O filme 'Os cavalos também se abatem' salta-me à memória de forma instantânea, a propósito de sucessivas notícias da crise. Sydney Pollack, inspirado no romance de Horace MacCoy, "They Shoot Horses, Don't They?, mostrou o desespero de milhões de norte-americanos, submetidos aos efeitos da Grande Depressão dos anos 30.
Os 'concursos de dança', figura metafórica e central do filme, são paradigma do duro caminho que homens e mulheres percorriam para, até à exaustão da capacidade física, obterem o humilhante prémio de alguma comida, roupas e meia dúzia de dólares.
Cada um ou cada par entregue a si próprio, até ao limite das poucas forças que lhe restavam. A aventura era individual e voluntarista, não resolvendo, naturalmente, os problemas nucleares e sociais da população.
Hoje, o mundo volta a viver momentos críticos, de pobreza e miséria. Que se alastram por milhões, em contradição com o que seria expectável em época de grandes avanços tecnológicos e científicos.
Também na actualidade há comportamentos individualizados que, todavia, massacram milhões, situados no outro lado da barricada. Warren Buffett, multi, multi, multimilionário, detentor de capital na Moddy's, é um sinistro especulador que, pelo crivo neoliberal, beneficia da irracional teoria de que 'mercados e investidores' são um extensíssimo toldo de protecção a incontroláveis e inimputáveis - relembro o 'Inside Job'.
Segundo é relatado aqui e aqui, pela voz de Jean-Claude Trichet, o BCE, para atenuar os efeitos negativos na avaliação da economia portuguesa pela Moody's, suspendeu a exigência de um 'rating' mínimo para as obrigações do nosso Estado. É pouco, diria mesmo é um passo tímido e irrelevante. Mero paliativo.
Corajoso e decisivo seria que o BCE, a CE, o grupo da Zona Euro e - porque não? - a UE, no conjunto, criassem mecanismos para afastar de vez o fantasma das 'agências de notação financeira' norte-americanas das economias europeias, na linha do que é proposto por Carlos Tavares, ao advogar a criação de uma agência exclusiva da Europa.
Até ver, com os baixos rendimentos e as dificuldades de vida a expandirem-se exponencialmente, nós, Portugueses, os Gregos e outros europeus vão continuar na macabra dança...porque "Os cavalos também se abatem'.
Um dos melhores filmes de Pollack, sem dúvida!
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