domingo, 24 de agosto de 2014

Dos tempos coloniais e da corrupção

É considerado natural e fruto do capitalismo contemporâneo. A Isabel dos Santos, ao ‘daddy’ José Eduardo dos Santos, a Kopelika, a António Mosquito,  a Álvaro Sobrinho e a  um role extenso de figuras corruptas do regime ´cleptocrático’ angolano, nós, cidadãos comuns portugueses, estamos condicionados para formular criticas.
Fundamentos de ordem diversa contribuem para essa limitação. Primeiro, da História da Humanidade jamais lograremos erodir actos de longo processo colonial, subjugando a interesses espúrios – manipulação religiosa, imperialista e cultural, quantas vezes exercida sob violência - os nativos das ex-colónias, entre os quais os Angolanos.
Igualmente os benefícios económicos proporcionados pela exploração e transacção de matérias-primas e outras fontes de riqueza ao dispor da burguesia colonial – está fora de causa a totalidade dos colonos, neste aspecto – também nos fragiliza, sobretudo perante determinados descendentes de colonizados, a quem, da escravatura à guerra colonial, não evadem da memória colectiva fenómenos do exercício de ilegítimo e opressivo poder.
Todavia, em defesa do humanismo e do culto civilizacional, e ainda pautados por direitos de justiça social, é-nos lícito denunciar o bando de José Eduardo dos Santos, de quem o nosso Cavaco é especial amigo, assim como os homens do mercantilismo que, da parte portuguesa, são firmes aliados da clique de gananciosos corruptos que, nos dias de hoje, vivem indiferentes ás condições de sobrevivência de milhões de angolanos, sobretudo idosos, mulheres e crianças, a quem foi aplicada a pena de vida sub-humana.
Dos cúmplices portugueses – um, Salgado e emporcalhado, tombou há dias do pedestal – existem várias criaturas, despidas de escrúpulos, a usufruir de parcerias que lhes rendem robusto capital, o qual, como é sabido, é destituído de pátria e de moral.
De Portugal e de Angola, a despeito de escândalos e muito para além de cartas de garantia do presidente Eduardo Santos a almofadar a complexa situação do BESA (Banco Espírito Santo Angola), existe um exército luso bem amparado por gente de reles índole, de que Amorim e Mira Amaral, a juntar ao derrubado Salgado, constituem os modelos da exploração humana. Valem-se da pobreza e da miséria dos angolanos e do empobrecimento dos portugueses, para, de mãos dadas, com quem existe de mais corrupto no mundo multiplicarem acelerada e substancialmente fortunas de criminosa ganância.
Segundo a organização ‘Transparência Internacional’, em termos de corrupção, Portugal está no 33.º lugar e Angola o 153.º; isto num conjunto de 175 países. Que importa o lugar, se os níveis de corrupção, de um e de outro lado, são elevados, tendo em consideração as diferenças de riquezas naturais e, portanto, o peso relativo e considerável do roubo a cada povo? 

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

O problema do BES é questão de imagem?

Que imagem mais fiel poderia usar o 'Banco Novo', senão aquela de um calvo depenado a 100%? Safaram-se apenas as ténues sobrancelhas e há quem assevere que mesmo o nariz ficou praticamente sem cílios. É uma cena de 'vaudeville' e caricata: o homem espirra, os óculos saltam-lhe, lacrimeja e, em reuniões do CA, os sucessivos acidentes oculares, nasais e orais deixam os outros membros do douto conselho paralisados e mudos. Ele nunca fica de cabelos em pé e o único que foge à regra é o Moreira Rato, de olhos bem abertos , aguardando o tempo em que Bento - breve e bendito seja, roga a Deus - faça o semblante de quem sofre e anseia o regresso das energias capilares, sem sofrimento que a falta de testosterona justifica. 
Mas esta história do BES e do Novo Banco, uma farsa representada em 1.ª mão por Carlos Costa do BdP, escudada em legislação europeia de que Portugal foi cobaia, jamais ficará pelo plano patológico da imagem - mesmo que Bento seja submetido a terapia intensiva de testosterona, jamais conseguirá a erecção do  Banco Novo. 
Todas as contas, entre o velho BES e Banco Novo, são pesados obstáculos de conteúdo, nunca de imagem. E, entre muitos, sou dos que desconfiam seriamente da solução adoptada pelo BdP e que Caldeira Cabral expressou em artigo do 'Público', de que reproduzimos o o último parágrafo:

"O que é certo e sabido é que o Banco de Portugal não seguiu as melhores práticas internacionais e que, com a ajuda do Governo, comprometeu pelo menos 3,9 mil milhões de euros de dinheiros públicos nesta sua “criativa” proposta de resolução do BES."
Devido a indefinições e à fuga de depositantes, o Banco Novo nasceu vetusto. E demasiado calvo, depenado ou rapado para  ressarcir os contribuintes de 3,9 mil milhões de euros que a Dona Albuquerque e o chefe Coelho, mentirosos compulsivos, negaram afecta-los, justamente nessa qualidade: CONTRIBUINTES!

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Uma música sem dedicatória expressa



Há tanta, tanta gente a quem eu poderia estar a noite inteira a compor uma lista para dedicar esta música. E mesmo assim não seria exaustiva.
Dedico-a, portanto, a toda essa gente que poderia constar ou não da lista.
Sou um generoso. Perdão pelo juízo em causa própria.

