sábado, 17 de junho de 2023

Da insurreição aos cruéis negócios do futebol (3)

 

Dissecados os aspectos da insurreição, vamos então à crueldade de rendimentos de jogadores, empresários e negócios associados ao futebol. Segundo a Forbes, em 2021, Ronaldo, Messi e Neymar encaixaram o total de 300,3 milhões de euros. Na actualidade, estão a encaixar mais de 400 milhões. Classificar isto de exagero é pouco. Sinteticamente, digamos que é abjecto.

Aos antes citados rendimentos de três jogadores – apenas 3, sublinhe-se – juntam-se os milhões arrecadados por empresários, com o multimilionário Jorge Mendes na liderança do negócio de transferências. A tudo isto, ainda podemos a acrescentar as movimentações de grande parte do dinheiro para ‘offshores’, em operações que, em certos casos, envolvem fraude fiscal. Citem-se, a título de exemplo, os processos em que Ronaldo, Messi e outros estiveram envolvidos perante as autoridades tributárias de Espanha.

Como os ‘cachets’, transferências e fugas ao fisco já não fossem bastante suficientes em número e repugnantes na qualidade, surge agora o negócio de tráfego humano da BSports, em Riba d’Ave, próximo de Vil Nova de Famalicão.

Do monstruoso negócio são vítimas menores e adultos com menos de 20 anos, de diversas nacionalidades. Incluem-se colombianos, venezuelanos, salvadorenhos e rapazes de outros países africanos e asiáticos. O presidente Marcelo, no seu estilo habitual de palavra fácil e pé ligeiro, já deu a ordem: “investigue-se!”.

O SEF está, aliás já estava a investigar. O negócio em causa, sob promessa aos jovens de virem a tornar-se vedetas de um grande clube, funcionava nas instalações de uma denominada academia BSports. As regras de funcionamento eram equivalentes à de um presídio. Dos menores, até os passaportes eram confiscados. Todos tinham permissões muito limitadas para sair e reentrar na academia, a comida era péssima e, em cada quarto, dormiam 14 jovens dispersos por beliches. Os pais ou tutores pagavam, pelo menos, 600 euros mensais, durante 11 meses. Os resultados foram nulos para os jovens.

Na sequência das investigações, e na qualidade de responsável pela academia, foi constituído arguido um tal Mário Costa que, entretanto, se demitiu do cargo de presidente da AG da Liga. Este Costa e os restantes são gente que, de todo, não presta. Confesso que me surpreendeu que um dos principais embaixadores da BSports fosse o ex-deputado do PSD, Miguel Frasquilho. Fiquei estupefacto com o argumento adiantado por Frasquilho: "desconhecia por completo o que era e quais as actividades da academia BSports". Mais um para a minha lista negra.

Todo este mundo do futebol de valores monetários exuberantes, burlas fiscais e negócios espúrios me causa revolta. Ainda maior, quando sei pela FAO que só na Somália existem 6,7 milhões habitantes a viver em insegurança alimentar, e destes aproximadamente 300 mil morrerão mesmo de fome.

Que mundo perverso em que vivemos!

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