domingo, 31 de julho de 2011

E os responsáveis pelo crime BPN?




O BIC, banco de capitais maioritariamente angolanos, liderado por este homem, comprou o BPN por 40 milhões de euros. Todavia, segundo o noticiado, os adquirentes beneficiarão ainda do pagamento pelo Estado Português de indemnizações a perto de 800 trabalhadores, por cessação dos contratos de trabalho.
A receita da venda tinha de ser necessariamente mínima, assim como eram incontornáveis os encargos do Estado com a dispensa de pessoal. Ambas as condições estavam estabelecidas nos pontos 2.10 e 2.11 do memorando da troika, de 17 de Maio de 2011.
Sócrates, diz também a notícia, aplicou 2,4 mil milhões de euros, numa operação desastrosa e que, bem-feitas as contas, ainda se ampliará. Politicamente, já pagou pelo erro.
Porém, em termos de responsabilidades pelo desastre BPN, não fique o pessoal 'laranja' a distrair-nos com todas as culpas sobre o anterior primeiro-ministro. Sim, é imperioso haver justiça, actuando também em relação a quem cometeu crimes graves na criação e gestão do banco agora alienado. Por acaso, um grupo de militantes e ex-governantes do PSD, de que lembro Oliveira e Costa, Dias Loureiro e Arlindo Carvalho. Ainda por acaso, sim só por acaso, todos integraram equipas governativas de Cavaco Silva que, de resto e ao que consta em companhia da filha, foi um accionista esporádico, e beneficiário de relevante ganho financeiro, deste malfadado BPN; o qual, parece, nasceu para deleite de mãos que nos esgaçam.
A Sr.ª Ministra da Justiça, que é pessoa desenvolta, se estiver para aí virada, diligenciará junto do 'sistema judicial' o rápido avanço do processo em tribunal contra os responsáveis pelo crime BPN. A Comissão de Inquérito Parlamentar fez o seu trabalhinho à vista de todo o País e quanto a tribunais nada sucedeu que se veja. Porquê? Por serem gente grada do PSD? Só faltava essa.

Manuel 'Vira-Casacas' Cabral


Não me enganei. Mudei deliberadamente o apelido de 'Villaverde' para 'Vira-Casacas'. É mais apropriado. Bastará ler e comparar esta entrevista com o 'curriculum' político do homem. De militante clandestino do PCP, passando por apoiante do Maio de 68, chegou a ferveroso admirador do neoliberalismo de Passos Coelho. 
Há muitos outros do género, mas este é um dos mais curiosos fenómenos de metamorfose progressiva da mente humana. Quando se aproximar dos 80, ingressará nas fileiras do PNR e exclamará com orgulho: 'Percorri o espectro político-ideológico de um extremo ao outro'! É a minha previsão que, como tantas outras, se inspira na vida passada e presente do professor Cabral.

Há endividados e...endividados




Como os indivíduos e as famílias, os países endividados não são tratados com critérios de equidade. Ser um grande ou um pequeno país devedor, fortemente devedor, não é exactamente a mesma coisa. Obama já o havia advertido "Nós (EUA) não somos a Grécia nem Portugal".
A despeito de remanescentes divergências, segundo se lê aqui, aqui e aqui ou mesmo no prestigiado New York Times, Democratas e Republicanos estão muito próximos do acordo com vista a permitir aos EUA o aumento do limite da dívida em 3 biliões (milhões de milhões). Quem anunciou a alta probabilidade de fechar o acordo foi o líder o senador e líder republicano, Mitch McConnell. Pelo que se percebe, Obama teve de deixar cair a sua proposta de aumento de impostos (receita) e de encargos da segurança social (despesa).
O consulado de Clinton, do ponto de vista das finanças públicas, deixou um avultado superavit que George W. Bush consumiu avidamente: descida de impostos para os mais ricos e as duas guerras, Iraque e Afeganistão, geradoras de lucrativos negócios empresariais. Dick Cheney, Donald Rumsfeld (grande amigo de Paulo Portas) e outros empresários de meios de beligerância que o digam. De financeiramente excedentário, em pouco tempo o saldo norte-americano passou a registar défices em crescendo. Obama teve também quota-parte de responsabilidade ao reforçar o investimento no conflito afegão.
A crise de 2008, em resultado da falta de regulação e da subsequente especulação do sistema financeiro dos EUA, afectaram a economia norte-americana e contagiaram outras regiões do mundo, em particular a Europa e a África de que se fala apenas episodicamente.
No rescaldo de tudo isto, e também fruto de políticas decalcadas no modelo financeiro dos EUA, as bolhas imobiliárias e outras eclodiram em massa e as dívidas soberanas dispararam. As agências de rating, com o prémio de diamante do 'triple A' a Lehman Brothers, AIG, Goldman Sachs e a produtos tóxicos, subitamente assestaram baterias na direcção de pequenos espaços económicos: Grécia e Portugal passaram a lixo, devido às dimensões das dívidas e ao fraco crescimento. Os juros disparam e a espiral da dívida acelerou.

sábado, 30 de julho de 2011

Dr. Soares, um trunfo do PSD

Mário Soares será convidado de luxo da reentrée do PSD, como orador da Universidade de Verão do PSD, em Castelo de Vide; isto deixa-me, de facto, muitas dúvidas sobre a motivação comportamental do veterano socialista.
Alguns podem considerar como acto próprio de senescência; mas, acima de tudo, prevalece a verdade de ser indesculpável que Mário Soares, na qualidade de fundador do PS, se preste ao papel de branqueamento da severa política ultraliberal do governo em exercício, chefiado por Pedro Passos Coelho.
Digam o que disserem Mário Soares e seu séquito de incondicionais seguidores e qualquer que seja o conteúdo da comunicação do ex-Presidente da República, a participação no evento do PSD é sórdida e será uma espécie de oferta às hostes laranjas, em bandeja de ouro, de importante trunfo de propaganda. Ainda por cima numa altura em que o PS se tenta recompor dos efeitos do "eucalipto" Sócrates e a voz da rua, em crescendo, começa a manifestar descontentamento face às duras medidas de injustiça social do actual governo.
O Dr. Soares será, creio, alvo de hipocrisia e chacota. A juventude laranja ouvi-lo-á com escondida ironia e evidente desprezo. Quem estará lá para ser ouvido com extrema atenção será Mariano Rajoy e os comissários políticos do PSD, entre os quais o catedrático Miguel Relvas. E, se aparecer o Teixeira Pinto, o elenco converter-se-á em autêntica constelação de estrelas, que diluirá facilmente, para o auditório, a participação de Mário Soares.
A vida democrática tem regras de tolerância e convivência, mas também de combate político intransigente e ditado por princípios. E o que este governo menos mereceria é que o Dr. Soares se transformasse em trunfo do PSD. Sobretudo este PSD ultraliberal e disfarçado sob a designação 'social-democrata'. Pensar deste modo não é sectarismo, mas sim ser ideológica e intelectualmente coerente.



