'Dias de Leitura' começou por ser prefácio de Marcel Proust da tradução de ‘Sésamo e os Lírios’ de Ruskin, escritor, poeta e desenhista inglês da época do Romantismo.
Mais tarde Proust viria a integrar esse texto em ‘A Raça Maldita’. 'Dias de Leitura' é, de facto, uma curta mas profunda obra de reflexão sobre o acto de ler; de comunicar com grandes criadores e narradores do passado, partilhando informação, bem como sofrimentos e alívios vividos em solidariedade e cumplicidade com as personagens de histórias em que nos fazem mergulhar.
Proust cita uma frase paradigmática de Descartes:
“A leitura de bons livros é uma conversa com as melhores pessoas do século passado”.
Ajustada aos tempos modernos, de produção literária mais intensiva, atrevo-me a dilatar o alcance temporal da frase, mas não o sentido. Seria absurdo resignarmos a ser contemporâneos de René Descartes que viveu no Século XVII.
De então para cá, para bem da humanidade, multiplicaram-se os livros bons, obras feitas a cinzel pelas melhores pessoas do mundo para essas conversas solitárias mantidas à volta de muitos passados, uns colados à epoca em que os textos brotaram, outros, além disto, intemporais - nem todos os livros são bons, acentue-se.
Na sequência do pensamento de Descartes, Proust acentua:
“A diferença essencial entre um livro e um amigo não está na maior ou menor erudição, mas na forma como comunicamos com ele.”
Com efeito, na leitura recebemos a comunicação de um outro pensamento mas solitariamente; ou seja, continuamos a gozar da força intelectual que existe na solidão e que a conversa imediatamente dissipa.
As reflexões de Proust sobre a leitura despertam-nos para o venturoso sentimento de ter vivido a comunicação com Camões, João de Barros, Eça, Camilo, Cesário, Pessoa, Tolstoi, Dostoiévski, Camus, Thomas Mann, Jorge Amado, Drummond Andrade, Saramago, Mia Couto, Pepetela e tantos, tantos outros entretanto lidos, sem excluir, é óbvio, Marcel Proust.
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