O jargão “nós não somos a Grécia” tornou-se cansativo e exasperante. Em
conversas com amigos, tenho o hábito de retorquir que “não somos a Grécia, nem as Honduras, nem o Chade, nem o Azerbaijão, nem
a Moldávia, e nem mesmo esses outros países como a Lituânia, Letónia e Estónia,
bálticos e membros, como nós, da Zona Euro”; nem qualquer outro país que
queiram repescar da longa lista ONU”.
Interrogo-me também se o
martelado jargão tem outro objectivo senão o da defesa dos políticos que o proclamam
com frequência. Não ser a Grécia não nos liberta de pertencer à mesma
comunidade monetária, Zona Euro, e aos efeitos de contágio pela Grécia, ou
outro país em crise, dos restantes da citada comunidade.
Alguns podem inferir que este meu
posicionamento é mero acto de esquerdismo, consonante com as políticas do
Syriza. Não, não é! Consiste apenas em reconhecer que os compromissos conducentes ao linchamento, exigidos pela CE, BCE e FMI:
- Cortes adicionais de salários e pensões.
- Aumento do IVA para 25%
- Excedente orçamental de 1% (o governo grego aceita o limite de 0,75%),
constituem um conjunto de
condições demasiado penosas para um povo que, devido à adesão ao euro e extorsão de rendimentos desde o 1.º resgate, tem estado sujeito aos dramas do desemprego, da pobreza e da
miséria, criados desde os programas de severa austeridade que, desde a primeira
hora, a ‘troika’ impôs à Grécia – não
é despiciendo o facto de Mário Draghi, anterior vice-presidente da Goldman
Sachs e hoje a presidir ao BCE, ter ajudado a maquilhar as contas para que a Grécia
cumprisse os requisitos de entrada na Zona Euro.
Por um conjunto objectivo de motivos,
Portugal não é a Grécia. Todavia, o verbo não é ‘ser’ e sim ter e continuar a
ter (considere-se pareceres do FMI) políticas de austeridade que a coligação
PSD+CDS aplica sem a mínima sensibilidade pelo empobrecimento de centenas de
milhares de portugueses, uns desempregados cá dentro e outros ajudados lá fora
pelos caminhos de emigração para que foram impulsionados pelas políticas e incentivos
efectivos de quem nos governa há 4 penosos anos. O Syriza, eleito
democraticamente, recusa igual receita.
Na Grécia e aqui, a austeridade
não é a via recomendável para o desenvolvimento económico e social. A solução
para o crescimento económico, isso sim, deverá fundar-se nos “estímulos
orçamentais como a forma mais fácil de agir nas actuais circunstâncias”, como defendeu Laurence Ball, professor na
Universidade Johns Hopkins nos Estados Unidos, em
recente intervenção no Fórum do BCE realizado em Lisboa.
Laurence
Ball afirmou também:
“É
muito difícil acreditar que a Grécia sai do euro e todos os outros ficam.”
E ainda:
“Há
alguma coisa errada no mundo se começamos a chamar um sucesso a uma economia
com 13% de desemprego”.
Coelho e Portas, bem como a sua
guarda de honra, se não assistiram ao Fórum citado, tomaram conhecimento,
certamente, desta última mensagem. Nem imagino o grau do incómodo sentido. Indirectamente foram classificados de mentirosos. O que, em boa verdade, são!
E, se quiser uma achega ao "milagre" da descida da Taxa de Desemprego, está mais que na altura de se estudar os valores da taxa de suicídios dentro da faixa etária de idades activas (18-55 anos) nestes últimos 3 ou 4 anos. Com certeza quase absoluta, vamos ter uma péssima surpresa.
ResponderEliminarCompletamente de acordo. Veja-se, a título de exemplo, o suicídio do casal das imediações de Pombal, dentro do próprio carro. Motivo: falta de rendimentos do trabalho e penhora da casa onde viviam. Conheço bem, no terreno diria, o Alentejo e nessa vasta província os suicídios de pessoas em idade activa são numerosos. Deste e de outros fenómenos que camuflam situações de desemprego, de pobreza e de miséria não há estatísticas.
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