O programa PSD da Quarteira, o Pontal por uma noite

A Quarteira há tempos a esta parte goza o prazer de ser Pontal. O Pontal, esse fica lá longe, triste e despovoado. Atordoado pela perda do estatuto de local de sábios, uma espécie de liceu de Atenas para filósofos da Antiga Grécia – não citemos Sócrates, porque parte deles imaginam que estou a falar do ex-PM e ainda me dão uma surra se me encontram.
Marco António Costa, essa figurinha ridícula e cabotina, que é o homem-forte do PSD do ‘Grande Porto’ será dos oradores mais impressivos na vulgaridade:
- O PSD nasceu do povo e está com o povo – a malta, alguma quentinha, gosta, aplaude e grita, mesmo o funcionário público, o reformado ou o pensionista disposto até à fome a defender o “laranjal”.
O impulso está dado e virá o grande líder, Pedro Passos Coelho. Virá a sorrir ou de rosto carregado? Isso é irrelevante. O que interessa são as palavras:
- Provou-se que tínhamos razão em mandar, sim ordenar, o Presidente da República enviar a legislação de cortes de salários na f.p. e instituição definitiva da contribuição de sustentabilidade de reformados e pensionistas para a fiscalização preventiva pelo Tribunal Constitucional – um funcionário público grita “bravo!” e um grupo de reformados/pensionistas aplaude entusiasmado, enquanto Coelho prossegue:
 – Agora já sabemos ao que vamos – pausa para olhar a plateia e continua – os portugueses têm de pagar mais de impostos e défice, segundo as regras definidas por Berlim e Bruxelas, temos de respeitar a consolidação orçamental, com medidas de austeridade de outro tipo – terminou este trecho do discurso com um ar de asco que só poderia ser para os Juízes do Tribunal Constitucional.
De seguida, abordou o resultado do PIB no 2.º Trimestre:
 – Não é o que prendíamos, mas prova que os sacrifícios dos portugueses têm valido a pena e havemos de atingir – é o atinges, gozei intimamente – as nossas metas – respirou, bebeu um gole de água e mais entusiasmado prosseguiu – os portugueses estão dispostos a todos os sacrifícios, o Tribunal Constitucional é que não consente!
Nesta altura do discurso, o homem parecia exausto. A Teresa Leal Coelho, em mesa próxima do palanco, deu-lhe uma piscadela de olho e o sinal incentivou-o a continuar a falar ao bom povo “laranja”. Fez, então, um discurso a garantir que havemos de vencer e o futuro dos portugueses, com ele no poder, equivalerá ao paraíso:
 – A economia vai crescer e muito e se não acertei no prognóstico no ‘Pontal’ de 2012 para 2013, estou certo de que em 2015 o País vai crescer – calou-se para terminar e gritou:
- Viva o PSD! Viva Portugal!
Neste meu testemunho, o que mais me impressionou foi o entusiasmo, a loucura, com que alguns cabelos brancos e grisalhos, delas e deles, proclamavam aos berros:
- Viva o nosso querido Passos Coelho.
Um jornalista, ao meu lado, dizia, a cantarolar: - São os copos, ai, ai, são copos…

O basismo de Seguro

Sem vínculo, de militante ou simpatizante, ao Partido Socialista, ou a qualquer outro, falo da luta entre Seguro e Costa com distanciamento.  Isto não é impeditivo, penso, de usar a minha liberdade de expressão a quem ofende a inteligência do cidadão comum.
Sempre considerei Seguro um balofo e um golpista simulado. Graças a hábeis truques de magia logrou fazer aprovar alterações aos estatutos do PS. O objectivo interesseiro é garantir-lhe uma liderança mais prolongada e indexada à duração da legislatura.
Por outro lado, interpreto-a como ambição do provinciano que luta desesperadamente para chegar a PM. Permitir-lhe-á ser recebido em Penamacor e em vilas e aldeias vizinhas, em actos de subserviência da gente humilde. Será uma espécie de caudilho da Beira Baixa, que desfila rodeado de um pelotão de caciques.
Que Seguro, como os ex-jotinhas do género – Passos Coelho, por exemplo –,  alimente este tipo de ambições não me causa perplexidade. Fico surpreso, isso sim, como homens com envergadura política e cultural, como Alberto Martins e Francisco Assis, se prestam à grosseira fantochada.
Seguro é um homem pobre de ideias e capacidades. Sobrevive na cultura das dúvidas, por não ter a certeza de nada. Por isto e muito mais, o método preferido do actual Secretário-Geral do PS é recorrer ao basismo que, em bom português, significa:
O homenzinho, de facto, pouco ou nada sabe de matérias inerentes à chefia da governação. Aguardemos que, aos militantes do PS, seja questionado: “Concordam que eu, em minoria, devo estabelecer um governo de coligação com Passos Coelho?”. “SIM”, gritarão as bases. “A TAP deve ser privatizada?”. “SIM”, responderão as bases.
Corremos o risco de ser governados segundo este modo folclórico, pelas gentes de Alpedrinha, Soalheira, Almeida, Ponte de Lima, Sertã, Golegã, Cartaxo e sei lá… Ferreira do Alentejo? Aí não, c’os alentejanos d’um cabrão ficam aporrinhados!
Mesmo quando não questiona as bases, comete asneiras e das grossas. Um exemplo: a aprovação do ‘Tratado Orçamental’ da Sr.ª Merkel e do Sr. Draghi.

