O PR, em
respeito pelas tradições instituídas, fez o discurso da praxe das comemorações do
25 de Abril na AR; este ano a histórica data completou o 40.º aniversário.
De forma igual aos
antecessores, comprometeu-se a ser o presidente “de todos os portugueses”. Revelou, uma
vez mais e na forma inábil do costume, a hipocrisia de que se serve em actos
públicos. Em cerimónias de circunstância, e com mais gravidade nos actos
políticos, tem demonstrado constantes vacuidades discursivas, propósitos dissimulados
e aleivosos em relação aos interesses do povo português.
O estatuto de primeiro magistrado
do País não o inibe, pois, de se imiscuir de forma condenável na vida
partidária, privilegiando, às vezes sub-repticiamente, outras com claríssima
impudência, o partido em que se reconhece e esse estranho aliado, em particular
para ele, chamado CDS de Paulo Portas, homem que há anos o rebaptizou de
Salazar.
Na escolha dos membros do
Conselho de Estado – a obstinação abjecta de ter alongado a participação nesse
órgão do amigo Dias Loureiro, suspeito de envolvimento no grave ‘caso BPN’, por
exemplo – como nas relações com governantes e os cidadãos, Cavaco, de
rectilínea figura e sorriso ridiculamente geométrico e artificial, é, de facto,
uma personagem que deliberadamente se molda em função de quem fala – raramente nomeia
adversários políticos, por falta de frontalidade – e dos actos de que, em tão
pretensiosa como falsa sabedoria, se posiciona como juiz supremo.
O discurso proferido na AR não se
desviou um centímetro do perfil e comportamento definidores do homem que ora
preside à nação, sob o estigma do provinciano de Boliqueime, imigrante na
capital e em centros de poder meticulosamente conquistados, segundo planos
traçados com a frieza própria de quem, em primeira instância, tem os seus
interesses como fundamento decisivo.
Na sociedade dinâmica e complexa
em que vivemos, os portugueses precisariam, na AR, de alguém muito distinto,
possivelmente até de personalidade oposta à de Cavaco Silva. Este é o homem
que, no período democrático, com exótica e/ou ingénua conivência dos cidadãos, durante
mais tempo vem a exercer altas funções políticas. Iniciou-se em PM, após uma
viagem casual de estreia de carro à Figueira da Foz. Depois com a viatura bem
rodada e estruturada, passou a viajar entre a Travessa do Possolo e Belém – uma
mescla de trajectos físicos e políticos que marca o acesso com êxito ao poder.
Desde há mais de uma ano que o
grande desígnio do presidente Silva, como o denominou o ‘laranja’ e boçal
madeirense Jardim, é alcançar a institucionalização da “união nacional cavaquista”,
tentando amarrar e subordinar o PS ao projecto político que, no curtíssimo e simultaneamente
alongado prazo, tem sido devastador para milhões de portugueses, salvo as
habituais excepções – o seu amigo Catroga, por exemplo.
Desde que o PSD seja o maestro a
escolher a obra e a dirigir a sinfonia, o PS integra a orquestra para executar
a música neoliberal do partido da Lapa. Cavaco, se conseguir moldar António
José Seguro a este figurino e alcançar o desiderato desejado, não me
surpreenderá. Consolidará de forma institucional e mais sólida a marginalização
dos partidos da ala esquerda do Parlamento, PCP e BE, que representam algumas
centenas de milhares de portugueses que o PR despreza como tantos outros que,
embora afectos a outros domínios, não se imaginam marginalizados.
O País está de rastos e de rastos
continuará até que a direita esteja amparada num presidente – e que presidente!
– numa maioria – e que maioria! - e num governo – e que governo!
Em respeito pelo sublime
vocabulário de Coelho, isto, para os cidadãos, é uma “maçadoria” para a qual
não nos é possível “lixar”. Sim porque “lixados” já estamos nós. E hoje, em
Lisboa e no Porto, fundamentalmente, houve mais de duas centenas de milhares
de manifestantes que reclamaram a queda do governo. O PR sabe, mas ignora,
porque não é claramente o seu povo quem contesta o governo na rua… ou mesmo no
ambiente caseiro.
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