sábado, 7 de janeiro de 2017

Mário Soares partiu, fica a obra política

Maria de Jesus Barroso e Mário Soares
Um aperto de mão selou o meu primeiro encontro com Mário Soares. Foi na sede da CEUD na Rua dos Fanqueiros, em Lisboa, onde deixei um donativo no âmbito da angariação de fundos para a campanha eleitoral de 1969. Ele, sentado na sala, ergueu-se e veio ao meu encontro agradecer e cumprimentar-me. Eu era um jovem, naturalmente orgulhoso naquele momento.
Jamais esquecerei este episódio, ocorrido há cerca de 48 anos. Sem me ter filiado como militante do PS ou de qualquer outro partido político, aprendi a ser de esquerda, democrata e republicano com o meu avô paterno. Todavia, o Dr. Mário Soares foi o mestre que o substituiu.
Nos últimos anos, na carreira de persistente lutador pela Democracia e Liberdade, encontrei-o com frequência em manifestações e acções de luta. As últimas ocasiões ocorreram na Aula Magna da Universidade Clássica de Lisboa, na companhia de Helena Roseta, minha amiga, e na Avenida da República, em manifestação anti troika e, naquele local preciso, anti FMI.
A causa da Democracia Portuguesa tem em relação a este insigne Homem e Político uma enorme dívida.
Embora esperada, a notícia da morte de Mário Soares, que ouvi na SIC Notícias, entre as 15:30 h e as 16:00 h, inundou-me de tristeza. De súbito, dei comigo a meditar que ele foi o último a partir de uma geração de políticos devotos da causa democrática que a História de Portugal há-de gravar, no capítulo do percurso pós-25 de Abril.
Há tempos, sofri com a morte de Maria Barroso que também conheci pessoalmente. A sua irmã Fernanda, falecida há muito, foi minha camarada de trabalho na Covina.
O desaparecimento há ano e meio de Maria de Jesus Barroso e hoje de Mário Soares são acontecimentos que devem obrigar à reflexão os políticos actuais, quase todos saídos das ‘jotas’ e que acederam à política sem a barreira da ditadura feroz. Exige-se que passem a respeitar o legado de objectivos políticos de Democracia, de Liberdade e de Justiça Social que herdaram de um grupo de notáveis antifascistas de que o Homem falecido hoje era figura eminente.
Da obra de Mário Soares resulta, pois, o dever imperativo de servir com justiça e equidade os legítimos interesses e direitos das gerações de portugueses de hoje e do futuro. É impossível ignorá-la.
Obrigado póstumo ao Dr. Soares, por tudo quanto fez pela Democracia Portuguesa, e uma manifestação de solidariedade à família, em especial filhos e netos.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Editorial de ‘The New York Times’ de 02/01/2017 (Tradução)

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Por que as  grandes corporações empresariais estão a ajudar Donald Trump a mentir sobre empregos

O presidente eleito Donald Trump gostaria que todos acreditassem que sua eleição dinamizará a economia, forçando as empresas a criar milhares de empregos nos Estados Unidos. E empresas como Sprint parecem perfeitamente felizes em acompanhar esta ficção, porque sabem que podem lucrar consideravelmente por acomodar o Sr. Trump.
Na quarta-feira, o Sr. Trump afirmou que um alto executivo do Sprint lhe dissera que a empresa gostaria de aumentar 5.000 empregos "por causa do que está a suceder assim como o espírito e a esperança."Mas acontece que os postos de trabalho são parte de um compromisso anterior pela empresa-mãe do Sprint,  SoftBank, cujo chefe do executivo disse na ‘Trump Tower’ em Dezembro, que seriam investidos US $ 50 mil milhões e criar 50.000 empregos nos Estados Unidos. E mesmo essa promessa foi parte de um fundo de tecnologia de US $ 100 mil milhões que o SoftBank anunciou em Outubro, antes da eleição. Em suma, a declaração do Sr. Trump tornou-se ar quente, como o 'tweet' no qual ele agradeceu pessoalmente por um aumento do índice de confiança do consumidor no mês passado.
É fácil ver por que SoftBank e Sprint podem querer ajudar o Sr. Trump a beneficiar do crédito para a criação de postos de trabalho. O chefe executivo da SoftBank, Masayoshi Son, pretende da Divisão Antitrust do Departamento de Justiça e da Comissão Federal de Comunicações a permissão de uma fusão entre a Sprint e T-Mobile. Em 2014, reguladores, nomeados pelo Presidente Obama deixaram claro ao Sr. Son que essas entidades não aprovariam tal transacção porque a mesma diminuiria o número de empresas nacionais de telecomunicações sem fio para três, de quatro, reduzindo a concorrência numa indústria já concentrada. O Sr. Son vê uma nova abertura para o seu negócio no Sr. Trump, que se cercou de pessoas ladeadas por grandes empresas de telecomunicações em debates regulamentares e argumentaram contra a difícil aplicação da lei antitrust.
Este é o capitalismo de compadrio, com consequências potencialmente devastadoras. Se o Sr. Trump nomeia pessoas para a Divisão Antitrust e o F.C.C... que estão dispostos em flutuar na onda através da fusão Sprint/T-Mobile, ele vai fazer danos permanentes à economia que superam de longe qualquer benefício de 5.000 empregos; empregos que podem ter sido criados mesmo sem a fusão. Cidadãos e empresas irão encontrar os custos do serviço sem fio muito mais altos quando tiverem apenas Verizon, AT&T e T-Mobile/Sprint para escolher.
Além disso, Sprint e T-Mobile combinadas diminuiriam inevitavelmente milhares de empregos como executivos da mescla de redes das empresas, lojas, sistemas de facturação, departamentos de serviços ao cliente e assim por diante. Isso aconteceu uma e outra vez depois dos grandes negócios das operadoras de telecomunicação. Quando a AT&T adquiriu a BellSouth em 2006, executivos superiores disseram que esperavam cortar 10.000 empregos depois do negócio ter sido fechado em Dezembro do mesmo ano. Desde então AT&T também adquiriu a DirecTV. No final de Setembro, AT&T empregou 273.000 pessoas ao redor do mundo, muito abaixo de 309.000 em 2007.
Tornou-se claro que o Sr. Trump se distrai facilmente com objectos brilhantes, especialmente se estes reflectem o brilho à volta dele. Ele está mais interessado em gabar-se de pessoalmente ter mil empregos na Carrier, digamos, do que em detalhes de política que poderia fazer a diferença na vida de dezenas de milhões de trabalhadores. Não importa que a Carrier só esteja a manter cerca de 800 empregos e que o seu executivo-chefe tenha dito que a empresa iria livrar-se de alguns desses de qualquer modo através da automação. Isto deve preocupar grandemente os americanos, especialmente as pessoas que estão a contar com o Sr. Trump para reanimar a economia e ajudar a classe média.

(Traduzido por Carlos Fonseca em 02/01/17)