quinta-feira, 28 de julho de 2011

Ora aí está: a derrapagem da IMPRESA

Publicado o 'post' anterior, "De espião a espiado", eis que surgem notícias a divulgar considerável derrapagem da IMPRESA, grupo de comunicação social dirigido por Francisco Pinto de Balsemão; grupo que integra meios de prestígio como o 'Expresso', a 'Visão' e os diversos canais SIC, entre vários outros.
A luta frenética a que aludi, entre Nuno Vasconcelos, também accionista da IMPRESA, e Balsemão, é naturalmente fruto da crise que atinge as empresas geridas sob responsabilidade do Dr. Balsemão.   
Com efeito, a IMPRESA, no 1.º semestre, teve um resultado negativo, - 32,6 milhões de euros, comparáveis com + 3,3 milhões em período homologo de 2010. O EBITDA (resultados antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) também desceu de 14,6 milhões para 8,6 milhões; uma quebra de 41,10%. Porém, para certos analistas, o EBITDA é indicador de valor relativo, atendendo ao facto de se tratar um parâmetro que ignora os juros, ou seja, os 'custos de financiamento' em que normalmente as empresas incorrem, por recurso a capitais alheios.
Compreendo a preocupação do Dr. Balsemão em tranquilizar os trabalhadores do grupo. Todavia, ao justificar os prejuízos com uma operação contabilística de "imparidades", o presidente da IMPRESA está a confirmar que as contas oficiais da empresa passaram a registar uma desvalorização potencial e efectiva de activos e, consequentemente, uma redução do valor patrimonial.
Passos Coelho necessita de aplicar forte perícia de equilibrista, se está, de facto, equidistante em relação a Balsemão e a Vasconcelos. Se, como consta, a tendência for para o favorecimento da ONGOING na privatização da RTP, a IMPRESA deparar-se-á com sérios obstáculos à sustentabilidade e o Dr. Balsemão terá de procurar ajuda algures; talvez no Brasil, através da GLOBO. Ou então, a IMPRESA já era e a partida de títulos como o 'Expresso' seria um fenómeno de empobrecimento da nossa comunicação social. 

De espião a espiado

Jorge Silva Carvalho, ex-director do SIED (Serviço de Informações Estratégicas e de Defesa), após o abandono do cargo, alegada e em parte confessadamente, disponibilizou à Ongoing, de Nuno Vasconcelos, dirigida por José Eduardo Moniz, informações sobre matérias que, imagina-se, se identificam com interesses do Estado.  Tais informações conduziram à rejeição por Pedro Passos Coelho do famigerado Bairrão para o cargo de Secretário de Estado da Administração Interna.
O 'Expresso', confirmado pelo director Ricardo Costa, revelou a transmissão de "informações secretas" à Ongoing. Jorge Carvalho mandou instaurar processo judicial contra o semanário, com a assistência do conhecido advogado 'laranja', Nuno Morais Sarmento.
Feita a catarse das notícias vindas a público, conclui-se ser uma guerra entre dois grandes grupos de comunicação social e respectivos líderes: Ongoing e Nuno Vasconcelos, por um lado, e Impresa e Francisco Pinto Balsemão, por outro.
Conclusão: é um agudo conflito entre dois homens de negócios que, odiando-se, trazem para as páginas dos jornais uma disputa que, pensando friamente, interessa sobretudo aos próprios e apenas indirectamente aos cidadãos. E sublinho o indirectamente, porque, para a generalidade dos portugueses, o que está em causa é, no fundo, a privatização da RTP e as consequências daí resultantes para a seriedade da informação em Portugal, já hoje debilitada pelos alinhamentos da televisão pública. Privatizada, tornar-se-á mais um meio vulnerável à facciosidade - lembre-se o comportamento de Moniz ao tempo dos governos de Cavaco.
Que o espião passe a espiado é, pois, secundário e até digno de gozo. A verdade é que a querela é determinada por interesses de negócio e  dinheiro. Ou seja, uma espécie de 'materialismo dialéctico' travestido de 'lobbies' laranja, em que aqueles com direito a informação fiável e imparcial são apenas escória desta incandescente (con)fusão de metal sonante.  

Protecção dos ricos, abandono dos pobres

Li algures na blogosfera um texto a exultar o fim do socialismo, em Portugal. Patético e despropositado. Identificava, imagine-se, a extinção das 'golden share' como uma espécie de implosão do socialismo em Portugal.
Primeiro, há anos que Mário Soares colocou o socialismo na gaveta e Sócrates, além do conteúdo engavetado, acabou por destruir todo o mobiliário. Nem uma gaveta sobrou.
Segundo, e aparte de Portugal sair perdedor do abandono, pelo Estado, de empresas estratégicas, das 'golden share' ainda podem extrair-se avultados proveitos para os accionistas privados. Recorde-se as mais-valias realizadas na alienação da PT da participação na VIVO, devido à reserva inicial do governo; mais-valias essas que, sublinhe-se, ficaram isentas de qualquer imposto, por decisão de Sócrates.
Estes são actos e factos reais. Provam a identificação do PS de Sócrates com padrões do capitalismo financeiro e do neoliberalismo em voga, em detrimento dos valores de esquerda e próprios do PS.   
Bom, mas a gula da direita, hoje com a força da trilogia um presidente, uma maioria e um governo, é, de facto, insaciável. O que Sócrates fez e a 'troika' estabeleceu é curto para as ambições do Estado neoliberal. É dentro desta lógica que o governo de Passos Coelho se apressa a legislar no sentido de providenciar a redução  das indemnizações por despedimento; com o pormenor, socialmente cruel, da lei vir a ser extensiva aos contratos de trabalho anteriores, i.e., mais penalizador para os trabalhadores do que o já punitivo ponto 4.4 do memorando da nefasta 'troika'.
Os objectivos deste tipo de leis visam consolidar o processo de 'protecção dos riscos e abandono dos pobres'. Há, pois, que salvaguardar a ganância do grupo restrito dos cada vez mais ricos, desprezando os dois milhões de pobres, confirmados, de resto, pela própria OCDE em Abril passado, indexando uma taxa de pobreza de 13,6% a Portugal nos quadros apresentados sob o tema 'pauvrerté'. É um propósito firme do duo Passos Coelho - Paulo Portas.