Os políticos e o PIB trocista


O INE publicou os dados do PIB do 2.º T de 2014. Os resultados são insatisfatórios, conforme se demonstra:
  • O PIB aumentou de 0,6% em cadeia; isto é, da quebra de - 0,6% verificada no 1.º Trimestre.
  • A variação homóloga, relativa portanto ao 2.º T de 2013, fixou-se em 0,8%, abaixo, consequentemente, de 1,3% registado no trimestre precedente.
Certamente viciado na arrogância e no desprezo com que tratou trabalhadores - e desempregou umas dezenas - o homenzinho, como (des)governante, convence-se de estar a dirigir-se aos cidadãos deste País como de uma corja  de mentecaptos se tratasse.
A 'retoma económica', vista, apenas, por ele, pelos companheiros de (des)governo, pelos deputados da maioria e acólitos dos partidos no poder, é o mote que lhe serve de impulso para desancar em quem tem opiniões diferentes. Ou seja, aqueles, realistas, que vêm na austeridade, imposta pela 'troika', o percurso em sentido inverso ao que a Economia de Portugal e a manutenção do Estado Social necessitavam: o crescimento.
Se atentarmos nas principais justificações do INE para a queda do PIB - redução da procura interna com reflexos na quebra do investimento e desaceleração das exportações - facilmente se conclui que o comportamento económico desfavorável não é influenciado por acórdãos ou matérias em apreciação no Tribunal Constitucional, como alegava, em golpe de falácia, o emproado Luís Montenegro, líder de bancada do PSD.
O governo não acerta uma e corre uma vez mais o risco de falhar nas previsões do DEO de Maio passado (página 7, n.º 8), documento em que previa o crescimento do PIB de 1,2% em 2014. Todavia, MLA não está só no falhanço. Também a Comissão Europeia, nas previsões da Primavera, fazia previsão do PIB idêntica; e mais, dizia que a inflação cairia e aqui acertaram. Ignoro quanto, porque a percentagem não foi indicada; se essa mesma Comissão admitia que, durante 6 meses consecutivos, estivéssemos em situação de inflação negativa (- 0,9% em Julho-2014), podendo estar a caminho de um penoso processo de deflação. 
Uns eleitos, outros não eleitos, todos estes políticos se arrogam de destruir a vida de milhões de seres humanos. É a esta Europa que pertencemos, a do Euro, das dívidas crescentes e da destruição de históricos e legítimos direitos sociais.
É o nosso fado: o PIB, malvado, é trocista, desculpam-se eles.
    

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Novo Banco e BCE

O ‘Público’ anuncia:


Esta gente do Governo e do Banco de Portugal a mandar recados através da imprensa, e não o próprio jornal, diga-se, já me merece pouca credibilidade no que pretende transmitir à opinião pública.
Por via das dúvidas, permito-me formular um pedido ao Dr. Miguel Reis:
- O senhor, como advogado, não fazia o favor de obter uma certidão e uma nova acta que, explicitamente, esclareça que o Novo Banco já recuperou o estatuto de contraparte junto do Banco Central Europeu?
Como o País não disfruta de condições de pagar as dívidas, pública e privada, a única solução é pedir mais financiamentos, a fim de não perdermos os contactos com os sagrados mercados e investidores.
A sua diligência, Dr. Miguel, ajudaria imenso, a fim de saber se ficamos tranquilos ou temos razões para estados ansiosos, tratados por continuada ingestão de Xanax XR 3 mg.. O financiamento do Novo Banco pelo BCE é, de facto, um desígnio nacional, útil e generoso para milhões de portugueses.

Rangel na maré dos que partem

Todos os dias há gente a deixar o mundo. Chega-se à morte por múltiplos caminhos, uns na velhice outros na juventude.  
Seja a anónimo ou a uma figura pública, é com pesar que os vejo partir; em especial aqueles que, independentemente da forma modesta ou mediática, deixam um exemplo de vida digna e exemplar. 
As figuras públicas beneficiam naturalmente de maior notoriedade até na morte - umas vezes por boas razões, outras por más. 
Sinto mais dolorosamente a perda de homens e mulheres públicos que se notabilizaram pelo valor da obra que deixam como legado e da rectidão de carácter com que se distinguiram. Ontem foi Robin Williams. É hoje a situação de Emídio Rangel, a quem a revolução das actividades radiofónicas e televisivas em Portugal muito fica a dever. 
Tenho a convicção de Rangel ter sido um profissional de elevada qualidade e de princípios - a rejeição do abjecto 'talk show', 'big brother', como director da SIC marcou-o e teve um custo que agora, tarde e a más horas, o Dr. Balsemão tenta reparar, através de discurso amável, um passado de desprezo pelo contributo de Rangel no sucesso do referido canal de TV . 
A amabilidade e reconhecimento demonstram-se durante a vida de quem merece o elogio. Jamais  a morte é o evento e o tempo de ser justo com quem se foi indigno e arbitrário.
Igualmente o meu adeus a Rangel é um até sempre, idêntico ao que dirigi a Robin Williams.  

