O homem era na época menino. Um “retornadozinho”.
Jamais conheceu verdadeiramente o Portugal Continental de então, a Metrópole. Nunca sentiu a
falta de liberdade. Nem o destino macabro daqueles da minha geração, mortos em
África - em Angola, na Guiné ou em Moçambique. O Luís, o António, o Pedro, o
Bino… bom, estes foram os meus amigos desaparecidos. E os outros? Aos milhares embarcavam
em Alcântara ou na Rocha, banhados por lágrimas de quem no cais, em especial os
pais, os viam sumir Tejo fora. À velocidade de penitência de 2 a 4 nós; nós diferentes daqueles que, no sofrimento, se enrolavam nas gargantas de quem
parte e de quem fica. Lá iam eles. Talvez para a morte ou para rumos de vida impensáveis.
Iam combater. Defender o império, diziam os poderosos e amantes da ditadura.
Parte dos jovens militares tinham
como destino Luanda. Onde viviam certos colonos sem limites de salário máximo. Para os filhos
destes, na infância dos 2 aos 10 anos, a escassa idade era obstáculo natural à
interpretação do que se passava à sua volta. De dia, os ‘Pedrinhos’ eram tratados
e transportados às costas, esse colo negro aconchegador, da Conceição, da Maria
ou da Rafaela, ao mesmo tempo lavadeiras. Nas noites quentes, o café ‘Polo
Norte’ ou gelataria ‘Baleizão’, entre outros, eram os pontos de encontro dos
colonos luandenses de sucesso e filhos.
Na noite do 25 de Abril de 1974,
e à semelhança do epíteto de cubanos com que o Alberto João nos brinda, aqui, neste
Portugal governado agora por Pedro que provavelmente se babou de gelado do ‘Baleizão’,
fomos classificados de traidores. Todos eramos comunistas e vendilhões da pátria;
uma vez que era a deles e não a nossa, escreva-se inteiramente com minúsculas.
Pedro, o miúdo babado de gelado,
hoje baba-se da chefia do governo. Sem saberes suficientes para o cargo. Jogos
partidários de ‘jotas’. Relvas, outro miúdo vindo de Angola, foi a alavanca. Da
política, Pedro andou afastado. Ignora, em rigor, o que o 25 de Abril significou
por cá para milhões de portugueses.
Todavia, a vida tem passagens adversas.
Alberga gente má. Ou melhor, tem ‘Pedros’ sem préstimo nem valor, mas autoritários e pedantes.
Os
tais que se atrevem a considerar lateral o conflito entre a Assunção,
presidente da AR, e os militares de Abril, barrando a estes últimos a liberdade de falarem na Casa da Democracia que restituíram ao Povo, na comemoração
da data que patrioticamente inscreveram na História de Portugal.
Quando acaba o tempo deste Pedro
pedante, infame, inflamado de tiques autoritários com trabalhadores activos,
reformados e pensionistas? Sim, quando acaba ele de lamber a gelada vida que não
é do Baleizão, mas poderia ser a de Catarina Eufémia? Vida dura, difícil, coarctada
subtilmente nas liberdades laborais e de cidadania; vida podre que obriga o
País a esvair-se em emigração, atraso e desertificação.
‘Pedro’ é escrito com as mesmas palavras de ‘podre’.
País infeliz…até nos anagramas.
Sem comentários:
Enviar um comentário