terça-feira, 15 de maio de 2012

Merkel e Hollande em Berlim, à volta da Grécia

Arrancou em Berlim a era Merkel-Hollande. Do ponto de vista das emoções e afectos, fotógrafos e operadores de câmara tiveram de se contentar com imagens mais frugais. Aos sorrisos, beijos e até uma certa sensualidade do casal ‘Merkozy’, sucede agora a sobriedade institucional do ‘Merkande’  - fusão onomástica, acrónimo identificador ou aquilo que se queira chamar, em respeito pela substituição do elemento masculino do par.
Ao que se percebe das notícias de diversas fontes, 'Público', 'El País' e 'Le Monde' e ainda esta última, em encontro frio e de mútuo respeito, Merkel e Hollande escolheram a Grécia como tema principal das conversações. Ambos garantiram defender o objectivo de manter aquele país na ‘Zona Euro’. Curiosamente, a longilínea e sorridente Lagarde, directora-geral do FMI,   admite a "saída ordenada" da Grécia do euro. Krugman, por seu turno, vai ainda mais longe. Vaticina a saída do euro da Grécia e dos restantes países; ou seja, a extinção da moeda europeia. Krugman, no entanto, é um comentador muito volátil, como testemunhámos em Lisboa.

Toda esta gente, é bastante óbvio, se move interesseiramente em volta da Grécia. Não está motivada pelos interesses e a protecção da mesma Grécia e dos gregos. Um povo, diga-se, justamente condenado a viver sob um regime de brutal austeridade pela mesma ‘troika’ cuja tirania social e económica conhecemos bem em Portugal.
O que, de facto, determina as preocupações de Merkel, Hollande, Lagarde & Cia. são, a meu ver, riscos do seguinte género:
  1. A probabilidade do partido Syriza, de esquerda, vir a ganhar as novas eleições e, formando governo, deliberar o abandono das políticas impostas pelo trio FMI-BCE-CE.
  2. A probabilidade de, a despeito do acréscimo de instabilidade no dia-a-dia do fustigado povo grego, o país vir a regressar ao dracma, mediante assumido estado de insolvência, e reestruturação ou mesmo declaração de dívida ilegítima.
  3. Os efeitos do incumprimento grego no sistema financeiro europeu – bancos alemães e franceses, por exemplo.
Nas conversações Merkel-Hollande, o actual ambiente de Atenas postergou para outra ocasião – Conselho Europeu de 23 de Maio? – os temas susceptíveis de maiores fricções entre os dois políticos: obrigações europeias (eurobonds), revisão do pacto orçamental que apenas Portugal e Grécia aprovaram, papel do BCE, financiamento de investimentos pelo BEI e por fundos estruturais da CE e aplicação de taxas sobre operações financeiras.
Favorecida pela tragédia grega, Merkel soube sair vencedora, em defesa  da disciplina orçamental e da austeridade. Hollande, dá-me a sensação, autocondicionou-se. Falou da necessidade de crescimento económico, mas fê-lo de forma ligeira e inócua. O ora presidente francês terá de tomar em linha de conta o que prometeu aos seus eleitores e até às expectativas criadas em populações de outros países da Europa do Sul.
No dia 23 de Maio, no Conselho Europeu, os apoiantes de Merkel, incluindo o nosso homem dos passos perdidos, estarão presentes em maior número. Portanto, Hollande terá de preparar-se para a luta.

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