quinta-feira, 24 de abril de 2014

Os juros e a economia Portuguesa - visão do Wall Street Journal

O governo teve esta quarta-feira um dia de felicidade e euforia. Os juros do leilão de dívida a 10 registaram uma descida histórica para 3,575%, tendo sido colocados 750 milhões de dívida e a procura superou 3,5 a oferta.
Segundo motivo de euforia foi causado pelo défice das Administrações Públicas do 1.º Trimestre. A receita do IRS (e mesmo tendo em conta que a comparação é enviesada porque a nova tabela de 5 escalões só entrou em vigor em Março de 2012) o aumento de receitas desse imposto, diz o governo, é de 4,5%, o que significa que são, sobretudo, os trabalhadores a cumprir em grande parte as impiedosas medidas do programa da Troika e de outras adicionais ao 'memorando de entendimento' com que o governo resolveu agravar o castigo dos portugueses.
Infelizmente, o governo poderá estar cheio de entusiasmo e de convicções de menores danos eleitorais nas 'europeias', mas a situação do País é muito mais grave do que aquela que nos pretendem vender; com a conivência dos analistas do Banco Carregosa e de outros bancos e agências que dizem o que Passos, Portas & Cia. gostam de ouvir. A verdade fica de lado.

Para a situação de Portugal ser também debatida à luz da informação de outras fontes, mais isentas e conhecedores dos detalhes da vida económica do País, eis a tradução de um artigo publicado ontem, em cima da hora, no Wall Street Journal:

Tradução

Wall Street Journal 23-04-2014



Portugal, Milagre ou Miragem? 


Comentário por Alen Mattich


Os investidores não conseguiram suficientes obrigações do governo Português vendidas quarta-feira.
A dívida de 10 anos registou um total de €2,6 mil milhões em licitações, para um montante de €750 milhões, conduzindo a rendimentos até um nível abaixo de 3,60%. Isso é tão baixo como os rendimentos de obrigações nos dias calmos, antes do incumprimento da Grécia causarem nos investidores dúvidas acerca do futuro da moeda única.

Graças à confiança renovada dos investidores, o país deverá anunciar no próximo mês a sua saída de um programa de resgate de 2011, implementado pelo Fundo Monetário Internacional e instituições europeias.
Mas o que parece claro é que o colapso do rendimento – embora não no todo tão aparentemente dramático em relação a títulos do governo alemão equivalentes – tem mais a ver com fé na determinação do Banco Central Europeu em manter a moeda única intacta do que com a confiança nos fundamentos económicos de Portugal.
Tudo isso é porque a economia de Portugal só está a revelar sinais de recuperação. O desemprego continua a ser preocupantemente alto, acima dos 15%, tendo atingido uma média de mais de 16% no ano passado. Os esforços do governo para reduzir o seu défice orçamental tornará difícil fazer cair com celeridade a taxa de desemprego nos próximos anos.


E apesar do défice da balança corrente ter sido reduzido surpreendentemente dos grandes níveis da pré-crise para um superavit modesto, devido em grande parte a um colapso na procura interna. A economia cresceu apenas em um dos últimos seis anos e refazer o caminho perdido vai ser trabalhoso.


Além do mais, um grande peso de dívida pública aumenta o risco de crises futuras. Especialmente se os investidores levantarem dúvidas sobre a capacidade do BCE de manter suas promessas.



Fim da Tradução 

(Adenda - 
1)  Os trechos destacados a 'bold' são da minha iniciativa.
2) A nossa vida, afinal, não está assim tão fácil como nos querem fazer crer os governantes e os propagandistas de serviço - José Gomes Ferreira à cabeça. Talvez alguns, agora adversários, venham a reconhecer que para sair desta embrulhada um dos instrumentos é, de facto, a reestruturação da dívida e a libertação de meios financeiros para o investimento, público e privado; se possível, para recuperarmos o tecido produtivo cuja destruição foi iniciada por Cavaco Silva, o tal do "falar oralmente".)

















