentos de pagamento pelo Estado à TAP das viagens de serviço que realizam. Apenas em relação aos técnicos que lhes prestam assessoria, e não se sabe se todos, o mesmo Estado paga passagens àTAP.
O episódio é um epifenónemo. Dentro de algum tempo, a dita economia desaparecerá da memória colectiva. Mas, a nosso ver, o facto é revelador de falta de maturidade de Passos Coelho, e eventualmente de outros membros do governo. Na ânsia populista da propaganda, proclamou aos portugueses uma falsa poupança.
E, em jeito de remate, há a acrescentar que Coelho ficou com um dilema: ou altera a regra e o Estado verá aumentada as despesas de governantes em viagens aéreas e a TAP é ressarcida, ou continua tudo na mesma. O que sucederá?   

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Não há almoços grátis



A nomeação de Secretários de Estado, à semelhança do algodão, não engana. Os militantes do 'aparelho' têm de ser compensados. No PSD, como em outros partidos.
Com Teresa Morais e Marco António Costa, o XIX Governo ficará fortalecido, defenderão os laranjas.
Na tradicional filantropia portuguesa, do perú de Natal ofertado ao senhor doutor à distribuição de cargos políticos, é regra incontornável impor a retribuição, de qualquer espécie,  como reconhecimento pelos serviços prestados. Neste caso, na refrega eleitoral. Se são capazes ou não, é  secundário.
Somos um povo de brandos costumes e de perene paternalismo.  Como isto não bastasse, somos estigmatizados pelo princípio de que  'não há almoços grátis'. Se a escolha de alguns ministros é merecedora de, pelo menos, haver o benefício da dúvida, a selecção de boa parte dos Secretários de Estado demonstra ser mais clara: são meras nomeações políticas, feitas sem critério de exigência e capacidade para os lugares que lhes foram atribuídos. Os nomes de Teresa de Morais e Marco António Costa são bem elucidativos.
Talvez que  a 'cooperação activa' do PR e a 'cooperação positiva' de Barroso os ajudem a desembaraçar das incumbências governativas.  Talvez, sublinho. A probabilidade de dar certo é baixa. O País e a crise mereceriam soluções mais rigorosas.

Uns divertem-se, outros sofrem

A sociedade humana sempre foi e é um vasto oceano de contrastes. À felicidade de uns, opõe-se a mágoa de outros. Natural, portanto, que enquanto uns se divertem no CE, a decorrer em Bruxelas, outros sofram cá fora, sem vislumbrar o fim do desfile das austeridades com que são massacrados.
Aos contrastes tradicionais, juntam-se, a cada instante, contradições após de contradições.  Há uma espécie de  ebulição permanente de sinais díspares e difusos que, realmente, nos faz desconfiar da possibilidade de um amanhã melhor. Pedro Passos Coelho, como é documentado pela imagem, estava felicissimo na sua primeira participação no CE. As coisas correram-lhe bem, o Barroso foi generoso, a Merkel simpática, Sarkozy um amigo e, portanto, o sucesso foi conseguido. O nosso homem garantiu que Portugal vai cumprir e que, com o novo governo e o apoio do PS, venceremos a crise.
Tanto esforço e optimismo, mas as contradições não nos deixam. Com efeito, desprezando o sucesso e o acolhimento do nosso PM, os mercados, sempre eles, hoje voltaram a registar recordes nos juros aplicados à dívida portuguesa: 11,678% a 10 anos; 14,269% para obrigações de tesouro a 5 anos; 15,873% para o prazo de 3 anos e, finalmente, 14,776% a 2 anos.
Há uns tempos, dizia-se que a subida de juros se devia à incapacidade de Sócrates de dar confiança aos mercados. O anterior PM contra-argumentava que a responsabilidade era da oposição, ao chumbar o PEC 4.
Agora que temos um primeiro-ministro que dá confiança, e até é poupadinho, o que está a suceder com os juros e os diabólicos - para alguns sagrados - mercados? A dívida grega, pois claro. Como, de resto, é reiterado por esta notícia da Reuters, que assegura que os investidores ainda não confiam na capacidade de solvência da Grécia.
A despeito do acordo dado pelo FMI e CE para novo resgate de tal dívida, a verdade é que subsistem dúvidas se Papandreu consegue fazer aprovar o novo 'pacote de austeridade'. O PM grego dispõe de uma margem de apenas 3 votos. Estando, pois, muito periclitante o sim do parlamento.
Mas, na Grécia, além do parlamento, há que contar com a rua. E se o país for para o abismo, o sistema financeiro europeu e o euro sairão muito mal tratados. Muito provavelmente não haverá razões para rir. Do outro lado do mar, nos EUA, Bernanke, presidente do FED, receia que a situação na Grécia afecte os mercados mundiais.  
Portanto, senhores da Europa não se alonguem em risos e sorrisos. Também sei que jamais chorarão. Pensem a sério e actuem com celeridade, seriedade e solidariedade intra-europeia. Como Jean Monnet pretendia.

    

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Berardo caçado, mas...

