segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

O Tempo do Chega

 

As designadas democracias liberais confrontam-se com ameaças populistas e xenófobas, a derramar com diferentes intensidades. A Alemanha, do partido AfD, a França de Marine Le Pen, a Itália governada Giorgia Meloni e Matteo Salvini e a Suécia com os ‘Democratas Suecos’ que apoiam o governo conservador são, infelizmente, apenas uma parte de uma negra lista de candidatos ou governantes que têm invadido a política em diversas latitudes, assistindo-se, portanto, à participação da Europa no epicentro da radicalização da extrema-direita.

Portugal com o Chega também se integrou no nefasto movimento. Em Viana do Castelo, André Ventura (AV), tão inteligente como insolente, teve um fim-de-semana em cheio. Os canais televisivos e outros meios de comunicação social deram-lhe horas de imagem, de espaço e de tempo suficientes para que o homem fizesse ao povo mil e uma promessas irrealizáveis. O mais chocante, no meio de tudo o que foi apregoado, é constatar que uma parte desse povinho, e nada insignificante, acredita em atoardas, pensando que vai ficar de bolsos cheios, carros de luxo e barriguinhas muito bem nutridas.

Não é necessário ser economista, minha profissão, para desmistificar as balelas de AV. Aplicando ao Estado o raciocínio comum do governo da casa, qualquer pessoa entende que jamais é possível subsistir em condições de vida dignas num lar em que as receitas se reduzem drasticamente e, por sua vez, as despesas aumentem com grande expressão e ultrapassem as primeiras.

Vamos, então, a um resumo das promessas de AV: 1) Eliminação do IMI e do IUC; 2) Aplicação da taxa 0% de IVA a todos os produtos alimentares de origem portuguesa e de mais alguns bens essenciais de origem externa; 3) Aumentar para o valor do Salário Mínimo Nacional (SMN) a pensão mínima dos reformados.

Tudo o que foi anunciado, segundo o jornal “O Expresso”, significaria um montante adicional de 11 mil milhões de euros na ‘Despesa Pública’, o que se traduziria em acréscimo de gastos do Estado de cerca de 5% do PIB. O prometido por AV é impossível realizar, ponto final.

Outras facetas aberrantes da convenção do Chega relacionam-se com temas político-sociais. Caso de misoginia, no propósito de retirar apoios a instituições que garantem a igualdade do género. Ou do xenofobismo relativamente a imigrantes, esquecendo que Portugal é um país de emigrantes e cada vez mais jovens e qualificados – mas neste último caso não há apenas a lamentar o esquecimento do Chega; o governo e até a restante oposição têm muitas responsabilidades.

Com este animal na sala, em 10 de Março veremos o grau de desordem em que a casa fica. A mim palpita-me, naturalmente, que o PR e partidos do regime não terão solução de fácil governabilidade. Aguardemos!