4 comentários:

  1. O post não deve ser notícia nas tvs, pelo que Gomes Ferreira, Medina & Comandita vão continuar a formatar os portugueses "para o sucesso"do governo.
    Obrigado Carlos Fonseca

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  2. 24.ABR.2014 00:00
    Banco de Portugal denuncia farsa nas exportações

    Carlos Costa, governador do Banco de Portugal (Foto: D.R.)
    Banco mostra que o contributo para a retoma de mais de 30% das exportações portuguesas em 2013 está sobrevalorizado

    Os maiores exportadores portugueses contribuem bem menos do que se pensa para o aumento da riqueza interna da economia, vulgo PIB, diz o Banco de Portugal.

    O caso mais evidente é o do sector dos produtos petrolíferos refinados, onde a Petrogal (grupo Galp) é o maior ator: é o grande exportador por excelência, em peso e em dinamismo anual, mas importa tanto que acaba por quase anular o seu contributo aparente para a expansão anual.

    No boletim económico da primavera, o banco central governado por Carlos Costa denuncia a situação, analisando o que aconteceu em 2013. “Por exemplo, os produtos petrolíferos refinados reduzem o seu peso (de 7,8% nas exportações nominais totais de bens para 1,9%) enquanto os artigos de vestuário registam um aumento (de 5,5% para 7,1%)”. É a diferença entre considerar-se a evolução normal – utilizada pelo Governo para se congratular pelo sucesso do ajustamento externo – e usar uma medida corrigida da dependência desses sectores às importações.

    Também o contributo líquido dos refinados é muito menor. As exportações de bens totais avançaram 27,4% em 2013, sendo que o contributo oficial do sector em causa se saldou em 2,1 pontos percentuais. A medida corrigida baixa essa ajuda para apenas 0,5 pontos.

    Vestuário vale mais que combustíveis
    Naquele exemplo em concreto, torna-se evidente que o sector do vestuário está muito mais emancipado em relação às importações, é mais nacional que os outros. Portanto, ajuda muito mais do que se julga à retoma da economia. O seu peso (corrigido) no total das exportações de mercadorias até é superior ao do sector dos combustíveis.

    Segundo o Banco de Portugal, “é possível constatar que nos últimos anos as exportações nominais de bens têm registado na maioria dos meses uma taxa inferior quando se leva em consideração os conteúdos importados”. E que “um determinado aumento das exportações terá um impacto maior no PIB se assentar em bens com menor conteúdo importado”.

    Em termos mais agregados, o Banco mostra que o contributo para o PIB de mais de 30% das exportações portuguesas em 2013 está sobrevalorizado. A seguir aos refinados, os sectores mais inflacionados são: petróleo bruto e gás natural; produtos associados a serviços de saneamento básico e tratamento de resíduos; produtos da pesca e da aquicultura; e produtos químicos, diz o estudo.

    Este enviesamento não é um exclusivo de Portugal, é uma consequência de o país estar inserido nas “cadeias de valor globais”, como também observa o Banco, mas levanta o problema de saber se a retoma em curso pelas exportações não será em parte engolida pela dependência que muitos exportadores nacionais têm face à produção importada, sejam produtos intermédios, seja a tecnologia que o país não fabrica.

    Esse risco da retoma pelas exportações poder não ser sustentável até foi visitado pelo FMI já este ano, provocando reações muito negativas no seio do Governo. Paulo Portas, o vice-primeiro-ministro, chamou às exportações “o porta-aviões da recuperação”.

    O BdP manteve as projeções económicas publicadas em março. A economia deverá crescer 1,2% este ano. As exportações ajudam com 2,1 pontos, mas as importações engolirão na íntegra esse ganho. O crescimento só acontecerá graças à procura interna (consumo e investimento).Luís Reis Ribeiro DINHEIRO VIVO

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    1. Caro Adelino Ferreira,
      Muito grato pela excelente participação. Tinha até vontade de o transformar em 'post' da sua autoria, com o destaque devido do texto do Dinheiro Vivo.
      Está de acordo?

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    2. Caro Carlos Fonseca
      Só agora li o seu comentário, sobre o meu, disponha!
      Cumprimentos

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