Dos afazeres ou da falta deles; dos subsídios azerados, ou quase, a
elevados ganhos anti-éticos; dos navios à superfície aos submersos submarinos;
de insonso ao salgado; da fome, sentida e sofrida, ao obsceno arroto boçal
do político ou do empresário do vinho a martelo; da solidariedade à indiferença
perante quem se limita a padecer; do ouro ao latão; do brilhante à chispa do
seixo abandonado; da árvore moribunda à erva daninha que teima em crescer. De
uma ponta a outra destes e de outros limites, assisto desgostoso aos dias da
vida que vou desfolhando. Folhas de livro satânico.
Ouço, num ruído imperceptível sem ser mudo, os aviões que partem de Lisboa
para Caimão, destino de milhões sugados ao mexilhão atacado de Neoplasia Hemo
cítica, doença fatal dos bivalves condenados a morrer aos poucos; em múltiplas
e contínuas dores e sofrimentos. Olho para Belém e imagino, lá dentro, o
protector dessa gente imunda, o homem a quem o outro chamou palhaço. Eu não o chamaria
assim. É uma ofensa para quem, em criança e agora, teve e tem a inteligência de
me fazer sorrir, às vezes gargalhar. Se circulo pelo IC 19, vejo Massamá ao
largo. Existem ali provavelmente muitos, mas apenas conheço um; sinto e sofro,
como centenas de milhares, a trapaça dos seus conhecidos passos.
Sei bem que, neste perverso mundo, onde, entre muitos exemplos universais
possíveis, a Coca-Cola se apropria da água de localidades indianas – alguém
morrerá à sede – e paga 1,37 euro(s) por um dia de trabalho de doze horas aos
escravos que emprega (?) na era da globalização, sei bem, sim, que no meio dos
explorados nacionais e dos mártires do criminoso mundo global, sou certamente
um privilegiado.
Porém, asseguro também ser um indignado, um revoltado, de alma
angustiada. Capaz de… - omito a intenção, não sei se por cobardia ou se para
evitar uma dureza que mesmo os que de mim gostam reprovariam. Assevero que não
temo os D’sDT, o SIS e todos esses bandalhos, alguns declarados judicialmente
corruptos. Um bandalho é um ser desprezível. Resta.me trata-lo como pulha. É
uma cínica e contraditória suavidade, sei bem.
A vida, do cidadão honesto e comum, de fotografia melhor ou pior
focada, é capturada neste cenário. É também a minha vida e as razões de falta
de tempo para me dedicar ao meu blogue. Ao contrário do sabichão Marcelo e do
videirinho Marques Mendes, não tenho tempo de antena.
À imagem do samba brasileiro, diria: “sou pai único, tenho minha casa para olhar”. E porque assim é,
raramente tenho tempo para escrever e publicar ‘postes’, para me libertar deste
estado de alma.
Todavia, nesta altura, e embora agnóstico, não poderia deixar de escrever
estas palavrinhas para dizer que, deglutidas as broas de milho e passado o
Natal, 2015 se for igual ao nefasto 2014, que agora termina, será um golpe de
sorte. É uma raspadinha que não compro.
Saudações aos que me lêem!
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