A notítica do jornal 'i' tem por título: 'Fisco caça Berardo'. O nosso (deles) Joe foi apanhado nas malhas da Inspecção Geral de Finanças.
Porém, neste País de episódios absurdos e de sucessivas imunidades de culpados (inimputáveis), espero que a 'opinião pública' venha a ser informada de que, efectivamente, o terrível Joe cumprirá com os pagamentos de IVA e de IRS em falta. Sempre são 129 mil euros, salvo, penso eu, juros de mora, compensatórios, coimas e custos processuais.
Reforço a ideia de que o País que soube que Berardo foi caçado, provavelmente não saberá se ele pagará as dívidas às Finanças. O legislado no Código do Processo Tributário, muitas das vezes não se aplica aos poderosos. Que o diga Carrapatoso que viu expirado o prazo de pagamento de uma dívida de 700 mil euros ao fisco.
Para os Serviços Finanças, há devedores e... devedores. Os de maiores fortunas podem dever, mas, bastas vezes, não pagam. Cortar nos salários da 'fp' e nos apoios sociais é mais fácil.






A Grécia: uma 'euro-fatalidade'?

As estreias políticas, por norma, constituem momentos solenes. Contudo, nem sempre o desenrolar da estreia se salda por sinais que augurem um caminho plano e sem obstáculos. Pedro Passos Coelho, que hoje foi um primeiro-ministro estreante no Conselho Europeu, corre o risco de iniciar um trajecto complexo, na companhia dos restantes líderes europeus; quase todos, entre 27, afectos à corrente neoliberal em que Coelho se posiciona, a despeito de representar um Partido Social-Democrata (PSD).
Coelho viajou na TAP em económica. Louvável. Veremos se será para continuar. Todavia, estes aspectos colaterais são meras minúcias, que a comunicação social adora relevar. A questão de fundo para Passos Coelho e seus companheiros do Conselho Europeu é a dívida grega e as implicações que dela se esperam para o sistema financeiro europeu. Juncker, presidente do Eurogrupo, lançou o alarme: "Crise grega pode virar a zona euro de pernas para o ar".  Trichet, que preside ao BCE, também advertiu para o perigo de contágio à banca europeia.
A maior parte da dívida grega está dispersa por bancos credores europeus. Instituições financeiras da Alemanha, França, Holanda e Bélgica, como acentua o 'Público'. Ou mesmo espanholas, se atentarmos nas diligências que a ministra Salgado está a realizar junto da banca do país vizinho.
A dívida helénica transcende e muito as fronteiras gregas. Com um nível de propagação tal que já arrastou vários dirigentes europeus para divergências. A Sra. Merkel defende que a banca privada deverá colaborar na reestruturação dessa dívida. O Sr. Trichet tem opinião contrária. O Sr. Sarkozy anda atarantado com a exposição da banca francesa ao risco de incumprimento grego; o que já valeu a ameaça pela Moody's da baixa da notação de 3 bancos franceses - Banque Nationale de Paris, Société Générale e Crédit Agrícole.
É nesta Europa, em crise e também em estado de desorientação geral, que Passos Coelho se foi integrar. Tudo resultado da obra das ideias neoliberais e monetaristas que sustentaram a criação do euro. Hoje uma fatalidade para milhões de europeus. Apenas em função da dívida de um país claramente minoritário, económica e demograficamente.
Será que a grande bolha financeira, que começou a encher-se nos EUA, acabará por rebentar na e com a União Europeia? A probabilidade de suceder é considerável. 
Adenda: O debilitado Millennium BCP, pela voz do seu presidente, Carlos Santos Ferreira, tem igualmente uma exposição de 700 milhões de euros à dívida grega. Além das fragilidades do próprio País, há a registar este facto para salientar que o nosso sistema bancário não está imune à eventual contaminação do incumprimento grego.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Paciência de Coelho

É cinquentão e está desempregado há 3 anos? Tenha paciência! É jovem licenciou-se há 4 anos e  vive, sem trabalho, na dependência dos pais? Tenha paciência!  Tem 44 anos de idade e consta-lhe que os gestores da empresa estão a aguardar a saída das leis laborais sugeridas pela troika para o despedir com o máximo da multiplicação de 10 dias de salários por 12 anos? Tenha Paciência! É funcionário público, já penalizado com cortes no salário, mas consta-lhe que, por via  fiscal e eliminação de benefícios sociais, ainda será de novo penalizado? Tenha paciência!  É um pensionista dos escalões inferiores, habituado a ir à farmácia 'aviar' apenas metade da receita, mas que terá de reduzir a compra para um terço? Tenha paciência! É pensionista, já foi castigado em sede de IRS, mas sabe que ainda o vão punir de novo porque aufere 1.630,00 € mensais? Tenha paciência! É sexagenário, doente crónico, usufrui de baixo rendimento, mas vai pagar ainda mais pelos medicamentos e taxas moderadoras a um SNS que há 3 anos não lhe garante um médico de família? Tenha Paciência! Esteja como estiver, a viver sacrificadamente, siga um conselho: Tenha paciência!
Ah! Todos vós que sabeis que o governo anterior desperdiçou 5 mil mihões de euros no BPN, ligada a gente do PSD; mais de 400 milhões no BPP de João Rendeiro, Júdice, Diogo Vaz Guedes, Balsemão & Cia.; que os accionistas da PT, com o grupo BES à cabeça, beneficiaram do não pagamento de mais-valias pela alienação da brasileira OI (operação de 5 mil milhões); que os ordenados e prémios de gestores públicos somam avultados milhões; que a justiça é ineficaz no julgamento de Oliveiras e Costas, Dias Loureiros e outros que tais; vós que sabeis tudo isto e ainda que o 'programa da troika' vai fazer piorar mais ainda a vossa desgraçada e difícil vida, a todos vós, antes de partir para o CE, o Coelho diz  Tenham Paciência!  