sexta-feira, 22 de julho de 2011

A CGD assaltada pelo governo

O aumento do número de gestores da CGD é uma verdadeira afronta aos cidadãos em geral. Vítimas de medidas de dura austeridade - imposto extraordinário, violenta subida dos preços de transportes e mais o que adiante se verá -, os portugueses são também alvo de injuriosas decisões do governo do PSD-CDS.
Decorridas horas após o anúncio, por Passos Coelho, de que seriam diminuídos 15% dos cargos dos dirigentes públicos, eis que o PSD, em conivência com o CDS certamente, tomou de assalto a CGD para dilatar para 11 o número de administradores do banco público. 'Old ou young', cada 'boy' é exactamente o amigo ou companheiro laranja ou alaranjado cujo recrutamento, há dias, havia sido negado pelo próprio primeiro-ministro. Justamente por ser 'boy', argumentava.
Mentira após mentira, e de forma despudorada, lá se vai garantindo um distinto emprego ao sinuoso Nogueira Leite e, vergonha das vergonhas, acomodando em 'alto tacho' Faria de Oliveira; homem abençoado pelo cavaquismo e cuja vida activa e muito bem paga não é afectada pela idade. Entrou na CGD, via HPP, após a extinção do IPE que o remunerou generosamente. E agora foi promovido a 'chairman'.
Como disse neste 'post', BdP e CGD são dois asilos emblemáticos do regime e os asilados de tão luxuosos albergues formam um numeroso exército. A auferir, em instituições de carácter público, de condições salariais e oportunidades de carreira, com frequência assentes no compadrio.
Em suma, a torto e a direito, chamava-se mentiroso a Sócrates. Porém, Passos Coelho não lhe fica atrás. É mesmo um colossal aldrabão.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Asilos e asilados

O Banco de Portugal, além de asilo luxuoso, é rampa de lançamento para carreiras de crescente sucesso. Os casos são em  número tal que, diria, tendem matematicamente para o infinito. Pode-se adiantar exemplos: uns são nomeados ministros, outros transformam-se em banqueiros, outros partem para elevados cargos no estrangeiro, do FMI ao BCE, e há mesmo quem chegue ao Palácio de Belém.
Em circunstâncias habituais, transitar de vice-governador do BdP para a presidência da CGD é, pois, um fenómeno natural. É mera mudança de asilo. Também é absolutamente natural asilar no banco público quem serviu o PS de Guterres e depois perorou intensamente o Coelho. Continua a ser normal que o até aqui presidente da CGD passe a manter-se asilado nesse albergue como 'chairman', depois de exercer uma presidência muito gratificante e, lembre-se, precedida da extinção do IPE que o indemnizou com generosidade.
Todavia, para certas criaturazinhas, o fundamental é que o brutal aumento dos transportes a depauperar depenados bolsos é medida que favorece a mobilidade das famílias e das empresas. Se vivessemos numa sociedade justa, de crimes e castigos, também seria normal decretar que um indivíduo destes andasse a "penantes" até provar o rigor científico de tão sábia teoria. O homem morreria de pé e sempre a andar. Eu, porém, sou contra a pena de morte e, além do mais, a sorte protege os idiotas.   

Afinal a renegociação da dívida é possível!

Ontem, no debate sobre o projecto do PCP favorável à renegociação da dívida, o imberbe e simultaneamente barbudo deputado João Almeida, cujo trajecto de dirigente desportivo é marca de personalidade pouco recomendável, viu destruídos os frágeis e falaciosos argumentos utilizados para combater o citado projecto. Dissertou erroneamente sobre a Grécia, usou Cuba em estilo de propaganda, como argumentos da impossibilidade de Portugal renegociar a dívida externa. Tal como a Grécia e a Irlanda, ou outro país da zona euro, presumo.
O discurso do inexperto deputado nem mereceria a mínima atenção, se o partido a que pertence, CDS, não integrasse o actual governo e não tivesse a obrigação efectiva de defender os interesses do País. Como outros, a sua postura é redutora: tomar como dogma o memorando da troika, de que os "centristas", com PS e PSD, foram signatários.
Os resultados da cimeira de hoje em Bruxelas, divulgados pela imprensa nacional e internacional, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui, demonstram que afinal a renegociação da dívida é possível, admitindo-se até a possibilidade de incumprimento parcial da Grécia. E o que ficar estabelecido para a Grécia, acentue-se, é aplicável a Portugal, à Irlanda ou a qualquer outro Estado-Membro da zona Euro - o Chipre já emitiu sinais de alarme para ajuda.
Na cimeira da zona euro de hoje, lembre-se, foi decidida a prorrogação do prazo de reembolso de empréstimos pelo FEEF de 7 para 15 anos, à taxa de 3,5% em vez dos 5,6% iniciais. Trata-se de uma autêntica reestruturação da dívida, concretizando objectivos da renegociação propostos pelo PCP.
O titubeante primeiro-ministro também não sai ileso desta contenda, atendendo a que,   olímpica e gratuitamente, afirmava com volátil convicção que o seu governo rejeitava a renegociação. 
A distância entre o que dizem antes e o que sucede depois é, por si só, inequívoca prova de falta de mérito e capacidade dos políticos que nos governam e têm governado. Sigamos em frente, porque Merkel e Sarkozy são quem manda. Os outros são arraia-miúda.
(Obs.: Não sou militante e nem sequer votante do PCP, mas sinto-me incapaz de  acomodação à falácia e á incompetência de políticos que fazem impender sobre as nossas vidas as dificuldades que sabemos; pensando que sabem e ordenam para além do que conhecem e podem) 
   

O doce eixo franco-alemão


Eis uma magnífica representação da 'doçura do eixo franco-alemão'. O que esta imagem sugere? Paixão, amor ardente, deslumbrado afecto? Se calhar um pouco de tudo isto ou algo de diferente, de bastante diferente. O par encontrou-se em Berlim para chegar a uma posição comum sobre o resgate da dívida grega e as medidas eficazes (?) para o problema das dívidas soberanas e de sustentabilidade do euro. O que será?
Doce na imagem, este diabólico dueto sob a capa da prepotência (dela) e da cretinice (dele) poderá estar a comprometer a continuidade da UE, o que transcende a zona euro e afectará com gravidade a vida dos povos da velha Europa.
Do próprio Barroso já chegam apelos lancinantes; mas também na imprensa internacional, o 'Le Monde' por exemplo, existem reptos para que Merkel e Sarkozy estejam à altura na cimeira que se iniciará esta manhã.
Oxalá estejam, mas não faço prognósticos. Como no futebol, resultados só no fim dos jogos!


