Sempre que a actividade humana,
em vários domínios, foi interceptada e executada por equipamentos e métodos inovadores
de produção, nomeadamente máquinas industriais, verificaram-se conflitos entre
artesãos e operários, por um lado, e os interesses de empresários expostos a
desafios de concorrência e produtividade do mercado, por outro.
A Revolução Industrial do século
XVIII, de que Inglaterra foi pioneira, demonstrou a luta entre a
manufactura e a maquinofactura, acentuada por baixos salários, jornadas de
trabalho longas e condições insalubres das fábricas, fenómenos que atingiam os
trabalhadores. Em contrapartida, os donos das fábricas, graças a inovações como
a máquina a vapor e o tear mecânico, extraiam consideráveis
benefícios.
Os atritos entre homens e
máquinas estenderam-se no tempo. Charles Chaplin com o filme classificado como uma das suas obras-primas, 'Tempos Modernos', evidencia esses atritos
e suas consequências sociais, nos 1930, tempos da histórica Grande Depressão. O
posicionamento crítico de Chaplin em relação ao capitalismo, levaria, no
macartismo, à sua expulsão dos EUA, assim como à confiscação de todos os seus
bens pelo Estado Norte-Americano.
As modificações causadas pelas
revoluções na indústria nunca foram pacíficas do ponto de vista económico
social, como sinaliza o filme 'Tempos Modernos'.
Na actualidade, a ciência, mais
electrónica, tecnológica e sustentada em novos saberes da concepção e uso de
algoritmos, está a gerar a Inteligência Artificial como poderoso veículo de transformação
e inovação em todas áreas do conhecimento e convivência humanos. Hoje, no
jornal ‘Público’, em artigo de Karla Pequenino, é revelado que “Algoritmos podem aprender a pensar mais como humanos”.
A autora refere-se à
meta-aprendizagem por composição (Meta-Learning for Compositionality, em
inglês), salientando nomeadamente que:
"Há novas
estratégias para pôr sistemas de inteligência artificial (IA) a pensar mais
como seres humanos, ao desenvolver algoritmos capazes de conectar diferentes
aprendizagens. No fundo, a usar algo que aprendem num contexto noutro
completamente diferente. É algo que os seres humanos fazem instintivamente…"
Todos estes avanços, se forem desenvolvidos
a favor das condições da vida humana e de virtuoso progresso científico em
diversas áreas, todos estes avanços – dizia – são dignos de ser saudados.
Todavia, é de sublinhar que, mesmo do lado de cientistas há algumas reservas,
porque a Inteligência Artificial também é potencial portadora de riscos que podem
ir desde questões imediatas, como a violação da privacidade, o preconceito
algorítmico, a deslocação de postos de trabalho e as vulnerabilidades de
segurança, até preocupações a longo prazo, como a possibilidade de criar uma IA
que ultrapasse a inteligência humana e se torne incontrolável.
O futuro, a que certamente não
assistirei, dará efectiva resposta ao desafio de benefícios e riscos para a
espécie humana e a natureza, lançado pela IA.