As estreias políticas, por norma, constituem momentos solenes. Contudo, nem sempre o desenrolar da estreia se salda por sinais que augurem um caminho plano e sem obstáculos. Pedro Passos Coelho, que hoje foi um primeiro-ministro estreante no Conselho Europeu, corre o risco de iniciar um trajecto complexo, na companhia dos restantes líderes europeus; quase todos, entre 27, afectos à corrente neoliberal em que Coelho se posiciona, a despeito de representar um Partido Social-Democrata (PSD).
Coelho viajou na TAP em económica. Louvável. Veremos se será para continuar. Todavia, estes aspectos colaterais são meras minúcias, que a comunicação social adora relevar. A questão de fundo para Passos Coelho e seus companheiros do Conselho Europeu é a dívida grega e as implicações que dela se esperam para o sistema financeiro europeu. Juncker, presidente do Eurogrupo, lançou o alarme: "Crise grega pode virar a zona euro de pernas para o ar". Trichet, que preside ao BCE, também advertiu para o perigo de contágio à banca europeia.
A maior parte da dívida grega está dispersa por bancos credores europeus. Instituições financeiras da Alemanha, França, Holanda e Bélgica, como acentua o 'Público'. Ou mesmo espanholas, se atentarmos nas diligências que a ministra Salgado está a realizar junto da banca do país vizinho.
A dívida helénica transcende e muito as fronteiras gregas. Com um nível de propagação tal que já arrastou vários dirigentes europeus para divergências. A Sra. Merkel defende que a banca privada deverá colaborar na reestruturação dessa dívida. O Sr. Trichet tem opinião contrária. O Sr. Sarkozy anda atarantado com a exposição da banca francesa ao risco de incumprimento grego; o que já valeu a ameaça pela Moody's da baixa da notação de 3 bancos franceses - Banque Nationale de Paris, Société Générale e Crédit Agrícole.
É nesta Europa, em crise e também em estado de desorientação geral, que Passos Coelho se foi integrar. Tudo resultado da obra das ideias neoliberais e monetaristas que sustentaram a criação do euro. Hoje uma fatalidade para milhões de europeus. Apenas em função da dívida de um país claramente minoritário, económica e demograficamente.
Será que a grande bolha financeira, que começou a encher-se nos EUA, acabará por rebentar na e com a União Europeia? A probabilidade de suceder é considerável.
Adenda: O debilitado Millennium BCP, pela voz do seu presidente, Carlos Santos Ferreira, tem igualmente uma exposição de 700 milhões de euros à dívida grega. Além das fragilidades do próprio País, há a registar este facto para salientar que o nosso sistema bancário não está imune à eventual contaminação do incumprimento grego.
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