O risco da deflação avoluma-se

A fadiga da austeridade, dos discursos da crise, dos abundantes e variados números macroeconómicos publicados; sim, essa intensa fadiga é motivo compreensível para afugentar os cidadãos de mais uma preocupação: o risco de deflação, muito elevado em Portugal mas igualmente considerável na Europa do Euro.
Evito a repetição; porém, é irresistível o convite à leitura deste meu ‘post’ de 31-01-2014, referindo os receios de Draghi e Lagarde nessa altura. E sublinhe-se que há 6 meses, as preocupações dos responsáveis máximos do BCE e FMI fundavam-se numa taxa de inflação na Zona Euro de 0,7% em Jan-2014, comparativamente a 0,8% em Dez-2013.
A despeito da forte redução das taxas de juro de depósitos no BCE, as notícias do Eurostat de 31-07-2014 - nem há uma quinzena, portanto – agravaram-se para a Zona Euro. Com efeito, a inflação estimada para Jul-2014 é de 0,4%, abaixo dos 0,5% de Junho passado.
Draghi multiplica-se em entrevistas e a influencia notícias sobre o tema. A Bloomberg em 5-Jun-2014 publicava o seguinte texto:
Se a agitação de Draghi é aquela que, de facto, das palavras se depreende, que dizer acerca da inflação portuguesa? Já é negativa há 6 meses consecutivos!, segundo divulgado pelo ‘Público’, com base em números do INE, em Julho de 2014, a variação homóloga do IPC situou-se em -0,9%, 0,5 pontos percentuais (p.p.) inferiores ao observado no mês anterior.
O governo de PPC que, a cada dia, se ufana dos bons resultados (turismo, desemprego em queda (?), juros da dívida historicamente baixos (?), consumidores confiantes), fosse através de um ministro, de um secretário de Estado ou de qualquer ajudante, já deveria ter-se manifestado perante a opinião pública a respeito desta crónica patologia a caminho da deflação, a um ritmo extremamente acelerado.
É provável que calem deliberadamente o que devem dizer – A Dona Albuquerque tagarela, tagarela, mas a este respeito remete-se ao silêncio. Vivem amedrontados com o que Alemanha possa fazer, se denunciarem que este desfecho é o preço da austeridade, da falta de rendimento das famílias e da falta de empregos, como dizia em Janeiro a putativa Sra. Lagarde.
Necessitávamos de taxas reais negativas ou pelo menos ligeiramente positivas, o que implicaria uma inflação da ordem dos tais 2% que Draghi persegue mas não alcança.
Caso continuemos na mesma caminhada de há 3 anos, com a ‘troika’ presente material ou espiritualmente, a probabilidade da deflação aumentará significativamente. A situação económica do País tornar-se-á muito complexa, mas tal risco parece não assustar os nossos (des)governantes. Estamos na hora do Espírito Santo. Ámen!

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Robin, see you always!




Robin Williams morreu. Todavia, o talento, a força de grande actor, a naturalidade com que percorria o caminho da comédia ao drama, todos estes atributos tornam imortal e bela a obra de actor cinematográfico que legou ao mundo.
O seu nome ficará gravado, para sempre, na 'História do Cinema Mundial', entre os mais distintos e que, ombreando com outras e outros que desfilaram nas telas dos cinemas mundiais, jamais se esfumarão da memória de quem admira a 7.ª arte
Na continuação de actividades televisivas, as obras de cinema em que Robin Williams esteve presente incluem vasto número de filmes. 
Recordo o tom satírico e sarcástico em "Good Morning Vietnam" (1987), no desempenho de papel de quem sabia usufruir da popularidade entre os soldados rasos e, em simultâneo, desafiar e humilhar a autoridade do superior hierárquico, o tenente-coronel  Steven Hauk. É um dos filmes emblemáticos desses desgraçados tempos do conflito dos EUA no Vietname, emparceirando com outras fitas alusivas à guerra de grande sucesso: por exemplo, "O Caçador" com a participação dos não menos extraordinários Robert de Niro e Meryl Streep.
Outro ponto alto da carreira foi no drama 'O Clube dos Poetas Mortos' (1989), película em que é um professor que incita os alunos à irreverência, à contestação e ao hábito do pensamento autónomo e livre. Robin Williams esteve nomeado para o Óscar neste filme, mas o seu nome foi preterido.
Acabaria por ter a compensação de um Óscar de actor secundário em 'O Bom Rebelde' (1998). Tarde demais, entendo eu.
Robin, ao que se percebe, morreu como e quando quis. Homem livre, de espírito humanitário e progressista, combateu activamente os falcões Bush e Schwarzenegger. Era apoiante e financiava o Partido Democrático. O mundo perdeu um grande actor e um homem bom. 
Robin, see you always!

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

BES - a mentira tem perna curta

A política tem-se transformado, e com dinâmica acelerada, no território de gente da imundice comportamental, da imoralidade; desprezando elementares princípios da ética inalienáveis na missão de governar.
Os políticos não enjeitam a falta de escrúpulos para ludibriar a maioria do povo, justamente aquele segmento enorme de gente que mais sofre. Por outro lado, garantem protecção a burlões e corruptos de ‘colarinho branco’, valendo-se da paralisação da justiça diante de tais energúmenos. Aos políticos, portanto, pouco ou nada inquieta enganar e condenar milhões de cidadãos à injustiça social. 
No caso BES, o actual governo recorreu à falsa e hipócrita argumentação da defesa dos interesses dos contribuintes e depositantes. Uma cantata de melodia sem harmonia, interpretada com desplante, em coro com o BdP. Serviu-lhes para entoar o canto da mentira.
Maus intérpretes, são também especialistas em topetes. Passos Coelho, Maria de Luís Albuquerque e Carlos Costa esqueceram-se de um provérbio tão comum como autêntico e consistente na frequência com que é usado. Um pensador, Ariel Oliveira, referia-se assim à mentira:
“A vida me ensinou, que a mentira tem perna curta... mas, eu acredito que mentira nem chega a ter perna...”
E esta apregoada mentira não chegou, de facto, a pôr-se de pé. Arrastou-se, escondida aqui, encoberta acolá, até ser rapidamente descoberta. Foi capturada pela acta consultada pelo advogado Miguel Reis e divulgada pelo ‘Expresso’, documento que no ponto 6 diz exactamente o seguinte:
É lógico deduzir que, para obter o citado empréstimo, o BES entregou como garantia ao BCE títulos de dívida pública portuguesa e este aspecto da operação ainda mais reforça os riscos para os contribuintes portugueses que Passos Coelho, Maria de Luís Albuquerque e Carlos Costa negaram desabridamente. Sem ponta de pudor.

