(Nota introdutória: com o objectivo de permitir a divulgação em língua
portuguesa do texto integral do Relatório das Previsões de Primavera do FMI,
excepto a tabela no final da tradução que não tive possibilidade de traduzir do
inglês, realizei a presente tradução, em complemento das notícias
sobre o tema publicadas no jornal
‘Público’. No caso de serem detectados erros ou expressões tecnicamente
incorrectas, agradeço que sejam citadas em comentário para eventuais correcções.
Entretanto, vou proceder a uma revisão mais atenta da tradução e introduzir as
alterações que me pareçam exigíveis.)
TRADUÇÃO
PERSPECTIVA ECONÓMICA MUNDIAL
Reforço da recuperação, mas exige
esforço mais forte de políticas
Análise do FMI
8 de Abril de 2014
·
A economia global crescerá 3,6 por cento em 2014
e 3,9 por cento em 2015
·
Retoma nas economias avançadas, mas a
recuperação global ainda se manterá irregular e abaixo da média
· Os riscos incluem incertezas geopolíticas,
potenciais reversões de fluxo de capital e inflação baixa
A recuperação global
está a tornar-se mais ampla, mas as mudanças ambientais externas colocam novos
desafios aos mercados emergentes e economias em desenvolvimento, diz a mais recente
Perspectiva Económica Mundial (World Economic Outlook [WEO] do FMI).
O FMI prevê para o crescimento mundial uma média de 3,6 por
cento em 2014―acima dos 3 por cento em 2013―e um aumento para 3,9% em 2015.
A robustez da recuperação da Grande Recessão nas economias
avançadas é um desenvolvimento positivo, de acordo com os profissionais do FMI.
Mas o mais recente WEO também enfatiza que o crescimento permanece abaixo da média
e desigual em todo o globo.
"A recuperação que começou a firmar-se em Outubro está
a tornar-se não só mais forte, mas também mais ampla," disse o Economista
Chefe do FMI, Olivier Blanchard. "Apesar de estarmos longe de uma
recuperação completa, a normalização da política monetária — convencional e não
convencional — está agora na ordem do dia."
Blanchard advertiu, no entanto, que, a despeito de riscos
agudos terem diminuído, nem todos os riscos desapareceram.
Neste cenário, a economia global está ainda frágil, apesar
das perspectivas de melhoria, e riscos importantes — tanto antigos como
recentes — permanecem. Riscos identificados anteriormente incluem a finalização
da agenda de reformas do sector financeiro, os níveis de dívida alta em muitos
países, persistentemente elevadas taxas de desemprego e as preocupações sobre
os mercados emergentes.
Novas preocupações no horizonte incluem persistentemente
baixos níveis de inflação nas economias avançadas, uma perspectiva mais fraca
para mercados emergentes do que se pensava no segundo semestre do ano passado e
recentes tensões geopolíticas. Neste contexto, o WEO ressalta são
necessários esforços de políticas mais fortes para poder restaurar inteiramente
a confiança e garantir uma recuperação global durável e sustentada.
Em geral, a perspectiva continua largamente inalterada em
relação ao WEO de Outubro de 2013
(ver tabela).
Robustecimento das
economias avançadas
·
Um
maior impulso ao crescimento global chegou dos Estados Unidos, onde se projecta
um crescimento anual em 2014–15 acima da tendência de cerca de 2¾ por cento.
Uma consolidação orçamental mais moderada ajuda; o apoio também vem das
condições monetárias acomodatícias, de um sector imobiliário em recuperação e de
mais riqueza das famílias.
·
Na
área do euro, o crescimento tornou-se positivo. Em toda a área do euro, uma
forte redução do ritmo de aperto orçamental é esperada para ajudar a promover o
crescimento. Fora da área do euro central, contribuições líquidas das exportações
ajudaram a mudança, como a estabilização da procura interna. No entanto, o
crescimento da procura é esperado que permaneça lento, dada a contínua
fragmentação financeira, crédito dificultado e um montante de dívida elevada
das empresas. O desempenho de crescimento, portanto, continuará em desfasamento
no núcleo da área do euro.
·
No
Japão a actividade económica deverá receber um impulso de alguns factores de
crescimento subjacentes, nomeadamente o investimento privado e exportações. Não
obstante, actividade económica no todo está projectada para ser moderadamente
lenta em resposta a uma postura de restrições da política orçamental em
2014–15, começando com o aumento do imposto sobre o consumo.
Mercados
emergentes e economias em desenvolvimento
·
Os
mercados emergentes e economias em desenvolvimento continuam a contribuir com
mais de dois terços para o crescimento global, e o seu crescimento está
projectado para aumentar moderadamente de 4,7 por cento em 2013 para 4,9 por
cento em 2014 e 5,3% em 2015. O momento mais fraco em comparação com economias
avançadas reflecte, em parte, o ajustamento a um ambiente financeiro externo
menos favorável e, em alguns casos, continuaram o investimento fraco e outros
constrangimentos estruturais internos. De agora em diante, as exportações mais
fortes para as economias avançadas têm perspectivas de sustentar o aumento
moderado no crescimento.
·
A
previsão para a China no sentido de que crescimento continuará a manter-se
globalmente inalterado em cerca de 7½ % em 2014–15 uma vez que as autoridades
tentam colocar a economia num caminho de crescimento mais equilibrado e
sustentável. Na Índia, crescimento real do PIB está projectado para se
fortalecer, em parte devido aos esforços de governo no sentido de revitalizar o
crescimento do investimento.