terça-feira, 21 de junho de 2011

Presidência da AR e 'A Bela e O Monstro'






Os deputados portugueses, em larga maioria, revelaram notável bom senso, ao eleger Assunção Esteves para presidir à Assembleia da República. Pela primeira vez em Portugal, é atribuída a uma mulher a presidência do parlamento. É um facto histórico.
A despeito do meu distanciamento do PSD, ou até por causa disso, não me dispenso de realçar que não estamos perante uma mulher qualquer. Assunção Esteves, superando a maioria de gente dos dois géneros, possui uma incomum dimensão intelectual e cultural.
Mulher de saberes múltiplos,  culta e de pensamento democrático funciona de mente aberta. Tem a capacidade de reflectir e debater sem preconceitos e sectarismos diante de quem se pactue por ideias, convicções e visões diferentes. Do que mais relevante faz movimentar o mundo e a sociedade. A credibilidade e a certeza do respeito pela pluralidade valeram-lhe as felicitações e elogios de todas as bancadas. Com fortes aplausos multi-coloridos.
Ao comparar o que hoje se passou no parlamento com os tristes episódios de ontem, à volta de Fernando Nobre, fui impelido para, a título de metáfora, citar o conto infantil de 'A Bela e o Monstro'. Uma vez que Pedro Passos Coelho ainda está na infância da carreira de primeiro-ministro, será recomendável que extraia conclusões de como, por sua responsabilidade, a eleição da presidência da AR começou e findou. E que o sucedido seja lição exemplar, a fim de evitar outras histórias que não honram um político.
Parabéns a Assunção Esteves! Creio que as minhas expectativas não serão defraudadas.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Passos Coelho e Nobre, dois derrotados

À segunda tentaviva, Fernando Nobre falhou a eleição para Presidente da Assembleia da República (recebeu apenas 105 votos, contra os 106 da primeira votação).
Do desfecho eleitoral desta tarde, Passos Coelho e Nobre saiem derrotados; é sobretudo frustrante para o líder do PSD que teimou para além do tolerável, sem qualquer justificação. António Capucho, ex-presidente da Câmara Municipal de Cascais e ainda Conselheiro do Estado, aconselhou publicamente que Coelho deixasse cair a aposta no homem do AMI. E Capucho sabe de quem fala.
Às vicissitudes menos felizes da nossa democracia, acrescenta-se este capítulo obscuro e algo ignominioso. Bastaria que Fernando Nobre tivesse a dignidade de desistir, quando foi vencido à 1.ª vez. Mas não. Necessitou de uma segunda e rotunda derrota, para retirar a candidatura dizer-se disponível para o exercício do cargo de deputado.
Fernando Nobre é um homem invertebrado, moldável aos interesses de que se alimenta.. Tenho esta opinião há muito tempo; razão por que não me canso de repetir desde Janeiro deste ano o que penso e sei acerca da putativa figura do médico; nomeadamente o que sintetizei neste 'post'.
Pena é que, em plena campanha eleitoral, a comunicação social não tenha esclarecido quem é Fernando Nobre e o que é a AMI; uma fundação, diga-se, que sob a tutela do clã 'Nobre' vive de dinheiros públicos, da Segurança Social a câmaras municipais. Para bem da ética e da reabilitação dos políticos aos olhos dos portugueses, investigue-se. Em vez das amizades e simpatias pessoais, há que cuidar seriamente do interesse nacional.



domingo, 19 de junho de 2011

Manifestação 19 Junho


A organização 'Democracia Verdadeira' convida os cidadãos em geral a participar nas manifestações que, no próximo Domingo, se realizarão em várias cidades do País (Aveiro, Coimbra, Lisboa e Porto).
Tais manifestações são actos de civismo e de cidadania, integradas em idêntico movimento a nível global e que inclui 800 cidades.
O objectivo é lutar contra o actual governo económico do mundo e  por um futuro melhor.
Em Lisboa, a manifestação inicia-se às 16h00, na Avenida da Liberdade, junto ao Cinema S. Jorge e terminará no Rossio.






sábado, 18 de junho de 2011

Uma pausa com AMADEUS MOZART


Porque hoje é Domingo, também há tempo para ouvir 'Uma pequena música nocturna'; ou seja, UMA GRANDE, GRANDE MÚSICA.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Yé, Yé, Yé, a Cristas é que é!






