A Quarteira há tempos a esta
parte goza o prazer de ser Pontal. O Pontal, esse fica lá longe, triste e
despovoado. Atordoado pela perda do estatuto de local de sábios, uma espécie de
liceu de Atenas para filósofos da Antiga Grécia – não citemos Sócrates, porque
parte deles imaginam que estou a falar do ex-PM e ainda me dão uma surra se me
encontram.
Marco António Costa, essa
figurinha ridícula e cabotina, que é o homem-forte do PSD do ‘Grande Porto’
será dos oradores mais impressivos na vulgaridade:
- O PSD nasceu do povo e está com o povo – a malta, alguma
quentinha, gosta, aplaude e grita, mesmo o funcionário público, o reformado ou o pensionista disposto até à fome a defender o “laranjal”.
O impulso está dado e virá o
grande líder, Pedro Passos Coelho. Virá a sorrir ou de rosto carregado? Isso é
irrelevante. O que interessa são as palavras:
- Provou-se que tínhamos razão em mandar, sim ordenar, o Presidente da
República enviar a legislação de cortes de salários na f.p. e instituição
definitiva da contribuição de sustentabilidade de reformados e pensionistas
para a fiscalização preventiva pelo Tribunal Constitucional – um funcionário
público grita “bravo!” e um grupo de reformados/pensionistas aplaude
entusiasmado, enquanto Coelho prossegue:
– Agora já sabemos ao que vamos –
pausa para olhar a plateia e continua –
os portugueses têm de pagar mais de impostos e défice, segundo as regras
definidas por Berlim e Bruxelas, temos de respeitar a consolidação orçamental,
com medidas de austeridade de outro tipo – terminou este trecho do discurso
com um ar de asco que só poderia ser para os Juízes do Tribunal Constitucional.
De seguida, abordou o resultado
do PIB no 2.º Trimestre:
– Não é
o que prendíamos, mas prova que os sacrifícios dos portugueses têm valido a
pena e havemos de atingir – é o atinges, gozei intimamente – as nossas metas – respirou, bebeu um
gole de água e mais entusiasmado prosseguiu – os portugueses estão dispostos a todos os sacrifícios, o Tribunal
Constitucional é que não consente!
Nesta altura do discurso, o homem
parecia exausto. A Teresa Leal Coelho, em mesa próxima do palanco, deu-lhe uma
piscadela de olho e o sinal incentivou-o a continuar a falar ao bom povo “laranja”.
Fez, então, um discurso a garantir que havemos de vencer e o futuro dos
portugueses, com ele no poder, equivalerá ao paraíso:
– A economia
vai crescer e muito e se não acertei no prognóstico no ‘Pontal’ de 2012 para 2013,
estou certo de que em 2015 o País vai crescer – calou-se para terminar e
gritou:
- Viva o PSD! Viva Portugal!
Neste meu testemunho, o que mais
me impressionou foi o entusiasmo, a loucura, com que alguns cabelos brancos e
grisalhos, delas e deles, proclamavam aos berros:
- Viva o nosso querido Passos Coelho.
Um jornalista, ao meu lado,
dizia, a cantarolar: - São os copos, ai,
ai, são copos…
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