quarta-feira, 20 de julho de 2011

A promoção do desemprego

O governo, ao que se diz sob férreo controlo de Pedro Passos Coelho, pretende exceder as já severas medidas da 'troika' em matéria de legislação laboral. O Conselho de Ministros aprovou hoje a regra dos 20 dias por cada ano de antiguidade e o limite de 12 retribuições médias mensais ou 240 salários mínimos; estas medidas aplicam-se apenas a novos contratos...por enquanto, como adianta o Jornal "i". 
Recorde-se que, no ponto 4.4, o memorando de compromissos, firmado entre PS, PSD e CDS e o trio FMI, BCE e CE, estabelecia que as alterações às condições de indemnizações por cessação do contrato de trabalho, no caso de novos contratos. A confirmar-se a futura extensão da legislação a contratos antigos, o desfecho será certamente uma explosão incontrolada do desemprego.
O aparentemente discreto ministro da Economia, o Álvaro, quer convencer-nos de que a facilidade de despedir gera emprego e riqueza. Quando o resultado é logicamente o inverso, pelo que se sabe de países onde a falsa mobilidade dos trabalhadores foi instaurada sob tal forma. Ainda para mais em tempos de uma crise tão aguda e desfavorável ao investimento, público ou privado, e ao crescimento económico.
Mas o neoliberalismo, há que reconhecer, a despeito do 'crime da crise', tem uma capacidade de se regenerar através do mantra do liberalismo; isto mesmo, de forma excelente, é dito por Maria João Marques em 'O Insurgente'.



terça-feira, 19 de julho de 2011

Crise da dívida

Itália e Espanha em plena tormenta

19 julho 2011
"A Bolsa no ponto mais baixo, o medo está de regresso", escreve o La Stampa, um dia depois da "segunda-feira negra" nas Bolsas europeias. Foi em Milão que a queda foi mais forte – 3% –, apesar de as cotações terem recuperado um pouco na manhã de terça-feira. Este diário de Turim considera que as medidas de austeridade votadas em 15 de julho pelo Parlamento italiano foram insuficientes para travar a especulação sustentada pela "ideia de que o Governo italiano, enfraquecido, não tem condições para responder de forma eficaz aos acontecimentos e de que a instabilidade vai durar muito tempo".
Mas a Itália não é o único país em dificuldades. "Os mercados fustigam a Espanha e obrigam-na a pagar juros ruinosos", lamenta o El Mundo. Nesta "segunda-feira negra", o prémio de risco, ou seja, a diferença de rendimento entre as obrigações alemãs – as mais seguras – e as dos outros países, atingiu os 372 pontos, para a Espanha, em comparação com os 330 pontos, para a Itália. E o país é agora forçado a pagar juros de 6,32%, para obter financiamentos, o que torna ainda mais complicada a retoma económica.
Esta semana, "a pior para a dívida desde o nascimento do euro", será um momento chave para a Espanha, com a realização da cimeira extraordinária da zona euro, no dia 22 de julho, considera o El Mundo. Este diário conservador insiste na necessidade de convocar eleições gerais para o fim do verão, porque o Governo de José Luís Rodríguez Zapatero "já não pode tomar decisões de peso". Na véspera, tinha sido o diário de centro-esquerda El País a pedir ao primeiro-ministro que desistisse.

Fonte: PRESSEUROP

Cavaco ou Cavoco?

O Presidente da República, no exercício efectivo do que designa por magistratura activa, não desperdiça oportunidades para dizer o óbvio, afirmar o vazio ou contraditar o que   declarou antes ou realizou quando primeiro-ministro.
É desnecessário despender muitas energias para encontrar exemplos de tais divagações. Hoje, no Instituto Gulbenkian da Ciência, Cavaco soltou mais uma vacuidade: "Espero que tenham soado as campainhas de alerta", na UE claro. A prepotente Merkel, mesmo ignorando as afirmações de Cavaco, já deu a resposta de quem manda na Europa: "Problemas do euro não se resolvem numa cimeira". 
Merkel esvaziou, assim, a esperança de Cavaco que, por força disso, pode dizer-se ter sido transformado em Cavoco.
Bem mais lúcido é o deputado europeu do PSD Paulo Rangel, ao considerar" "Não se pense que um cenário de guerra na Europa está afastado"; sustentando também que "os acontecimentos precipitaram-se e a União Europeia pode estar mesmo à beira do abismo".
Como em ocasiões anteriores registadas na História, para mal da Europa, os ventos hostis têm como epicentro a Alemanha. A ligeireza do perdão da guerra, as fortíssimas ajudas concedidas pelo PRE e a incapacidade de os deter no absurdo e egocêntrico prazer de destruição do espaço europeu conjugam-se para fazer da maioria dos alemães aquilo que Merkel representa, ou até para além desse domínio. Sem negligenciar a cumplicidade dos franceses que, desde a criação da CECA no pós-guerra, são o par ideal do nefasto eixo franco-germânico a que os países ditos periféricos, como Portugal e Grécia, têm de obedecer.  

A laranja intrujona

Há meses, o presidente da Câmara Municipal de Faro, Macário Correia, era um empenhado activista contra as portagens na Via do Infante. Era mesmo o porta-voz da Plataforma da Luta Contra as Portagens na Via do Infante.
Entretanto, agora Macário, defende que é inevitável a introdução das portagens na Via do Infante. O que fez Macário mudar de opinião sobre tão polémica matéria?  A resposta é simples: o PSD venceu as eleições e, no governo, decide cobrar as referidas portagens. Há que obedecer à máquina. 
Na campanha eleitoral, o PSD pela voz dos seus dirigentes máximos, com o eco do senil Catroga, criticou duramente aquilo que designa por "gorduras" do Estado. Agora, no poder, o partido 'laranja' vai criar duas estruturas adicionais que incorporam 103 elementos, para escrutinar as contas públicas e a execução do programa da 'troika'. Isto, quando existe uma Comissão específica na AR, presidida pelo socialista Vieira da Silva, e entidades institucionais como o Tribunal de Contas, Banco de Portugal e INE. Sem esquecer que, ao nível das finanças públicas e SEE, a Inspecção-Geral de Finanças é já uma estrutura com alargadas funções de supervisão.
Os dois casos, Macário e 103 novos empregos, para 'boys' eventualmente, constituem exemplos da intrujice e da falsidade das promessas do PSD e de Passos Coelho em particular. Que não se cansa de usar o jargão da 'dívida colossal' para diariamente anunciar o corte de maiores fatias do rendimento, ao abrigo do imposto extraordinário. Não se coibindo de considerar beneficiário de rendimentos altos quem ganhe 1.300 euros, mesmo que respeite a um indivíduo casado, com a mulher desempregada e dois filhos ainda aquém da adolescência.
O CDS, como parceiro da coligação, também não está isento do embuste. Mas, a responsabilidade principal é da laranja mecânica. Mecânica? Intrujona, sim laranja intrujona! 