Mistério e suspense usam-se, normalmente, em histórias bem construídas. Quando se vivem momentos de formar novo governo, cada órgão de comunicação social corre desesperadamente para o lugar de pioneiro na divulgação dos nomes ditos ministeriáveis. Sempre em ambiente de mistério e suspense. 
Jamais encarei a sério este tipo de competição. De Eduardo Catroga a Vítor Bento, de Sevinate Pinto a Maria de Céu Machado, só para citar uma parte, vários nomes vieram a público, dos diversos que não se confirmaram. E, então, se as notícias são falsas, o melhor é jogar com elas. Fi-lo  neste caso e nestoutro. Talvez tenha sido mordaz. Todavia, se o fiz em relação a Catroga, confesso-me satisfeito; tal é o conceito de ridículo, senil e capaz da mais desbragada linguagem em que tenho esse homem. E, pelos vistos, não apenas eu. A liderança do PSD também o mandou calar e afastar para férias.
Porque não aceitou ou não foi convidado, aqui há mistério, Eduardo Catroga não integrará, afinal, a equipa do XIX Governo Constitucional - o possível de Passos Coelho, segundo o jornal 'i'
Do meu lado, senti alguma frustração: " a quem atribuir o cognome de 'Supercalifragilisticexpialidocious' entre os nomeados?" De súbito, encontrei a solução: Assunção Cristas. A jovem centrista sobraçará a pasta do Ministério da Agricultura, do Ambiente, do Mar e do Ordenamento. É obra! Porém, Paulo Portas, desta feita, poderá ir tranquilo tomar posse em Belém, pois o Mar não lhe causará surpresa.
Sublinho que com Cristas em vez de Catroga, ganhei com a troca. E de contentamento grito"Yé, Yé, Yé, a Cristas é que é! - é o quê? Veremos mais tarde. Porque da governação e do severo programa com que os portugueses serão contemplados, falarei depois. Bem a sério.

O Supercalifragilisticexpialidocious Catroga!

Sabem o que é que o homem estava a afirmar quando captaram esta imagem? Sabem não sabem? Eu também, mas não repito. Já ontem aqui o descrevi como 'especialista capilar da púbis'. Chega!
Embora o 'Expresso' anuncie a recusa de Catroga e Vítor Bento para integrar o novo governo,  há, todavia, notícias  de que Passos Coelho escolheu Catroga para superministro da Economia; ou seja, integrando o tradicional âmbito do citado ministério e ainda as Obras Públicas, Transportes, Telecomunicações e Emprego - bolas que até cansa proferir o nome de tal ministério!
Cá para mim, acho que, caso Eduardo Catroga aceite e à semelhança do ministério, deveria atribuir-se um epíteto especial a este homem que, pelos vistos, só se entende com coisas grandes. Por isso, recorri à velha canção de Julie Andrews, no 'Mary Poppins', e escolhi 'Supercalifragilisticexpialidocious'.
Já sabem, quando o virem ao vivo, chamem-lhe Sr. Supercalifragilisticexpialidocious. Não custa, repitam comigo: 'super-califragilis-ticex-pialidocious'. É fácil. O difícil virá depois, quando o senil Catroga tomar medidas para uma 'austeridade' a que ele nunca se subordinou. E a que jamais se subordinará. 

Belém & São Bento SA

A confirmar-se esta notícia, a escolha, para ministro da Economia, de Catroga, o especialista capilar da púbis; e estoutra, de Maria de Céu Machado para a Saúde, mulher de João Lobo Antunes, mandatário de Cavaco Silva e ainda de outras figuras para chefiar ministérios do próximo governo, por exemplo Vítor Bento para as Finanças, bem se poderá dizer que o Palácio de Belém terá uma representação significativa no XIX Governo Constitucional. Mesmo próxima ou igual à do CDS. O partido de Portas abarcará, segundo consta, três pastas ministeriais.
Como ainda sucedeu hoje, por muito que Pedro Passos Coelho repita que os referidos nomes  estavam no seu pensamento muito tempo antes das eleições, a afirmação é muito pouco credível. Trata-se de personalidades, estas e eventualmente outras, de quem o PR é próximo. Custa a acreditar que Cavaco Silva não seja já conhecedor.
Se o governo vier a integrar tais personalidades, diga o que disser, Cavaco fica comprometido com o desempenho do novo governo. Nos sucessos, como nos fracassos.
Uma última nota: Maria de Céu Machado, como Ana Jorge, é pediatra; ou seja, uma 'clínica geral de crianças', como se diz na gíria da comunidade médica. Oxalá que, como ministra, consiga a elaboração do 'Plano Nacional de Saúde 2011-2016', tarefa que ela própria não conseguiu realizar antes. Com a ajuda da polivalente e entendida Assunção Cristas e do filho do médico Luís Filipe de Menezes, de nome igual ao pai, note-se, pode ser que o País tenha, então, o famigerado Plano.
Ao citar os nomes acima, longe de mim a intenção de falar de 'boys'. De 'friends'? O melhor é ficar por aqui..

