quinta-feira, 15 de junho de 2023

Da insurreição aos cruéis negócios do futebol (2)

 

No prosseguimento da saga a que me propus, continuo a desenvolver reflexões e abordagens, na vertente da insurreição no futebol. Sei que existem mais casos dramáticos, tais como a famigerada BSports Academy, em Riba d’Ave. Porém, por opção, deixo esse tema para texto posterior.

Ao analisar o fenómeno de insurreição no futebol, deve distinguir-se em dois capítulos:

      1.  A insurreição de carácter político, de jogadores que envergaram o equipamento da selecção nacional, à semelhança do que hoje sucede com vedetas de futebol, como Ronaldo, Ruben Dias, Bernardino Silva e muitos outros espalhados por Portugal e outras paragens. 

     2.  A insurreição por meios violentos tão comum das claques, os quais, no nosso país e em outros, causaram assinalável número de mortos.

Vamos à insurreição política dos jogadores em 1938, no Portugal-Espanha promovido por Salazar e Franco. Há que destacar que se tratou mesmo de uma manifestação de contestação política dirigida ao regime. De facto, Artur Quarema, Mariano Amaro e Simões expressaram a revolta em nome do povo português e a forma como o fizeram não envolveu a mínima violência. Para se ter uma ideia da consciência das referidas figuras, deve ter-se em linha de conta de que Mariano Amaro era operário no Alfeite, Simões conduzia camiões-cisterna da Shell e efectivamente de Artur Quaresma, cigano, sei que era do Barreiro, começou no Barreirense e transferiu-se para o Belenenses onde permaneceu 13 anos – de assinalar que a C. M. do Barreiro o homenageou em 1992. Todos eles eram homem pacíficos, civilizados e dedicados à luta pela democracia.

No que respeita ao segundo tipo de insurreição, está em desenvolvimento desde os anos 1980, com as claques organizadas. Teve o desfecho mais trágico no Estádio do Heysel, na Bélgica, jogo Liverpool-Juventude, tendo-se registado 39 mortos. De salientar que infelizmente não foram os únicos mortos nos confrontos entre claques. Em Portugal, também os houve e ainda por diversos países do mundo. Inclui-se a própria Inglaterra, pátria do futebol, e países da América do Sul, com infeliz destaque para a Argentina.

Em Portugal, a segurança no futebol está longe de atingir os objectivos que as autoridades se propunham alcançar. Os “exércitos” que, enquadrados pela polícia, se mobilizam com armas, “very light’s” e posturas agressivas têm de ser eliminados. E não pode haver condescendências, como a aquela que, no final da Taça de 2022/2023, se verificou com um adepto no Estádio do Jamor que estava proibido de frequentar estádios de futebol durante 3 anos.

É tudo o que me apetece dizer hoje sobre futebol. E, de insurreição violenta, tudo o que referi é triste e existe, como diz a letra do fado.

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