·
Apenas
uma modesta aceleração da actividade é esperada para o crescimento regional na
América Latina, com esse crescimento a
subir de 2½ por cento em 2014 para 3 por cento em 2015. Algumas economias
recentemente enfrentaram forte pressão do mercado.
·
Na
África subsaariana, o crescimento continua em ritmo forte e é esperado que
aumente de 4,8% em 2013 para 5½ % em 2014–15. Projectos relacionados com
produtos e matérias-primas em países da região estão sob expectativa para
apoiar um crescimento mais elevado.
·
O
Médio Oriente e Norte de África enfrentam o desafio de condições, com o
crescimento projectado para aumentar apenas moderadamente em 2014–15. A maior
parte da recuperação é devida às economias de exportadores de petróleo,
enquanto muitas economias importadoras desse mesmo petróleo continuam a lutar
com difíceis condições sociopolíticas e de segurança.
·
Perspectivas
de curto prazo na Rússia e muitas outras economias da Comunidade de Estados
independentes (CEI) têm sido revistas em baixa, reflectindo as consequências da
crise da Ucrânia. Em emergentes e em desenvolvimento na Europa, o crescimento é
esperado que desacelere em 2014, antes de recuperar moderadamente em 2015, em
grande parte, reflectindo mudanças nas condições financeiras externas.
Riscos negativos
principais
A WEO nota que o equilíbrio de riscos
para o crescimento global tem melhorado, mas que permanecem alguns obstáculos
ao longo do caminho. Estes incluem o seguinte:
Perigo de inflação baixa. O relatório reitera o risco de
inflação persistentemente baixa nas economias avançadas, especialmente na área
do euro. A inflação deverá manter-se abaixo do alvo por algum tempo, ao mesmo
tempo que o crescimento não deverá ser suficientemente elevado para a folga económica
diminuir rapidamente. Em resposta, as expectativas de inflação de longo prazo
traduzem ser mais provável vir a mesma a distanciar-se em sentido descendente, gerando
essa mesma inflação ainda a nível menor do que o esperado, ou possivelmente
mesmo até à deflação. O resultado daria origem a prematuros aumentos no custo
real dos empréstimos e maior peso da dívida. O perigo persistente é que quanto
mais fraca permanecer a inflação, mais
vulnerável se torna a região no sentido em que é prejudicial a deflação da
dívida em caso de choques adversos à actividade económica.
Risco de mercado emergente. Mais apertadas condições
financeiras e o consequente mais elevado custo de capital podem levar a uma
desaceleração maior em relação à previsão de investimento e consumo de bens
duradouros em mercados emergentes e, desse modo, incidir negativamente sobre o
crescimento. É ainda outra preocupação o potencial de reversão nos fluxos de
capitais dos mercados emergentes para as economias avançadas com investidores
avessos ao risco, a procurar activos das economias avançadas relativamente mais
atraentes. E existe o risco de ataques renovados da volatilidade do mercado com
a normalização esperada para uma postura mais neutra de política monetária nos
Estados Unidos. Em ambos os casos, o resultado provavelmente poderia levar a
turbulência financeira e ajustamentos difíceis em alguns mercados emergentes,
com um risco de contágio.
Riscos geopolíticos. Os desenvolvimentos recentes na Ucrânia aumentaram os
riscos geopolíticos. Maiores repercussões para a actividade entre vizinhos parceiros comerciais poderiam
surgir, no caso de maior turbulência conduzir a uma luta renovada de superior
aversão ao risco nos mercados financeiros globais, ou de perturbações no
comércio e finanças de sanções intensificadas e contra-sanções.
Implicações políticas
Para as economias
avançadas, o
relatório sublinha que os responsáveis políticos precisam de evitar uma
retirada prematura da acomodação monetária, dada a continuidade da consolidação
orçamental, resultado ainda de grandes lacunas e inflação muito baixa. Na área
do euro, mais flexibilização da política monetária, incluindo através de
medidas não convencionais, é recomendada para sustentar a actividade e ajudar a
alcançar o objectivo da estabilidade de preços do Banco Central Europeu. E no
Japão, os legisladores precisam entregar a "terceira" seta de
"Abemonics" (conjunto de medidas tomadas pelo PM Shinzo Abe em
Dezembro de 2012) — reformas estruturais para incrementar o potencial de
crescimento.
Para economias de
mercados emergentes,
as medidas políticas adequadas serão diferentes. Mas ao permitir que as taxas
de câmbio respondam às mudanças de fundamentos e facilitem o ajustamento
externo muitas vezes será um passo fundamental para a estabilidade. Muitas
economias também precisam de um novo conjunto de reformas estruturais para
aumentar o potencial de crescimento. Estas incluem o investimento em infra-estruturas
públicas, remoção de barreiras à entrada nos mercados de produtos e serviços e,
na China, crescimento de investimento para reequilíbrio do consumo.
Nas economias de
baixos rendimentos
será necessário evitar uma acumulação de dívida externa e pública. Muitas
destas economias conseguiram manter o forte crescimento, em parte como
resultado de políticas macroeconómicas melhoradas, mas também o seu ambiente
externo está mudando.
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