domingo, 31 de julho de 2011

Há endividados e...endividados




Como os indivíduos e as famílias, os países endividados não são tratados com critérios de equidade. Ser um grande ou um pequeno país devedor, fortemente devedor, não é exactamente a mesma coisa. Obama já o havia advertido "Nós (EUA) não somos a Grécia nem Portugal".
A despeito de remanescentes divergências, segundo se lê aqui, aqui e aqui ou mesmo no prestigiado New York Times, Democratas e Republicanos estão muito próximos do acordo com vista a permitir aos EUA o aumento do limite da dívida em 3 biliões (milhões de milhões). Quem anunciou a alta probabilidade de fechar o acordo foi o líder o senador e líder republicano, Mitch McConnell. Pelo que se percebe, Obama teve de deixar cair a sua proposta de aumento de impostos (receita) e de encargos da segurança social (despesa).
O consulado de Clinton, do ponto de vista das finanças públicas, deixou um avultado superavit que George W. Bush consumiu avidamente: descida de impostos para os mais ricos e as duas guerras, Iraque e Afeganistão, geradoras de lucrativos negócios empresariais. Dick Cheney, Donald Rumsfeld (grande amigo de Paulo Portas) e outros empresários de meios de beligerância que o digam. De financeiramente excedentário, em pouco tempo o saldo norte-americano passou a registar défices em crescendo. Obama teve também quota-parte de responsabilidade ao reforçar o investimento no conflito afegão.
A crise de 2008, em resultado da falta de regulação e da subsequente especulação do sistema financeiro dos EUA, afectaram a economia norte-americana e contagiaram outras regiões do mundo, em particular a Europa e a África de que se fala apenas episodicamente.
No rescaldo de tudo isto, e também fruto de políticas decalcadas no modelo financeiro dos EUA, as bolhas imobiliárias e outras eclodiram em massa e as dívidas soberanas dispararam. As agências de rating, com o prémio de diamante do 'triple A' a Lehman Brothers, AIG, Goldman Sachs e a produtos tóxicos, subitamente assestaram baterias na direcção de pequenos espaços económicos: Grécia e Portugal passaram a lixo, devido às dimensões das dívidas e ao fraco crescimento. Os juros disparam e a espiral da dívida acelerou.

Mas, no final das contas, o absurdo reside no facto de, ao contrário dos pequenos países, os EUA para se safarem da descida do 'triple A', que já não merecem, têm de assegurar o acordo de aumento da dívida, entre democratas e republicanos até 2 de Agosto. Isto é, desde que aumentem substancialmente uma dívida já elevadíssima asseguram a classificação máxima; ainda que continuem sob uma crise financeira e económica, cujos dados não iludem - a dívida do Estado subiu de 35,7% do PIB em 2007 para 61,3% em 2010 e, naturalmente, vai continuar a expandir-se -. Há a ter em conta também o incremento do serviço de dívida (juros).
Neste mundo que foi, é e será sempre desigual, até em termos de critérios de dívidas governamentais, é oportuno dizer que "há endividados e...endividados e, como diria George Orewell, há uns mais iguais que outros". É o 'triunfo dos porcos'.
Entretanto, como anuncia o DN, por cá o super-inteligente Gaspar vai cortar as despesas do Estado em 5,7%, fasquia que iguala o recorde de Salazar em 1950. Quem será atingido por esta medida comparável à política de finanças salazarista? Os trabalhadores e as famílias mais desfavorecidas, sobretudo através da extinção de direitos sociais e da recessão económica.



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