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Um caminho de Passos e Portas

Na opinião de tudólogos, Prof. Marcelo à cabeça, há que confiar na maioria 'PSD+CDS' para vencer as dificuldades com que o País se depara. Nada melhor que um um governo forte e para 4 anos, proclamado pelos líderes 'laranja' e 'centrista'.
A assinatura do documento 'Maioria para a Mudança', em ambiente  caótico de hotel e inexplicavelmente retardado, foi formalizada pelos dois 'grandes líderes':
O acto teve lugar exactamente às 12:20; portanto, 1:20H depois da hora categoricamente noticiada pelo Público 'online', anunciando um evento que ainda não ocorrera.
Das palavras, formais e ocas, de Passos Coelho, retive  não ser intenção dos novos líderes remeterem para o passado e anteriores governantes as culpas da crise. Isto, à partida, é  uma afirmação  que visa poupar o passado recente e Sócrates. A despeito de parecer uma hipocrisia própria da 'realpolitik, é útil lembrar que, na dimensão do tempo e da génese das dificuldades do País, os motivos das "desgraças da Nação" remontam a tempos e casos de um passado muito mais distante - desde 1985. Inclusivamente repercutidos na injustificada injecção de dinheiros no cavaquista BPN - como estamos em termos de justiça? - das "iniciativas vanguardistas" de Cavaco nas PPP's e, sintetisando, nas opções políticas do actual PR em matéria de 'mar e agricultura' de que agora - tarde piaste! - se  mostra  acérrimo defensor, na perspectiva do interesse nacional.
Passos Coelho, segundo este e estoutro testemunho, afirmou que iremos viver com grandes dificuldades nos próximos anos. Se mantiver a veia privatizadora e infinita crença na iniciativa privada, as dificuldades ainda serão maiores e mais extensas no tempo. E os portugueses serão as vítimas, Mesmo muitos daqueles apostadores na escolha eleitoral do PSD e do CDS. Daqui a algum tempo falaremos.
Para remate, aqui fica texto do acordo MpM. É  uma injecção planfetária. O que verdadeiramente valerá serão os conteúdos e objectivos definidos pela "troika": aqui, aqui e aqui. O resto, como diz o povo, é música. Que embala mas não nos sossega. Atormenta.



quarta-feira, 15 de junho de 2011

O ímpeto privatizador de Coelho

Pedro Passos Coelho anunciou medidas relevantes da sua estratégia. Escolheu um orgão de imprensa estrangeiro. Concretamente o 'Financial Times", para dar conta do ímpeto privatizador que o anima. Garantiu que a privatização da RTP e das Águas de Portugal vai avançar - Paulo Portas, pelo que se percebe, cedeu na alienação da TV pública.
De súbito, a SIC Notícias divulgou como notícia de 'última hora' as declarações de PPC ao 'FT', enfatizando as duas privatizações e a nomeação de um ministro indpendente para a pasta das Finanças - será o Catroga? Ai c'um Catroga!
Infelizmente, vai consumar-se aquilo que, em matéria de privatizações, eu temia ao escrever aqui e aqui, sobre o risco do sector público ser amputado de empresas de serviço público e de um bem essencial e vital como a água.
Justamente 72 horas após os eleitores italianos terem reprovado a privatização da água, o novo e ultra neoliberal primeiro-ministro Coelho saíu da toca para anunciar a alienação da empresa Águas de Portugal - 49% capital por enquanto.
Justamente também no dia em que os portugueses ficaram a saber que, a partir de 1 de Julho próximo, vão passar a pagar mais 3,9% no consumo de gás natural. Que fique de sobreaviso  do que poderá suceder ao preço da água, como negócio de privados.






Dissonâncias

Passos Coelho e Paulo Portas divergem quanto a Fernando Nobre
À saída de Belém, em desacordo com a escolha de Fernando Nobre para presidente da AR, Paulo Portas declarou que essa questão ficou excluída do acordo estabelecido entre PSD e CDS, com vista à constituição e programa do próximo governo constitucional.
Também à saída de Belém, o indigitado primeiro-ministroPassos de Coelho, afirmou e continua a insistir no nome de Fernando Nobre para a referida presidência, sabendo embora que, no plenário parlamentar, esse resultado é difícil de atingir, dada a divergência com o CDS
Há aqui uma clara dissonância entre os dois líderes. Como argumentei neste 'post',  é difícil de aceitar que, em tempo de profunda crise, haja uma divergência acerca de Fernando Nobre. O País, no que respeita à escolha da 2ª figura do Estado, fica suspenso do desfecho da desarmonia à volta de um cidadão que, desde o Sri Lanka, se rebelou contra o eventual incumprimento de uma inaceitável promessa de Passos Coelho; inaceitável porque permite inferir que, em vez de escolher o mais habilitado para o cargo, o líder do PSD agiu segundo o repetido vício de arranjar um cargo para alguém que, pelo curriculum e outras coisas, não se afigura capaz de o desempenhar com conhecimentos, eficiência e eficácia.
Vamos aguardar o desfecho desta dissonância.