Haja vergonha!

Santana Lopes, um romântico à presidência!

No pós-25 de Abril, e descontando aqueles militares de faxina revolucionária antecessores dos eleitos, na Presidência da República, órgão supremo da soberania nacional, os portugueses já colocaram um militar (Ramalho Eanes), dois advogados (Mário Soares e Jorge Sampaio), e um economista (Cavaco Silva, o actual PR) – curiosamente é nos tempos de um economista, ex-Professor de Finanças Públicas e ex-quadro do Banco de Portugal, que a maior crise financeira do País, de há muitas décadas, nos castiga asperamente e está para durar. Paradoxos da vida.
Santana Lopes, um advogado especialista em defender-se a si próprio e em atacar quem se lhe atravesse no caminho, começou há bastante tempo a manifestar a ambição de suceder a Cavaco. Antes cedo do que tarde, os primeiros alvos a abater, em discurso, têm sido Marcelo Rebelo de Sousa, Rui Rio e o seu “amigo de estimação”, José Manuel, com quem as contas jamais serão saldadas. Trata-se de um conjunto de teoremas e outras leis de um cálculo algébrico muito complexo e insolúvel.
Santana, nessas divagações de quem anda por aí, a saborear o milagroso elixir que o tornarão Presidente da República, encontrou alguém disponível a auxiliá-lo; no caso, um militante do PSD, Paulo Vieira da Silva, admirador de Santana desde que usava fraldas ‘Dodot’. O generoso apoiante resolveu criar uma página no ‘facebook’; a 2.ª porque a 1.ª lançada por outra gente em Janeiro teve apenas 130 ‘likes’. Ignoro se Pedro Passos Coelho, que já lhe expressou apoio no Coliseu, também participou nestes 130 ‘likes’.
É relevante os portugueses saberem que Santana Lopes teve um mandato de presidente do ‘Sporting’ atribulado, com queixas do promotor-financiador Roquette; por outro lado, ainda está por calcular o tempo exacto em que exerceu o mandato de presidente da CML; no lugar de PM durou pouco e, se Sampaio tem sido mais rigoroso, nem teria lá chegado sem ser eleito.
O homem é, portanto, assim: imprevisível, inconsequente, pouco fiável nas promessas, bem-falante e sabe extrair da política o que de melhor esta oferece: dinheiro, cargos, honrarias e prazeres.
Porém, para reanimação do ‘jet set’ que tem andado tão prostrado, as próximas eleições presidenciais é a oportunidade ideal para ter um ‘romântico em Belém’. No Palácio, é garantido, as festas serão quase como as sessões do velho ‘Olímpia’; i.e., contínuas. Iniciam-se ao fim de tarde e terminam ao fim da madrugada. O fenómeno terá esta particularidade inédita no exercício presidencial, digna de ‘slogans’:
  •        “Com Santana em Belém, os momentos de romantismo começam e acabam sempre no fim!”;
  •    “Se quer viver bem, apoie a ida do romântico Santana para Belém!”

sábado, 9 de agosto de 2014

Ella Fitzgerald - Summertime



De todos os intérpretes a quem ouvi 'Summertime' de George Gershwin, a minha eleita é Ella Ftitzgerald:


Neste Verão, climaticamente incaracterístico e estranho, em que milhões de portugueses vivem as amarguras de uma sociedade prenhe de injustiça social, saibamos, ao menos, extrair algum prazer deste 'Summertime' idealista assim descrito no poema da canção:

Summertime
And the livin' is easy
Fish are jumpin'
And the cotton is high
Your daddy's rich
And your mamma's good lookin'
So hush little baby
Don't you cry
One of these mornings
You're going to rise up singing
Then you'll spread your wings
And you'll take to the sky
But till that morning
There's a'nothing can harm you
With daddy and mamma standing by

Eis, pois, a minha escolha musical de fim-de-semana.
 


Amizade

Um dos pensamentos acerca de amizade e amigos é de autoria de Millôr Fernandes e está descrito na seguinte frase:
“ Com muita sabedoria, estudando muito, pensando muito, procurando compreender tudo e todos, um homem consegue, depois de mais ou menos quarenta anos de vida, aprender a ficar calado."
No que me diz respeito, a sabedoria nunca foi nem é muita; pensei muito mas jamais consegui compreender tudo e todos; obviamente que, depois de quarenta anos de vida, também não consigo ficar calado.
Nem todos os intelectuais e pensadores, Millôr Fernandes incluído, instituem racionalmente axiomas a respeito do comportamento humano.
Ter de ficar calado a fim de conservar amizades e amigos é um princípio destituído de sentido. No que me empenho profundamente, sem a utopia de compreender tudo e todos, é na recusa absoluta de silenciar o que penso.
Manifestar, portanto, de forma mais assertiva ou ligeira a opinião a respeito de determinadas pessoas que estimo e admiro é um sentimento legítimo que jamais calarei. Seja a propósito de um ‘post’ na blogosfera ou mesmo de qualquer outro tema ainda mais despiciente.
De uma vez por todas, entendam quem e como sou aqueles que me censuram a despeito do distanciamento absoluto. E apenas neste plano fico calado, por motivos muito mais frugais do que o pensamento de Millôr Fernandes: não tenho tempo nem paciência para tal gente. 

