Segundo refere com frequência a comunicação social, uma larga maioria de deputados adopta como bíblia 'O Príncipe de Maquiavel'.
Com deplorável culto de narcisismo, Passos Coelho vangloriou-se após a última cimeira do Conselho Europeu de ter sido de sua autoria a solução para a utilização do fundo de privatizações grego, de 50 mil milhões de euros, incluído em pacote de condições severas, senão mesmo de cumprimento impossível.
Passos Coelho revelou-se, uma vez mais, um artista maquiavélico, ou seja, do tipo de quem entende que 'os fins justificam os meios'. Mesmo que se ofenda a soberania de um povo, através da louca austeridade agora agravada para causar a implosão do Syriza e a saída da Grécia da Zona Euro.
É oportuno sublinhar que, a propósito de estadistas e políticos, não existem apenas as teorias de Maquiavel. Outros pensadores, Ortega y Gasset, por exemplo, no ensaio 'Mirabeau o el político' manifesta um género de pensamento muito distinto da doutrina maquiavélica, culminando nesta sublime distinção:
"O estadista preocupa-se com a próxima geração e o político com a próxima eleição"
O comportamento de Pedro Passos Coelho, no passado, presente e expectável no futuro, é eloquente na demonstração de que, como muitos outras figuras de vários quadrantes, temos de o considerar um político, nesta última acepção; no caso dele, de qualidade reles que, mentira atrás de mentira e vaidade balofa, está provada com transparência e até à exaustão.
É a subserviência de Coelho que leva o patrão da UE, Schäuble, a ter imensa consideração pelo PM e bom aluno português. Tanta, tanta estima que, ao estar ausente do Conselho Europeu, quando soube da proposta do Coelho, o despótico Ministro das Finanças alemão, de euforia, deu um salto na cadeira e espalhou-se ao comprido. Coitada da cadeira!
Sobre o 'fundo de privatizações' grego, permito-me sublinhar a interrogação deixada no ar por Mariana Mortágua do BE, no 'Frente-a-Frente' da SICN de ontem:
"Se Portugal, a despeito da política de privatizações avassaladora, realizou apenas 9 mil milhões de euros, como poderá a Grécia reunir 50 mil milhões de patrimónios privatizáveis rapidamente?"
A Grécia, e em especial Alexis Tsipras, confrontam-se com um desafio muito duro, lançado pela UE sob a batuta do poder autocrata alemão.
A meu ver, e não se trata de previsão difícil, a Grécia acabará por sair da Zona Euro por incapacidade de cumprir exigências tão severas. Todavia, Schäuble, Merkel e os novos 'sudetas' alinhados com os germanófilos virão alegar que coube aos gregos a decisão de sair, porque, mesmo em circunstâncias difíceis, fizeram tudo para evitar tal fractura.
Em 2017, os germanófilos poderão enfrentar um problema mais difícil. Basta que Marine Le Pen ganhe as eleições presidenciais... e as sondagens até agora apontam-na como vencedora.
Cá estaremos para assistir à provável derrota final, depois do confronto entre gente de extrema-direita.
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