Lello contradiz Assis 
Tendo ainda o Palácio de Belém como cenário, Francisco Assis garantiu que o PS não recorrerá para o Tribunal Constitucional com a impugnação da votação no Rio de Janeiro. José Lello, segundo notícia difundida pela 'SIC Notícias', no jornal das 12h00, em atitude de redivivo, contrariou Assis, assegurando que o PS recorrerá de certo para o Tribunal Constitucional.
Esta outra dissonância, que coloca em dúvida a tomada de posse do governo em tempo útil, será interpretada por grande parte dos portugueses como prejudicial ao interesse nacional e, sobretudo, à credibilidade externa do País, já tão afectada. E o PS, subscritor de um compromisso com a 'troika' de que discordo, já está demasiado fragilizado e aquilo de que menos necessita é de episódios que o desacreditem.
Lello, como diria Vicente Jorge Silva, faz parte de uma tralha que os socialistas deveriam expurgar. Se antes do último congresso já era urgente encontrar um líder alternativo a José Sócrates, agora ainda é mais premente recolocar o PS no lugar de partido alternativo de poder e co-regenerador da esquerda portuguesa.

Conclusão
De dissonância em dissonância, cá vai este País dissonando. Resultado, a meu ver, da falta de qualidade dos políticos que temos e cujos desempenhos, diga-se, afinam pelos paradigmas hoje prevalecentes nesta Europa envelhecida e trôpega. 




terça-feira, 14 de junho de 2011

E. coli: A inimputável Alemanha

"Os alemães devem ser tratados como derrotados e não como libertados"

Citação feita por Tony Judt em 
'Pós-Guerra - História da Europa desde 1945 '

A frase vem-me sempre à memória, nos casos de comportamentos e discursos da sobranceria tradicional alemã; tornada frequente e refinada no consulado da chancelarina Angel Merkel. Voltou a suceder-me com as notícias à volta da  E. coli.
Hoje, foi aprovado pela UE uma ajuda de 210 milhões de euros a agricultores, em especial espanhóis, mas também portugueses lesados pelo alarme inicial e falso das autoridades alemãs. Também hoje foi anunciada a 37.ª morte, devido à estirpe assassina da bactéria: uma criança de 2 anos, de nacionalidade alemã como 35 de outras vítimas. Um sueco que permanecera na região de Hamburgo foi a única vítima estrangeira.
As autoridades germânicas, talvez na tentativa de exploração sentimentos anti-sulistas agora em voga na Europa do Norte e do Centro, começaram, pois, por atribuir aos pepinos espanhóis o papel de agentes da transmissão da bactéria nas primeiras 10 mortes, em finais de Maio último. Posteriormente, entreteram-se a desmentir e a criar outras versões, acabando por concluir que, afinal, o surto da E.Coli tivera origem interna. De início, em rebentos vegetais produzidos na Baixa Saxónia e agora na Baviera.
Primeiro, e por outros motivos já o sabíamos, o governo de Angel Merkel tem muito pouco de humanista, até em casos, como o presente, que dizimam os seus próprios cidadãos. Segundo, não se inibe de atitudes discriminatórias graves em relação a terceiros países, sem o mínimo fundamento científico.
Todavia, em final do processo, o que julgo verdadeiramente injusto é caber à União Europeia o dever de conceder subvenções aos agricultores do Sul para compensar parte dos elevados prejuízos causados pela desinformação e a incompetência alemãs. Sabemos que a PAC é a PAC, mas também que a Alemanha é inimputável.    


   
 

Berlusconi: derrota "3 em 1" ...consequências?

O trágico-cómico "Il Cavaliere" sofreu o pesado desaire, amplamente divulgado pela comunicação social: aqui e aqui, por exemplo.
Em linguagem de marketing, pode classificar-se como derrota do tipo "3 em 1"; ou seja, mais de 90% dos italianos dos 57% habilitados a votar,  como acentua Ana Paula Fita em 'A Nossa Candeia' , responderam com um rotundo NÃO às propostas políticas de Berlusconi: i) Não à energia nuclear; ii) Não à imunidade judicial para os políticos; Não à privatização da água.
O povo italiano, finalmente, despertou de prolongada letargia, permissiva de toda a espécie de desvarios, como político e cidadão, a um primeiro-ministro tão ridículo como despótico que, sob a cumplicidade da direita europeia, se transformou em ícone do poder anti-ético e anti-democrático.
Todavia, e embora o veredicto do referendo se tenha confinado a Itália, a comunidade internacional e os países, isoladamente, devem ter em conta as questões referendadas e os resultados registados, assim como inferir das consequências para a instucionalização de políticas nas áreas que foram objecto da consulta.
Em termos de energia nuclear, e dado que a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) já estava mandatada para o exercício de vigilância do uso da citada energia para fins pacíficos, o âmbito de tal mandato terá de ser reformulado. Com efeito, com Alemanha, EUA, Itália e Japão são já quatro os países do G-8 que colocam em causa o uso do nuclear, como fonte alternativa e pacífica de energia. Depois da catástrofe de Fukushima, o foco das acções da AIEA, mesmo para os fins ditos pacíficos, carece de reformulação. E a ONU, de quem tal agência depende, terá de estabelecer novas regras na ordem internacional para o nuclear.
A privatização da água já era e confirma-se tratar-se de objectivo a retirar das agendas políticas. Não precisamos de sair de Portugal. Com efeito, com o acesso ao poder do absolutismo neoliberal do PSD e as exigências da malfadada "troika", a privatização das 'Águas de Portugal' é considerada prioridade. Espero que, tendo em conta o NÃO dos italianos, se elimine tão nefasto objectivo. Paulo Portas que, em matérias de privatizações se revela bem mais prudente e sensato que Pedro Passos Coelho, poderá defender a manutenção das 'Águas de Portugal' nas mãos do Estado Português. Nunca imaginei tal coisa, mas o CDS em várias áreas está, de facto, à esquerda do PSD. Quem diria?

