Na qualidade de democrata, reajo
com natural insatisfação às sondagens que prevêm um resultado a favor do Chega de
dois dígitos (16%, na última divulgação), nas eleições legislativas de 10 de
Março de 2024.
Também me indigno que as
liberdades da democracia sirvam para catapultar carreiras pessoais em cargos e
sociedades do Estado ou privadas, em determinados casos com base em pronunciadas
suspeitas dos crimes de corrupção e prevaricação.
Em termos de interesse público e
de respeito pela ordem judicial, os processos com factos e provas devidos são objecto
de investigação pelo MP e de procedimentos subsequentes em sede de magistratura judicial.
São-me alheios ao nível de acção no que respeita à
subjectividade e objectividade dos casos em apreço pela justiça – apenas, como
muitos, posso lamentar o habitual e vicioso desrespeito pelas regras do segredo
de justiça. Uma parte dos beneficiários das fugas é a Comunicação Social. A
outra, é apenas presumida, posso mas não a quero invocar.
O que é evidente é que as
democracias de hoje produzem, com extraordinária facilidade, fenómenos de
sucesso de populistas, como Bolsonaro, Trump, Meloni, Milei e, entre nós,
André Ventura.
Quem, em substância, forma a base
de apoio ao Chega em Portugal? São os mais jovens, induzidos pela parafernália de
manipulações nas redes sociais? São os mais idosos, em sofrimento e os baixos
rendimentos e condições de vida com que se confrontam? Mais especificamente são
os polícias sindicalistas do grupo “zero” em conjunto com outras bolhas
profissionais e políticas? Resposta: provavelmente são toda essa gente. Têm
razão? Têm! O pior é que o Chega não chega para lhes garantir um mínimo que seja
de satisfação pelas justas reivindicações que subscrevem.
Se toda essa gente, e devo
excluir aqueles que fazem parte do aparelho Chega manietado por André Ventura,
se toda essa gente, dizia, observar e reflectir seriamente o que significa o
populismo e os resultados da chegada deste ao poder, concluirá que hospitais, escolas,
justiça e a economia no seu todo ainda funcionará pior ou, mesmo em certos
casos, não funcionará de todo.
Todavia, para retirar o Chega das
hipóteses de exercício do poder, não basta que os cidadãos referidos no
parágrafo anterior modifiquem a atitude política. Os outros partidos,
independentemente da área ideológica em que se integrem, devem promover a
democracia da transparência, da seriedade e do respeito pelos direitos de
cidadania de um povo.
Será o meu objectivo utópico?
Talvez, mas é preciso acreditar.