terça-feira, 28 de novembro de 2023

Votar no obscuro

 

Na qualidade de democrata, reajo com natural insatisfação às sondagens que prevêm um resultado a favor do Chega de dois dígitos (16%, na última divulgação), nas eleições legislativas de 10 de Março de 2024.

Também me indigno que as liberdades da democracia sirvam para catapultar carreiras pessoais em cargos e sociedades do Estado ou privadas, em determinados casos com base em pronunciadas suspeitas dos crimes de corrupção e prevaricação.

Em termos de interesse público e de respeito pela ordem judicial, os processos com factos e provas devidos são objecto de investigação pelo MP e de procedimentos subsequentes em sede de magistratura judicial.  São-me alheios ao nível de acção no que respeita à subjectividade e objectividade dos casos em apreço pela justiça – apenas, como muitos, posso lamentar o habitual e vicioso desrespeito pelas regras do segredo de justiça. Uma parte dos beneficiários das fugas é a Comunicação Social. A outra, é apenas presumida, posso mas não a quero invocar.

O que é evidente é que as democracias de hoje produzem, com extraordinária facilidade, fenómenos de sucesso de populistas, como Bolsonaro, Trump, Meloni, Milei e, entre nós, André Ventura.

Quem, em substância, forma a base de apoio ao Chega em Portugal? São os mais jovens, induzidos pela parafernália de manipulações nas redes sociais? São os mais idosos, em sofrimento e os baixos rendimentos e condições de vida com que se confrontam? Mais especificamente são os polícias sindicalistas do grupo “zero” em conjunto com outras bolhas profissionais e políticas? Resposta: provavelmente são toda essa gente. Têm razão? Têm! O pior é que o Chega não chega para lhes garantir um mínimo que seja de satisfação pelas justas reivindicações que subscrevem.

Se toda essa gente, e devo excluir aqueles que fazem parte do aparelho Chega manietado por André Ventura, se toda essa gente, dizia, observar e reflectir seriamente o que significa o populismo e os resultados da chegada deste ao poder, concluirá que hospitais, escolas, justiça e a economia no seu todo ainda funcionará pior ou, mesmo em certos casos, não funcionará de todo.

Todavia, para retirar o Chega das hipóteses de exercício do poder, não basta que os cidadãos referidos no parágrafo anterior modifiquem a atitude política. Os outros partidos, independentemente da área ideológica em que se integrem, devem promover a democracia da transparência, da seriedade e do respeito pelos direitos de cidadania de um povo.

Será o meu objectivo utópico? Talvez, mas é preciso acreditar.