A sociedade humana sempre foi e é um vasto oceano de contrastes. À felicidade de uns, opõe-se a mágoa de outros. Natural, portanto, que enquanto uns se divertem no CE, a decorrer em Bruxelas, outros sofram cá fora, sem vislumbrar o fim do desfile das austeridades com que são massacrados.
Aos contrastes tradicionais, juntam-se, a cada instante, contradições após de contradições. Há uma espécie de ebulição permanente de sinais díspares e difusos que, realmente, nos faz desconfiar da possibilidade de um amanhã melhor. Pedro Passos Coelho, como é documentado pela imagem, estava felicissimo na sua primeira participação no CE. As coisas correram-lhe bem, o Barroso foi generoso, a Merkel simpática, Sarkozy um amigo e, portanto, o sucesso foi conseguido. O nosso homem garantiu que Portugal vai cumprir e que, com o novo governo e o apoio do PS, venceremos a crise.
Tanto esforço e optimismo, mas as contradições não nos deixam. Com efeito, desprezando o sucesso e o acolhimento do nosso PM, os mercados, sempre eles, hoje voltaram a registar recordes nos juros aplicados à dívida portuguesa: 11,678% a 10 anos; 14,269% para obrigações de tesouro a 5 anos; 15,873% para o prazo de 3 anos e, finalmente, 14,776% a 2 anos.
Há uns tempos, dizia-se que a subida de juros se devia à incapacidade de Sócrates de dar confiança aos mercados. O anterior PM contra-argumentava que a responsabilidade era da oposição, ao chumbar o PEC 4.
Agora que temos um primeiro-ministro que dá confiança, e até é poupadinho, o que está a suceder com os juros e os diabólicos - para alguns sagrados - mercados? A dívida grega, pois claro. Como, de resto, é reiterado por esta notícia da Reuters, que assegura que os investidores ainda não confiam na capacidade de solvência da Grécia.
A despeito do acordo dado pelo FMI e CE para novo resgate de tal dívida, a verdade é que subsistem dúvidas se Papandreu consegue fazer aprovar o novo 'pacote de austeridade'. O PM grego dispõe de uma margem de apenas 3 votos. Estando, pois, muito periclitante o sim do parlamento.
Mas, na Grécia, além do parlamento, há que contar com a rua. E se o país for para o abismo, o sistema financeiro europeu e o euro sairão muito mal tratados. Muito provavelmente não haverá razões para rir. Do outro lado do mar, nos EUA, Bernanke, presidente do FED, receia que a situação na Grécia afecte os mercados mundiais.
Portanto, senhores da Europa não se alonguem em risos e sorrisos. Também sei que jamais chorarão. Pensem a sério e actuem com celeridade, seriedade e solidariedade intra-europeia. Como Jean Monnet pretendia.
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