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Helmut Kohl! Um alemão excepcional

Eis que, de súbito, a imprensa noticia:


Se esta acusação fosse de autoria de um político português de esquerda, e por maioria de razão de um dos muitos cidadãos anónimos que a subscrevem, não faltariam Crespos, Duques, Medinas e abstrusos académicos, como este, a vergastar quem tivesse a ousadia de pensar e falar igual ao ex-chanceler alemão. 
Sucede, porém, que se trata de Helmur Kohl, um político de envergadura física e mental, católico e democrata-cristão, a criticar a nefasta figurinha, Merkel, que ele próprio - confessa - projectou para a ribalta da vida política. 
"Tem 81 anos, está velho e não sabe o que diz" é o que em surdina provavelmente alegariam os célebres comentadores do momento; incluindo, o tal jesuíta fanático que, no lodaçal da crise do sistema financeiro, não se inibe de defender poderes e instituições que condenam milhões de seres humanos, a viver em condições de incerteza e penúria.
Nos tempos correntes, Helmut Kohl é, de facto, um alemão que se distingue na defesa do projecto europeu. Lamentando-se que, na Alemanha actual e de muita gente com carácteres de identidade velhos de, pelo menos, 70 anos, constitua uma das excepções.   

domingo, 17 de julho de 2011

DN: falsa notícia



A página 'on line' do Diário de Notícias inclui um texto a propósito do sabonete 'Feno de Portugal'. Com ilustração de fotografia, refere que Quirino Aires, um psicólogo, usa de forma regular o sabonete 'Feno de Portugal' há 20 anos.
Como diz o 'DN', a marca 'Feno de Portugal' foi alienada à Colgate-Palmolive em 1990. Mas o grupo Unisol-Uniclar-Sonadel, em conjunto com muitas outras de marcas de produtos de higiene pessoal que eram fabricados em Portugal e exportados para o estrangeiro, foram igualmente vendidos àquela multinacional.
Pese embora o louvável exercício de nostalgia do DN, há que dizer que a notícia está marcada por uma falsa informação: a produção do sabonete 'Feno de Portugal', deslocalizada para o estrangeiro pela Colgate-Palmolive numa primeira fase, foi pura e simplesmente descontinuada. De forma que o sabonete que o psicólogo diz consumir ou é produto de contrafacção ou é vendido algures de fabrico antigo, com a probabilidade de conter uma alta percentagem de ranço.
Aproveita-se ainda para dizer que a alienação da Unisol, Uniclar e Sonadel foi decidida Cavaco Silva e Mira Amaral, sendo concretizada pelo notável António Carrapatoso. Ao que parece, um dos autores do programa do actual governo.
Entretanto, é de lembrar a continuada lamúria do Presidente Cavaco Silva em defesa da produção de 'bens transaccionáveis', quando ele próprio, como primeiro-ministro, degolou a torto e a direito o tecido produtivo português, para se dedicar às auto-estradas e outras obras de fachada.

sábado, 16 de julho de 2011

Acima a Maria da Fé, abaixo o Bairrão!

Somos um País de História e estórias. Agora é a época das estórias do Bairrão que, de súbito, se transformou das figuras mais mediáticas da imprensa portuguesa. Do 'Expresso' ao 'Público', jornais 'chamados de referência' dedicam sem parcimónia peças sem fim a Bairrão. Ainda não percebi as qualidades excepcionais do homenzinho ex-TVI que, pelos vistos, são bastante importantes para a vida dos portugueses - comparado com ele, o 'imposto extraordinário' e outras ofensivas aos nossos depenados bolsos são trocos.
Estou de fim-de-semana e, como ídolo, selecionei com gosto e sarcasmo Maria da Fé:

Ou não fosse uma mulher do Porto, que aos 18 anos veio para Lisboa, a capital mundial do fado - com uma sucursal intelectual em Coimbra. É um gozo especial, dirigido aos meus amigos do 'Poorto! Para agravar a vossa sofrida rivalidade, veio para a capital e canta o fado no tom lisboeta, alfacinha puro, que vos irrita. Como me enerva a mim, os políticos que envieis para o Parlamento e Governo, para cantar as loas que sabemos.
Portanto, cá vai um grito: 'Acima a Maria da Fé, abaixo o Bairrão!' - Oh 'Pintinho' acalma-te, muda a fé do Villas-Boas, grande 'portista!', para o Vítor Pereira, outro 'portista' de berço. Com fé, muita fé, e algo mais, vais ver que consegues.

Metade, quase 50% e 45,6%?

1. Título do Jornal "i":


2. Corpo da mesma notícia, 1.º parágrafo:

Quase 50% dos portugueses considera “boa ideia” a aplicação do imposto extraordinário, em sede de IRS.(sic)

3. Início do 2.º parágrafo da notícia em causa:

Numa sondagem publicada pelo Jornal de Negócios, 45,6% dos inquiridos revelou concordar com a mais recente medida de austeridade anunciada pelo governo...(sic)

Entre o título e o 2.º parágrafo, evaporaram-se 4,4% de inquiridos,  ou seja, uma quebra de relativa de 8,8%, uma vez ponderada pela tal metade (50%) do título.
Não me parece tratar-se de erro matemático; mas claramente de jogos de palavras e de especulação de percentagens a deturpar a significância quantitativa da informação. Seria preferível que seguissem o exemplo do Jornal de Negócios com o título:


Sempre é uma forma mais discreta de propaganda a favor do governo. Porque, em boa verdade, o título rigoroso deveria ser: MAIORIA DOS PORTUGUESES DISCORDA DO IMPOSTO EXTRAORDINÁRIO.
Quando chegar o Natal é que a D. Maria, o Sr. José e o Sr. António da loja vão dizer de verdade o que pensam do 'imposto extraordinário'. Gozemos o Verão. Ainda há muito tempo até chegar às coisas tristes do governo que temos.




sexta-feira, 15 de julho de 2011

Viva Cristas, Viva o MAMAOT




A campanha 'air cool', inspirada no exemplo japonês, é um dos projectos mais ambiciosos do MAMAOT e do governo, para a economia energética.

Eles, de calça e casaco, ficam dispensados da gravata. A elas, segundo notícias de divulgação restrita, foi recomendado que, como roupa íntima, usem apenas 'fio dental'.

Esta iniciativa faz parte de um programa profundo e rigidamente sequencial, da autoria do gabinete da ministra Assunção Cristas. Os focos de acção terão, pois, de seguir impreterivelmente a seguinte ordem:

1.º Ordenamento do ambiente "in door"
2.º Ordenamento do Território
3.º Ambiente
4.º Mar
5.º Agricultura

A sequência referida, repete-se, é de cumprimento imperativo, uma vez que corresponde ao esforço orientado de estudos e preparação da Senhora Ministra, cujo âmbito vai da lâmpada economizadora de 5 watts ao grelo de couve; passando, claro, pelos 'green' de golfe, o caneiro de Alcântara e as tecas de chicharro. 

No final da legislatura, serão lançadas as primeiras espécies do choco com espinha e do boi mirandês sem chifres. Para o projecto, está prevista a  cativação de uns tantos milhões, do fundos europeus do programa 'mar molhado e terra seca'.