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

O Dr. Vítor Bento e a Teoria das Probabilidades

Na entrevista concedida ontem na SIC N, ao infatigável jornalista pró-governamental Gomes Ferreira, o Dr. Vítor Bento (VB) admitiu ser “provável” a redução de balcões e despedimentos no Novo Banco. O ‘Público’ também refere a declaração do actual presidente do citado Novo Banco.
Igualmente ontem, em ‘post’ publicado neste meu refúgio, previ a inevitabilidade – conceito muito distante da probabilidade de VB – do Novo Banco vir a encerrar balcões e despedir trabalhadores.
Para afastar qualquer juízo de terceiros no sentido de ser classificado de atrevido presunçoso, advirto que a minha previsão não se funda na capacidade de genial presciente. Circunscrevi-me ao espaço do uso do raciocínio próprio da lógica que Aristóteles, na Grécia Antiga, instituiu como disciplina.  
Se há evidência pública que verbas da ordem de centenas de milhões estão a transitar do Novo Banco para outros bancos, por iniciativa de depositantes alarmados e em fuga, é do mais elementar e lógico raciocínio inferir que o mercado para o banco dirigido por VB está a sofrer significativa redução de clientes. Logo, o encerramento de balcões e eliminação de postos de trabalho será uma consequência natural e inevitável do que está a suceder.
Compreendo que VB, em defesa do sossego interno, se fique pela Teoria das Probabilidades. Todavia, já que a utiliza, quem ajuíza do exterior poderá também sublinhar que a probabilidade de derramar o sangue do despedimento sobre muitos trabalhadores do ex-BES é muito, muito elevada.
O drama que a humanidade está a sofrer com a falta de emprego – dos números relativos a jovens europeus é melhor nem falarmos – esse drama, dizia, deriva de múltiplos factores, que percorrem um caminho longo e recheado de trajectos acidentados, barreiras e abismos. A cruel e a cada dia mais vasta desigualdade entre pobres e ricos deve-se a várias causas, entre as quais a incapacidade do sistema económico repor os postos de trabalho profusamente destruídos pela automatização.
E, em último apontamento, diga-se que se houve sector que mais beneficiou da introdução das tecnologias de informação e comunicação foi justamente o financeiro. Em Portugal, na banca, deveriam ter sido eliminados muito acima dos 20.000 postos de trabalho nos últimos 10/15 anos. O sistema de computorização de um banco tem a capacidade de trabalhar sem intervenção humana uma noite inteira e realizar milhares de operações – e já nem me refiro ao trabalho realizado pelos clientes nas caixas ATM ou no ‘homebanking’. Uma agência bancária, hoje em dia, tem em média 3 ou 4 profissionais, na grande maioria dos casos.
Grande parcela dos ganhos de produtividade proporcionados pelas novas tecnologias alimentaram a ganância dos banqueiros e mesmo assim, em certos casos, não lhes bastou. Caso da família Espírito Santo, por exemplo.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

As falácias de Maria Luís Albuquerque

Uma mensagem de Maria Luís de Albuquerque, esta tarde na AR, a propósito do escândalo financeiro do BES:

Diz a senhora que o Estado não é accionista, não tem garantias nem o  governo as quer, argumentando que é assim que se defendem os contribuintes.
Esclareça-se que o Estado interveio ao abrigo do DL 31-A/2012 no âmbito do 'Fundo de Resolução'. O regulamento do citado 'Fundo de Resolução', no Anexo, CAPÍTULO I, Disposições gerais, Artigo 2.º, Natureza e objecto, estabelece o seguinte:
  1. O Fundo é uma pessoa colectiva de direito público, dotada de autonomia administrativa e financeira.
  2. O Fundo tem por objecto prestar apoio financeiro à aplicação de medidas de resolução adoptadas pelo Banco de Portugal e desempenhar todas as demais funções que lhe sejam conferidas pela lei no âmbito da execução de tais medidas.
Por não ser irrelevante, acrescente-se que o 'Fundo' em causa é gerido por três elementos: um nomeado pelo BdP, o segundo nomeado pelo Ministério das Finanças e um terceiro indicado por ambas as partes (BdP e MF).
Nestas e em outras circunstâncias impostas pela legislação actual, compete à equipa de Vítor Bento, nomeada pelo BdP com assentimento da MF, gerir o 'Banco Novo' em toda a sua amplitude; isto é, o papel de accionista mesmo que omitido e desempenhado sob especial formato, é da responsabilidade do Estado: o Ministério das Finanças, gestor da dívida pública, deu aprovação à utilização de uma verba significativa (3.900 milhões de euros) dos 12.000 milhões de financiamento da 'troika', para o efeito.
Até à permanência de financiador de verba substancial de capital público ao 'Novo Banco', ao invés do que a Ministra falaciosamente defende, as responsabilidades pela gestão patrimonial e corrente do citado 'Novo Banco' é cometida ao Estado, pelo menos na proporção do montante da participação no financiamento.
- Esta medida é distinta da solução de nacionalização do BPN - diz MLA. Obviamente. No tempo da nacionalização do BPN, preconizada pelo Eurogrupo, a legislação agora existente para a solução aplicada ao BES não existia e foi criada por instruções da Comissão Europeia, e em especial pelo BCE.
Graças à intervenção dos deputados do Parlamento Europeu, incluindo os representantes de todos os partidos portugueses, os depositantes ficaram isentos da punição de verem as poupanças arroladas na lista dos valores capturados pelas autoridades da intervenção. O empenho da Dra. Elisa Ferreira, como líder do grupo de negociação, constituiu um esforço notável e digno de elogios, no seio do próprio e diversificado PE.
O caso dos 'swaps', em que foi participante activa e as declarações a 17 de Julho de 2014 no sentido da solidez do BES retiram a MLA qualquer credibilidade para o discurso actual sobre as responsabilidades do Estado. O que a senhora diz hoje pode ser mera falácia. Recomendar-se-lhe-ia ser menos quente e mais prudente.   



