quinta-feira, 12 de outubro de 2023

O OE 2024, rendimentos, economia e números da OCDE

OCDE


A propósito da discussão do OE 2024 e da distribuição de rendimentos previstos no mesmo, tenho lido, ouvido e visto definições de classe média. Alguns comentadores e críticos remetem para a definição da "Wikipédia", a qual, no meu parecer, é uma versão abstracta, sociológica e pretensamente universal.  A definição da "Wikipédia" é exactamente a seguinte:

"Classe média é uma classe social presente no capitalismo moderno que se convencionou a tratar como possuidora de um poder aquisitivo e de um padrão de vida e de consumo razoáveis, de forma a não apenas suprir suas necessidades de sobrevivência como também a permitir-se formas variadas de lazer e cultura..."

A adopção deste conceito aos países do capitalismo moderno torna-se em teoria demasiado abstracta e até imprecisa, visto que engloba uma variedade de países distintos e de estados de desenvolvimento económico diferenciados, com consequentes resultados ao nível da desigualdade de rendimentos e perfis de classe social de cada país.

O mais recomendado e seguro para avaliar e classificar classes sociais e rendimentos destas é utilizar a tabela de 'salários médios da OCDE', esta, sim, define com precisão o segmento de classe média de 38 países e compara-os. 

Na tabela em causa, ver aqui, verificar-se-á que, entre o tal conjunto de 38 países da OCDE, praticamente equivalente à Turquia, Portugal tem o 8.º salário médio mais baixo da OCDE em 2022 (30006,68 euros anuais). No primeiro lugar está a Islândia, com 74704,62 euros, em segundo o Luxemburgo com 73611,40 euros. Estes números traduzem, entre outros factos, que o salário médio português corresponde a 40,17% do país líder, Islândia.

A situação impõe que políticos e jornalistas deixem de reflectir sobre o conceito de classe média, por se tratar de um tema irrelevante para a vida dos portugueses, quando debatido sem a análise e avaliação dos números. O que os dados do quadro da OCDE revelam é que, do ponto de vista económico e social, somos dos países mais atrasados no seio da citada organização.

Descontada a nefasta ditadura salazarista, com a lei do condicionamento industrial e a rejeição do Plano Marshall, 50 anos de democracia não foram aproveitados para um desenvolvimento económico-social substantivo e sustentado. As responsabilidades do atraso propagam-se por todos os governos da democracia, desde a era de Cavaco Silva a António Costa. Os números não enganam.



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