Os EUA não são a Grécia nem Portugal

Obama diz que os EUA não são a Grécia nem Portugal. Parto do princípio que o 'Público' teve acesso a fonte fidedigna. Todavia, o jornal "i" informa coisa diferente sobre as declarações de Obama: "Os EUA não estão nem na situação da Grécia nem de Portugal" - a alteração do 'sujeito' faz toda a diferença, visto que EUA e situação são entidades diferentes.
O presidente norte-americano anda em luta com os republicanos para fixar (debt ceiling) o débito público do País. Os seus adversários políticos, em troca, pretendem que esse débito aumente, se as taxas de imposto sobre os rendimentos dos mais ricos forem reduzidas. Isto é mais do que contraproducente.
As exigências dos republicanos, seguindo as opiniões incontestáveis do Prémio Nobel, Joseph Stiglitz, vai ao encontro do princípio de 'Of the 1%, by the 1%, for the 1%'.
No fundo, lá como cá, os neoliberais, com que o actual governo se identifica na perfeição, constituem os adversários que trabalhadores, pensionistas, desempregados e demais desprotegidos da sociedade devem combater. Para derrotar o Coelho, o Gaspar e outros do género, não enquanto pessoas, mas, contra o tipo de políticos que infectam as nossas vidas, é preciso lutar. É esta também a minha luta. 

O par ideal para a RTP

Fonte: 'Público'

O enlevo da imagem é prova cumplicidade entre Murdoch e Recekah, como o 'Público' salienta. Mostraram sempre grande cumplicidade, insiste o jornal. Para mim, e muitos, muitos mais, seobretudo os lesados, mostraram, sim, que houve falta de escrúpulos de tal ordem que o jornal 'The News of the World', tablóide centenário, foi forçado a encerrar.
Todavia, a expressão embevecida dos dois leva-me a imaginar que se trataria do par ideal para gerir a RTP, que o governo pretende privatizar - Paulo Portas, afinal, renegou na defesa da TV pública. É sempre um homem de palavra.
O par Rebekah e Murdoch, à frente da RTP, teria, de facto, todas as condições para ser um sucesso. Ainda por cima, neste pequeno País que há anos vem vivendo de telenovelas, escândalos e romances infindiváveis de justiça que (não) contam a história de gente socialmente famosa; seja, da política, do futebol, ou das vidinhas que foram construindo. Haveria tanta coisa para Rebekah e Murdoch espiar e escutar, que não existe par que os supere como potenciais investidores na televisão pública. É minha convicção.
Francisco Balsemão e Miguel Paes do Amaral é que não ficariam lá muito satisfeitos. Eles gostam muito da 'teoria dos mercados', mas desde que não sejam atingidos nos interesses que lhes servem.  

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Gaspar, o inteligente colossal

As explicações de Vítor Gaspar sobre a 'dívida colossal' constituem uma das mais patéticas declamações políticas, que escutei até hoje.
Vítor Gaspar, presumida figura de suprema inteligência, sem se dar conta, considera-nos gente estúpida, dada a esmiuçada, morfológicamente complexa e atabalhoada justificação que apresentou para a expressão 'dívida colossal', atribuída a Pedro Passos Coelho.
Diz o Gaspar que entre as palavras 'dívida' e 'colossal' houve outras de permeio, que desconheçe. Desfaz, assim, a relação entre o sujeito 'dívida' e o 'colossal' que, afinal, não é nome predicativo do sujeito, porque está a qualificar o trabalho - "trabalho colossal", referiu.  
Para que também conste sob a forma escrita,  transcreve-se exactamente o que ele disse:

"A expressão dívida colossal, de acordo com a informação  que eu julgo ter sobre o assunto, deve-se a uma - como hei-de dizer? - omissão de palavras que foram usadas entre desvio e colossal; isto é, foi usada a expressão desvio, foram ditas algumas palavras após as quais apareceu colossal, fazendo a eliminação das palavras intermédias fica 'desvio colossal'. A minha interpretação da frase entre desvio e colossal é que foram detectados desvios e que a consolidação orçamental nos vai exigir um trabalho colossal. Esta versão é da minha pura responsabilidade. Eu não tenho nenhuma informação autêntica sobre as palavras que foram proferidas entre desvio e colossal. Mas esta versão agrada-me particularmente.

Tudo isto, de facto, é uma trapalhada, e muito surpreendente; porque, ao estilo do 'sprinter' Bolt, Vítor Gaspar vinha rotulado de Bruxelas com o recorde de 180 segundos na comunicação feita aos colegas europeus da política do governo.
Internamente, além de ratificar as medidas de austeridade esperadas, o ministro das finanças é de uma pobreza extrema na comunicação política; revela, além do mais, que nem sequer preparou o discurso com o primeiro-ministro; com quem, portanto, divide as culpas.
Para um inteligente colossal é estranho, muito estranho.Coitado deste país, destinado a ser laboratório de ensaio para políticos desta natureza. Depois de Sócrates, só nos faltava gente desta.
Sou forçado a concordar com Mário Soares: este não é momento para a revisão constitucional,  ainda por cima com este PSD neoliberal e tecnocrático, defensor de uma sociedade de números a que os humanos se subordinam. 

Mandaram-no vir, agora aturem-no

O anterior mentia, o actual também mente. No final, Sócrates ou Passos Coelho usam, apenas, estilos diferentes; todavia, as pesadas consequências do logro, de um ou de outro, são idênticas para os portugueses.
O líder laranja, em reunião do PSD, terá afirmado que haverá um 'desvio colossal' nas contas públicas. No Boletim de Verão, o Banco de Portugal contraria a versão de PPC, declarando tratar-se de um desvio de apenas 0,4% do PIB, ou seja, os 800 milhões de euros que o governo projecta arrecadar com o imposto extraordinário. "Se o desvio for de facto de 0,4 pontos do PIB não me parece colossal", afirmou o economista social-democrata, Miguel Beleza, ex-governador do banco central.
Toda esta novela do 'desvio colossal' centra-se no eixo da estratégia da comunicação governativa que, passo a passo, vem apregoando ao País medidas anti-sociais, a que, obviamente, os detentores de fortunas são poupados.
A coberto do 'desvio colossal', o governo actual vai fazer os portugueses pagar mais por serviços públicos de saúde, mais IVA, dimuindo os rendimentos de trabalhadores, pensionistas e de outros a viver sem emprego.
Em poucos segundos, esta tarde, o ministro Gaspar explicará ao País quanto nos vai subtrair do subsídio de Natal - o tal "disparate" de PPC na campanha eleitoral. O que Gaspar e o seu chefe não conseguem fazer-nos perceber é a razão por que os rendimentos de capital ficam isentos. Não é irracionalidade. É injustiça social deliberada.
Mandaram-no vir, agora aturem-no. Paguem e não ... - isso mesmo!