A grande evasão do ‘Novo BES’ para a velha CGD

Jamais foi referido por qualquer membro do governo ou pelo supercalifragilisticexpialidoso governador do BdP, Carlos Costa; contudo, a maior parte dos cidadãos, e porque alguns até se integram no exército dos evadidos, sabe da fuga do ‘Novo BES’ para a ‘velhinha CGD’ e outros bancos, conquanto se ignorem os exactos valores envolvidos. Que são avultados, imagino.
Há mais foragidos, em direcção ao Santander Totta por exemplo, mas os 200 milhões de euros num único dia, 4-Agosto-2014, depositados na CGD, depois do anúncio do milagroso acto conceptivo do ‘velho BES’ e do ‘Novo Banco’, deixa antever que a vida deste último não será fácil, em especial no que se refere a encerramento de balcões e despedimentos - se o Carlos Silva da UGT, trabalhador do BES e grande amigo de Salgado, fosse o primeiro a afastar-se, felicitaria o homem pela manifestação exemplar e pedagógica para o contingente a abater. E o Dr. Vítor Bento, como não poderá perder cabelo, perderá a calvície; sim, porque é muito humano.
O ‘Novo Banco’, em minha opinião, fundada nas ocorrências anunciadas no ‘Público’, sofrerá implacável redução de peso e significância no sistema financeiro português. Desta trajectória de definhamento, coisa distinta não seria expectável, senão uma procura por baixo preço para a entidade agora criada pelo BdP em sintonia com a amanuense Albuquerque. E o prazo para a alienação, que se pretendia curto, dependerá do preço fixado a interessados. Um factor limita o outro.
O facto do BES “estoirado” ser privado e a CGD entidade pública, neste jogo de fuga de depositantes, também se torna em registo satírico; salvo, claro está, para Passos Coelho e mais o esquadrão de neoliberais que o admiram assombrados. Então não é que toda esta tragédia, um acontecimento de privados onde ele jurou nunca intervir, lhe frustrou os intentos de privatizar a CGD! Com os exemplos BES, PT e outros, ficou provado que não há a regra de serem os privados melhores gestores do que os profissionais do sector público. O que distingue o desempenho de uns e de outros são a capacidade, os conhecimentos, a competência e a idoneidade; e finalmente os objectivos atingidos.
Ainda relativamente a Coelho, e ao contrário do que diz o outro, o Verão não lhe faz bem. Aliás, acho que, com ele no governo, nenhuma estação do ano lhe faz bem… e aos portugueses em geral ainda faz pior.  

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Fundos abutres e a derrocada do PSI-20

A falta de vontade política, desde os principais líderes europeus a Obama, constitui o motivo imperativo da subsistência de uma regulamentação permissiva e ineficaz do ‘sistema financeiro internacional’.
Os desmandos dos sagrados mercados e investidores, sem controlo, tornam-se consequência natural do que sucede no mundo através de ‘paraísos fiscais’ e de mecanismos ardilosos e imorais – se é que em termos de banca, os actos de poderosas organizações financeiras podem ser avaliados segundo regras da moral ou da ética.
Os países mais frágeis, caso de Portugal, tendem a ser os mais vulneráveis às práticas de insolência da influente ralé de jogadores bolsistas e de gestores igualmente sem escrúpulos; gentalha sem ponta de decoro que actua com cruel frieza e causa a destruição de condições sociais de milhões de seres humanos.
Com a conivência, voluntária ou inconsciente, da generalidade dos meios de comunicação social de maior influência na opinião pública, catapultaram a vida colectiva para um regime de austeridade. Serviram-se de falacioso argumento conducente à transformação em ‘crise de dívidas soberanas’ do fenómeno de ‘criminosa especulação financeira’, iniciada nos EUA com a liquidação do Lehman Brothers em 2007; e propagada à Europa, graças ao elevado grau de integração do ‘sistema financeiro internacional’.
Os neoliberais no poder – caso de Portugal – adoptaram e reforçaram com forte convicção as injustiças do PAEF, o programa de austeridade do qual saímos artificialmente em 17-Maio-2014, mas sob o qual na realidade permanecemos através de políticas de cortes e impostos, bem como de outras medidas lesivas do Estado Social.
Um dos objectivos principais do PAEF e do empréstimo da sinistra ‘troika’, FMI, CE e BCE, privilegiou financeiramente a banca. Registem-se as parcelas de recapitalização bancária de 12 mil milhões de euros e de reforço do Fundo de Garantia de Depósitos e do Fundo de Garantia de Crédito Agrícola Mútuo de 35 mil milhões de euros. Salvar a banca, sob a desonestidade da encapotada necessidade de austeridade imposta ao povo.
Se reflectirmos no ambiente e nas condições ardilosas utilizadas, e em especial pelo capital financeiro à solta, no qual se integram os tenebrosos ‘hedge funds’ (ler notícia do ‘Público’), apenas um míope, verdadeiro ou por conveniência, terá a coragem de se surpreender que operadores especialistas em ‘fundos abutres’ tenham amealhado uns milhões com a queda de valor das acções do BES.
O BdP governado por Carlos Costa, propagandeado como supervisor de qualidade ímpar, tem óbvias responsabilidades. Lembre-se a afirmação de Carlos Costa de que se tinha apercebido em Set-2013 de irregularidades no BES; como é dito na gíria, deixou as raposas na capoeira com as galinhas.
Para piorar o cenário financeiro português, o PSI-20 registou, hoje, um ‘crash’ monumental – queda do índice calculada em - 4,07%. O BCP, que procedeu recentemente a um aumento de capital de 2.250 milhões de euros, foi o recordista desse ‘crash’, com uma redução de 15,07%; o valor das acções caíram para 8,79 cêntimos. Os investidores que aderiram ao referido aumento de capital, ao preço de 6,5 cêntimos por acção, devem estar em ‘estado ansioso agudo’, combatido com doses reforçadas de Xanax XR 3 mg. E o Dr. Nuno Amado poderá estar sujeito, penso, a idêntica terapia.
Claro que a bolsa é um casino e o futuro é imprevisível. Afinal, as condições legisladas no DL 31-A/2012 de 10 de Fevereiro, aplicadas pelo Dr. Carlos Costa e sua equipa, não evitaram que, logo de início, o ‘velho BES’ e o ‘Novo Banco’ contaminassem o sistema bancário.
Falta saber por quanto tempo. Porém, tratando-se de um caso de feitiçaria de casino, só a Maia conseguirá desvendar o segredo precocemente deste jogo de azar ou sorte.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Novo Banco e os velhos disparates

