No prosseguimento da saga a que
me propus, continuo a desenvolver reflexões e abordagens, na vertente da
insurreição no futebol. Sei que existem mais casos dramáticos, tais como a
famigerada BSports Academy, em Riba d’Ave. Porém, por opção, deixo esse tema
para texto posterior.
Ao analisar o fenómeno de
insurreição no futebol, deve distinguir-se em dois capítulos:
1. A insurreição de carácter político, de jogadores que envergaram o equipamento da selecção nacional, à semelhança do que hoje sucede com vedetas de futebol, como Ronaldo, Ruben Dias, Bernardino Silva e muitos outros espalhados por Portugal e outras paragens.
2. A insurreição por meios violentos tão comum das claques, os quais, no nosso país e em outros, causaram assinalável número de mortos.
Vamos à insurreição política dos
jogadores em 1938, no Portugal-Espanha promovido por Salazar e Franco. Há que
destacar que se tratou mesmo de uma manifestação de contestação política dirigida
ao regime. De facto, Artur Quarema, Mariano Amaro e Simões expressaram a
revolta em nome do povo português e a forma como o fizeram não envolveu a
mínima violência. Para se ter uma ideia da consciência das referidas figuras,
deve ter-se em linha de conta de que Mariano Amaro era operário no Alfeite, Simões
conduzia camiões-cisterna da Shell e efectivamente de Artur Quaresma, cigano,
sei que era do Barreiro, começou no Barreirense e transferiu-se para o
Belenenses onde permaneceu 13 anos – de assinalar que a C. M. do Barreiro o
homenageou em 1992. Todos eles eram homem pacíficos, civilizados e dedicados à
luta pela democracia.
No que respeita ao segundo tipo
de insurreição, está em desenvolvimento desde os anos 1980, com as claques
organizadas. Teve o desfecho mais trágico no Estádio do Heysel, na Bélgica,
jogo Liverpool-Juventude, tendo-se registado 39 mortos. De salientar que
infelizmente não foram os únicos mortos nos confrontos entre claques. Em
Portugal, também os houve e ainda por diversos países do mundo. Inclui-se a
própria Inglaterra, pátria do futebol, e países da América do Sul, com infeliz
destaque para a Argentina.
Em Portugal, a segurança no
futebol está longe de atingir os objectivos que as autoridades se propunham
alcançar. Os “exércitos” que, enquadrados pela polícia, se mobilizam com armas,
“very light’s” e posturas agressivas têm de ser eliminados. E não pode haver
condescendências, como a aquela que, no final da Taça de 2022/2023, se
verificou com um adepto no Estádio do Jamor que estava proibido de frequentar
estádios de futebol durante 3 anos.
É tudo o que me apetece dizer
hoje sobre futebol. E, de insurreição violenta, tudo o que referi é triste e
existe, como diz a letra do fado.
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