segunda-feira, 13 de junho de 2011

NOVO GOVERNO: Há Fumo Branco e... Nobre

Há notícias a garantir 'fumo branco' para Cavaco Silva indigitar Passos Coelho, como primeiro- ministro do XVIII Governo Constitucional. No texto, todavia, é revelado um obstáculo: Fernando Nobre. Portas recusa a atribuição da presidência da AR ao putativo médico.
Outras notícias, o Jornal de Negócios por exemplo, admitem que o líder do PSD poderá convidar Fernando Nobre para Ministro dos Assuntos Sociais.
Estranho País este, em que a organização política do Estado e desde logo a vida colectiva dependem de discussões à volta de uma personalidade turva,  de um Nobre destes; cujos princípios de coerência,  bom senso e respeito pela ética questionei aqui, em 25 de Janeiro de 2011, muito antes, portanto, do convite de PPC. E, de resto, voltei a referir  aqui, a propósito da irratibilidade de Nobre, no Sri Lanka, ao saber que, afinal, poderia ver-lhe recusado o cargo de presidente da AR, prometido por Coelho.
Ao estranho País, acrescento: pobre País o nosso, prisioneiro de carreirismos e de egoísmos desta horda de irresponsáveis, incapazes de sobrepor o interesse nacional  às ambições e projecções pessoais que os catapultam para a boa vida. Mesmo quando os juros da dívida pública sobem continuada e acentuadamente e  num cenário internacional de sérias ameaças, como esta que Nouriel Roubini admite como provável. 

domingo, 12 de junho de 2011

Lisboa no Santo António


Aqui, no interior alentejano que adoro, não esqueço a minha cidade, Lisboa. Que saudades das farras lisboetas de outrora, quando jovem.
Na noite de Santo António, como a de hoje, o meu destino e da minha malta estava traçado: Alfama. Sardinhas, vinho tinto e sangria, tudo em fatal mistura que nos atirava para os  prazeres dormentes, tontos e alegres do deus Baco.
Com saudade, mas também com o desejo de que Lisboa mantenha a tradição dos 'festejos populares', comemoro à distância a noite de Santo António com uma marcha cantanda por Amália. A divina voz de Lisboa e de Portugal. Cá vai um copo de tinto também à sua memória! Viva! 

A propósito da privatização da RTP

Tem sido divulgado que o CDS rejeita a privatização da RTP proposta pelo PSD. O desacordo suscitou desde logo grande inquietação nas hostes 'laranja'; e ainda em meios que lhe são afectos, como é o caso do 31 da Armada, neste caso pela escrita de Nuno Gouveia.
Diz ele que a RTP, em mãos privadas, contribuiria para uma comunicação social mais livre, mais isenta e mais independente, acrescentando, depois, que também serviria para aliviar de pesos do Orçamento Geral do Estado.
Estão, pois, aqui misturadas duas questões de natureza diferente: i) a liberdade e a isenção da comunicação social; ii) a relação da RTP com as finanças públicas.
Quanto à primeira questão (liberdade, isenção e independência), e tomando como exemplo a última campanha eleitoral, a SIC, privilegiando o PSD, deu uma imagem perfeita de falta de imparcialidade - a estruturação e sequência do jornal das 20h foi sistematicamente preparada para até o intervalo exibir reportagens e imagens, muitas vezes desfavoráveis, dos outros partidos e a reabertura do noticiário dava-se com imagens de nítida propaganda e apologia do PSD de Passos Coelho. A TVI, pela voz tendenciosa do Prof. Marcelo, não lhe ficou atrás.
Vamos agora aos números e ao negócio. É verdade que a RTP, ao longo dos anos, tem sido um sorvedouro de dinheiros públicos. Foi nessa estação que Carlos Cruz, José Eduardo Moniz, Manuela Moura Guedes, Judite de Sousa e muitos, muitos outros enriqueceram e enriquecem com chorudos ordenados e não só. A RTP tem uma estrutura pesadíssima, cerca de 400 profissionais de comunicação social, fora outros. É inevitável que, com estes números, a estação televisiva acabe por absorver  milhões (M) de euros anualmente. O Relatório e Contas de 2009, pg. 57, mencionava 237,2 M, verba abaixo dos 300 M citados pelo 31 da Armada.
A SIC, e para que se entenda a onda privatizadora lançada sobre a RTP, regista uma degradação da situação económica e financeira. A Informação da Impresa do 1.º T de 2011 evidencia a queda de 3,1% das receitas da estação de Carnaxide. Como isto já não fosse suficiente, de Mar-2008 para Mar-2009, o EBITDA (Ganhos Antes de Juros, Impostos e Depreciações) desceu de 2.855.894 para 1.623.007 euros; ou seja, uma quebra de 43,17%. Percebe-se que, com estes e outros números, Balsemão esteja preocupado; e tendo sido o 1.º empresário a reunir com Passos Coelho, após a eleição deste no PSD, provavelmente pensará estar na hora das compensações.
Toda esta história da defesa da privatização da RTP está mal contada. Moralizar a gestão da RTP sim! Privatizar a RTP não! Só por ignorância ou deliberada omissão de informação, se poderá  propagandear a eliminação de um serviço público de televisão. A cega aposta na iniciativa privada tem agora dois bons exemplos, o BES e BCP, privadíssimos. No conjunto, precisam de 2,8 milhares de milhões de euros da "troika", dinheiro a pagar pelos contribuintes. E o BCP foi considerado um "case study" a nível internacional. O que sucederia se assim não fosse?