Sinto enorme aversão a quem, sem mérito, se arrogue da distinção de notável profissional, qualquer que seja o ramo (médico, gestor, professor, bancário, carpinteiro, comandante da marinha ou da aviação, sapateiro…). Todavia, em relação a determinados “profissionais da comunicação social” e ‘opinion makers’ que pululam nos jornais e em programas radiofónicos ou televisivos, a minha aversão sofre um impulso exponencial, devido ao impacto mediático.
Trata-se do caso dos escritos de JM Tavares no ‘Público’, jornal, dito de referência, do qual sou assinante. Esta condição não justifica privilégios especiais. Entendo apenas que, como qualquer leitor do jornal, tenho o direito de exigir rigor no que é publicado, sob a autoria de quem quer que seja.
O citado articulista escreveu há tempos um texto, sob o título “A morte de Salgado é muito exagerada”, que critiquei e em que, a determinada altura, proclamava:
Se Ricardo Salgado abre a boca, metade do regime parte o pescoço ao cair das escadas.
De forma contraditória, exara agora o seguinte juízo contundente:
“ As acusações de Carlos Costa foram de tal forma explícitas que ninguém pode acreditar que um buraco de cinco mil milhões de euros se cavou sozinho. “
As acusações, saliente-se, foram formuladas ao anterior CA do BES, presidido pelo Dr. Salgado, para quem, afinal, a morte como banqueiro e homem de negócios há dias, na perspectiva de JM Tavares, era muito exagerada.
Mas às contradições juntam-se outras incoerências e, sobretudo, uma tendenciosa visão a favor de Passos Coelho, bem espelhada, ainda que no condicional, no final do artigo O Novo Banco e uma nova política:
“ […] se o governo vier a conseguir vender o Novo Banco até ao fim do ano, chutando-o para fora das contas do défice, então este será, após o “irrevogável”, o segundo coelho consecutivo que Passos tira da cartola. O Verão faz-lhe bem. “
Se o Verão faz bem a Coelho, igualmente seria saudável para JM Tavares aceder a informação fundamental a fim de enviar a mensagem correcta para a opinião pública, ou seja, de que o BdP e o governo se limitaram a aplicar o estabelecido pelo DL 31A/2012 de 10 de Fevereiro. Bastava-lhe ler o preâmbulo do citado DL, onde, entre muito mais, colheria a informação seguinte:
  • ·       As possíveis vias de superação de tais fragilidades têm sido discutidas em diversas instâncias internacionais, nomeadamente sob a égide da Comissão Europeia, do Financial Stability Board e do G20.
  • ·  […] a recente experiência internacional e a consequente discussão das suas possíveis repercussões no plano da regulação bancária têm evidenciado a necessidade de implementar mecanismos que permitam, em situação de grave desequilíbrio financeiro, recuperar a instituição de crédito ou preparar a sua liquidação ordenada…
  • ·        […] nova disciplina legal caracterizada pela existência de três fases de intervenção distintas — intervenção correctiva, administração provisória e resolução.
  • ·        […] caberá ao Banco de Portugal decidir em função do que melhor convier aos objectivos do reequilíbrio financeiro da instituição, da protecção dos depositantes, da estabilidade do sistema financeiro como um todo e da salvaguarda do erário público.
Quem for preciso na análise, compreenderá que Governo e BdP agiram no respeito por esta legislação, emanada fundamentalmente da Comissão Europeia e que foram aprovadas pelo Parlamento Europeu, com o elogiado contributo da Dra. Elisa Ferreira, na liderança da equipa de negociação do PE.
Resta sublinhar que, embora eu reconheça o erro de se deixar de fora da nacionalização do BPN a SLN, o instrumento legislativo de que reproduzo anteriormente alguns extractos não existia à época.