A xenofobia endémica dos alemães

Portugueses e gregos, diz o economista da Ifo, Hans-Werner Sinn, vivem à custa dos alemães. A xenofobia germânica é fenómeno que se tem repetido ao longo da História, com os resultados para a humanidade que se conhecem. Sinn sabe bem do esforço feito pelos EUA e outros países através Plano de Recuperação Europeia, ou Plano Marshall, na recontrução da Europa pós-1945 e, em particular, na ajuda à Alemanha Ocidental - parte de um país nazista derrotado e de que a Grécia foi, de facto, um alvo concreto pelo assassínio de muitas dezenas de milhares de cidadãos, pela fome e miséra e até de uma guerra civil; tudo, repita-se, fruto da agressão nazi a cujos efeitos finais valeu o empenhamento da Grã-Bretanha pela mão de Churchill.
Portugueses e gregos, que representam menos de 22 milhões de cidadãos na Europa, apenas cerca de 4,3% da população da UE, é que constituem a ameaça às condições de vida dos alemães, no activo ou na aposentação. Que descaramento!
Os submarinos e fragatas, outro equipamento militar, os negócios da Siemens e de outras multinacionais germânicas, estimulados por financiamentos de bancos alemães, colocam essas e outras negociatas no centro das causas da crise a que portugueses e gregos estão subordinados. 
Olhando a História, a acusação do citado economista respeita a tradição do posicionamento militar,  financeiro e económico que a Alemanha sempre perseguiu. Um exemplo:

"É consensual que durante a Segunda Guerra Mundial o Reichsbank alemão depositou na Suíça ouro equivalente a 1.638.000.000 de francos suíços", Tony Judt em Pós-Guerra, pg. 112.

No fundo, o Sr. Sinn e outros seus compatriotas pertencem ao único género de indignados reconhecidos por gentinha desta; acampam no Hotel Paris ou no Casino do Mónaco, não se misturando com a populaça da  Praça Syntagma, em Atenas, ou mesmo da Praça del Sol, em Madrid.
  


  

terça-feira, 12 de julho de 2011

Conversa da treta

Van Rampuy e Passos Coelho  
Estas duas sumidades encontraram-se hoje em Lisboa para debater Portugal, a Europa e o Euro. Ignora-se o que falaram. Contudo, pelos relatos da imprensa, imagino ter sido uma 'conversa da treta'.


"As medidas da UE são positivas, mas podem não ser suficientes"

Que medidas adicionais pensa o Senhor Primeiro-Ministro tomar? Sabendo da sua veia neoliberal e anti-social, não é descabido desconfiar da obstinação por políticas tendentes a aumentar os 18% de taxa de pobreza da população portuguesa, a qual,  sem ajuda das prestações sociais do Estado, atingiria 43%.
O Boletim de Verão de 2011 do Banco de Portugal prevê dois anos consecutivos de recessão, quebra de 2,0% do PIB em 2011, admitindo-se que o número de desempregados até 2012 seja incrementado de 100.000 cidadãos. Com o zelo de ser mais austero do que o programa da 'troika', as anunciadas alterações à 'legislação laboral' e, eventualmente, novas medidas de austeridade fiscal, o actual PM colocará centenas de milhares de cidadãos e o País a viver ainda pior.


"Não é só cortar o défice, é preciso fazer crescer a economia"

Juro que estas palavras me confundiram. Imaginei que fossem de Jerónimo de Sousa ou de Francisco Louçã. Mas não, foram mesmo da autoria do Presidente do Conselho Europeu; sim do Conselho Europeu, órgão cimeiro da UE que, através da Comissão e do BCE, integra com o FMI a troika da famigerada "ajuda", cuja órbita está traçada justamente à volta da redução do défice, da reabilitação da banca e do abandono da economia à má sorte dos aumentos do IVA, da recessão, das falências e do desemprego em catadupa. Como é que este Sr.Rampuy combina a política recessiva do défice com crescimento económico?  

Enfim, a conversa entre o Van e o Coelho trouxe-me à memória "as conversas da treta" de Pedro Gomes e do malogrado António Feio; porém, essas divertiam. 

(Nota: Para terminar este dia europeu do desencanto, mais um, soube-se ao final da tarde que a  Moody's atribuíu a classificação de 'lixo' à Irlanda. O descalabro europeu não pára. A lixeira está pronta a receber outros resíduos fedorentos).





segunda-feira, 11 de julho de 2011

Onde está a doida?


A Bolsa de Lisboa afundou. Madrid e Milão também não tiveram melhor sorte. Entretanto, o ministro Vítor Gaspar vai explicar ao País como será cobrado o imposto extraordinário. O problema de milhares de cidadãos é saber como vão pagar, mas que se desenrasquem. Isso é problema deles e o governo, patrioticamente, tem de preocupar-se apenas com a cobrança; e já basta!
Outro fenómeno intrigante é o ampliar da crise financeira. Agora, no descalabro ameaçador, já não adianta considerar a Grécia a única "a doida". Andam por aí à solta muitos 'mercados e investidores' loucos e sem vergonha. À semelhança da doida da canção, estão a dar o p.... mestre nisto tudo, mas aqueles que deveriam contrariá-los são incapazes de imobilizar tais psicopatas e isolá-los em auspícios.
Seremos nós a ir para o manicómio? É o mais certo, porque o p.... é uma bomba de alta flatulência e paralisante.

Coelho caçador

'Coelho à caçador' é dos meus pratos preferidos. Frugal como o programa do Governo. Um petisco que acaba de ter na política um ícone de designação parecida: "Coelho caçador".
Com efeito, aqui é anunciado que Pedro Passos Coelho vai à caça dos 'boys' de Sócrates. Trata-se de um golpe de ilusionismo para distrair da imoralidade e da falta de ética que, igualmente, o PSD cometeu. Muitas vezes, em estreita conivência com o PS. Mira Amaral, o actual Faria de Oliveira - indemnizado pelo IPE e colocado na presidência da CGD - são apenas dois exemplos da falta de vergonha laranja. Já nem falo em Mexia e dos seus apaniguados da EDP.
O número exagerado de Secretários de Estado (36), hoje denunciado por Ângelo Correia - imagine-se -, também pode ser indício de que, resultado da aplicação do factor 36 e de outros factores menos conhecidos, o produto final, como é tradicional, corresponderá a um número elevado de 'boys'. Ainda por cima em competição com o CDS, que pela voz de Sílvia Ramos da distrital de Beja, logo após eleições, incitava os companheiros centristas a correr aos lugares.
Temos, assim, uma espécie de Macartismo à portuguesa, de cada vez que funciona a tal alternância entre PS e PSD ou PSD-CDS. Provavelmente será resultado de um dos primeiros mandamentos das cartilhas das 'jotas'. Curiosamente, tanto para Coelho, como para Sócrates ou Portas, até poderia ser a cartilha da JSD. 
Esta dança de candeiras, velha de 30 anos, tem beneficiado os 'boys' e lesado o País. Vamos lá ver o que é que o DR na Série II vai publicar de nomeações. Talvez o caçador morra pela boca da colatra.  