sábado, 11 de junho de 2011

Do acordo à luta de "boys" entre PSD e CDS

O jornal "i", com a habitual generosidade com que trata a parelha 'PSD+CDS', anuncia em extensa notícia o fecho do acordo governamental entre os partidos de Passos Coelho e Paulo Portas. Do que se percebe, esse acordo teve como base o documento político formulado para a constituição do governo  de Durão Barroso em 2002, de idêntica coligação.

O acordo, assim divulgado, não passa em nossa opinião de um rol de acertos de aspectos formais da estrutura governativa; ou seja, dos cargos ministeriais e outros com que cada partido será contemplado.
Como a conquista dos chamados "tachos" é matéria de fundamental importância para a vida de "boys" da São Caetano à Lapa e do Largo do Caldas, uma tal Sílvia Ramos da distrital do CDS de Beja advertiu desde já : "Este é momento...de se correr atrás dos lugares". Assim mesmo, alto e bom som, como quem diz: "Mexam-se 'boys' centristas, mexam-se, façam as ocupações de lugares rapidamente e em força!". Uma espécie de "reprise" do que a extrema-esquerda mandou fazer em 1974 com as chamadas ocupações selvagens.
Se um político de esquerda, de dimensão concelhia que fosse, lançasse semelhante repto, o que a imprensa não diria dele. De extremista a louco, seria um desenrolar de epítetos duros e severos. Porém, como se trata de uma Sílvia democrata, e ainda por cima cristã, o insensato passa a irrepreensível.
Da cordata distribuição de altos e médios cargos entre 'laranjas' e 'azuis-amarelos' e do início da competição de 'boys' na caça a lugares já ficámos informados. Do programa governamental, segundo o "i", ainda nada foi estabelecido entre Passos Coelho e Paulo Portas. Como ambos tivessem alternativa ao que "FMI-BCE-CE" estabeleceram nestes documentos: memorando de 3-Maio-2011,memorando de 17-Maio-2011 e sistematização de medidas de 8-Junho-2011
Vertam tudo para um documento com o logotipo dos dois partidos e aí ficará o programa do XVIII Governo Constitucional - o programa da multiplicação da pobreza e da miséria, sob o alto patrocínio de um Presidente, uma Maioria e um Governo que a maioria dos portugueses escolheu - diga-se a verdade - mas de que muitos, mesmo muitos cedo ou tarde se arrenpederão.   

Com Christine Lagarde no FMI, viveremos "à Lagardère"

A ainda Ministra das Finanças francesa, Christine Lagarde, veio hoje a Portugal. O objectivo foi colher apoios, da troika PS+PSD+CDS, à eleição para directora-geral do FMI, a fim de substituir o compatriota Dominique Strauss-Khan, homem suspeito de descontrolados comportamentos sexuais.
A, por ora, simpática Lagarde em solo nacional afirmou:
Portugal não vai apenas sobreviver mas até crescer com o pacote de austeridade
Os portugueses podem, portanto, ficar mais tranquilos. A austeridade, neste caso, significará viver "à Lagardère". Quem melhor que uma Lagarde para o assegurar? O grave é que isso é falso e as consequências serão para milhões de portugueses e não para ela.
Trata-se de uma mulher que sempre nadou bem e tem o dom de viver mais bem ainda. Sempre "à Lagardère". Nós, pelos vistos, também. Só se for a crescer nas desgraças, digo eu.  

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Solos sem ensaio?

Poderia ter escolhido imprevistos, impulsos ou coisa do género para título. Preferi, no entanto, decidir-me por 'SOLOS SEM ENSAIO'. Solos por serem compostos, entre sofrimentos e desafinações, neste meu solitário refúgio, de onde interpreto o mundo em vagas de  sentimentos diversos. Umas vezes com humor, outras com revolta e dor. Verdadeiramente só e feliz deste lado, mas sob a eventual observação de quem me venha ler, comentar e, no fundo, concordar ou discordar.