Sinto a sofreguidão do tempo a
correr, louco na celeridade e pulverizado de transformações de que os homens –
os políticos, principalmente - impregnaram a sociedade. Como defendia Marcel
Proust, o tempo, em si mesmo, é desprovido de conteúdo. Porém, é o abrigo de
tudo que desfila na sua incessante contagem. Uma regra a que não escapam os
eventos da vida colectiva desde sempre e as figuras inextinguíveis da História
da Humanidade.
Nasci e vivi neste País nos
tempos da doutrina, das tradições e das vozes medievas, a exaltar uma estranha
felicidade de “estarmos orgulhosamente
sós”. Orgulho fétido, lançado pelos militares de Abril para um desterro
distante. Tão longínquo que jamais se sentiu o exalar da fedorenta e opressiva
tirania.
Dos tempos democráticos, neste
40.º aniversário do 25 de Abril, o País vive a pior crise social, económica e
financeira de sempre, sob o comando de um grupo de gente, na maioria, de escassa cultura
que abraçou a vida política através das ‘juventudes partidárias’, por descarado
e ignóbil carreirismo e ambições de carácter material e mediático.
Tiveram excelentes mestres, ou
seja, alguns dos retirados; muitos acumularam fortunas sem escrúpulos quanto
aos meios utilizados, em diversos casos dolosamente. Tudo à custa de um povo,
nesta hora fustigado por nova tirania, traçada em ‘ateliers’ financeiros e executada por títeres subservientes a
centros de poder estrangeiros – do FMI de Washington à Comissão Europeia e BCE;
estes últimos comandados desde Berlim.
É graças a esta sórdida gentalha,
às ordens de poderes externos não sufragados, que os portugueses, em vez do “orgulhosamente sós”, estão agora submetidos
a uma soberania decapitada e vivem “humilhantemente
subjugados”. Uns, muitos, emigram; outros, também muitos, vivem sem
emprego, em situações de extrema pobreza, ou mesmo de miséria; outros especiais:
idosos, sem recursos e assistência médica capaz, sofrem na morbidez do caminho
abreviado para a morte, ou crianças, mais de 120.000, que morreriam de fome se
não existissem ajudas de instituições de solidariedade criadas pela sociedade
civil.
É desta sórdida gentalha, ocupante
das salas do poder, a derramar mentiras a propósito da baixa de juros e a
falsear dados macroeconómicos, como o peso real das exportações na Economia
Portuguesa, que temos de nos livrar.
É desta sórdida gente hipócrita,
desumana e que, dando-se conta ou não, exerce uma governação assassina que nos
devemos livrar.
É desta sórdida gente que temos
de nos libertar, em busca do tempo perdido nestes últimos três anos, de perdas
de direitos laborais, de salários, de prestações sociais, de assistência na
saúde ou na prestação dos serviços do Estado na educação.
Temos de expurgar toda esta ganga
das nossas vidas, para que o espírito e as conquistas do 25 de Abril se
revigorem fulgurante e definitivamente, em benefício do povo português.
Vivam os militares de Abril! Viva
a memória de Salgueiro Maia! Lá estarei, daqui a umas horas, no Largo do Carmo
com milhares na homenagem póstuma a um capitão que contribuiu decisivamente
para que uma data, 25 de Abril, se tornasse intemporal e simbólica da felicidade do povo português.
http://pt.m.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:O_Grito.jpg
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