Bastas vezes, e algumas vozes
causam-me perplexidade, tenho ouvido rasgados elogios a Paulo Macedo, como o
mais inteligente dos ministros do infesto governo de Coelho e Portas, afectuosa
e indecentemente apoiado por Cavaco Silva - o presidente de meia-dúzia de
portugueses, conforme as sondagens o demonstram.
Há outras, mas a defesa de Macedo
expressa por Clara Ferreira Alves é, para mim, surpreendente. Sei tratar-se de
mulher culta, às vezes inclinada à esquerda, mas pergunto: que percebe Clara
Ferreira Alves de organização de sistemas e unidades de saúde, para se
pronunciar com tal convicção como advogada do desempenho de Macedo como
ministro dessa área? Muito pouco, para não dizer nada. Os seus poderes de ‘tudóloga’ valem-lhe zero ou menos,
nesta e em outras matérias. Pode juntar-se ao José Manuel Fernandes, seu
ex-colega no ‘Expresso’.
Comprometer-se com a avaliação da
personagem, no caso Paulo Macedo, é um erro de subjectividade, mil vezes
repetido. O que está em causa não é avaliar Macedo, no que respeita ao
comportamento pessoal de ministro, mas sim julgar o desempenho em relação ao
SNS que, a meu ver, quer reduzir a pó.
Mais do que palavras, as ocorrências no Amadora-Sintra e no São José, em Lisboa, são
paradigmáticas do programa em curso para destruir o SNS – no hospital lisboeta,
sem qualquer cuidado médico ou assistência mínima ao fim de 6 horas, faleceu um
cidadão de 83 anos de idade. Isto a acumular às 11,15, 16 horas de espera nos ‘serviços
de emergência’ do Fernando da Fonseca (Amadora-Sintra) é, em época presumidamente
festiva e mais propícia à intensidade noticiosa de dramas pelos media, o corolário
lógico de como o SNS está a ser desmoronado, com falta de médicos, enfermeiros e
outros profissionais de saúde.
O percurso do SNS e dos problemas
gerados por Macedo e suas equipas dariam para um extenso e nefasto relato – por
que razão a vacina infantil “Prevenar”, com um custo muito próximo de 60 euros,
não beneficia de qualquer comparticipação do Estado? E diz o governo que
pretende combater a queda da natalidade em Portugal – 83.000 nascidos em 2013
contra 100.000 em 2012.
Contudo, melhor do que palavras,
e fui profissional de gestão de unidade de saúde, é suficiente e eloquente
transcrever a seguinte frase da médica anestesista, Ana Gonçalves, de 54 anos,
emigrada em França:
Ler a notícia na íntegra e saber
que, em 2014, houve 269 clínicos que pediram à OM os certificados que os
habilitassem a emigrar é uma das fotografias que ilustram o álbum de imagens de que Paulo
Macedo e o governo estão claramente apostados em desmoronar o SNS.
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