quinta-feira, 26 de outubro de 2023

As declarações de Guterres e o "supremacismo" de Israel

 

Faixa de Gaza

Trabalhei e tenho relações amigáveis com vários judeus. Também me cruzei, na actividade profissional, com muçulmanos, em especial do Magreb, mas jamais encontrei qualquer palestiniano. 

A reprovação e a revolta sustentam a minha posição a respeito do hediondo ataque do Hamas aos kibutz do Sul de Israel. Saldou-se pela morte de cerca de 1.400 israelitas, alguns deles bebés cruelmente decepados, e ainda por mais de 200 reféns que os terroristas levaram para a Faixa de Gaza, tendo até ao momento libertado apenas 4 mulheres.

Por influência da personalidade do meu pai, considero-me humanista. Todo o tipo de violência e morte contra humanos, seja em guerras convencionais ou meras operações que resultam em massacres, me fustiga o espírito, com enorme sofrimento. Quem me conhece bem, e não são muitos, sabe o que penso e a mágoa que me atinge perante tragédias do género daquelas que estamos a ver, a toda a hora, nos canais televisivos.

É impossível ser selectivo em função da nacionalidade ou orientação religiosa das vítimas. Um trecho do artigo de Alexandra Lucas Coelho no 'Público' de hoje resume as razões pelas quais sofro:

"Urge agora que 2,3 milhões continuam sob bombas, com fome, sede, milhares no chão de hospitais em colapso, operados sem anestesia. 6500 mortos, 2000 dos quais crianças."

ALC, como eu, defende Guterres no tocante às declarações que fez no Conselho de Segurança da ONU. Crítica a prepotência de Israel que, através de dois políticos, pediram a demissão do Secretário-Geral. O Secretário de Estado dos EUA, Anthony Blinken, ao lado de Guterres, também defendeu uma pausa humanitária no confronto, a fim de se poder valer com água, alimentos e medicamentos aos palestinianos que, devido a bombardeamentos de Israel, vivem em condições desesperantes.

Para os "supramacistas" israelitas, ignorar as afirmações de Blinken é o cinicamente recomendável. Todavia, escorraçar da ONU para fora o filho de um país menor é fácil e demonstra muita coragem de um país que se tem na conta de potência, com os seus 9,5 milhões de habitantes. Na altura da Declaração de Balfour, em 1917, no território atribuído a Israel viviam 35.000 judeus.

A História de Israel é uma longuíssima narrativa que conta a vida milenar do povo judaico, incluindo a proposição do sionismo por Theodor Herzl, no final do século XIX, a citada Declaração de Balfour em 1917, a intervenção de Winston Churchill como Ministro das Colónias Britânicos (*), as conversações entre Chaim Weizmann, sionista, e Lloyd George, PM do Reino Unido até à fundação do Estado de Israel, sob o coimando de David Ben-Gurion, um estadista de que Netanyahu é o oposto.

(*) O livro "Churchill and the Jews 1900-1948", de Michael J. Cohen é de leitura obrigatória para se saber e compreender a criação do Estado Judaico. 

 

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