Estes tempos iniciais do governo PSD-CDS - já o esperava! - estão a ficar marcados por confrangedora submissão e falta de capacidade crítica às notícias da vida governativa. Ontem, ouvi o debate televisivo da SIC, mediado pela dócil Ana Lourenço, acerca do programa do XIX Governo. Salvo isoladissimos rasgos de Helena Garrido, a discussão foi entediante, por falta de profundidade de análise e imparcialidade.
O que se passa em televisão, em registos do género, é idêntico ao que sucede em jornais. O jornal "i", em título, exulta de contentamento: "Vem aí o choque liberal". O "Público" na edição 'on line', a toda a largura, faz alarde com a novidade: "Governo quer alterar feriados e diminuir pontes". Julgo perceber que o júbilo, na redacção do 'Público', se deve aos benefícios do Eng.º Belmiro nos negócios do 'Continente' - menos feriados menos gastos salariais e menos pontes mais compras. Para o ano, a festa com o Tony Carreira ainda será mais participada.
Tudo isto cheira a intoxicação, mas há ainda a contar com a desinformação. Vejam estes títulos:
Défice do OE no primeiro trimestre foi de 8,7% do PIB
Défice orçamental atinge 7,7% no primeiro trimestre
Afinal onde ficamos? 8,7% ou 7,7%? O 'Jornal de Negócios', obviamente, é que está certo.
Como se poderá ver no 'site' do INE, nas contas nacionais, o valor de 7,7%´, no final do 1.º trimestre de 2011, corresponde ao défice de uma anuidade, isto é comparado com o período hómologo de 2010. O objectivo, não esqueçamos, é atingir 5,9% de défice do PIB no final do ano de 2011. Os 8,7% do 'Diário de Notícias' referem-se à diminuição das necessidades de financiamento das Administrações Públicas, no 1.º trimestre deste ano, o que é coisa distinta.
Enfim, é o jornalismo que temos. E que provavelmente, não todos, merecemos.
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