quinta-feira, 25 de maio de 2017

Peregrinação de Donald Trump (2) – Israel

Saído da Arábia Saudita, o presidente norte-americano e comitiva dirigiram-se para Israel. A visita ao Estado Judaico é sempre imperativa para um PR dos EUA. Obama cumpriu essa regra, embora de forma fria e distante que imagens dele com Benjamin Netanyahu testemunham. Donald Trump também obedeceu à norma, mas fê-lo de forma calorosa.
A paz no Médio Oriente, em termos de espectáculo, também foi objecto de acto do ‘medíocre ilusionista’ Trump. Deslocou-se a Belém, reunindo com Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestiniana (AP). Em resumo, ficou-se pela simplista declaração de que é necessário um acordo de paz entre Israel e a AP. Antes do assassinato de Yitzhak Rabin, este mesmo, o falecido Arafat e Bill Clinton não lograram alcançar esse acordo em 1995. É difícil acreditar que Trump o atinja e até que esteja empenhado em promove-lo.
O que levou Donald Trump a Israel, no fundo, foi cumprir os desígnios da maioria da comunidade judaica nos EUA, reafirmar a oposição firme ao Irão (xiita) e, por fim e muito importante, satisfazer o ego e os interesses do genro, Jared Kushner, e da filha preferida, Ivanka, judia convertida por conveniência.
Há, com efeito, aspectos relevantes na vida de Kushner que levam a pensar que, nesta visita de Trump a Israel, outros desígnios predominaram, que não aqueles de extinguir a miséria extrema de milhões de refugiados palestinianos ou de uma solução de paz na região. 

Vamos a factos!
  1. A família e o próprio Kushner são amigos de longa data de Benjamin Netanyahu. O PM israelita acompanhou o marido de Ivanka Trump, quando ele tinha dezassete anos, em viagem de jovens judeus a Auschwitz. Amigo do pai, Netanyahu pernoitou na casa da família e dormiu na cama de Jared Kushner. Ora, quando os laços de amizade são tão intensos, não me parece provável que Trump leve Netanyahu, homem do renascimento sionista, a negociar a paz com a AP. Para cúmulo das impossibilidades ou dificuldades de negociação, os palestinianos pretendem a retirada dos israelitas dos territórios ocupados após a guerra de 1967, bem como o desmantelamento de colonatos que registaram um incremento intenso nos últimos anos. Kushner apoiou financeiramente esta expansão. 
  2. Jared Kushner está associado em negócios imobiliários nos EUA a um amigo israelita de apelido Steinmetz, sobrinho de Beny Steinmetz, multimilionário e dono da BSG Resources, dedicada ao negócio de diamantes. Esta companhia e consequentemente Beny Steinmetz estão sob investigação de autoridades judiciais norte-americanas, a fim de se apurar se subornaram Mahmoud Thiam, ex-ministro da Guiné-Conacri, com vista à obtenção do direito de exploração de minas na região de Simandou.
A visita a Israel, como sucedeu na Arábia Saudita, obedeceu, em grande parte, a interesses empresariais da família Trump, nomeadamente da ‘first daughter’, Ivanka, e marido, ambos conselheiros da Casa Branca.
A paz no Médio Oriente serve de mera encenação a um presidente que, no dizer do próprio, gere os assuntos de Estado segundo o modelo da gestão empresarial. 
Como escreveu Daniel Oliveira no ‘Expresso’, empresa não é um tipo de organização democrática. E Donald Trump já demonstrou ter desprezo pela democracia e cultivar a admiração por autocratas no poder ou na disputa deste (Putin/Rússia, Ergodan/Turquia, Al-Sisi/Egipto, Rodrigo Duterte/Filipinas, Marine Le Pen/França, Geert Wilders/Holanda). E até, imagine-se, classificou o tresloucado ditador Kim Jong-un da Coreia do Norte de “pretty smart cokie”
Trump é mixe!

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