As imagens acima publicadas
constituem, apenas, uma parcela, inferior a 25%, do vídeo que o “The New York
Times” divulgou na edição desta 2.ª feira, sobre o que se passa em Myanmar. A repórter
foi Hanna Beech. Revela ao mundo a violência dolorosa e mesmo lancinante na
limpeza étnica executada sobre a população rohingya, residente no estado de
Rakhine, na Birmânia, em zona fronteiriça com o Bangladesh.
Na Birmânia, também conhecida como
Myanmar, ocupa o cargo designado como Conselheira de Estado, mas equivalente a
primeira-ministra, Aung San Suu Kyi, a quem foi atribuído o Prémio Nobel da Paz
em 1991, em reconhecimento pela luta empreendida justamente pelos direitos
humanos, no seu país. Cumpriu 15 anos de prisão domiciliária.
Trata-se, pois, de uma suprema e
repugnante ironia que uma mulher laureada com o Nobel da Paz permita que seja
possível às forças armadas do país que lidera actuar com a barbaridade e a
extensão próprias de um holocausto. Ao contrário do esperado, não estará
presente na AG das Nações Unidas. Prometeu dar explicações sobre os
acontecimentos dos brutais e numerosos crimes dos seus militares sobre a
população rohingya, maioritariamente muçulmana.
António Guterres, secretário-geral
da ONU, o Papa Francisco e o arcebispo Desmond Tutu, este, também laureado com
o Prémio Nobel da Paz e agora apoiante desiludido de Aung San Suu Kyi, já
imploraram junto da primeira-ministra birmanesa no sentido do fim da violência
sobre os perseguidos que, aos milhares, estão em fuga, a caminho do Bangladesh.
Do que ela, San Suu Kyi, disser
amanhã, nada valerá para salvar milhares de vidas ceifadas, bem como para
recompor famílias de que apenas restaram crianças de 2, 3, 4, 5 ou poucos mais
anos de idade; algumas delas com as mãos decepadas, como narrava Hanna Beech
numa das suas peças no ‘NYT’. Resta, apenas, o assumir do compromisso de
estancar imediatamente com os massacres da autoria das forças armadas
birmanesas.
Os líderes dos países
ocidentais, e em especial os europeus, têm de ser empenhados e eficazes junto
da Birmânia para fazer cessar a carnificina sobre a população rohingya. Têm de
tomar em conta que, no seio desta população de fé muçulmana, se criou uma força
de combate, a ‘ARSA-Arakan Ruhingya Salvation Army’. Os seus membros, em
processo de radicalização e de pré-disposição para serem mártires pela causa
islâmica, estão a ser aliciados pela Al Qaeda e, porventura, outros grupos de
radicais, como o Estado Islâmico (Daesh). Entre as repercussões destas mais do
que hipotéticas fusões têm de contar-se os riscos para a segurança em várias
sociedades no mundo, em particular as europeias.