Tenho ficado bastante tranquilo
sobre a Grécia, não querendo gritar 'Grexit' em teatro lotado. Mas considerados
os relatórios das negociações em Bruxelas, algo deve ser dito — nomeadamente, o
que fazem os credores e em particular o FMI, que pensam eles que estão a fazer?
Isto vai ser uma negociação sobre
metas para o saldo positivo primário e em seguida sobre o alívio da dívida que
encabeça intermináveis crises futuras. E o governo grego concordou com alvos de
excedentes na verdade bastante elevados, especialmente tendo em conta o facto
de que o orçamento teria em enorme ‘superavit’
primário, se a economia não estivesse tão deprimida. Mas os credores continuam
a rejeitar propostas gregas alegando que se baseiam muito em impostos e não o
suficiente sobre cortes de despesas. Então ainda estamos no capítulo de ditar a
política interna.
A suposta razão para a rejeição
de uma resposta baseada nos impostos é que esta prejudicará o crescimento. A
reacção óbvia é: vocês estão brincar connosco? As pessoas que, de forma clara e
absoluta, não conseguiram ver o dano que a austeridade causaria — ver o
gráfico, que compara as projecções em 2010 face à realidade — estão agora a dar
um sermão a outros a respeito de crescimento? Além disso, as preocupações de
crescimento estão todas do lado da oferta, numa economia a operar, seguramente,
pelo menos 20% abaixo da capacidade de funcionamento.
Fala-se com as pessoas do FMI e
eles argumentarão sobre a impossibilidade de lidar com o Syriza, manifestando o
seu aborrecimento com arrogância e assim por diante. Mas não estamos aqui na
escola secundária. E agora são os credores, muito mais do que os gregos, que continuam
a mudar a linha de chegada. Então o que está a acontecer? O objectivo é quebrar
o Syriza? É forçar a Grécia a um padrão presumivelmente desastroso, para
encorajar os outros?
Neste ponto, é hora de parar de
falar acerca de "Graccident"; se o 'Grexit' acontecer será porque os
credores, ou pelo menos o FMI, queria que acontecesse.
Com um desvio tão imponente, não podemos estar a falar de um mero erro....
ResponderEliminarCaro João Mestre, é um erro grave e profundo. O plano de austeridade, segundo a receita sob comando do FMI, produziu precisamente o inverso do resultado que enunciava. Porém, existe neste caso um acto criminoso, ao insistir na aplicação de políticas cujo resultado está à vista. Talvez o objectivo seja mesmo expulsar o Syriza do poder.
ResponderEliminarOnde o FMI intervém, os países ficam de rastos. A 'receita' é conhecida. Para quê insistir?! A propósito: a mando de quem é que o FMI opera?
ResponderEliminarA mando da Europa, que usufrui do direito do exercício exclusivo do cargo de Direcção-Geral por um europeu - os americanos têm direito equivalente no Banco Mundial - mas também sob as ordens dos EUA. Não é por mero acaso que a sede do FMI foi instalada em Washington.
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