domingo, 10 de julho de 2011

Prof. Marcelo, o Provedor do Presidente

Sou um telespectador muito contido quanto a programas e tempos diante da TV. Os comentários do Prof. Marcelo Rebelo de Sousa (MRS), há tempos na RTP1 e agora na TVI, é dos programas proscritos. A falta de isenção, aparte de um desfilar de palpites falsos e previsões falhadas, é o motivo central da proscrição.
Todavia, mesmo não vendo, nem sempre escapo às tiradas de MRS, uma vez que o homem é sempre notícia.
Assim, acabo de ler aqui que o Professor lamentou que os partidos não tenham poupado Cavaco na reacção à Moody's. De tanto proselitismo na defesa do seus ídolo, MRS nem se dá conta de que  está a demonstrar algumas incoerências:
1. Que o PR não tenha autonomia em relação aos partidos e não possa manifestar-se sobre as agências de rating, para além das opiniões vinculativas de cada partido;
2. Que é negativo que o PR tenha criticado agora a Moody's, quando há alguns meses nada disse, na altura em que Cavaco enalteceu as agências de rating e incentivou o governo português a fazer o seu trabalho sem as contestar.
Por último, o Prof. Marcelo fingiu não perceber - lá perceber, percebe ele e bem - que o Presidente Cavaco Silva tem uma cumplicidade com o actual governo de tal à ordem, que até os Ministros têm reuniões de rotina em Belém, além do encontro semanal com o Primeiro-Ministro - os Ministros da Economia e o dos Negócios Estrangeiros foram dos últimos a ser ouvidos.
Portanto, o PR, Passos Coelho ou Paulo Portas, qualquer deles, além de legitimidade, está empenhado na defesa da coligação PSD-CDS. E o Professor sabe-o perfeitamente. Daí que o lamento televisivo não deixe de ser dos normais 'faits divers' do comentador Marcelo.

Da minudência, ao interesse nacional

Portugal foi, é e será sempre um país salpicado por figuras e casos menores que, de súbito, sobem ao estrelato. Agora é este Bairrão que, de volta e meia, salta para as primeiras páginas dos jornais. DN e 'Público', a pretexto do nada, trazem o famigerado Bairrão à baila. Qual será o interesse para a vida dos portugueses? Nenhum! Para ele, talvez.  O homem está desempregado e quer trabalho. Com a ajuda de uns amigos, o melhor é não sair de cena. O interesse é, pois, só dele. 
Portanto, estas minudências apenas têm relevância para os próprios. O interesse nacional, e isso é que é de ter em conta, está prisioneiro de um programa draconiano da troika, submetido à governação neoliberal de Passos Coelho, e ainda por cima castigado pela agência de rating Moody's - para já esta, mas os veredictos da Fitch e da Standard & Poors também se aproximam.
Neste cenário complexo, do desemprego à pobreza e mesmo miséria generalizadas, da falta de capacidade e meios para relançar a economia, neste cenário complexo, dizíamos, não há Bairrão que apague as dificuldades actuais e futuras das nossas vidas.
Na edição deste fim-de-semana, o 'Expresso', página 4, publica uma elucidativa entrevista de Paul de Grauwe, Professor na Universidade de Lovaina e conselheiro de Durão Barroso: "Governo não deve tomar mais medidas", diz ele e, das diversas justificações utilizadas, destaco esta: "Se matarmos o crescimento, como os programas de austeridade estão a fazer, não saímos daqui...Tenho defendido a emissão de eurobonds".
Com efeito, a propósito do adiar da solução das obrigações europeias (eurobonds), torna-se demasiado claro que os riscos de bancarrota portuguesa são, a cada passo, mais elevados, mas também é óbvio que, quanto à ajuda de banqueiros, bem poderemos esperar sentados... a admirar bairros, bairrinhos e bairrões ou outros trapalhões que se projectam na pista deste esfarrapado circo.

sábado, 9 de julho de 2011

O mundo financeiro, a direita e a esquerda

O título Moddy's. A direita indigna-se, a esquerda diz "bem-vindos a bordo" é capcioso. Concedo o benefício da dúvida quanto à intencionalidade. Porém, para um leitor atento, é efectivamente ardiloso.
Basta ler a notícia, automaticamente se infere que foi a direita a mudar de opinião e não a esquerda. No texto, entre outras, é reproduzida a seguinte afirmação  do Presidente da República: 

Não vale a pena recriminar as agências de rating. O que nós devemos fazer é o nosso trabalho para depender cada vez menos das necessidades de financiamento externo.

Agora, segundo o 'Público', diz:

Não há a mínima justificação para que uma agência de notação altere a apreciação que faz da República Portuguesa, quando há informações de que Portugal está a cumprir tudo o que consta do memorando assinado.
A direita portuguesa, em que se integra o PR, está em processo de perturbada metamorfose. Caminha, pois, no sentido das opiniões manifestadas pela esquerda. E nem é necessário focarmo-nos em sectores mais à esquerda do espectro político. Referimos a clareza da proposta do Prof. João Ferreira Amaral, próximo do PS, de defesa da nossa saída ordenada do euro. Como, de resto, advogou a não entrada e os acontecimentos estão a demonstrar de forma categórica que JFA teve razão antes de tempo.
O sistema financeiro internacional está dominado e domesticado justamente por um conjunto de países, EUA, Reino Unido e Alemanha à cabeça, o primeiro dos quais com fortíssimas responsabilidades pela crise. Perpetuam esse domínio, também através de desmesurado poder sobre as instituições financeiras mundiais. Veja-se, a título de exemplo, este gráfico da insuspeita "The Economist":


A falta de racionalidade e de equidade nos votos atribuídos a cada grupo de países é evidenciada pelos dados do quadro. A linha vermelha, vertical, corresponde ao valor 1,00 de fronteira e divide as zonas económicas em 'sub-representadas e sobre representadas'. Para se ter uma ideia concreta do que isto significa, citamos a comparação feita pela "The Economist' entre a Zona Euro e os BRICS:
'Consideradas no conjunto, as economias dos países da Zona Euro totalizam abaixo de 24% da economia global. As economias do Brasil, Rússia, India, China e África do Sul, juntas, produzem cerca de 21% do PIB mundial. Mas os países Europeus detêm 32% dos votos no FMI, enquanto que os BRICS têm apenas 11%.