quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Paulo Macedo: o genial arrasador do SNS

Bastas vezes, e algumas vozes causam-me perplexidade, tenho ouvido rasgados elogios a Paulo Macedo, como o mais inteligente dos ministros do infesto governo de Coelho e Portas, afectuosa e indecentemente apoiado por Cavaco Silva - o presidente de meia-dúzia de portugueses, conforme as sondagens o demonstram.
Há outras, mas a defesa de Macedo expressa por Clara Ferreira Alves é, para mim, surpreendente. Sei tratar-se de mulher culta, às vezes inclinada à esquerda, mas pergunto: que percebe Clara Ferreira Alves de organização de sistemas e unidades de saúde, para se pronunciar com tal convicção como advogada do desempenho de Macedo como ministro dessa área? Muito pouco, para não dizer nada. Os seus poderes de ‘tudóloga’ valem-lhe zero ou menos, nesta e em outras matérias. Pode juntar-se ao José Manuel Fernandes, seu ex-colega no ‘Expresso’.
Comprometer-se com a avaliação da personagem, no caso Paulo Macedo, é um erro de subjectividade, mil vezes repetido. O que está em causa não é avaliar Macedo, no que respeita ao comportamento pessoal de ministro, mas sim julgar o desempenho em relação ao SNS que, a meu ver, quer reduzir a pó.
Mais do que palavras, as ocorrências no Amadora-Sintra e no São José, em Lisboa, são paradigmáticas do programa em curso para destruir o SNS – no hospital lisboeta, sem qualquer cuidado médico ou assistência mínima ao fim de 6 horas, faleceu um cidadão de 83 anos de idade. Isto a acumular às 11,15, 16 horas de espera nos ‘serviços de emergência’ do Fernando da Fonseca (Amadora-Sintra) é, em época presumidamente festiva e mais propícia à intensidade noticiosa de dramas pelos media, o corolário lógico de como o SNS está a ser desmoronado, com falta de médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde.
O percurso do SNS e dos problemas gerados por Macedo e suas equipas dariam para um extenso e nefasto relato – por que razão a vacina infantil “Prevenar”, com um custo muito próximo de 60 euros, não beneficia de qualquer comparticipação do Estado? E diz o governo que pretende combater a queda da natalidade em Portugal – 83.000 nascidos em 2013 contra 100.000 em 2012.
Contudo, melhor do que palavras, e fui profissional de gestão de unidade de saúde, é suficiente e eloquente transcrever a seguinte frase da médica anestesista, Ana Gonçalves, de 54 anos, emigrada em França:
Ler a notícia na íntegra e saber que, em 2014, houve 269 clínicos que pediram à OM os certificados que os habilitassem a emigrar é uma das fotografias que ilustram o álbum de imagens de que Paulo Macedo e o governo estão claramente apostados em desmoronar o SNS.

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Novembro: produção industrial em queda

Taxas e taxinhas constituíram o tema com que Pires de Lima eternizou uma das mais ridículas intervenções de um governante na Assembleia da República.
 Dir-lhe-ia, se o encontrasse, que existem taxas e taxinhas para todos os gostos e leituras. Algumas, estou certo, o ministro da economia detesta e, ao aperceber-se delas, assobia para o lado. É o caso, certamente, dos números da ‘Produção Industrial’, referidos, por exemplo, no ‘Jornal de Negócios’, relativamente a Novembro-2014.
Todos os valores componentes dessa estatística revelam uma quebra global de – 0,2%, com referência a Outubro, que já havia sido mês de estagnação. Nada melhor que citar a fonte, o INE, e transcrever o texto inicial que, em PDF, é publicado hoje pelo Instituto citado:
Índice de Produção Industrial (*) registou variação homóloga negativa
O índice de produção industrial apresentou uma variação homóloga de -2,0%, em Novembro (variação nula em Outubro). A secção das Indústrias Transformadoras registou uma variação homóloga de -3,1% (-0,5% no mês anterior).
Variação homóloga
O índice de produção industrial situou-se, em Novembro, em 93,7, o que corresponde a uma variação homóloga de -2,0%, 2,0 pontos percentuais (p.p.) inferior à observada em Outubro.
Todos os agrupamentos apresentaram taxas de variação inferiores às observadas em Outubro, destacando-se os contributos negativos dos agrupamentos de Bens de Consumo e de Bens Intermédios (-2,0 p.p. e -0,9 p.p., respectivamente) que superaram os contributos positivos dos agrupamentos de Bens de Investimento e de Energia (0,1 p.p. e 0,8 p.p., pela mesma ordem). As variações homólogas dos dois primeiros agrupamentos fixaram-se em -6,2% e -2,5% (-4,1% e -1,8% em Outubro) e as dos dois últimos situaram-se em 0,7% e 4,9% (4,1% e 8,5 no mês anterior).”
Para um governo que, com especial destaque para o PM, Coelho, e subordinados ministros, incluindo o Pires, iniciou uma luta eleitoral a um ano de distância, começou um longo período de proeminência de auto-elogios do desempenho económico do País; para esse governo, dizia, é um doloroso desmentido que a Economia Real do País lhe oferece.
A austeridade, cuja continuidade o governo actual defende com intenso empenho, não é, de facto, o caminho para Portugal e para a Europa. Olhe- se e reflicta-se com redobrada a atenção sobre o que se passa na Grécia (Syriza), Espanha (Podemos), à esquerda, ou em França, a Frente Nacional, à direita, para se perceber que a Área do Euro, se não está ameaçada de morte, iniciou há tempo suficiente um estado de morbidez cujo desfecho se desconhece: morte ou reabilitação? Esta última, creio convictamente, jamais terá probabilidades de ser alcançada com as políticas e ilusórias promessas do nefasto Juncker (o herói do ‘Luxleaks).
Do ‘suspense’ deste filme dramático, veremos que solução haverá para 78 milhões de desempregados da UE e de múltiplas desgraças que atingem os povos do Velho Continente.
(Adenda: tomei a liberdade de alterar o texto do INE nos termos em que este usou o AO de 1990.)


quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

A vida e o tempo

Dos afazeres ou da falta deles; dos subsídios azerados, ou quase, a elevados ganhos anti-éticos; dos navios à superfície aos submersos submarinos; de insonso ao salgado; da fome, sentida e sofrida, ao obsceno arroto boçal do político ou do empresário do vinho a martelo; da solidariedade à indiferença perante quem se limita a padecer; do ouro ao latão; do brilhante à chispa do seixo abandonado; da árvore moribunda à erva daninha que teima em crescer. De uma ponta a outra destes e de outros limites, assisto desgostoso aos dias da vida que vou desfolhando. Folhas de livro satânico.
Ouço, num ruído imperceptível sem ser mudo, os aviões que partem de Lisboa para Caimão, destino de milhões sugados ao mexilhão atacado de Neoplasia Hemo cítica, doença fatal dos bivalves condenados a morrer aos poucos; em múltiplas e contínuas dores e sofrimentos. Olho para Belém e imagino, lá dentro, o protector dessa gente imunda, o homem a quem o outro chamou palhaço. Eu não o chamaria assim. É uma ofensa para quem, em criança e agora, teve e tem a inteligência de me fazer sorrir, às vezes gargalhar. Se circulo pelo IC 19, vejo Massamá ao largo. Existem ali provavelmente muitos, mas apenas conheço um; sinto e sofro, como centenas de milhares, a trapaça dos seus conhecidos passos.
Sei bem que, neste perverso mundo, onde, entre muitos exemplos universais possíveis, a Coca-Cola se apropria da água de localidades indianas – alguém morrerá à sede – e paga 1,37 euro(s) por um dia de trabalho de doze horas aos escravos que emprega (?) na era da globalização, sei bem, sim, que no meio dos explorados nacionais e dos mártires do criminoso mundo global, sou certamente um privilegiado.
Porém, asseguro também ser um indignado, um revoltado, de alma angustiada. Capaz de… - omito a intenção, não sei se por cobardia ou se para evitar uma dureza que mesmo os que de mim gostam reprovariam. Assevero que não temo os D’sDT, o SIS e todos esses bandalhos, alguns declarados judicialmente corruptos. Um bandalho é um ser desprezível. Resta.me trata-lo como pulha. É uma cínica e contraditória suavidade, sei bem.
A vida, do cidadão honesto e comum, de fotografia melhor ou pior focada, é capturada neste cenário. É também a minha vida e as razões de falta de tempo para me dedicar ao meu blogue. Ao contrário do sabichão Marcelo e do videirinho Marques Mendes, não tenho tempo de antena.
À imagem do samba brasileiro, diria: “sou pai único, tenho minha casa para olhar”. E porque assim é, raramente tenho tempo para escrever e publicar ‘postes’, para me libertar deste estado de alma.
Todavia, nesta altura, e embora agnóstico, não poderia deixar de escrever estas palavrinhas para dizer que, deglutidas as broas de milho e passado o Natal, 2015 se for igual ao nefasto 2014, que agora termina, será um golpe de sorte. É uma raspadinha que não compro.
Saudações aos que me lêem!