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quarta-feira, 8 de julho de 2015

A Grécia na Euro-Roleta

Parlamento Europeu
Alexis Tsipras, recebido entre aplausos e vaias, discursou no Parlamento Europeu. Segundo o ‘El País’, argumentou:
"A Grécia tornou-se praticamente falida porque há muitos anos os governos criaram um Estado permissivo do clientelismo e da corrupção".
E ainda:
"Temos de ser honestos: o dinheiro que tem sido dado à Grécia nunca chegou ao povo grego. São fundos que foram salvar bancos gregos e europeus." [Estão em causa 320.000 milhões de euros - muito dinheiro! acrescento eu]
Em suma, Tsipras diagnosticou com precisão quem (governos do Pasok e Nova Democracia) e como (financiamento de bancos estrangeiros e nacionais programado pela ‘troika’) a Grécia foi conduzida ao desastre herdado pelo Syriza.
A completar as vaias próprias de uma direita autoritária e arrogante que se sentiu ferida pelo referendo e sobretudo pela claríssima vitória do ‘Não’ às propostas dos dirigentes europeus, o germanófilo presidente do Partido Popular Europeu, Manfred Weber, invocando também os novos sudetas,  eslovacos e finlandeses, usou um estilo de pesporrência reles e ofensiva para afrontar Tsipras:
"A Europa já não confia em você para negociar"
Com que legitimidade o asqueroso fala em nome da Europa como um todo, para aviltar o chefe do Governo Grego de forma humilhante? O Sr. Weber, de quem Coelho e Portas são aliados, não está mandatado para falar em nome de milhões de europeus com opções políticas adversas àquela que perfilha. E como infringiu as regras elementares da democracia, sujeitou-se ao protesto da ala esquerda do PE, ao qual reagiu do seguinte modo dirigindo-se Tsipras:

“Os extremistas da Europa aplaudem-no!”.

Em sentido oposto, valeu também a moderação do presidente do Grupo dos Social-Democratas, Gianni Piatella, que excluiu a hipótese de um futuro da UE sem Tsipras.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Uns divertem-se, outros sofrem

A sociedade humana sempre foi e é um vasto oceano de contrastes. À felicidade de uns, opõe-se a mágoa de outros. Natural, portanto, que enquanto uns se divertem no CE, a decorrer em Bruxelas, outros sofram cá fora, sem vislumbrar o fim do desfile das austeridades com que são massacrados.
Aos contrastes tradicionais, juntam-se, a cada instante, contradições após de contradições.  Há uma espécie de  ebulição permanente de sinais díspares e difusos que, realmente, nos faz desconfiar da possibilidade de um amanhã melhor. Pedro Passos Coelho, como é documentado pela imagem, estava felicissimo na sua primeira participação no CE. As coisas correram-lhe bem, o Barroso foi generoso, a Merkel simpática, Sarkozy um amigo e, portanto, o sucesso foi conseguido. O nosso homem garantiu que Portugal vai cumprir e que, com o novo governo e o apoio do PS, venceremos a crise.
Tanto esforço e optimismo, mas as contradições não nos deixam. Com efeito, desprezando o sucesso e o acolhimento do nosso PM, os mercados, sempre eles, hoje voltaram a registar recordes nos juros aplicados à dívida portuguesa: 11,678% a 10 anos; 14,269% para obrigações de tesouro a 5 anos; 15,873% para o prazo de 3 anos e, finalmente, 14,776% a 2 anos.
Há uns tempos, dizia-se que a subida de juros se devia à incapacidade de Sócrates de dar confiança aos mercados. O anterior PM contra-argumentava que a responsabilidade era da oposição, ao chumbar o PEC 4.
Agora que temos um primeiro-ministro que dá confiança, e até é poupadinho, o que está a suceder com os juros e os diabólicos - para alguns sagrados - mercados? A dívida grega, pois claro. Como, de resto, é reiterado por esta notícia da Reuters, que assegura que os investidores ainda não confiam na capacidade de solvência da Grécia.
A despeito do acordo dado pelo FMI e CE para novo resgate de tal dívida, a verdade é que subsistem dúvidas se Papandreu consegue fazer aprovar o novo 'pacote de austeridade'. O PM grego dispõe de uma margem de apenas 3 votos. Estando, pois, muito periclitante o sim do parlamento.
Mas, na Grécia, além do parlamento, há que contar com a rua. E se o país for para o abismo, o sistema financeiro europeu e o euro sairão muito mal tratados. Muito provavelmente não haverá razões para rir. Do outro lado do mar, nos EUA, Bernanke, presidente do FED, receia que a situação na Grécia afecte os mercados mundiais.  
Portanto, senhores da Europa não se alonguem em risos e sorrisos. Também sei que jamais chorarão. Pensem a sério e actuem com celeridade, seriedade e solidariedade intra-europeia. Como Jean Monnet pretendia.

    

quinta-feira, 23 de junho de 2011

A Grécia: uma 'euro-fatalidade'?

As estreias políticas, por norma, constituem momentos solenes. Contudo, nem sempre o desenrolar da estreia se salda por sinais que augurem um caminho plano e sem obstáculos. Pedro Passos Coelho, que hoje foi um primeiro-ministro estreante no Conselho Europeu, corre o risco de iniciar um trajecto complexo, na companhia dos restantes líderes europeus; quase todos, entre 27, afectos à corrente neoliberal em que Coelho se posiciona, a despeito de representar um Partido Social-Democrata (PSD).
Coelho viajou na TAP em económica. Louvável. Veremos se será para continuar. Todavia, estes aspectos colaterais são meras minúcias, que a comunicação social adora relevar. A questão de fundo para Passos Coelho e seus companheiros do Conselho Europeu é a dívida grega e as implicações que dela se esperam para o sistema financeiro europeu. Juncker, presidente do Eurogrupo, lançou o alarme: "Crise grega pode virar a zona euro de pernas para o ar".  Trichet, que preside ao BCE, também advertiu para o perigo de contágio à banca europeia.
A maior parte da dívida grega está dispersa por bancos credores europeus. Instituições financeiras da Alemanha, França, Holanda e Bélgica, como acentua o 'Público'. Ou mesmo espanholas, se atentarmos nas diligências que a ministra Salgado está a realizar junto da banca do país vizinho.
A dívida helénica transcende e muito as fronteiras gregas. Com um nível de propagação tal que já arrastou vários dirigentes europeus para divergências. A Sra. Merkel defende que a banca privada deverá colaborar na reestruturação dessa dívida. O Sr. Trichet tem opinião contrária. O Sr. Sarkozy anda atarantado com a exposição da banca francesa ao risco de incumprimento grego; o que já valeu a ameaça pela Moody's da baixa da notação de 3 bancos franceses - Banque Nationale de Paris, Société Générale e Crédit Agrícole.
É nesta Europa, em crise e também em estado de desorientação geral, que Passos Coelho se foi integrar. Tudo resultado da obra das ideias neoliberais e monetaristas que sustentaram a criação do euro. Hoje uma fatalidade para milhões de europeus. Apenas em função da dívida de um país claramente minoritário, económica e demograficamente.
Será que a grande bolha financeira, que começou a encher-se nos EUA, acabará por rebentar na e com a União Europeia? A probabilidade de suceder é considerável. 
Adenda: O debilitado Millennium BCP, pela voz do seu presidente, Carlos Santos Ferreira, tem igualmente uma exposição de 700 milhões de euros à dívida grega. Além das fragilidades do próprio País, há a registar este facto para salientar que o nosso sistema bancário não está imune à eventual contaminação do incumprimento grego.